O plano macabro de decretar Estado de Defesa, matar o presidente eleito, seu vice e o então presidente do TSE para deixar o caminho livre para uma ditadura de viés e comando militar no Brasil foi tão real que já previa personagens chaves para postos estratégicos no pós-golpe. Bolsonaristas certos nos lugares certos. Ou, melhor, pessoas erradas nos lugares errados.
Os generais de quatro estrelas Augusto Heleno e Walter Braga Netto, da reserva, que estavam no coração do governo de Jair Bolsonaro, seriam comandantes do Gabinete de Intervenção, que se colocaria acima dos Poderes e das autoridades da República para implantar o “novo regime”, mais ou menos nos moldes da comissão revolucionária de 1964.
O ministro da Justiça, policial federal Anderson Torres, foi nomeado secretário de Segurança do DF, órgão responsável pela proteção da capital da República, logo, da Praça dos Três Poderes e da Esplanada dos Ministérios. Depois de usar o ministério para monitorar votos lulistas e jogar a PRF contra eles, Torres mudou de cargo para fazer o que fez: facilitar a invasão do Planalto, Congresso e Supremo em 8 de janeiro.
Já o ajudante de ordens de Bolsonaro, tenente-coronel da ativa Mauro Cid, pivô de todos os escândalos, processos e do próprio golpe, chegou a ser nomeado pelo então presidente para o Comando de Operações do Exército, tropa de elite próxima a Brasília para ser acionada e agir rapidamente.
Foi desse comando, vejam que “coincidência”, que criminosos de farda saíram no Dia D do golpe, 15 de dezembro de 2022, quando Bolsonaro assinaria o decreto de Estado de Defesa, para prender ou assassinar o ministro do STF e presidente do TSE Alexandre de Moraes, personagem-chave na resistência ao golpe. Por que Cid nesse comando? Tirem suas conclusões. E ele só foi “desnomeado” com a posse do general legalista Tomás Paiva no Comando do Exército, já no governo Lula.
Entre 37 indiciados pela PF por golpe, 25 são ou foram militares e três, policiais federais. Quem abre a lista, por ordem alfabética, é o capitão Aylton Barros, expulso do Exército, e quem fecha é o PF Wladimir Soares, infiltrado na segurança do presidente eleito para repassar a rotina, os trajetos e os horários de Lula para seus futuros assassinos.
No Exército, Barros é chamado de “bandido”. Na PF, Soares virou “traidor”, “vagabundo”. O plano considerava a hipótese de “danos colaterais” (vítimas não previstas) e o atual diretor geral da PF, Andrei Rodrigues, como chefe da segurança do presidente eleito, correria risco de morte se concretizado o ataque a Lula. Além de Torres e Soares, o terceiro PF da lista é Alexandre Ramagem, que dirigia a Abin, ou melhor, a “Abin Paralela”.
As investigações da PF comprovam em detalhes que o golpe não era de brincadeirinha e a lista de indicados confirma o quanto nomes e crimes estavam embolados: diamantes da Arábia Saudita, atestados falsos de vacina e, acima de tudo, o golpe. Governo ou organização criminosa? Bolsonaro era comandante em chefe das Forças Armadas, do Golpe ou de ambos?