O ex-ministro da Justiça Anderson Torres, preso desde janeiro, é uma prova viva do quanto o governo Jair Bolsonaro mergulhou até o último fio de cabelo na articulação de um golpe contra as eleições e a democracia. Há a torcida, de um lado, e um temor, do outro, de que Torres possa virar delator – de prova viva a bomba viva contra o próprio ex-presidente.
Assim como o tenente-coronel Mauro Cid usava seu cargo de ajudante de ordens de Bolsonaro para mobilizar mundos e fundos para levar as joias das Arábias para o chefe, o delegado de carreira da PF Anderson Torres jogava fora qualquer prurido e toda a sua biografia em favor do golpe.
Foi na sua casa, num envelope com timbre do governo, que seus antigos colegas da PF encontraram a minuta de intervenção no TSE, com destituição sumária de todos os ministros e criação de comissão mista de civis e militares, nas linha de 1984, o clássico de George Orwell.
Torres declarou à PF que a prova era “lixo” e que a recebeu da sua secretária, que nega categoricamente. Quem está mentindo? Ou melhor: quem tem interesse em mentir? O fato é que o documento existe e estava na casa do ex-ministro da Justiça, logo da Justiça!
Após o primeiro turno de 2022, a diretora de Inteligência do ministério, delegada Marília Alencar, mapeou as cidades onde o presidente Lula teve mais votos. Depois, ela apagou, mas a PF não dorme no ponto e recuperou tudo direitinho. E para que servia o mapa? Para nortear a ação da Polícia Rodoviária Federal contra a chegada de eleitores de Lula às urnas no 2.º turno, especialmente no Nordeste.
Mauro Cid mandou um sargento da Marinha fazer o trabalho sujo em Guarulhos. Torres dispensou intermediários e foi pessoalmente à Bahia, onde o PT é recordista de votos. Para acertar como impedir o trânsito de petistas? E, antes do fim do governo, ele saiu da Justiça para a Secretaria de Segurança Pública do DF. Que é responsável pelo quê? Pela segurança dos três Poderes, cujas sedes foram invadidas, sem reação, em 8 de janeiro.
Ele assumiu, pôs a sua turma e bateu um papo com o general Gustavo Dutra em 6 de janeiro e viajou para os EUA em 7 de janeiro, quando todos já sabiam do risco de vandalismo. O que fazia o general Dutra? Era chefe do Comando Militar do Planalto, ao qual é vinculado o Batalhão da Guarda Presidencial (BGP), que não sabia, não viu e não fez nada para proteger o Planalto.
A conclusão é de que Torres tramou contra as eleições e o TSE, transferiu-se para a Segurança do DF para deixar tudo pronto para o golpe e se mandou para os States. Torres, porém, é coadjuvante. O protagonista é Jair Bolsonaro.