A reforma tributária pôs cara a cara o ministro Fernando Haddad (Fazenda) e o governador Tarcísio Gomes de Freitas (SP). Um é do PT, nome forte do presidente Lula e chegou ao segundo turno da eleição à Presidência em 2018. O outro é do Republicanos e estreou na política já como candidato vencedor ao governo do principal Estado do País, graças ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Adversários em 2022 em São Paulo, são virtuais herdeiros do espólio de Lula e Bolsonaro e podem se enfrentar de novo em 2026.
A votação da reforma consolidou a posição de Haddad como o maior articulador político de Lula e catapultou Tarcísio à política nacional, como líder de uma nova direita mais moderna e pragmática. O risco dele é perder o que já tem, ou tinha – o apoio de Bolsonaro – e não ganhar o que ainda não tem – a simpatia do centro e da maioria da centro-direita.
Na reunião do PL nesta quinta-feira, 6, Bolsonaro assumiu o ciúme do sucessor natural e parte da bancada vaiou o governador. Tarcísio, porém, tinha de aproveitar a reforma para usar seus trunfos: o governo de São Paulo, o conhecimento do Congresso (foi assessor parlamentar) e a capacidade de aprender e se adaptar rapidamente. E, cá entre nós, é bom para o governador ser alvo de Bolsonaro. Mostra força.
Há duas avaliações sobre suas articulações. Uma é de que ele desembarcou em Brasília disposto a marcar posição contra a reforma, mas teve de recuar para entrar em sintonia com sua base em São Paulo, onde as indústrias, o setor financeiro, a direita liberal e milhões de eleitores são a favor da reforma. A outra é que ele já chegou ao debate disposto a aprovar a reforma, mas deixando suas digitais, ou seja, negociando mudanças.
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O fato é que Haddad e Tarcísio, apesar das eleições no ano passado, aproximaram-se, conversam civilizadamente. Um episódio foi decisivo: no primeiro debate de 2022, Tarcísio jogou no ar contra Haddad a versão do “pior prefeito de São Paulo”, mas chegou ao segundo debate pedindo desculpas. Haddad gostou.
Três outros fatores empurraram a reforma tributária na Câmara: o comando do presidente Arthur Lira, a opinião pública e os R$ 5,1 bilhões em emendas parlamentares, a velha “compra de votos”. Bolsonaro ficou falando sozinho, contra a reforma e tentando levar o debate para o campo do “governo contra oposição”. Venceu o coro de Lula, Haddad, Tarcísio, Lira e o relator, deputado Aguinaldo Ribeiro: revisar o cipoal tributário não é parte da guerra entre Lula e Bolsonaro, esquerda e direita, PT e PL, mas sim uma necessidade do País. E não é de hoje...