Flávio Dino, um ex-juiz federal de 46 anos, do PCdoB, venceu, em primeiro turno, a disputa pelo governo do Maranhão. Ele obteve 1,87 milhão de votos, um total de 63,5% dos válidos, derrotando Edison Lobão Filho, do PMDB, candidato do grupo do senador José Sarney, que recebeu 995 mil votos, porcentual de 33,7%.
Logo após o resultado das urnas, Dino afirmou que pretende colocar o Estado no “século 21”, sem “devassa” ou “inquisição” contra o grupo do senador José Sarney. Ele disse, no entanto, que não terá condescendência com irregularidades e denunciará possíveis desvios de recursos que aparecerem nas contas públicas. “Toda vez que encontrarmos algo errado, vamos denunciar, mas nunca com espírito de perseguição”, disse. “Nunca mais haverá oligarquia e coronelismo.”
Ao lado de Manoel Conceição Santos, 79 anos, o Mané da Conceição, figura histórica do movimento camponês, Dino ressaltou que o “espírito comunista e cristão”, alvo da campanha do grupo adversário, marcará seu futuro governo. “É um momento especial na política maranhense. Nosso Estado entra finalmente no século 21. Derrotamos para sempre o coronelismo. Foi o povo simples e humilde, normalmente sem vez e voz, que nos deu essa vitória”, disse.
Ao longo da campanha de uma coligação que incluiu o PSDB e outros oito partidos de diferentes correntes ideológicas e o apoio não oficial da militância petista da capital São Luís, Dino adotou a estratégia de atacar a “oligarquia” para neutralizar a máquina eleitoral do grupo adversário, que o acusou de querer instalar uma “ditadura comunista” no Palácio dos Leões.
Uma ampla rede de emissoras de rádio e televisão do clã Sarney e seus aliados ainda fez ataques pessoais e divulgou denúncias falsas contra Dino feitas por presidiários. O candidato do PCdoB usou a prática e os jargões de sua experiência de 15 anos na Justiça Federal para questionar os peemedebistas e rebater a estratégia. “A marca do meu governo será restituir a cultura do direito e da legalidade no Maranhão”, disse.
Numa entrevista de Dino à TV Mirante, da família Sarney, um apresentador leu trechos do estatuto do PCdoB e perguntou se Dino governaria sob as ordens do comitê central do partido. “Um governador não atua para pequenos grupos, partidos ou famílias”, contra-atacou o candidato, numa referência ao clã adversário. A uma pergunta se implantaria a “ditadura”, o candidato disse que não cabe a um governador mudar a Constituição Federal.
O primeiro governador comunista eleito no País é filiado a um partido que voltou à legalidade em 1986, justamente por uma decisão de Sarney, então presidente da República. “É bom frisar que isto era um compromisso de Tancredo Neves”, observou Dino ao Estado.
Câmara. Militante do PT antes de exercer a magistratura, Dino procurou o PCdoB em 2006 para disputar uma cadeira na Câmara. Foi eleito com 120 mil votos, o que o credenciou para concorrer em 2008 à prefeitura de São Luís e em 2010 ao governo do Estado. Foi derrotado nas duas ocasiões.
O governador eleito sempre teve boas relações com lideranças do PSDB e do PT. Na Câmara, tornou-se amigo pessoal do deputado petista e agora ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo.
Antes da abertura das urnas, a governadora Roseana Sarney admitiu a derrota do “grupo” para Dino. “Agora, a oligarquia vai sair de pauta”, disse, em tom irônico. Com domicílio eleitoral no Amapá, desde que deixou o Palácio do Planalto, em 1990, José Sarney passou todo o dia em Macapá.