Eleito, Lula tende a ‘ter lua de mel curta e aprovação baixa’, afirma cientista político


Atender às demandas sociais não será possível sem equilíbrio nas contas, diz diretor executivo da Eurasia para as Américas

Atualização:

O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve iniciar seu mandato com uma mensagem de união nacional ou concertação, mas “as chances de êxito são pequenas”, afirma o cientista político e diretor executivo da Eurasia para as Américas, Christopher Garman, em entrevista ao Estadão.

Segundo ele, ainda que o petista emita sinais para o mundo político, sugerindo um “governo pelo centro”, o País, dividido, passa por um momento em que “qualquer governante eleito tende a ter uma lua de mel curta e taxas de aprovação popular mais baixas”.

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Christopher Garman, cientista político; para ele, Lula tentará governar pelo centro Foto: Taba Benedicto/Estadão

A seguir, os principais trechos da entrevista.

Luiz Inácio Lula da Silva (PT) derrotou o presidente Jair Bolsonaro (PL) em uma vitória com margem apertada e um País dividido. Trata-se de um cenário diferente daquele em que o petista chegou ao Planalto há duas décadas. É possível uma concertação no pós-eleição?

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O presidente eleito Lula certamente deve começar esse início de mandato com uma mensagem de concertação nacional ou união nacional. Isso é uma estratégia que ele estava sinalizando já havia muito tempo. Ele sempre teve um diagnóstico de fazer um governo para o centro político. A escolha do candidato a vice, Geraldo Alckmin, refletia essa estratégia, e certamente acredito que Lula vai começar seu mandato com esse intuito. Mas as chances de êxitos são pequenas. O fato é que o País está dividido, com uma opinião pública com uma grande descrença perante instituições como o Congresso e o Supremo Tribunal Federal. A percepção de que o sistema está quebrado é muito alta no Brasil. E isso dificulta qualquer capacidade de um governo poder sanar esse desencanto profundo. Na esfera política, o início de mandato deve ter um tom de sinais dessa concertação. Deve chamar lideranças de partidos de centro para compor seu governo, e logo a cara do governo será uma cara de união nacional dentro do possível. Meu único ponto para chamar atenção é que isso dificilmente irá se traduzir em um ambiente onde esses cicatrizes perante a opinião pública sejam sanadas.

Ele (Lula) sempre teve um diagnóstico de fazer um governo para o centro político, a escolha do candidato a vice, Geraldo Alckmin, refletia essa estratégia. Mas as chances de êxitos são pequenas”

Christopher Garman, cientista político

Mas é possível uma reconciliação a curto prazo? Como esse processo afeta as perspectivas da recuperação econômica?

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Minha resposta tem duas partes. Se a pergunta é: teremos condições para poder gerar uma pacificação no País, uma união nacional e diminuir esse fosso muito forte que estamos vendo? Acho que é muito difícil isso ocorrer. A gente vive um ambiente de tremenda falta de confiança nas instituições, um desencanto e uma revolta profunda contra o chamado sistema político como um todo, no Judiciário e no Congresso. Esse grau de desconfiança é cronicamente grande no Brasil. Essa revolta deu voz para a candidatura do presidente Bolsonaro. E temo que esse ciclo eleitoral aprofundou essa desconfiança. Nós temos uma base conservadora que está saindo dessa eleição acreditando que os tribunais prejudicaram o seu candidato a favor da candidatura do ex-presidente Lula. Nós temos uma base progressista que enxerga o presidente Bolsonaro como uma ameaça à democracia. No fundo, nós temos uma retórica semelhante dos dois lados. Cada lado enxerga o outro como uma ameaça ao estado democrático de direito. Isso dificilmente vai ser sanado. Agora, se a pergunta é: podemos gerar condições de governabilidade, de poder avançar em certas agendas que possam apaziguar a preocupação de investidores privados, fora do Brasil e dentro do Brasil? Temos condições para tanto. Não existe um incentivo da classe política para uma instabilidade crônica do ponto de partida. Os agentes políticos tendem a dar condições de governabilidade para o novo presidente. Isso vai ser um sinal importante. Mas a geologia da opinião pública deve se manter podre nesse sentido.

“A sensação de bem-estar econômico no primeiro semestre tende a estar pior. O governante terá de lidar com essa frustração e com demandas sociais maiores sem desequilibrar as contas fiscais”

Christopher Garman, cientista político

Quais serão os desafios do próximo governo?

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O primeiro é o desafio político que a gente enxerga no Brasil e eu enxergo em vários países na América Latina. Estamos em um ambiente de opinião pública difícil para qualquer governante: esse desencanto profundo, demandas difíceis de conciliar, uma classe média frustrada. A renda real estagnou e está menor hoje do que estava no período pré-pandemia, classes mais baixas sofreram muito com esse choque de inflação. Estamos em um ambiente onde qualquer governante eleito tende a ter uma lua de mel curta e taxas de aprovação popular mais baixas. Estamos em um ambiente de governantes estruturalmente mais fracos. O desafio econômico são de duas ordens. Como navegar o ambiente externo que estará mais difícil nos próximos seis a dez meses. O Brasil vai estar em um período de desaceleração, dada ao aumento da taxa de juros para tentar controlar a inflação. A sensação de bem- estar econômico no primeiro semestre do ano que vem tende a estar pior. O governante terá de lidar com essa frustração do lado econômico e tem de lidar com demandas sociais maiores sem desequilibrar as contas fiscais.

O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva; petista votou em São Bernardo do Campo neste domingo, 30 Foto: NELSON ALMEIDA /AFP

Como se enfrentará a questão fiscal em 2023, uma vez que houve promessas durante a campanha de prorrogar desonerações de combustíveis e a manutenção do R$ 600 do Auxílio Brasil?

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Esse vai ser um desafio importante. Estamos em um mundo entrando em desaceleração global, com condições financeiras mais apertadas com banco central americano aumentando taxas de juros e aumentar gastos em condições financeiras mais apertadas é um desafio. Não existe espaço para grandes expansões fiscais sem que haja uma marcação mais forte em preços de ativos, prêmio de risco, cambio desvalorizando, o que dificulta a capacidade do Banco Central de reduzir juros. O caminho futuro não dá muita liberdade fiscal, mas existe espaço para poder aumentar gasto um pouco, sim. Acho que o importante para o próximo governo é ter a dosagem correta.

“O caminho futuro não dá muita liberdade fiscal, mas existe espaço para poder aumentar gasto um pouco, sim. Acho que o importante para o próximo governo é ter a dosagem correta.”

Christopher Garman, cientista político

Qual a agenda mais urgente do Brasil que precisa ser tratada já nestes 60 dias de transição?

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O governo Lula precisa encontrar uma maneira de sinalizar responsabilidade fiscal razoavelmente cedo. Isso é pela composição de quem lidera a equipe econômica, pela composição da equipe econômica, pelo tamanho do gasto extraordinário no primeiro ano e pela regra fiscal. Porque, se o governo não sinalizar a expectativa da dinâmica da dívida futura crível, os indicadores econômicos se deterioram, o câmbio desvaloriza, e o Banco Central não estará em condição de reduzir juros ano que vem. E aí o crescimento não vem. Sem uma âncora fiscal mínima, as condicionantes de uma recuperação econômica dificilmente virão. Essa é a prioridade zero no início. A segunda prioridade é uma reforma tributária que sinalize aumento de produtividade. Todas as demandas sociais com as quais o PT está querendo entregar do lado social – atacar a pobreza, fome, melhorar saúde, educação – não serão possíveis se o lado fiscal não estiver bem equilibrado. Vai ser muito difícil o governo iniciar com aumento de gastos do lado social, investimentos, salário mínimo e também desonerar tributos.

O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve iniciar seu mandato com uma mensagem de união nacional ou concertação, mas “as chances de êxito são pequenas”, afirma o cientista político e diretor executivo da Eurasia para as Américas, Christopher Garman, em entrevista ao Estadão.

Segundo ele, ainda que o petista emita sinais para o mundo político, sugerindo um “governo pelo centro”, o País, dividido, passa por um momento em que “qualquer governante eleito tende a ter uma lua de mel curta e taxas de aprovação popular mais baixas”.

Christopher Garman, cientista político; para ele, Lula tentará governar pelo centro Foto: Taba Benedicto/Estadão

A seguir, os principais trechos da entrevista.

Luiz Inácio Lula da Silva (PT) derrotou o presidente Jair Bolsonaro (PL) em uma vitória com margem apertada e um País dividido. Trata-se de um cenário diferente daquele em que o petista chegou ao Planalto há duas décadas. É possível uma concertação no pós-eleição?

O presidente eleito Lula certamente deve começar esse início de mandato com uma mensagem de concertação nacional ou união nacional. Isso é uma estratégia que ele estava sinalizando já havia muito tempo. Ele sempre teve um diagnóstico de fazer um governo para o centro político. A escolha do candidato a vice, Geraldo Alckmin, refletia essa estratégia, e certamente acredito que Lula vai começar seu mandato com esse intuito. Mas as chances de êxitos são pequenas. O fato é que o País está dividido, com uma opinião pública com uma grande descrença perante instituições como o Congresso e o Supremo Tribunal Federal. A percepção de que o sistema está quebrado é muito alta no Brasil. E isso dificulta qualquer capacidade de um governo poder sanar esse desencanto profundo. Na esfera política, o início de mandato deve ter um tom de sinais dessa concertação. Deve chamar lideranças de partidos de centro para compor seu governo, e logo a cara do governo será uma cara de união nacional dentro do possível. Meu único ponto para chamar atenção é que isso dificilmente irá se traduzir em um ambiente onde esses cicatrizes perante a opinião pública sejam sanadas.

Ele (Lula) sempre teve um diagnóstico de fazer um governo para o centro político, a escolha do candidato a vice, Geraldo Alckmin, refletia essa estratégia. Mas as chances de êxitos são pequenas”

Christopher Garman, cientista político

Mas é possível uma reconciliação a curto prazo? Como esse processo afeta as perspectivas da recuperação econômica?

Minha resposta tem duas partes. Se a pergunta é: teremos condições para poder gerar uma pacificação no País, uma união nacional e diminuir esse fosso muito forte que estamos vendo? Acho que é muito difícil isso ocorrer. A gente vive um ambiente de tremenda falta de confiança nas instituições, um desencanto e uma revolta profunda contra o chamado sistema político como um todo, no Judiciário e no Congresso. Esse grau de desconfiança é cronicamente grande no Brasil. Essa revolta deu voz para a candidatura do presidente Bolsonaro. E temo que esse ciclo eleitoral aprofundou essa desconfiança. Nós temos uma base conservadora que está saindo dessa eleição acreditando que os tribunais prejudicaram o seu candidato a favor da candidatura do ex-presidente Lula. Nós temos uma base progressista que enxerga o presidente Bolsonaro como uma ameaça à democracia. No fundo, nós temos uma retórica semelhante dos dois lados. Cada lado enxerga o outro como uma ameaça ao estado democrático de direito. Isso dificilmente vai ser sanado. Agora, se a pergunta é: podemos gerar condições de governabilidade, de poder avançar em certas agendas que possam apaziguar a preocupação de investidores privados, fora do Brasil e dentro do Brasil? Temos condições para tanto. Não existe um incentivo da classe política para uma instabilidade crônica do ponto de partida. Os agentes políticos tendem a dar condições de governabilidade para o novo presidente. Isso vai ser um sinal importante. Mas a geologia da opinião pública deve se manter podre nesse sentido.

“A sensação de bem-estar econômico no primeiro semestre tende a estar pior. O governante terá de lidar com essa frustração e com demandas sociais maiores sem desequilibrar as contas fiscais”

Christopher Garman, cientista político

Quais serão os desafios do próximo governo?

O primeiro é o desafio político que a gente enxerga no Brasil e eu enxergo em vários países na América Latina. Estamos em um ambiente de opinião pública difícil para qualquer governante: esse desencanto profundo, demandas difíceis de conciliar, uma classe média frustrada. A renda real estagnou e está menor hoje do que estava no período pré-pandemia, classes mais baixas sofreram muito com esse choque de inflação. Estamos em um ambiente onde qualquer governante eleito tende a ter uma lua de mel curta e taxas de aprovação popular mais baixas. Estamos em um ambiente de governantes estruturalmente mais fracos. O desafio econômico são de duas ordens. Como navegar o ambiente externo que estará mais difícil nos próximos seis a dez meses. O Brasil vai estar em um período de desaceleração, dada ao aumento da taxa de juros para tentar controlar a inflação. A sensação de bem- estar econômico no primeiro semestre do ano que vem tende a estar pior. O governante terá de lidar com essa frustração do lado econômico e tem de lidar com demandas sociais maiores sem desequilibrar as contas fiscais.

O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva; petista votou em São Bernardo do Campo neste domingo, 30 Foto: NELSON ALMEIDA /AFP

Como se enfrentará a questão fiscal em 2023, uma vez que houve promessas durante a campanha de prorrogar desonerações de combustíveis e a manutenção do R$ 600 do Auxílio Brasil?

Esse vai ser um desafio importante. Estamos em um mundo entrando em desaceleração global, com condições financeiras mais apertadas com banco central americano aumentando taxas de juros e aumentar gastos em condições financeiras mais apertadas é um desafio. Não existe espaço para grandes expansões fiscais sem que haja uma marcação mais forte em preços de ativos, prêmio de risco, cambio desvalorizando, o que dificulta a capacidade do Banco Central de reduzir juros. O caminho futuro não dá muita liberdade fiscal, mas existe espaço para poder aumentar gasto um pouco, sim. Acho que o importante para o próximo governo é ter a dosagem correta.

“O caminho futuro não dá muita liberdade fiscal, mas existe espaço para poder aumentar gasto um pouco, sim. Acho que o importante para o próximo governo é ter a dosagem correta.”

Christopher Garman, cientista político

Qual a agenda mais urgente do Brasil que precisa ser tratada já nestes 60 dias de transição?

O governo Lula precisa encontrar uma maneira de sinalizar responsabilidade fiscal razoavelmente cedo. Isso é pela composição de quem lidera a equipe econômica, pela composição da equipe econômica, pelo tamanho do gasto extraordinário no primeiro ano e pela regra fiscal. Porque, se o governo não sinalizar a expectativa da dinâmica da dívida futura crível, os indicadores econômicos se deterioram, o câmbio desvaloriza, e o Banco Central não estará em condição de reduzir juros ano que vem. E aí o crescimento não vem. Sem uma âncora fiscal mínima, as condicionantes de uma recuperação econômica dificilmente virão. Essa é a prioridade zero no início. A segunda prioridade é uma reforma tributária que sinalize aumento de produtividade. Todas as demandas sociais com as quais o PT está querendo entregar do lado social – atacar a pobreza, fome, melhorar saúde, educação – não serão possíveis se o lado fiscal não estiver bem equilibrado. Vai ser muito difícil o governo iniciar com aumento de gastos do lado social, investimentos, salário mínimo e também desonerar tributos.

O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve iniciar seu mandato com uma mensagem de união nacional ou concertação, mas “as chances de êxito são pequenas”, afirma o cientista político e diretor executivo da Eurasia para as Américas, Christopher Garman, em entrevista ao Estadão.

Segundo ele, ainda que o petista emita sinais para o mundo político, sugerindo um “governo pelo centro”, o País, dividido, passa por um momento em que “qualquer governante eleito tende a ter uma lua de mel curta e taxas de aprovação popular mais baixas”.

Christopher Garman, cientista político; para ele, Lula tentará governar pelo centro Foto: Taba Benedicto/Estadão

A seguir, os principais trechos da entrevista.

Luiz Inácio Lula da Silva (PT) derrotou o presidente Jair Bolsonaro (PL) em uma vitória com margem apertada e um País dividido. Trata-se de um cenário diferente daquele em que o petista chegou ao Planalto há duas décadas. É possível uma concertação no pós-eleição?

O presidente eleito Lula certamente deve começar esse início de mandato com uma mensagem de concertação nacional ou união nacional. Isso é uma estratégia que ele estava sinalizando já havia muito tempo. Ele sempre teve um diagnóstico de fazer um governo para o centro político. A escolha do candidato a vice, Geraldo Alckmin, refletia essa estratégia, e certamente acredito que Lula vai começar seu mandato com esse intuito. Mas as chances de êxitos são pequenas. O fato é que o País está dividido, com uma opinião pública com uma grande descrença perante instituições como o Congresso e o Supremo Tribunal Federal. A percepção de que o sistema está quebrado é muito alta no Brasil. E isso dificulta qualquer capacidade de um governo poder sanar esse desencanto profundo. Na esfera política, o início de mandato deve ter um tom de sinais dessa concertação. Deve chamar lideranças de partidos de centro para compor seu governo, e logo a cara do governo será uma cara de união nacional dentro do possível. Meu único ponto para chamar atenção é que isso dificilmente irá se traduzir em um ambiente onde esses cicatrizes perante a opinião pública sejam sanadas.

Ele (Lula) sempre teve um diagnóstico de fazer um governo para o centro político, a escolha do candidato a vice, Geraldo Alckmin, refletia essa estratégia. Mas as chances de êxitos são pequenas”

Christopher Garman, cientista político

Mas é possível uma reconciliação a curto prazo? Como esse processo afeta as perspectivas da recuperação econômica?

Minha resposta tem duas partes. Se a pergunta é: teremos condições para poder gerar uma pacificação no País, uma união nacional e diminuir esse fosso muito forte que estamos vendo? Acho que é muito difícil isso ocorrer. A gente vive um ambiente de tremenda falta de confiança nas instituições, um desencanto e uma revolta profunda contra o chamado sistema político como um todo, no Judiciário e no Congresso. Esse grau de desconfiança é cronicamente grande no Brasil. Essa revolta deu voz para a candidatura do presidente Bolsonaro. E temo que esse ciclo eleitoral aprofundou essa desconfiança. Nós temos uma base conservadora que está saindo dessa eleição acreditando que os tribunais prejudicaram o seu candidato a favor da candidatura do ex-presidente Lula. Nós temos uma base progressista que enxerga o presidente Bolsonaro como uma ameaça à democracia. No fundo, nós temos uma retórica semelhante dos dois lados. Cada lado enxerga o outro como uma ameaça ao estado democrático de direito. Isso dificilmente vai ser sanado. Agora, se a pergunta é: podemos gerar condições de governabilidade, de poder avançar em certas agendas que possam apaziguar a preocupação de investidores privados, fora do Brasil e dentro do Brasil? Temos condições para tanto. Não existe um incentivo da classe política para uma instabilidade crônica do ponto de partida. Os agentes políticos tendem a dar condições de governabilidade para o novo presidente. Isso vai ser um sinal importante. Mas a geologia da opinião pública deve se manter podre nesse sentido.

“A sensação de bem-estar econômico no primeiro semestre tende a estar pior. O governante terá de lidar com essa frustração e com demandas sociais maiores sem desequilibrar as contas fiscais”

Christopher Garman, cientista político

Quais serão os desafios do próximo governo?

O primeiro é o desafio político que a gente enxerga no Brasil e eu enxergo em vários países na América Latina. Estamos em um ambiente de opinião pública difícil para qualquer governante: esse desencanto profundo, demandas difíceis de conciliar, uma classe média frustrada. A renda real estagnou e está menor hoje do que estava no período pré-pandemia, classes mais baixas sofreram muito com esse choque de inflação. Estamos em um ambiente onde qualquer governante eleito tende a ter uma lua de mel curta e taxas de aprovação popular mais baixas. Estamos em um ambiente de governantes estruturalmente mais fracos. O desafio econômico são de duas ordens. Como navegar o ambiente externo que estará mais difícil nos próximos seis a dez meses. O Brasil vai estar em um período de desaceleração, dada ao aumento da taxa de juros para tentar controlar a inflação. A sensação de bem- estar econômico no primeiro semestre do ano que vem tende a estar pior. O governante terá de lidar com essa frustração do lado econômico e tem de lidar com demandas sociais maiores sem desequilibrar as contas fiscais.

O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva; petista votou em São Bernardo do Campo neste domingo, 30 Foto: NELSON ALMEIDA /AFP

Como se enfrentará a questão fiscal em 2023, uma vez que houve promessas durante a campanha de prorrogar desonerações de combustíveis e a manutenção do R$ 600 do Auxílio Brasil?

Esse vai ser um desafio importante. Estamos em um mundo entrando em desaceleração global, com condições financeiras mais apertadas com banco central americano aumentando taxas de juros e aumentar gastos em condições financeiras mais apertadas é um desafio. Não existe espaço para grandes expansões fiscais sem que haja uma marcação mais forte em preços de ativos, prêmio de risco, cambio desvalorizando, o que dificulta a capacidade do Banco Central de reduzir juros. O caminho futuro não dá muita liberdade fiscal, mas existe espaço para poder aumentar gasto um pouco, sim. Acho que o importante para o próximo governo é ter a dosagem correta.

“O caminho futuro não dá muita liberdade fiscal, mas existe espaço para poder aumentar gasto um pouco, sim. Acho que o importante para o próximo governo é ter a dosagem correta.”

Christopher Garman, cientista político

Qual a agenda mais urgente do Brasil que precisa ser tratada já nestes 60 dias de transição?

O governo Lula precisa encontrar uma maneira de sinalizar responsabilidade fiscal razoavelmente cedo. Isso é pela composição de quem lidera a equipe econômica, pela composição da equipe econômica, pelo tamanho do gasto extraordinário no primeiro ano e pela regra fiscal. Porque, se o governo não sinalizar a expectativa da dinâmica da dívida futura crível, os indicadores econômicos se deterioram, o câmbio desvaloriza, e o Banco Central não estará em condição de reduzir juros ano que vem. E aí o crescimento não vem. Sem uma âncora fiscal mínima, as condicionantes de uma recuperação econômica dificilmente virão. Essa é a prioridade zero no início. A segunda prioridade é uma reforma tributária que sinalize aumento de produtividade. Todas as demandas sociais com as quais o PT está querendo entregar do lado social – atacar a pobreza, fome, melhorar saúde, educação – não serão possíveis se o lado fiscal não estiver bem equilibrado. Vai ser muito difícil o governo iniciar com aumento de gastos do lado social, investimentos, salário mínimo e também desonerar tributos.

O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve iniciar seu mandato com uma mensagem de união nacional ou concertação, mas “as chances de êxito são pequenas”, afirma o cientista político e diretor executivo da Eurasia para as Américas, Christopher Garman, em entrevista ao Estadão.

Segundo ele, ainda que o petista emita sinais para o mundo político, sugerindo um “governo pelo centro”, o País, dividido, passa por um momento em que “qualquer governante eleito tende a ter uma lua de mel curta e taxas de aprovação popular mais baixas”.

Christopher Garman, cientista político; para ele, Lula tentará governar pelo centro Foto: Taba Benedicto/Estadão

A seguir, os principais trechos da entrevista.

Luiz Inácio Lula da Silva (PT) derrotou o presidente Jair Bolsonaro (PL) em uma vitória com margem apertada e um País dividido. Trata-se de um cenário diferente daquele em que o petista chegou ao Planalto há duas décadas. É possível uma concertação no pós-eleição?

O presidente eleito Lula certamente deve começar esse início de mandato com uma mensagem de concertação nacional ou união nacional. Isso é uma estratégia que ele estava sinalizando já havia muito tempo. Ele sempre teve um diagnóstico de fazer um governo para o centro político. A escolha do candidato a vice, Geraldo Alckmin, refletia essa estratégia, e certamente acredito que Lula vai começar seu mandato com esse intuito. Mas as chances de êxitos são pequenas. O fato é que o País está dividido, com uma opinião pública com uma grande descrença perante instituições como o Congresso e o Supremo Tribunal Federal. A percepção de que o sistema está quebrado é muito alta no Brasil. E isso dificulta qualquer capacidade de um governo poder sanar esse desencanto profundo. Na esfera política, o início de mandato deve ter um tom de sinais dessa concertação. Deve chamar lideranças de partidos de centro para compor seu governo, e logo a cara do governo será uma cara de união nacional dentro do possível. Meu único ponto para chamar atenção é que isso dificilmente irá se traduzir em um ambiente onde esses cicatrizes perante a opinião pública sejam sanadas.

Ele (Lula) sempre teve um diagnóstico de fazer um governo para o centro político, a escolha do candidato a vice, Geraldo Alckmin, refletia essa estratégia. Mas as chances de êxitos são pequenas”

Christopher Garman, cientista político

Mas é possível uma reconciliação a curto prazo? Como esse processo afeta as perspectivas da recuperação econômica?

Minha resposta tem duas partes. Se a pergunta é: teremos condições para poder gerar uma pacificação no País, uma união nacional e diminuir esse fosso muito forte que estamos vendo? Acho que é muito difícil isso ocorrer. A gente vive um ambiente de tremenda falta de confiança nas instituições, um desencanto e uma revolta profunda contra o chamado sistema político como um todo, no Judiciário e no Congresso. Esse grau de desconfiança é cronicamente grande no Brasil. Essa revolta deu voz para a candidatura do presidente Bolsonaro. E temo que esse ciclo eleitoral aprofundou essa desconfiança. Nós temos uma base conservadora que está saindo dessa eleição acreditando que os tribunais prejudicaram o seu candidato a favor da candidatura do ex-presidente Lula. Nós temos uma base progressista que enxerga o presidente Bolsonaro como uma ameaça à democracia. No fundo, nós temos uma retórica semelhante dos dois lados. Cada lado enxerga o outro como uma ameaça ao estado democrático de direito. Isso dificilmente vai ser sanado. Agora, se a pergunta é: podemos gerar condições de governabilidade, de poder avançar em certas agendas que possam apaziguar a preocupação de investidores privados, fora do Brasil e dentro do Brasil? Temos condições para tanto. Não existe um incentivo da classe política para uma instabilidade crônica do ponto de partida. Os agentes políticos tendem a dar condições de governabilidade para o novo presidente. Isso vai ser um sinal importante. Mas a geologia da opinião pública deve se manter podre nesse sentido.

“A sensação de bem-estar econômico no primeiro semestre tende a estar pior. O governante terá de lidar com essa frustração e com demandas sociais maiores sem desequilibrar as contas fiscais”

Christopher Garman, cientista político

Quais serão os desafios do próximo governo?

O primeiro é o desafio político que a gente enxerga no Brasil e eu enxergo em vários países na América Latina. Estamos em um ambiente de opinião pública difícil para qualquer governante: esse desencanto profundo, demandas difíceis de conciliar, uma classe média frustrada. A renda real estagnou e está menor hoje do que estava no período pré-pandemia, classes mais baixas sofreram muito com esse choque de inflação. Estamos em um ambiente onde qualquer governante eleito tende a ter uma lua de mel curta e taxas de aprovação popular mais baixas. Estamos em um ambiente de governantes estruturalmente mais fracos. O desafio econômico são de duas ordens. Como navegar o ambiente externo que estará mais difícil nos próximos seis a dez meses. O Brasil vai estar em um período de desaceleração, dada ao aumento da taxa de juros para tentar controlar a inflação. A sensação de bem- estar econômico no primeiro semestre do ano que vem tende a estar pior. O governante terá de lidar com essa frustração do lado econômico e tem de lidar com demandas sociais maiores sem desequilibrar as contas fiscais.

O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva; petista votou em São Bernardo do Campo neste domingo, 30 Foto: NELSON ALMEIDA /AFP

Como se enfrentará a questão fiscal em 2023, uma vez que houve promessas durante a campanha de prorrogar desonerações de combustíveis e a manutenção do R$ 600 do Auxílio Brasil?

Esse vai ser um desafio importante. Estamos em um mundo entrando em desaceleração global, com condições financeiras mais apertadas com banco central americano aumentando taxas de juros e aumentar gastos em condições financeiras mais apertadas é um desafio. Não existe espaço para grandes expansões fiscais sem que haja uma marcação mais forte em preços de ativos, prêmio de risco, cambio desvalorizando, o que dificulta a capacidade do Banco Central de reduzir juros. O caminho futuro não dá muita liberdade fiscal, mas existe espaço para poder aumentar gasto um pouco, sim. Acho que o importante para o próximo governo é ter a dosagem correta.

“O caminho futuro não dá muita liberdade fiscal, mas existe espaço para poder aumentar gasto um pouco, sim. Acho que o importante para o próximo governo é ter a dosagem correta.”

Christopher Garman, cientista político

Qual a agenda mais urgente do Brasil que precisa ser tratada já nestes 60 dias de transição?

O governo Lula precisa encontrar uma maneira de sinalizar responsabilidade fiscal razoavelmente cedo. Isso é pela composição de quem lidera a equipe econômica, pela composição da equipe econômica, pelo tamanho do gasto extraordinário no primeiro ano e pela regra fiscal. Porque, se o governo não sinalizar a expectativa da dinâmica da dívida futura crível, os indicadores econômicos se deterioram, o câmbio desvaloriza, e o Banco Central não estará em condição de reduzir juros ano que vem. E aí o crescimento não vem. Sem uma âncora fiscal mínima, as condicionantes de uma recuperação econômica dificilmente virão. Essa é a prioridade zero no início. A segunda prioridade é uma reforma tributária que sinalize aumento de produtividade. Todas as demandas sociais com as quais o PT está querendo entregar do lado social – atacar a pobreza, fome, melhorar saúde, educação – não serão possíveis se o lado fiscal não estiver bem equilibrado. Vai ser muito difícil o governo iniciar com aumento de gastos do lado social, investimentos, salário mínimo e também desonerar tributos.

O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve iniciar seu mandato com uma mensagem de união nacional ou concertação, mas “as chances de êxito são pequenas”, afirma o cientista político e diretor executivo da Eurasia para as Américas, Christopher Garman, em entrevista ao Estadão.

Segundo ele, ainda que o petista emita sinais para o mundo político, sugerindo um “governo pelo centro”, o País, dividido, passa por um momento em que “qualquer governante eleito tende a ter uma lua de mel curta e taxas de aprovação popular mais baixas”.

Christopher Garman, cientista político; para ele, Lula tentará governar pelo centro Foto: Taba Benedicto/Estadão

A seguir, os principais trechos da entrevista.

Luiz Inácio Lula da Silva (PT) derrotou o presidente Jair Bolsonaro (PL) em uma vitória com margem apertada e um País dividido. Trata-se de um cenário diferente daquele em que o petista chegou ao Planalto há duas décadas. É possível uma concertação no pós-eleição?

O presidente eleito Lula certamente deve começar esse início de mandato com uma mensagem de concertação nacional ou união nacional. Isso é uma estratégia que ele estava sinalizando já havia muito tempo. Ele sempre teve um diagnóstico de fazer um governo para o centro político. A escolha do candidato a vice, Geraldo Alckmin, refletia essa estratégia, e certamente acredito que Lula vai começar seu mandato com esse intuito. Mas as chances de êxitos são pequenas. O fato é que o País está dividido, com uma opinião pública com uma grande descrença perante instituições como o Congresso e o Supremo Tribunal Federal. A percepção de que o sistema está quebrado é muito alta no Brasil. E isso dificulta qualquer capacidade de um governo poder sanar esse desencanto profundo. Na esfera política, o início de mandato deve ter um tom de sinais dessa concertação. Deve chamar lideranças de partidos de centro para compor seu governo, e logo a cara do governo será uma cara de união nacional dentro do possível. Meu único ponto para chamar atenção é que isso dificilmente irá se traduzir em um ambiente onde esses cicatrizes perante a opinião pública sejam sanadas.

Ele (Lula) sempre teve um diagnóstico de fazer um governo para o centro político, a escolha do candidato a vice, Geraldo Alckmin, refletia essa estratégia. Mas as chances de êxitos são pequenas”

Christopher Garman, cientista político

Mas é possível uma reconciliação a curto prazo? Como esse processo afeta as perspectivas da recuperação econômica?

Minha resposta tem duas partes. Se a pergunta é: teremos condições para poder gerar uma pacificação no País, uma união nacional e diminuir esse fosso muito forte que estamos vendo? Acho que é muito difícil isso ocorrer. A gente vive um ambiente de tremenda falta de confiança nas instituições, um desencanto e uma revolta profunda contra o chamado sistema político como um todo, no Judiciário e no Congresso. Esse grau de desconfiança é cronicamente grande no Brasil. Essa revolta deu voz para a candidatura do presidente Bolsonaro. E temo que esse ciclo eleitoral aprofundou essa desconfiança. Nós temos uma base conservadora que está saindo dessa eleição acreditando que os tribunais prejudicaram o seu candidato a favor da candidatura do ex-presidente Lula. Nós temos uma base progressista que enxerga o presidente Bolsonaro como uma ameaça à democracia. No fundo, nós temos uma retórica semelhante dos dois lados. Cada lado enxerga o outro como uma ameaça ao estado democrático de direito. Isso dificilmente vai ser sanado. Agora, se a pergunta é: podemos gerar condições de governabilidade, de poder avançar em certas agendas que possam apaziguar a preocupação de investidores privados, fora do Brasil e dentro do Brasil? Temos condições para tanto. Não existe um incentivo da classe política para uma instabilidade crônica do ponto de partida. Os agentes políticos tendem a dar condições de governabilidade para o novo presidente. Isso vai ser um sinal importante. Mas a geologia da opinião pública deve se manter podre nesse sentido.

“A sensação de bem-estar econômico no primeiro semestre tende a estar pior. O governante terá de lidar com essa frustração e com demandas sociais maiores sem desequilibrar as contas fiscais”

Christopher Garman, cientista político

Quais serão os desafios do próximo governo?

O primeiro é o desafio político que a gente enxerga no Brasil e eu enxergo em vários países na América Latina. Estamos em um ambiente de opinião pública difícil para qualquer governante: esse desencanto profundo, demandas difíceis de conciliar, uma classe média frustrada. A renda real estagnou e está menor hoje do que estava no período pré-pandemia, classes mais baixas sofreram muito com esse choque de inflação. Estamos em um ambiente onde qualquer governante eleito tende a ter uma lua de mel curta e taxas de aprovação popular mais baixas. Estamos em um ambiente de governantes estruturalmente mais fracos. O desafio econômico são de duas ordens. Como navegar o ambiente externo que estará mais difícil nos próximos seis a dez meses. O Brasil vai estar em um período de desaceleração, dada ao aumento da taxa de juros para tentar controlar a inflação. A sensação de bem- estar econômico no primeiro semestre do ano que vem tende a estar pior. O governante terá de lidar com essa frustração do lado econômico e tem de lidar com demandas sociais maiores sem desequilibrar as contas fiscais.

O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva; petista votou em São Bernardo do Campo neste domingo, 30 Foto: NELSON ALMEIDA /AFP

Como se enfrentará a questão fiscal em 2023, uma vez que houve promessas durante a campanha de prorrogar desonerações de combustíveis e a manutenção do R$ 600 do Auxílio Brasil?

Esse vai ser um desafio importante. Estamos em um mundo entrando em desaceleração global, com condições financeiras mais apertadas com banco central americano aumentando taxas de juros e aumentar gastos em condições financeiras mais apertadas é um desafio. Não existe espaço para grandes expansões fiscais sem que haja uma marcação mais forte em preços de ativos, prêmio de risco, cambio desvalorizando, o que dificulta a capacidade do Banco Central de reduzir juros. O caminho futuro não dá muita liberdade fiscal, mas existe espaço para poder aumentar gasto um pouco, sim. Acho que o importante para o próximo governo é ter a dosagem correta.

“O caminho futuro não dá muita liberdade fiscal, mas existe espaço para poder aumentar gasto um pouco, sim. Acho que o importante para o próximo governo é ter a dosagem correta.”

Christopher Garman, cientista político

Qual a agenda mais urgente do Brasil que precisa ser tratada já nestes 60 dias de transição?

O governo Lula precisa encontrar uma maneira de sinalizar responsabilidade fiscal razoavelmente cedo. Isso é pela composição de quem lidera a equipe econômica, pela composição da equipe econômica, pelo tamanho do gasto extraordinário no primeiro ano e pela regra fiscal. Porque, se o governo não sinalizar a expectativa da dinâmica da dívida futura crível, os indicadores econômicos se deterioram, o câmbio desvaloriza, e o Banco Central não estará em condição de reduzir juros ano que vem. E aí o crescimento não vem. Sem uma âncora fiscal mínima, as condicionantes de uma recuperação econômica dificilmente virão. Essa é a prioridade zero no início. A segunda prioridade é uma reforma tributária que sinalize aumento de produtividade. Todas as demandas sociais com as quais o PT está querendo entregar do lado social – atacar a pobreza, fome, melhorar saúde, educação – não serão possíveis se o lado fiscal não estiver bem equilibrado. Vai ser muito difícil o governo iniciar com aumento de gastos do lado social, investimentos, salário mínimo e também desonerar tributos.

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