Um dia após a prisão do ex-governador e candidato ao Senado pelo Paraná Beto Richa (PSDB), os postulantes ao Palácio Iguaçu Cida Borghetti (PP) e Ratinho Junior (PSD) procuraram se afastar da imagem do tucano. Ambos integraram o governo de Richa: ela como vice-governadora e ele como secretário de Desenvolvimento Urbano.
Em sabatina da RPCTV, afiliada da Rede Globo no Paraná, Cida - que assumiu o governo paranaense em abril, quando Richa se afastou do cargo para concorrer ao Senado - afirmou que, para ela, não é possível manter o apoio ao tucano, que é candidato pela coligação da governadora. Cida justificou: "Não é confortável, acho que para nenhum dos lados, nem para ele".
Questionada, a governadora afirmou ainda que não repetiria o discurso que fez quando assumiu o governo, afirmando que Beto era seu "líder e amigo", com "conduta ética indiscutível". "Como todos os paranaenses e brasileiros, fomos pegos de surpresa com essa atitude da Justiça (de determinar a prisão de Richa). Estou acompanhando os fatos como todos vocês, aquela minha atitude (do discurso) foi de agradecimento à passagem de governo", disse.
A governadora também minimizou o apoio do PSDB à sua candidatura. Ela afirmou que, apesar de integrar a chapa dela, líderes tucanos no Estado se manifestaram a favor de Ratinho Junior. Os deputados federal Valdir Rossoni e estadual Ademar Traiano, por exemplo, declaram abertamente apoio ao rival de Cida.
Ratinho Junior também minimizou o apoio declarado dos tucanos. "Apoio eu não vou recusar. Querem me apoiar, eu fico feliz. Isso não quer dizer que vai participar do governo", afirmou Ratinho nesta quarta-feira, 12, em sabatina realizada pelo jornal Gazeta do Povo.
Boa parte do tempo da entrevista também foi gasto com explicações da ligação do candidato com o ex-governador. "Vocês querem jogar no meu colo uma coisa que não existe", declarou Ratinho Junior. O candidato disse que possui um projeto político independente para o Paraná e que não procurou apoio do ex-governador e do PSDB para sua chapa. Também afirmou que foi convidado por Richa para ser candidato a vice-governador em 2014, mas recusou o posto em favor do programa que defende para o Estado.
Ratinho Junior disse que não tem relacionamento pessoal com o tucano e que não possuía interferência sobre outras pastas que não a Desenvolvimento Urbano, que comandou durante a gestão Richa. "Se houve problemas em outras áreas do governo, eu não posso pagar por isso", declarou, afirmando que não se arrepende de ter integrado a gestão apesar das atuais acusações que pairam sobre o ex-governador. "Eu não participei de nada (ilícito). Como vou me arrepender de algo que não fiz?"
Ratinho Junior afirmou ainda que não se sente desconfortável em ter como um dos coordenadores de seu plano de governo o ex-secretário de Agricultura Norberto Ortigara, que geriu parte do programa Patrulha no Campo, alvo da operação do Ministério Público Estadual que resultou na prisão de Richa. "É um dos homens mais corretos que conheci. Se está comigo, é porque é uma pessoa absolutamente séria", disse.
Manutenção de candidatura de Richa ao Senado é decisão pessoal, dizem aliados
Líderes do PSDB e integrantes da chapa da governadora Cida Borghetti à reeleição afirmaram ao Estado que a continuidade da candidatura de Beto Richa ao Senado deve ser decidida por ele mesmo.
A afirmação foi repetida pelo deputados federais Valdir Rossoni (PSDB) e Ricardo Barros (PP), marido de Cida e principal articulador político da chapa dela ao governo. Barros disse ainda que Richa e Cida nunca trocaram apoios e que a coligação com o PSDB só foi fechada por interesse de integrantes do partido. "Não nos interessava."
Deputados integrantes da coligação, no entanto, avaliam que a prisão tornou praticamente impossível a vitória de Richa na disputa ao Senado. "Está destruída a candidatura dele. A prisão interferiu em todo o processo eleitoral", disse um dos parlamentares.
Em nota assinada, enviada à imprensa por sua equipe jurídica, Richa afirmou que enfrenta "com serenidade e confiança qualquer acusação", mas que está sofrendo "com o julgamento antecipado". "Sou um homem público há mais de duas décadas, com a mesma honradez. Tenho a consciência em paz e sei que, no devido tempo, a verdade sempre se impõe. Garanto a você, que me conhece e para quem exerço com responsabilidade a vocação que Deus me deu: nada devo e sigo confiando na justiça."