RECIFE – O vice-governador de Pernambuco e presidente estadual do MDB, Raul Henry, está disposto a superar as desavenças históricas com o PT em nome da adesão do partido à base de apoio ao governador Paulo Câmara (PSB), pré-candidato à reeleição nas eleições 2018.
Ao mesmo tempo que acena para os petistas com elogios ao ex-presidente Lula, condenado e preso na Operação Lava Jato, Henry rechaça a postulação à Presidência do seu correligionário, o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles, a quem chama de “fundamentalista do mercado”, e se coloca como um cabo eleitoral do pré-candidato ao Palácio do Planalto pelo PSDB, Geraldo Alckmin nas eleições 2018.
"Não me incomoda (a aliança com o PT) porque nós temos um projeto de convergência em torno de Paulo Câmara", disse. A aliança com petistas em Pernambuco interessa à chapa do governador porque significaria a desistência da candidatura da vereadora do Recife, Marília Arraes (PT), cujo desempenho nas pesquisas ameaça os planos de reeleição.
"A frente é muito ampla, há vários projetos presidenciais, há o do PDT, PCdoB, Solidariedade. Nós do MDB em Pernambuco já manifestamos nossa simpatia pela candidatura de Alckmin (PSDB), não há problema nenhum ter o projeto do PT também dentro dessa frente", justificou.
O gesto de Henry é visto também como uma forma de evitar um enfraquecimento ainda maior da chapa de Câmara que tinha 21 partidos hoje tem 13 siglas. Caso o PT entre, será o partido com maior tempo de TV na coligação com 1 minuto e 28 segundos em cada bloco diário de propaganda no horário eleitoral. O MDB, que tem o segundo maior tempo (1 minuto e 26 segundos), corre o risco de migrar para o principal bloco de oposição, liderado pelo senador e pré-candidato do PTB ao Palácio do Campos das Princesas, Armando Monteiro Neto.
Desde setembro do ano passado, o comando do MDB em Pernambuco está sub judice. O cúpula nacional dissolveu a diretoria estadual e passou a presidência provisória da legenda ao senador Fernando Bezerra Coelho. Henry entrou na Justiça pernambucana contra a decisão e ganhou o direito de se manter no cargo. A Executiva Nacional recorreu e o caso chegou ao Supremo Tribunal Federal, mas o ministro relator, Ricardo Lewandowski, concedeu liminar favorável a Henry. A matéria deve ser votada na segunda turma da Corte, após o recesso dos magistrados.
Henry, que abriu mão de concorrer novamente a vice na chapa de Câmara "por entender que não cabem duas vagas ao MDB na majoritária" – já que o deputado federal Jarbas Vasconcelos (MDB) é pré-candidato ao Senado – afirmou que seu posicionamento não é “puro pragmatismo”. Segundo ele, é um retrato da realidade destas eleições “que devem ter pelo menos dez candidaturas à Presidência”.
De acordo com o emedebista, não há contradição, pois “coalizões acontecem nas democracias mais avançadas do mundo” e “o eleitor entende que a configuração da disputa nacional não se reflete nos Estados”.
"Paulo apoia Lula, mas eu acho que Alckmin é um homem sereno, maduro e austero que tem a capacidade de abrir um diálogo para pacificar o Brasil. Não vamos sair dessa encruzilhada sem construir consensos mínimos numa agenda nacional que contemple a recuperação das contas públicas, as reformas inadiáveis como a reforma do Estado e o investimento em infraestrutura”, disse.
Henry não “vê como fundamental que Alckmin tenha de um vice nordestino” para conquistar a preferência de votos na região onde o PT tem hegemonia. O governador, segundo ele, precisa, na verdade, “olhar o exemplo de Lula” e superar a dificuldade que o "PSDB tem de compreender o Nordeste."
“Quem acha que o Bolsa Família é que dá a popularidade que Lula tem no Nordeste, está equivocado. Lula de fato investiu no Nordeste e posso citar o início da Transnordestina, a transposição do rio São Francisco, a vinda da refinaria para Pernambuco, que era uma luta de 50 anos, e muitas outras. Ele ainda se apropriou disso, se fazendo sempre presente por aqui vindo anunciar os projetos, lançar editais e inaugurar os empreendimentos. Alckmin deve olhar essa histórico, o PSDB nunca fez isso”, afirmou.