O PSDB aguarda a definição do Cidadania e espera em breve consolidar uma federação partidária nas eleições deste ano. Para os tucanos, o acordo simbolizaria a primeira convergência à pré-candidatura do governador de São Paulo, João Doria. O partido presidido por Roberto Freire, no entanto, terá de superar resistências internas. Na prática, como o modelo só permite um candidato, a avaliação nas duas legendas é de que a junção sepultaria a postulação do senador Alessandro Vieira (SE), pré-candidato ao Palácio do Planalto pelo Cidadania.
Ontem, durante live promovida pelo grupo Parlatório, Doria voltou a defender a união de pré-candidatos do “centro liberal-social” e disse que o PSDB “está adicionando” o Cidadania. A executiva nacional tucana aprovou na semana passada, por unanimidade, o entendimento para a formação de uma federação partidária com o Cidadania.
O governador paulista chegou a publicar uma mensagem cumprimentando o presidente do PSDB, Bruno Araújo, e Freire “pela ótima decisão de criar uma federação partidária”. A manifestação, contudo, foi prontamente contestada por Vieira, que incluiu o Podemos – que tem como pré-candidato o ex-juiz Sérgio Moro – como opção de acordo.
Para o senador, a possibilidade de uma federação “exige ajuste coerente de programa comum e garantia de mecanismos justos e transparentes de atuação conjunta durante quatro anos, em especial para definição de candidaturas e formação de chapas em todas as esferas, sem imposições”.
Amanhã, a Executiva do Cidadania vai se reunir para convocar o diretório nacional – que possui 112 integrantes – a decidir sobre a questão. Além de PSDB e Podemos, PDT e MDB também dialogam com o Cidadania. Vieira vê resistência em ao menos seis unidades da Federação – Paraíba, Rio, Pará, Minas Gerais, Distrito Federal e o Acre. Já o deputado estadual João Vitor Xavier, presidente do partido em Minas e contrário à federação, afirmou que 16 diretórios estaduais já manifestaram resistência à aliança com o PSDB. Entre eles, Goiás, Paraná, Santa Catarina e Sergipe.
‘Transparência’
Ao Estadão, Vieira disse que “a resistência (à federação) é justa” e que, se a ideia for adiante, precisa de “regras muito transparentes”. “Mas eu não vejo essas regras postas e, se elas não forem colocadas com clareza, eu me posicionarei de forma contrária”, afirmou o parlamentar, um dos expoentes do grupo Muda Senado, criado em meados de 2019 com uma pauta de renovação das práticas políticas na Casa e defesa do combate à corrupção.
Recentemente, Vieira chamou atenção por sair em defesa de Moro e pedir que a Procuradoria-Geral da República investigue o ministro do Tribunal de Contas da União Bruno Dantas por suposto abuso de autoridade. Dantas é relator do processo no TCU que apura o contrato de Moro com a consultoria Alvarez & Marsal.
Em uma federação, os partidos não podem concorrer entre si nas eleições majoritárias. Novidade na disputa deste ano, o modelo cria uma “fusão temporária” entre as legendas que precisa durar pelo menos quatro anos. A possibilidade foi criada pelo Congresso no ano passado e regulamentada por resolução do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Para siglas menores, a federação oferece a chance de escapar da chamada cláusula de barreira, dispositivo que restringe a atuação parlamentar de um partido que não alcançar determinado porcentual de votos.
No retorno do recesso do Judiciário, o Supremo Tribunal Federal (STF) deverá analisar nos próximos dias uma solicitação de prorrogação do prazo para a formalização das federações. O pedido para ampliar o prazo até 5 de agosto foi feito pelo PT, que busca se unir ao PSB e a outros partidos de esquerda. O julgamento está marcado para quarta-feira.
‘Convergência’
Freire deixou claro a preferência por um acordo com tucanos. “Você tem que buscar na federação um partido que tenha maior convergência e identidade com o Cidadania. O Cidadania foi criado como sucessor do PPS numa ideia de renovação, abertura de setores liberais da sociedade junto com a social-democracia. Isso também está no PSDB”, declarou o líder.
“Se eventuais dificuldades internas do Cidadania forem superadas, caminharemos para uma federação de partidos que têm posições em comum e que estiveram juntos em muitos momentos da história recente do País”, disse Araújo, presidente do PSDB. “A união dos partidos está bem encaminhada”, disse o líder tucano no Senado, Izalci Lucas (DF).
Dirigentes estaduais do Cidadania, porém, têm se posicionado publicamente contrários à união. Um congresso do diretório do partido no Pará aprovou, anteontem, moção contra a federação com o PSDB. “Não é do interesse do partido em Minas Gerais. O Cidadania de Minas tem um projeto próprio, está estruturado para disputar a eleição. Uma junção com o PSDB implodiria o partido no Estado, não fica ninguém”, afirmou Xavier.
Entraves
Interesses locais também dificultam um acordo. Na Paraíba, os tucanos querem lançar o deputado federal Pedro Cunha Lima para o governo. Ele faz oposição ao governador João Azevedo, único do Cidadania que ocupa a chefia de um Executivo estadual e que busca a reeleição.
Na pré-campanha de Doria, a prioridade é trabalhar por acordos com o tripé União Brasil, MDB e Cidadania. Ontem, na live do grupo Parlatório, o presidenciável tucano citou, além de Vieira, Moro e os também pré-candidatos Simone Tebet (MDB) e Rodrigo Pacheco (PSD). No caso do MDB, a senadora Simone Tebet (MS) tem recebido apoio de tucanos históricos não alinhados ao governador paulista.
“Teremos que ter competência, discernimento, paciência e humildade para construir essa opção fortalecida”, disse Doria, que se descreveu como um “conciliador”.