Em 2016, o então candidato à Prefeitura de São Paulo João Doria (PSDB) defendeu propostas como uso da telemedicina, ampliação da tecnologia nas salas de aula e criação de distritos criativos. Bruno Covas, também tucano e atual prefeito, apresenta neste ano as mesmas ideias, com poucas alterações de texto em seu plano de governo. Já Jilmar Tatto (PT) copiou trechos idênticos de ao menos quatro metas do petista Fernando Haddad. Os repetecos ocorrem por causa da não realização das promessas anteriores.
Planos de governo são pré-requisitos para a homologação dos registros de candidatura. Sem apresentar o seu, o candidato não pode concorrer à eleição. A legislação atual, no entanto, não prevê punições em caso de cópias ou plágios, mas classifica o documento como uma forma de mostrar ao eleitorado quais as ideias e prioridades de cada concorrente.
Secretário de Transportes do governo Haddad de 2013 a 2016, Tatto afirma que, se eleito, vai “estabelecer a participação e controle social como método de governo, fortalecendo os Conselhos e as Conferências de Saúde como espaços estratégicos de gestão participativa”. Texto idêntico ao do ex-prefeito em sua tentativa de reeleição, há quatro anos.
A “inspiração” do atual candidato do PT nos programas anteriores de seu partido também se dá na área da saúde. Assim como Haddad, Tatto propõe, por exemplo, “ampliar a Atenção Básica no acesso às Unidades Básicas de Saúde (UBSs), equipes de saúde da família e seus núcleos de apoio, modalidades específicas, como consultórios de rua, unidades itinerantes e acesso à saúde em áreas de ocupação”, em mais uma proposta integralmente copiada.
Lado tucano
Se Tatto “importa” por completo metas de Haddad, o atual prefeito altera pequenos trechos de promessas não cumpridas por Doria, para reapresentar como suas. É o caso do plano de criar distritos criativos na cidade – polos centrados no desenvolvimento da economia criativa, incluindo benefícios fiscais aos empreendedores que se instalarem nessas áreas.
Os polos criativos possibilitam a implementação de “ruas 24 horas”, termo que aparece nos projetos de Doria e Covas. O atual candidato propõe o modelo de via para estimular a atividade noturna. A diferença é que o ex-prefeito não menciona quantas criaria e Covas fala agora em uma para cada macrorregião da cidade.
No quesito educação, mais semelhanças nos programas tucanos. O prefeito diz que transformará as salas de aula em “ambientes digitais”. Já o anterior afirmava que levaria mais tecnologia a professores e alunos.
A cientista política Vera Chaia, da PUC-SP, diz que a prática de reciclar propostas evidencia que elas não foram implantadas efetivamente nas gestões anteriores. “Além disso, os governantes, com raríssimas exceções, não relembram gestões bem-sucedidas.”
De acordo com Luciano Barbosa, coordenador do programa de governo de Tatto, as propostas semelhantes surgem nos planos do partido por se tratarem de bandeiras tradicionais. “A pauta dos conselhos participativos é histórica no PT. Não só na Saúde, mas já defendemos em parques”, justifica. Além disso, Barbosa ressalta que o programa foi construído de maneira coletiva com a contribuição de mais de 1,5 mil pessoas, o que abre margem para propostas repetidas.
A campanha de Bruno Covas, por meio de nota, considerou ser “natural” que haja continuidade de muitos programas da atual gestão, e que o plano de governo 2017-2020 e o respectivo Programa de Metas foram os “pontos de partida” para a elaboração das propostas atuais. “Alguns dos compromissos (repetidos), como a ampliação do uso da telemedicina, foram fundamentais para que tivéssemos melhores condições de enfrentar o período de pandemia que atravessamos”, afirma a campanha do tucano.
Adaptação
Outros candidatos à Prefeitura que já disputaram eleições antes fazem “adaptações” em suas propostas. É o caso de Márcio França (PSB), que, dois anos após perder a eleição para o Palácio dos Bandeirantes, molda alguns dos projetos feitos no âmbito estadual, agora, para a capital.
Em 2018, por exemplo, França dizia em seu plano de governo que iria “implantar programa para jovens de 16 a 20 anos de alistamento civil voluntário em atividades culturais e comunitárias, com bolsa e curso profissional”. Nesta campanha, a proposta recebeu o nome de “Jovem Cidadão” e teve uma mudança na faixa etária. A ideia passou a ser “recrutar jovens de 17 a 18 anos, dando a eles oportunidade de trabalho em serviços de saúde, esportes, turismo e outros órgãos da Prefeitura.
Em nota, a campanha ressaltou que França implantou um programa de alistamento cidadão semelhante aos propostos quando foi prefeito de São Vicente, no litoral do Estado. “A experiência deu certo e, por isso, ele considera que deveria ser adotada (novamente)”, diz o texto.