Cotado para disputar o governo de Minas em outubro, o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), se tornou a aposta de aliados do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para “polarizar” com o governador Romeu Zema (Novo) – que deve buscar a reeleição – e ajudar a candidatura do petista no Estado, o segundo maior colégio eleitoral do País.
Ao Estadão, Kalil afirmou que recebeu uma ligação do ex-presidente, mas que o assunto foi futebol. “O Lula me deu um telefonema quando o Atlético foi campeão brasileiro”, disse ele, que foi presidente do Clube Atlético Mineiro entre 2008 e 2014. Declarou ainda que, à exceção de Jair Bolsonaro, conversa com todos os presidenciáveis.
Beneficiado pela onda “antipolítica”, Kalil foi eleito prefeito em 2016 e reeleito em 2020. Hoje, porém, busca se descolar desse rótulo. “Entendi que a política pode ser feita para melhorar a vida das pessoas.”
Divergências com o governador Romeu Zema são um empecilho para o trabalho da prefeitura?
Não, porque Belo Horizonte é mais robusta que o Estado. Em Minas não houve liderança durante a pandemia e o meu rompimento com o governador se deu justamente por isso. Porque eu tinha a compreensão de que não adiantava Belo Horizonte se cuidar se as outras cidades não se cuidassem.
O sr. é pré-candidato ao governo de Minas?
Não sou demagogo. Sou candidato natural. Mas nós estamos no meio do período de chuvas, então é um despautério se falar em campanha eleitoral até março. Não estou com essa pressa. Tenho direito de, aos 62 anos, querer sair como um bom prefeito. Então não irei fazer campanha extemporânea.
Apoiaria Lula em um eventual segundo turno contra Jair Bolsonaro?
Posso ficar neutro, como fiquei em 2018. As duas campanhas que fiz não tive padrinho político, então qual obrigação eu tenho de me expor para apoiar A ou B? Não estou falando que não apoiarei, mas não farei isso no automático.
Mantém conversas com o PT sobre possível aliança?
O Lula me deu um telefonema quando o Atlético foi campeão brasileiro. Falando sobre futebol. Pode ser por esperteza política dele e minha, de preferir falar sobre futebol, porque ainda não é hora de falar sobre política. Foi a única conversa que tive com o Lula. Considero ele um cara gentil. Mas não teve conversa sobre aliança. Isso me custou críticas por todo lado. Pressão para todo lado. E o pior é ser criticado por algo que não fiz.
Existe diálogo com algum presidenciável?
Com Jair Bolsonaro eu não converso porque, quando eu queria conversar para ajudar Belo Horizonte, ele não me recebeu. Ao contrário, seja Ciro (Gomes), (Fernando) Haddad, Lula, Marina (Silva), (João) Doria, (Rodrigo) Pacheco, eu converso com todo mundo.
E Sérgio Moro?
Dialogaria com Sérgio Moro, sim. Tenho restrições ao Moro, respeitosamente. Mas, como político, tenho a obrigação de dialogar. Fiquei decepcionado com tudo que aconteceu, com aceitar ministério. Tive uma decepção muito grande. Até a hora que ele estava como juiz nem tanto. Mas toda a trajetória depois me decepcionou.
Quando o sr. se elegeu em 2016 possuía um discurso mais crítico sobre o PT. A visão sobre a sigla mudou?
Nunca tive uma visão crítica de nenhum partido. O que eu não deixei foi que pregassem a estrela do PT no meu peito como quiseram. Nunca tive visão radical contra PT e PSDB. Tenho divergências pessoais nos dois partidos, mas tenho também amigos fraternos em ambos.
Em eleições recentes o PT teve um mau desempenho em Minas. Seria interessante ter o apoio do partido?
O que o PT pode prometer aqui em BH eu já entreguei, que é uma visão social importante, um orçamento importante. Eu quero dizer o seguinte: todo apoio é importante. Não estou desdenhando, desdenhar do partido que tem a maior bancada, que governou o País 13 anos, seria, antes de tudo, uma estupidez.
O PSD deve dividir palanque com Bolsonaro na disputa pelo governo do Paraná. Isso gera algum incômodo ao sr., que já se mostrou crítico do atual presidente?
Tenho uma conversa direta com o presidente do PSD, me dou bem com ele, confio nele e ele sabe exatamente o que eu penso sobre isso.
O senhor é contrário à reeleição?
Não, sou favorável. Mas, no Brasil, ela tem sido mal entendida.
PSDB e PT não devem lançar candidatos ao governo de Minas. Como avalia essa perda de protagonismo?
Isso se dá pelos escândalos que foram amplamente noticiados, cada um na sua época. Então são dois partidos que precisam repensar o modo neste ano.
Em 2016, o sr. se elegeu na onda “antipolítica”. Ainda se enxerga assim?
Não. A política tem que fazer parte. Fui antipolítico porque não era político. Não sabia o que era a boa política. Mas entendi que a política pode ser feita para melhorar a vida das pessoas. Acho que a nova política é se apresentar como quem fez o quê. O Bolsonaro vai mostrar o que fez, o Lula vai mostrar o que fez, o Kalil vai mostrar o que fez. Esse papo de falar o que vai fazer não cola mais.
Como avalia a resposta do governo federal para a situação de emergência em Minas por causa das chuvas?
Quando o governo federal veio sobrevoar a tragédia em Belo Horizonte, em 2020, foi prometido R$ 1 bilhão. BH recebeu R$ 7 milhões. A partir desse momento, aprendi que voar de helicóptero não é vontade política. É uma viagem demagógica e inútil. São três fatores importantes para a reconstrução: vontade política, dinheiro e capacidade de execução. E não mostraram nenhuma dessas três.