De artista de circo a comissária de bordo, os eleitos 'únicos' em 2020


Dados do TSE mostram que 20 profissões terão  um representante entre vereadores e prefeitos

Por Brenda Zacharias e Fernanda Boldrin

Administrar grandes públicos, principalmente sob tensão, é uma das aptidões que Amália Tortato diz ter adquirido ao longo dos 14 anos em que trabalhou como comissária de bordo. Agora, ela pretende levar este conhecimento para seu primeiro mandato como vereadora, que conquistou pelo partido Novo, em Curitiba.

Entre os mais de 67 mil prefeitos, vice-prefeitos e vereadores eleitos pelo País, Amália é a única representante de sua profissão que vai assumir um mandato em 2021. Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), 20 eleitos em novembro são os únicos de suas categorias.

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A reportagem considerou dados do tribunal atualizados até o dia 11 deste mês. Além de Amália, estão nessa lista, por exemplo, um artista de circo, um carvoeiro e um coreógrafo e bailarino. Enquanto a política é um terreno novo para muitos deles, o mandato é apontado como uma oportunidade para quebrar estigmas. 

Comissária de bordo por 14 anos, Amália Tortato afirma que levará para a Câmara Municipal de Curitiba habilidade de administrar grandes públicos. Foto: Hedeson Alves/ Estadão

Amália escolheu aproveitar a antiga profissão já na campanha. “Curitiba livre para voar” foi o slogan adotado por ela para conquistar votos. A vereadora eleita conta ainda que precisou “mudar a estratégia” na hora de se apresentar aos eleitores, tamanha era a curiosidade por sua vida como comissária. “As pessoas só perguntavam sobre isso, não queriam nem falar mais das minhas propostas”, recorda ela, que encampa pautas como a desburocratização e a atenção à primeira infância.

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Palhaço

A lista de eleitos representantes únicos de suas profissões tem também um candidato que fez “carreira” no trabalho voluntário. Caso de Percival Machado, que há nove anos entrou em um grupo de palhaços e criou seu personagem, o Dr. Presunto. Desde então, faz visitas frequentes a hospitais, escolas e presídios, sempre usando peruca. E, em tempos de coronavírus, usa máscara com a estampa de um sorriso. Em 2020, ele foi eleito para o seu primeiro mandato como vereador em João Monlevade, no interior de Minas Gerais. À Justiça Eleitoral, declarou como profissão "artista de circo". 

Percival Machado diz que, com as ações sociais que realizou nos últimos anos, conheceu melhor as mazelas de seu município. “Eu nasci e morei aqui a minha vida toda. Mas passei a conhecer a realidade (da cidade) só depois que o Dr. Presunto nasceu”, disse. No mandato, ele quer dar prioridade à inclusão social e à construção de uma comunidade mais “igualitária”, destacando ainda a valorização dos profissionais de saúde. Ele nega o fim do personagem. “Dentro da Câmara, eu sou Percival, vou de terno e gravata. Mas, na rua, sou o Dr. Presunto de novo”, assegura.

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Político

Enquanto isso, entre as profissões declaradas à Justiça Eleitoral por aqueles que se elegeram, a que aparece com mais frequência é a do próprio ramo da política: vereador. São 12.763 os eleitos que declararam esta ocupação. Agricultores e servidores públicos municipais também estão em grande número – são, ao todo, 6.086 e 5.801 eleitos, respectivamente. 

Se por um lado a presença de “políticos profissionais” pode indicar o amadurecimento de nossa democracia, por outro, existe uma dificuldade de entrada de perfis diferentes, sobretudo por falta de acesso a verba para viabilizar a candidatura, afirma Carolina de Paula, cientista política e pesquisadora do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). “Não necessariamente (os eleitos) vão representar suas profissões de origem, mas eles trazem variedade de trajetórias.”

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Amália vê o mandato como uma forma de garantir um novo olhar sobre a própria profissão. “Às vezes, ela é vista de maneira inferiorizada do ponto de vista intelectual. Mas os comissários estão em constante treinamento. Precisa ter um equilíbrio emocional muito grande para não surtar quando os ‘pepinos’ aparecem a 35 mil pés de altitude.”

Entre os eleitos que são os únicos representantes de uma profissão há um prefeito, Fernando Barberino (PV), que cumprirá seu segundo mandato em São João do Pau d’Alho, no interior de São Paulo. Ao registrar candidatura, ele se apresentou no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) como matemático/atuário, área em que se formou. 

A carreira de Barberino, no entanto, foi forjada na política. Logo depois de formado, ele ingressou na Câmara Municipal da cidade, onde passou 12 anos de sua vida. Em 2016, foi eleito pela primeira vez para o Executivo municipal. A formação e a habilidade com os números, diz, “ajudaram muito na parte administrativa”. 

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Entre os que, de acordo com dados do TSE, são os únicos representantes de uma profissão também está Alderino Gonçalves, vereador eleito em Baixo Guandu, no Espírito Santo. Na plataforma do tribunal, a ocupação de Gonçalves é descrita como “ministro de Estado”. Mas, segundo ele, essa informação “não está correta”.

“Minha profissão é militar”, afirma Gonçalves, que atuou como subtenente da Polícia Militar do Espírito Santo e recentemente passou para a reserva. “Assim que concluí meu tempo de serviço, ganhei a eleição.” A reportagem não considerou Gonçalves no levantamento realizado – com ele, o número chegaria a 21. 

Procurado, o TSE afirmou que “as informações sobre os candidatos são fornecidas pelos próprios, que se responsabilizam por ela”. Não há punição prevista para candidatos que declaram informações erradas sobre sua profissão. 

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Em nota, o tribunal disse ainda que “erros podem ocorrer e informações equivocadas podem acabar sendo inseridas no sistema que alimenta o DivulgaCandContas”. “Essas informações podem ser corrigidas a qualquer tempo pelo próprio candidato”, afirmou o tribunal.

Administrar grandes públicos, principalmente sob tensão, é uma das aptidões que Amália Tortato diz ter adquirido ao longo dos 14 anos em que trabalhou como comissária de bordo. Agora, ela pretende levar este conhecimento para seu primeiro mandato como vereadora, que conquistou pelo partido Novo, em Curitiba.

Entre os mais de 67 mil prefeitos, vice-prefeitos e vereadores eleitos pelo País, Amália é a única representante de sua profissão que vai assumir um mandato em 2021. Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), 20 eleitos em novembro são os únicos de suas categorias.

A reportagem considerou dados do tribunal atualizados até o dia 11 deste mês. Além de Amália, estão nessa lista, por exemplo, um artista de circo, um carvoeiro e um coreógrafo e bailarino. Enquanto a política é um terreno novo para muitos deles, o mandato é apontado como uma oportunidade para quebrar estigmas. 

Comissária de bordo por 14 anos, Amália Tortato afirma que levará para a Câmara Municipal de Curitiba habilidade de administrar grandes públicos. Foto: Hedeson Alves/ Estadão

Amália escolheu aproveitar a antiga profissão já na campanha. “Curitiba livre para voar” foi o slogan adotado por ela para conquistar votos. A vereadora eleita conta ainda que precisou “mudar a estratégia” na hora de se apresentar aos eleitores, tamanha era a curiosidade por sua vida como comissária. “As pessoas só perguntavam sobre isso, não queriam nem falar mais das minhas propostas”, recorda ela, que encampa pautas como a desburocratização e a atenção à primeira infância.

Palhaço

A lista de eleitos representantes únicos de suas profissões tem também um candidato que fez “carreira” no trabalho voluntário. Caso de Percival Machado, que há nove anos entrou em um grupo de palhaços e criou seu personagem, o Dr. Presunto. Desde então, faz visitas frequentes a hospitais, escolas e presídios, sempre usando peruca. E, em tempos de coronavírus, usa máscara com a estampa de um sorriso. Em 2020, ele foi eleito para o seu primeiro mandato como vereador em João Monlevade, no interior de Minas Gerais. À Justiça Eleitoral, declarou como profissão "artista de circo". 

Percival Machado diz que, com as ações sociais que realizou nos últimos anos, conheceu melhor as mazelas de seu município. “Eu nasci e morei aqui a minha vida toda. Mas passei a conhecer a realidade (da cidade) só depois que o Dr. Presunto nasceu”, disse. No mandato, ele quer dar prioridade à inclusão social e à construção de uma comunidade mais “igualitária”, destacando ainda a valorização dos profissionais de saúde. Ele nega o fim do personagem. “Dentro da Câmara, eu sou Percival, vou de terno e gravata. Mas, na rua, sou o Dr. Presunto de novo”, assegura.

Político

Enquanto isso, entre as profissões declaradas à Justiça Eleitoral por aqueles que se elegeram, a que aparece com mais frequência é a do próprio ramo da política: vereador. São 12.763 os eleitos que declararam esta ocupação. Agricultores e servidores públicos municipais também estão em grande número – são, ao todo, 6.086 e 5.801 eleitos, respectivamente. 

Se por um lado a presença de “políticos profissionais” pode indicar o amadurecimento de nossa democracia, por outro, existe uma dificuldade de entrada de perfis diferentes, sobretudo por falta de acesso a verba para viabilizar a candidatura, afirma Carolina de Paula, cientista política e pesquisadora do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). “Não necessariamente (os eleitos) vão representar suas profissões de origem, mas eles trazem variedade de trajetórias.”

Amália vê o mandato como uma forma de garantir um novo olhar sobre a própria profissão. “Às vezes, ela é vista de maneira inferiorizada do ponto de vista intelectual. Mas os comissários estão em constante treinamento. Precisa ter um equilíbrio emocional muito grande para não surtar quando os ‘pepinos’ aparecem a 35 mil pés de altitude.”

Entre os eleitos que são os únicos representantes de uma profissão há um prefeito, Fernando Barberino (PV), que cumprirá seu segundo mandato em São João do Pau d’Alho, no interior de São Paulo. Ao registrar candidatura, ele se apresentou no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) como matemático/atuário, área em que se formou. 

A carreira de Barberino, no entanto, foi forjada na política. Logo depois de formado, ele ingressou na Câmara Municipal da cidade, onde passou 12 anos de sua vida. Em 2016, foi eleito pela primeira vez para o Executivo municipal. A formação e a habilidade com os números, diz, “ajudaram muito na parte administrativa”. 

Entre os que, de acordo com dados do TSE, são os únicos representantes de uma profissão também está Alderino Gonçalves, vereador eleito em Baixo Guandu, no Espírito Santo. Na plataforma do tribunal, a ocupação de Gonçalves é descrita como “ministro de Estado”. Mas, segundo ele, essa informação “não está correta”.

“Minha profissão é militar”, afirma Gonçalves, que atuou como subtenente da Polícia Militar do Espírito Santo e recentemente passou para a reserva. “Assim que concluí meu tempo de serviço, ganhei a eleição.” A reportagem não considerou Gonçalves no levantamento realizado – com ele, o número chegaria a 21. 

Procurado, o TSE afirmou que “as informações sobre os candidatos são fornecidas pelos próprios, que se responsabilizam por ela”. Não há punição prevista para candidatos que declaram informações erradas sobre sua profissão. 

Em nota, o tribunal disse ainda que “erros podem ocorrer e informações equivocadas podem acabar sendo inseridas no sistema que alimenta o DivulgaCandContas”. “Essas informações podem ser corrigidas a qualquer tempo pelo próprio candidato”, afirmou o tribunal.

Administrar grandes públicos, principalmente sob tensão, é uma das aptidões que Amália Tortato diz ter adquirido ao longo dos 14 anos em que trabalhou como comissária de bordo. Agora, ela pretende levar este conhecimento para seu primeiro mandato como vereadora, que conquistou pelo partido Novo, em Curitiba.

Entre os mais de 67 mil prefeitos, vice-prefeitos e vereadores eleitos pelo País, Amália é a única representante de sua profissão que vai assumir um mandato em 2021. Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), 20 eleitos em novembro são os únicos de suas categorias.

A reportagem considerou dados do tribunal atualizados até o dia 11 deste mês. Além de Amália, estão nessa lista, por exemplo, um artista de circo, um carvoeiro e um coreógrafo e bailarino. Enquanto a política é um terreno novo para muitos deles, o mandato é apontado como uma oportunidade para quebrar estigmas. 

Comissária de bordo por 14 anos, Amália Tortato afirma que levará para a Câmara Municipal de Curitiba habilidade de administrar grandes públicos. Foto: Hedeson Alves/ Estadão

Amália escolheu aproveitar a antiga profissão já na campanha. “Curitiba livre para voar” foi o slogan adotado por ela para conquistar votos. A vereadora eleita conta ainda que precisou “mudar a estratégia” na hora de se apresentar aos eleitores, tamanha era a curiosidade por sua vida como comissária. “As pessoas só perguntavam sobre isso, não queriam nem falar mais das minhas propostas”, recorda ela, que encampa pautas como a desburocratização e a atenção à primeira infância.

Palhaço

A lista de eleitos representantes únicos de suas profissões tem também um candidato que fez “carreira” no trabalho voluntário. Caso de Percival Machado, que há nove anos entrou em um grupo de palhaços e criou seu personagem, o Dr. Presunto. Desde então, faz visitas frequentes a hospitais, escolas e presídios, sempre usando peruca. E, em tempos de coronavírus, usa máscara com a estampa de um sorriso. Em 2020, ele foi eleito para o seu primeiro mandato como vereador em João Monlevade, no interior de Minas Gerais. À Justiça Eleitoral, declarou como profissão "artista de circo". 

Percival Machado diz que, com as ações sociais que realizou nos últimos anos, conheceu melhor as mazelas de seu município. “Eu nasci e morei aqui a minha vida toda. Mas passei a conhecer a realidade (da cidade) só depois que o Dr. Presunto nasceu”, disse. No mandato, ele quer dar prioridade à inclusão social e à construção de uma comunidade mais “igualitária”, destacando ainda a valorização dos profissionais de saúde. Ele nega o fim do personagem. “Dentro da Câmara, eu sou Percival, vou de terno e gravata. Mas, na rua, sou o Dr. Presunto de novo”, assegura.

Político

Enquanto isso, entre as profissões declaradas à Justiça Eleitoral por aqueles que se elegeram, a que aparece com mais frequência é a do próprio ramo da política: vereador. São 12.763 os eleitos que declararam esta ocupação. Agricultores e servidores públicos municipais também estão em grande número – são, ao todo, 6.086 e 5.801 eleitos, respectivamente. 

Se por um lado a presença de “políticos profissionais” pode indicar o amadurecimento de nossa democracia, por outro, existe uma dificuldade de entrada de perfis diferentes, sobretudo por falta de acesso a verba para viabilizar a candidatura, afirma Carolina de Paula, cientista política e pesquisadora do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). “Não necessariamente (os eleitos) vão representar suas profissões de origem, mas eles trazem variedade de trajetórias.”

Amália vê o mandato como uma forma de garantir um novo olhar sobre a própria profissão. “Às vezes, ela é vista de maneira inferiorizada do ponto de vista intelectual. Mas os comissários estão em constante treinamento. Precisa ter um equilíbrio emocional muito grande para não surtar quando os ‘pepinos’ aparecem a 35 mil pés de altitude.”

Entre os eleitos que são os únicos representantes de uma profissão há um prefeito, Fernando Barberino (PV), que cumprirá seu segundo mandato em São João do Pau d’Alho, no interior de São Paulo. Ao registrar candidatura, ele se apresentou no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) como matemático/atuário, área em que se formou. 

A carreira de Barberino, no entanto, foi forjada na política. Logo depois de formado, ele ingressou na Câmara Municipal da cidade, onde passou 12 anos de sua vida. Em 2016, foi eleito pela primeira vez para o Executivo municipal. A formação e a habilidade com os números, diz, “ajudaram muito na parte administrativa”. 

Entre os que, de acordo com dados do TSE, são os únicos representantes de uma profissão também está Alderino Gonçalves, vereador eleito em Baixo Guandu, no Espírito Santo. Na plataforma do tribunal, a ocupação de Gonçalves é descrita como “ministro de Estado”. Mas, segundo ele, essa informação “não está correta”.

“Minha profissão é militar”, afirma Gonçalves, que atuou como subtenente da Polícia Militar do Espírito Santo e recentemente passou para a reserva. “Assim que concluí meu tempo de serviço, ganhei a eleição.” A reportagem não considerou Gonçalves no levantamento realizado – com ele, o número chegaria a 21. 

Procurado, o TSE afirmou que “as informações sobre os candidatos são fornecidas pelos próprios, que se responsabilizam por ela”. Não há punição prevista para candidatos que declaram informações erradas sobre sua profissão. 

Em nota, o tribunal disse ainda que “erros podem ocorrer e informações equivocadas podem acabar sendo inseridas no sistema que alimenta o DivulgaCandContas”. “Essas informações podem ser corrigidas a qualquer tempo pelo próprio candidato”, afirmou o tribunal.

Administrar grandes públicos, principalmente sob tensão, é uma das aptidões que Amália Tortato diz ter adquirido ao longo dos 14 anos em que trabalhou como comissária de bordo. Agora, ela pretende levar este conhecimento para seu primeiro mandato como vereadora, que conquistou pelo partido Novo, em Curitiba.

Entre os mais de 67 mil prefeitos, vice-prefeitos e vereadores eleitos pelo País, Amália é a única representante de sua profissão que vai assumir um mandato em 2021. Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), 20 eleitos em novembro são os únicos de suas categorias.

A reportagem considerou dados do tribunal atualizados até o dia 11 deste mês. Além de Amália, estão nessa lista, por exemplo, um artista de circo, um carvoeiro e um coreógrafo e bailarino. Enquanto a política é um terreno novo para muitos deles, o mandato é apontado como uma oportunidade para quebrar estigmas. 

Comissária de bordo por 14 anos, Amália Tortato afirma que levará para a Câmara Municipal de Curitiba habilidade de administrar grandes públicos. Foto: Hedeson Alves/ Estadão

Amália escolheu aproveitar a antiga profissão já na campanha. “Curitiba livre para voar” foi o slogan adotado por ela para conquistar votos. A vereadora eleita conta ainda que precisou “mudar a estratégia” na hora de se apresentar aos eleitores, tamanha era a curiosidade por sua vida como comissária. “As pessoas só perguntavam sobre isso, não queriam nem falar mais das minhas propostas”, recorda ela, que encampa pautas como a desburocratização e a atenção à primeira infância.

Palhaço

A lista de eleitos representantes únicos de suas profissões tem também um candidato que fez “carreira” no trabalho voluntário. Caso de Percival Machado, que há nove anos entrou em um grupo de palhaços e criou seu personagem, o Dr. Presunto. Desde então, faz visitas frequentes a hospitais, escolas e presídios, sempre usando peruca. E, em tempos de coronavírus, usa máscara com a estampa de um sorriso. Em 2020, ele foi eleito para o seu primeiro mandato como vereador em João Monlevade, no interior de Minas Gerais. À Justiça Eleitoral, declarou como profissão "artista de circo". 

Percival Machado diz que, com as ações sociais que realizou nos últimos anos, conheceu melhor as mazelas de seu município. “Eu nasci e morei aqui a minha vida toda. Mas passei a conhecer a realidade (da cidade) só depois que o Dr. Presunto nasceu”, disse. No mandato, ele quer dar prioridade à inclusão social e à construção de uma comunidade mais “igualitária”, destacando ainda a valorização dos profissionais de saúde. Ele nega o fim do personagem. “Dentro da Câmara, eu sou Percival, vou de terno e gravata. Mas, na rua, sou o Dr. Presunto de novo”, assegura.

Político

Enquanto isso, entre as profissões declaradas à Justiça Eleitoral por aqueles que se elegeram, a que aparece com mais frequência é a do próprio ramo da política: vereador. São 12.763 os eleitos que declararam esta ocupação. Agricultores e servidores públicos municipais também estão em grande número – são, ao todo, 6.086 e 5.801 eleitos, respectivamente. 

Se por um lado a presença de “políticos profissionais” pode indicar o amadurecimento de nossa democracia, por outro, existe uma dificuldade de entrada de perfis diferentes, sobretudo por falta de acesso a verba para viabilizar a candidatura, afirma Carolina de Paula, cientista política e pesquisadora do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). “Não necessariamente (os eleitos) vão representar suas profissões de origem, mas eles trazem variedade de trajetórias.”

Amália vê o mandato como uma forma de garantir um novo olhar sobre a própria profissão. “Às vezes, ela é vista de maneira inferiorizada do ponto de vista intelectual. Mas os comissários estão em constante treinamento. Precisa ter um equilíbrio emocional muito grande para não surtar quando os ‘pepinos’ aparecem a 35 mil pés de altitude.”

Entre os eleitos que são os únicos representantes de uma profissão há um prefeito, Fernando Barberino (PV), que cumprirá seu segundo mandato em São João do Pau d’Alho, no interior de São Paulo. Ao registrar candidatura, ele se apresentou no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) como matemático/atuário, área em que se formou. 

A carreira de Barberino, no entanto, foi forjada na política. Logo depois de formado, ele ingressou na Câmara Municipal da cidade, onde passou 12 anos de sua vida. Em 2016, foi eleito pela primeira vez para o Executivo municipal. A formação e a habilidade com os números, diz, “ajudaram muito na parte administrativa”. 

Entre os que, de acordo com dados do TSE, são os únicos representantes de uma profissão também está Alderino Gonçalves, vereador eleito em Baixo Guandu, no Espírito Santo. Na plataforma do tribunal, a ocupação de Gonçalves é descrita como “ministro de Estado”. Mas, segundo ele, essa informação “não está correta”.

“Minha profissão é militar”, afirma Gonçalves, que atuou como subtenente da Polícia Militar do Espírito Santo e recentemente passou para a reserva. “Assim que concluí meu tempo de serviço, ganhei a eleição.” A reportagem não considerou Gonçalves no levantamento realizado – com ele, o número chegaria a 21. 

Procurado, o TSE afirmou que “as informações sobre os candidatos são fornecidas pelos próprios, que se responsabilizam por ela”. Não há punição prevista para candidatos que declaram informações erradas sobre sua profissão. 

Em nota, o tribunal disse ainda que “erros podem ocorrer e informações equivocadas podem acabar sendo inseridas no sistema que alimenta o DivulgaCandContas”. “Essas informações podem ser corrigidas a qualquer tempo pelo próprio candidato”, afirmou o tribunal.

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