BRASÍLIA – A disputa pelo governo de São Paulo intensificou a crise entre o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-ministro da Educação Abraham Weintraub. Bolsonaro escolheu o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas, para ser candidato ao Palácio dos Bandeirantes. Aliados do governo atribuem o mais novo embate ao cenário eleitoral e alertam que os ataques podem servir de munição para adversários do presidente.
Antes ferrenho defensor de Bolsonaro, Weintraub passou a criticar o governo pela aliança com o Centrão. No início da semana, o ex-ministro afirmou que o presidente soube com antecedência de uma operação contra o filho Flávio Bolsonaro, em novembro de 2018, após ser eleito. A declaração provocou reação no entorno do governo, para quem Weintraub estaria “magoado” com a preferência por Tarcísio em São Paulo.
De volta ao País depois de quase dois anos nos Estados Unidos, ele deu início à sua pré-campanha ao Governo de SP. Nos últimos dias, intensificou a participação em lives, deu entrevistas e montou um itinerário de campanha pelo Estado. Nesta quarta-feira, 19, por exemplo, passará pelas cidades de Caraguatatuba, São Sebastião, Ilhabela e Ubatuba. Ao mesmo tempo, iniciou uma série de críticas a Bolsonaro.
Em live na segunda-feira, 17, ao lado do ex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo, Weintraub disse que a ala conservadora do governo foi “substituída” pelo Centrão. A fala foi endossada por Araújo, que deixou o cargo em março de 2021 após pressão de parlamentares.
As críticas dos ex-auxiliares às alianças de Bolsonaro começaram quando o pastor Silas Malafaia, que também participava da live, afirmou que os atuais ministros do governo expoentes do Centrão não teriam feito esforço para que a indicação do ex-advogado-geral da União André Mendonça ao Supremo Tribunal Federal (STF) fosse aprovada no Senado.
Weintraub vinculou a aliança com o Centrão à estratégia de Bolsonaro para escapar de um processo de impeachment. O impasse se soma a um conjunto de insatisfações da ala ideológica do bolsonarismo que apoiou o então candidato em 2018, entre elas a de Olavo de Carvalho, mentor do ex-ministro. A situação levou Bolsonaro a admitir uma divisão na base de apoio e um risco para o projeto de reeleição. Na segunda-feira, 17, o presidente pediu para que seus apoiadores “parassem de brigar” para evitar uma derrota nas urnas.
Racha no bolsonarismo
Para um aliado de Bolsonaro na Câmara, Weintraub está “magoado” porque o presidente escolheu Tarcísio e não ele. Na visão desse parlamentar, Weintraub deve continuar a atacar o governo para tentar “deslanchar” na corrida pelo Governo de São Paulo.
Na visão do deputado Coronel Tadeu (PSL-SP), Weintraub se antecipou ao se lançar como candidato. “Quem dita as ordens é o presidente. É ele que vai apoiar e é ele que precisa ser apoiado. E ele decidiu que o candidato será o ministro Tarcísio”, afirmou o parlamentar. A pré-candidatura do ministro da Infraestrutura ao Palácio dos Bandeirantes foi lançada por Bolsonaro na semana passada, durante uma transmissão ao vivo nas redes sociais.
A deputada Carla Zambelli (PSL-SP), por sua vez, disse que Weintraub sabia que Bolsonaro “não seria ditador” e teria de dialogar com o Congresso. “Se um ministro entra no governo, fica lá no ministério mais de um ano, quase dois, sabendo que o presidente era assim… Ou ele não conhecia bem o presidente ou ele mudou de ideia”, criticou.
Nas últimas semanas, em uma tentativa de manter a militância unida, o chefe do Executivo tem feito acenos à base conservadora com a volta dos ataques ao STF, o embate com a Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) em torno da vacinação infantil contra a covid-19 e participação em cultos evangélicos.
“A direita não pode sair na largada, num ano eleitoral, brigando desse jeito. Tem que ter serenidade. E tudo acontece no seu devido tempo. Nós temos até junho para definir os candidatos”, afirmou Coronel Tadeu.
Banco Mundial
Conforme o jornal Valor Econômico, a insatisfação estaria ligada a uma decisão de Bolsonaro de não renovar a indicação de Weintraub ao Banco Mundial. “Não acho que tenha sido isso, não. Até porque, olha só, quem falou de não renovação provavelmente foi ele, para ele poder vir candidato. Como é que ele vem candidato se tiver que renovar contrato depois de setembro?”, disse a deputada Carla Zambelli (PSL-SP).
Em outubro de 2020, três meses após sair do País, Weintraub foi indicado por Bolsonaro para um mandato tampão de dois anos no Conselho da Diretoria Executiva do Banco Mundial. “Num momento crucial da vida dele, em que o STF tava colocando a liberdade dele em risco, foi o presidente que pensou na solução e enviou ele para os EUA”, disse Zambelli, em referência à inclusão do ex-ministro no inquérito das fake news, após ele defender a prisão de integrantes da Corte e chamar os magistrados de “vagabundos”.