Um olhar crítico no poder e nos poderosos

Opinião|As joias de R$ 16,5 milhões, a ‘simplicidade’ e o abuso de poder dos Bolsonaro


Trata-se do enredo rocambolesco de mais um filme de quinta sobre republiquetas de banana

Por Eliane Cantanhêde
Atualização:

Assim como há tempestades perfeitas, há escândalos completos, de cabo a rabo. É exatamente o caso do mimo de R$ 16,5 milhões que a ditadura sanguinária da Arábia Saudita deu para a madame Michelle Bolsonaro, para agradar (ou sei lá o que...) ao maridão dela, o então presidente do Brasil.

Trata-se do enredo rocambolesco de mais um filme de quinta sobre republiquetas de banana, ditadores, mandatários sem noção, mulheres bonitas e ambiciosas, ouro e brilhantes à vontade e uso de instrumentos e agentes públicos. E não poderiam faltar militares de diferentes patentes, fazendo tudo o que seu mestre mandar. “Um manda, o outro obedece”, lembram?

Essa reportagem do Estadão, entre tantas exclusivas e impactantes, é impecável, com nomes, datas, valores, fotos, fac-símiles e enredo: o ditador saudita deu o “presente”, Bolsonaro mandou esconder, um almirante-ministro ajudou e o seu subordinado, também militar, meteu a fortuna numa mochila.

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Joias de três milhões de euros que foram apreendidas pela Receita Federal após tentativa de entrada ilegal no País.  Foto: Estadão

Mentira tem pernas curtas, e o crime nem sempre compensa. Como nos filmes, tudo ia bem, até aparecer o danado do funcionário público exemplar, que tem coragem, honradez e cumpre a Constituição, as leis e as regras. Assim como o fiscal do Ibama que multou o deputado Bolsonaro por pesca em santuário ecológico, o da Receita disse não ao presidente, ao almirante, ao suboficial. A trama ficou ainda mais emocionante.

Já imaginaram o fiscal se deparando com aquele colar? E o relógio, o anel, os brincos? Ele apreende. O ministro dá uma carteirada: é do presidente da República! E ele: ok, mas todo mundo é igual perante a lei, certo? Tem de pagar imposto. Sim, teria de pagar uma bagatela de R$ 12, 5 milhões se o tesouro fosse mesmo de Jair e Michelle. Mas, se as joias eram de alguém, eram da União, do Estado, dos cidadãos, como determina a lei sobre presentes de estrangeiros a autoridades, e estavam sendo surrupiadas.

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Nada deu certo nas tentativas de Bolsonaro de “recuperar” o que não era seu. Como relatam os repórteres Adriana Fernandes e André Borges, acionou o Itamaraty, Fazenda e Minas e Energia, mandou até sargento em avião da FAB a Guarulhos pegar a muamba. Mas, se eles cederam ao “mestre”, os funcionários da Receita não entregaram os anéis, nem os dedos, nem a honra.

Estão caracterizados contrabando, sonegação, abuso de poder... E quantos crimes mais? A eles se somam todos os outros, contra a deputada Maria do Rosário, PF, vacinas, urnas eletrônicas, Yanomamis, Amazônia. A lista é grande e R$ 16,5 milhões é um pouco demais. Sem falar no 8 de janeiro...

Assim como há tempestades perfeitas, há escândalos completos, de cabo a rabo. É exatamente o caso do mimo de R$ 16,5 milhões que a ditadura sanguinária da Arábia Saudita deu para a madame Michelle Bolsonaro, para agradar (ou sei lá o que...) ao maridão dela, o então presidente do Brasil.

Trata-se do enredo rocambolesco de mais um filme de quinta sobre republiquetas de banana, ditadores, mandatários sem noção, mulheres bonitas e ambiciosas, ouro e brilhantes à vontade e uso de instrumentos e agentes públicos. E não poderiam faltar militares de diferentes patentes, fazendo tudo o que seu mestre mandar. “Um manda, o outro obedece”, lembram?

Essa reportagem do Estadão, entre tantas exclusivas e impactantes, é impecável, com nomes, datas, valores, fotos, fac-símiles e enredo: o ditador saudita deu o “presente”, Bolsonaro mandou esconder, um almirante-ministro ajudou e o seu subordinado, também militar, meteu a fortuna numa mochila.

Joias de três milhões de euros que foram apreendidas pela Receita Federal após tentativa de entrada ilegal no País.  Foto: Estadão

Mentira tem pernas curtas, e o crime nem sempre compensa. Como nos filmes, tudo ia bem, até aparecer o danado do funcionário público exemplar, que tem coragem, honradez e cumpre a Constituição, as leis e as regras. Assim como o fiscal do Ibama que multou o deputado Bolsonaro por pesca em santuário ecológico, o da Receita disse não ao presidente, ao almirante, ao suboficial. A trama ficou ainda mais emocionante.

Já imaginaram o fiscal se deparando com aquele colar? E o relógio, o anel, os brincos? Ele apreende. O ministro dá uma carteirada: é do presidente da República! E ele: ok, mas todo mundo é igual perante a lei, certo? Tem de pagar imposto. Sim, teria de pagar uma bagatela de R$ 12, 5 milhões se o tesouro fosse mesmo de Jair e Michelle. Mas, se as joias eram de alguém, eram da União, do Estado, dos cidadãos, como determina a lei sobre presentes de estrangeiros a autoridades, e estavam sendo surrupiadas.

Nada deu certo nas tentativas de Bolsonaro de “recuperar” o que não era seu. Como relatam os repórteres Adriana Fernandes e André Borges, acionou o Itamaraty, Fazenda e Minas e Energia, mandou até sargento em avião da FAB a Guarulhos pegar a muamba. Mas, se eles cederam ao “mestre”, os funcionários da Receita não entregaram os anéis, nem os dedos, nem a honra.

Estão caracterizados contrabando, sonegação, abuso de poder... E quantos crimes mais? A eles se somam todos os outros, contra a deputada Maria do Rosário, PF, vacinas, urnas eletrônicas, Yanomamis, Amazônia. A lista é grande e R$ 16,5 milhões é um pouco demais. Sem falar no 8 de janeiro...

Assim como há tempestades perfeitas, há escândalos completos, de cabo a rabo. É exatamente o caso do mimo de R$ 16,5 milhões que a ditadura sanguinária da Arábia Saudita deu para a madame Michelle Bolsonaro, para agradar (ou sei lá o que...) ao maridão dela, o então presidente do Brasil.

Trata-se do enredo rocambolesco de mais um filme de quinta sobre republiquetas de banana, ditadores, mandatários sem noção, mulheres bonitas e ambiciosas, ouro e brilhantes à vontade e uso de instrumentos e agentes públicos. E não poderiam faltar militares de diferentes patentes, fazendo tudo o que seu mestre mandar. “Um manda, o outro obedece”, lembram?

Essa reportagem do Estadão, entre tantas exclusivas e impactantes, é impecável, com nomes, datas, valores, fotos, fac-símiles e enredo: o ditador saudita deu o “presente”, Bolsonaro mandou esconder, um almirante-ministro ajudou e o seu subordinado, também militar, meteu a fortuna numa mochila.

Joias de três milhões de euros que foram apreendidas pela Receita Federal após tentativa de entrada ilegal no País.  Foto: Estadão

Mentira tem pernas curtas, e o crime nem sempre compensa. Como nos filmes, tudo ia bem, até aparecer o danado do funcionário público exemplar, que tem coragem, honradez e cumpre a Constituição, as leis e as regras. Assim como o fiscal do Ibama que multou o deputado Bolsonaro por pesca em santuário ecológico, o da Receita disse não ao presidente, ao almirante, ao suboficial. A trama ficou ainda mais emocionante.

Já imaginaram o fiscal se deparando com aquele colar? E o relógio, o anel, os brincos? Ele apreende. O ministro dá uma carteirada: é do presidente da República! E ele: ok, mas todo mundo é igual perante a lei, certo? Tem de pagar imposto. Sim, teria de pagar uma bagatela de R$ 12, 5 milhões se o tesouro fosse mesmo de Jair e Michelle. Mas, se as joias eram de alguém, eram da União, do Estado, dos cidadãos, como determina a lei sobre presentes de estrangeiros a autoridades, e estavam sendo surrupiadas.

Nada deu certo nas tentativas de Bolsonaro de “recuperar” o que não era seu. Como relatam os repórteres Adriana Fernandes e André Borges, acionou o Itamaraty, Fazenda e Minas e Energia, mandou até sargento em avião da FAB a Guarulhos pegar a muamba. Mas, se eles cederam ao “mestre”, os funcionários da Receita não entregaram os anéis, nem os dedos, nem a honra.

Estão caracterizados contrabando, sonegação, abuso de poder... E quantos crimes mais? A eles se somam todos os outros, contra a deputada Maria do Rosário, PF, vacinas, urnas eletrônicas, Yanomamis, Amazônia. A lista é grande e R$ 16,5 milhões é um pouco demais. Sem falar no 8 de janeiro...

Opinião por Eliane Cantanhêde

Comentarista da Rádio Eldorado, Rádio Jornal (PE) e da GloboNews

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