A manutenção da hegemonia tucana em São Paulo com a vitória ainda no primeiro turno do governador Geraldo Alckmin possibilita que o PSDB se dê ao luxo de se concentrar apenas na disputa pela Presidência. Com Aécio Neves em segundo lugar no País e em primeiro no Estado, o trabalho do partido no maior colégio eleitoral do Brasil se torna fundamental para uma eventual virada sobre Dilma Rousseff (PT).
Líderes do PSDB almejam construir em São Paulo uma agenda colada na de Alckmin no segundo turno. A disposição da legenda é, numa campanha ininterrupta, chamar à ação os deputados e o governador. De um dos principais nomes do PSDB para presidente em 2018 - com o então terceiro lugar de Aécio nas pesquisas -, Alckmin virou agora o maior cabo eleitoral do ex-governador de Minas Gerais.
"A vitória no primeiro turno ajuda, claro. O Geraldo estará empenhado", garante o deputado federal José Aníbal (PSDB). O atual governador foi reeleito com 57,31% dos votos válidos. Seu correligionário também teve um bom desempenho no Estado. Aécio ficou em primeiro lugar, com 44,22%, na frente da presidente Dilma Rousseff (PT), candidata à reeleição, com quem disputará o segundo turno, que teve 25,82%, e da candidata derrotada Marina Silva (PSB), em terceiro, com 25,09%.
A vitória de Alckmin não chegou a ser ameaçada em momento algum. Casos como o caso dos cartéis dos trens ou a crise hídrica que afeta o Estado pouco afetaram o desempenho eleitoral do governador. Para o cientista político e professor do Insper Carlos Melo, muito por culpa dos adversários, que não souberam aproveitar os problemas da administração tucana, há 20 anos comandando o Estado. "Se olhar a aprovação do governo Alckmin, ela não é muito diferente do governo Dilma. Então, por que ele tem uma facilidade maior? Porque não tem oposição", avalia.
Segundo colocado nas eleições, Paulo Skaf (PMDB) nunca esteve a menos de 15 pontos porcentuais do rival em pesquisas Ibope e Datafolha. Nem o tom agressivo de seu programa eleitoral, comandado pelo marqueteiro Duda Mendonça, foi capaz de aproximar o peemedebista do tucano. "Falaram que está tudo um desastre, saúde um desastre, transporte um desastre. Os ataques grosseiros acabaram se voltando contra os adversários", critica Aníbal.
Para Melo, o problema maior não foi a estratégia adotada, mas as dificuldades enfrentadas por Skaf na campanha. Sem nunca ter exercido um cargo eletivo, o empresário não conseguiu se defender quando foi apresentado como aliado de Luiz Antônio Fleury (PMDB) e Paulo Maluf (PP), por exemplo. "Não digo que a estratégia foi errada. O Skaf, talvez, não fosse a pessoa certa para vocalizar a insatisfação da população", analisa Melo.
A candidatura de Alckmin foi favorecida ainda pelo fraco desempenho do candidato do PT, Alexandre Padilha. Escolhido por Lula, o ex-ministro da Saúde perdeu apoios importantes, como o do PP de Maluf, e, com pouco tempo de TV, não conseguiu decolar. "O PT sempre teve muita dificuldade no Estado. E o Skaf, que em tese iria como o novo, na hora que o Alckmin começou a mostrar Fleury e Kassab, ficou meio perdido", explica Melo.