RIO - A troca de acusações entre os candidatos a prefeito do Rio, Marcelo Crivella (PRB) e Marcelo Freixo (PSOL), marcou o debate promovido entre eles na noite dessa terça-feira, 18, pela Rede TV. Foi o primeiro debate durante a campanha do segundo turno. Crivella, que tem larga vantagem sobre o adversário segundo as pesquisas de intenção de voto, se recusou a participar dos eventos propostos pelo SBT e pelo jornal O Globo. A TV Record, que pertence a Edir Macedo, tio de Crivella, cancelou debate alegando falta de espaço para realizá-lo.
No evento dessa terça-feira, Freixo acusou Crivella de intolerância religiosa e de se aliar ao ex-governador Anthony Garotinho (PR), enquanto Crivella acusou Freixo de defender os black blocs (grupo que defende a destruição de patrimônio como forma de protesto) e o governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).
Logo na primeira pergunta ao adversário, Freixo questionou Crivella sobre um livro escrito pelo candidato - que é ligado à Igreja Universal do Reino de Deus - em que ele ataca o catolicismo e outras religiões. Na resposta, Crivella alegou que o livro foi escrito há 25 anos e "a Igreja Católica da África (onde ele morou) não era a Igreja Católica do Brasil. É completamente diferente do que existe aqui. Eu vivia num ambiente de guerra, de feitiçaria, de muita miséria, mas reconheço que usei palavras erradas e ofendi a quem amava e queria ajudar".
Na sequência, Crivella retrucou: "Agora, ódio mesmo é o dos black blocs. (...) Os black blocs sob o seu comando têm as mãos sujas de sangue, já mataram um trabalhador covardemente pelas costas. Não existe ódio quando alguém fala da Bíblia. Pode haver, sim, e eu já me desculpei, exagero nas palavras, mas ódio existe na militância do PSOL através dos black blocs".
Em resposta, Freixo disse nunca ter defendido nenhuma forma de violência e relembrou o episódio em que um pastor da Igreja Universal chutou uma imagem de Nossa Senhora, durante um programa da TV Record, em 1995. "Crivella, o que você escreve não é o que você fala e o que você fala não é o que você pensa", disse o candidato do PSOL.
"Campanha violenta você faz o tempo todo, você me agride na televisão de maneira covarde. Você faz alusões de que sou ligado à milícia, e isso é uma mentira descarada, sem vergonha", acusou Crivella. "Desde criança eu prego o evangelho, você acha que isso é ódio?"
O confronto continuou na segunda pergunta, quando Crivella acusou Freixo de querer aumentar o IPTU. O candidato do PSOL negou e acusou Crivella de querer limitar os investimentos em saúde e educação, ao apoiar a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 241. Crivella afirmou que Freixo mudou seu plano de governo por interesse eleitoral, e o bate-boca continou.
O candidato do PSOL também acusou Crivella de ter feito aliança com milicianos, ao que o candidato do PRB retrucou: "Eu considero você um arrivista. É impressionante o que você é capaz de fazer para obter o poder. No primeiro turno estávamos conversando sobre maus políticos, os corruptos do PMDB, e eu disse a muita gente que votasse em você, porque ao menos estávamos livres da corrupção. Mas agora eu vejo do que você é capaz pelo poder. Eu não vou descer o nível, não vou dizer que você é canalha, é safado, é vagabundo. O povo dirá isso nas urnas. A minha vida é íntegra, não há nenhuma ligação entre eu e o crime. Não tenho culpa se alguém declara apoio. Foi isso que eu disse. O resto são ilações mentirosas, criminosas, facciosas, que denigrem a classe política", retrucou Crivella. "Você disse numa entrevista que esse apoio é bem-vindo", continuou Freixo.
O embate continuou abordando a ligação de Crivella com Garotinho e o ex-secretário municipal Rodrigo Bethlem, o apoio de Freixo à ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e outras acusações. Pouco se falou sobre propostas de governo.
Em suas considerações finais, Crivella disse que Freixo muda tanto de posição que "daqui a pouco, o 'Fora, Temer' vai virar 'Fica, Temer". Ele afirmou ainda que o adversário é apoiado pelo prefeito atual, Eduardo Paes (PMDB), que no último final de semana, durante um evento no Rio, tirou fotos com eleitores do candidato do PSOL. Paes lançou como candidato seu correligionário Pedro Paulo, que não conseguiu chegar ao segundo turno. Freixo já havia feito suas considerações finais e não teve tempo de comentar essas afirmações.