Quem diria? Com tantas investigações, sobre tesouros das Arábias e ataques a vacinas e máscaras, urnas eletrônicas e instituições, a (primeira) busca e apreensão da Polícia Federal atingindo o ex-presidente Jair Bolsonaro não foi por nada disso, mas dentro do inquérito sobre “Milícias Digitais” e por algo que ninguém esperava: adulteração de dados oficiais sobre vacinação, que ele nega. Parece um caso menor, mas a história é muito feia.
Bolsonaro tomou ou não a vacina contra a Covid 19? Isso deixou de ser uma curiosidade para ser uma investigação da Justiça e da polícia, depois que comprovantes foram impressos, para uso, e em seguida apagados do sistema do Ministério da Saúde, para ninguém saber. Assim, a gravidade da situação muda de patamar: se comprovadas as suspeitas, Bolsonaro não atentou só contra a saúde pública, mas cometeu falsidade ideológica.
Assim como mobilizou mundos e fundos, militares e civis, ministérios e secretarias para abocanhar indevidamente (ou criminosamente) estojos milionários de joias cravejadas de diamantes, o então presidente parece ter acionado o seu ajudante de ordens, tenente-coronel da ativa Mauro Cid, funcionários, médicos e políticos amigos para uma fraude, uma falsificação de dado oficial.
Além de 16 mandados de busca e apreensão, a PF também cumpre seis mandados de prisão e o mais ofuscante deles é o do coronel Cid, justamente no dia em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem almoço marcado com o Alto Comando do Exército. Saia justa, inclusive porque Cid foi pivô de muita coisa, desde o antigo até o atual governo.
Senão, vejamos: pivô da operação para “recuperar” as joias que nunca foram nem poderiam ser dos Bolsonaro; pagamento de contas da ex-primeira-dama Michelle; lives com vazamento de informações sigilosas da PF e, por fim, queda do primeiro comandante do Exército no governo Lula, que resistiu à determinação presidencial de cancelar a nomeação de Cid para um cargo estratégico.
A operação da PF deixa duas interrogações, ou seriam certezas? Uma é que o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo, não está aí para brincadeira, fecha o cerco sobre Bolsonaro e a hipótese de prisão fica mais palpável. A segunda é que o País está dividido ao meio, o bolsonarismo é forte nas redes sociais (vide Lei das Fake News) e na vida real e é muito provável que haja reações. Como, e com que intensidade, ainda veremos.