Um olhar crítico no poder e nos poderosos

Opinião|Brasil está envolto em fumaça e anda em círculos na política externa, sem chegar a lugar nenhum


Lula faz o oposto do que pretendia: não repete os acertos e traz de volta os erros do passado

Por Eliane Cantanhêde
Atualização:

Ao vencer a eleição de 2022 e anunciar ao mundo que “o Brasil voltou”, o presidente Lula trazia com ele alívio pelo fim do governo Bolsonaro e expectativa do retorno de políticas públicas essenciais, reinserção do País no mundo e recuperação da liderança na área ambiental, apagando mensalão e petrolão. Em resumo, Lula prometia repetir os acertos e deixar para trás os erros dos dois mandatos anteriores. Tem sido assim?

“Pária internacional” com Bolsonaro, o Brasil colhe fracassos com Lula, como mediador nas guerras de Rússia e Ucrânia e de Israel e Palestina e a política externa anda em círculos, sem chegar a lugar nenhum, não por culpa do Itamaraty. Lula e o assessor Celso Amorim jogaram as expectativas lá em cima, mas o Brasil não teve fôlego para tanto.

O presidente Lula e o assessor especial Celso Amorim. Foto: Pedro Kirilos/Estadão Foto: Pedro Kirilos
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Resultado: rompeu na prática com Israel, afastou-se da Ucrânia, atraiu desconfianças no Ocidente e sinalizou uma aliança tácita com Rússia e China, que transformam os Brics em bunker na disputa por hegemonia com os EUA. Sem contar o nó que Nicolás Maduro deu no Brasil e no amigão Lula, que lhe deu uma importância que ele jamais teve e recebeu em troca agressões, ironias e descaso.

Amorim foi à Rússia na semana passada, um dia depois de Vladimir Putin apoiar Brasil, Índia e China como negociadores de um cessar-fogo com a Ucrânia. Amorim diz que foi “uma coincidência” e a viagem era para uma reunião dos Brics sobre segurança. Ele, porém, já tinha marcado reunião paralela com seu correspondente chinês, claro, sobre a guerra.

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É mais um passo do Brasil, que saiu de uma outra frente de negociação, desenhada em Copenhagen e costurada na Suíça, em junho, por países de diferentes continentes, sob argumento de que essas conversações incluíam a Ucrânia e excluíam a Rússia. E agora, chamados por Putin, a China, a Índia e o Brasil vão incluir a Ucrânia? Até onde isso pode ir? Tomara que vá longe, mas não convém comemorar de véspera.

Se não é potência política, econômica e bélica, o Brasil tem inegável liderança ambiental, com a maior fonte de energia renovável, uma legislação ambiental reconhecida mundo afora e a COP 30 em Belém do Pará em 2025. Mas... Amazônia, Cerrado e Pantanal estão em chamas, metade da Chapada dos Veadeiros e do Parque Nacional de Brasília foi dizimada e 60% do território nacional estão envoltos em fumaça.

Ok. Há uma confluência perversa de seca, calor, vento e ação criminosa, mas assusta o mundo e incendeia a oposição interna. Mal comparando, Lula não tem culpa do assédio sexual do então ministro de Direitos Humanos contra a ministra da Igualdade Racial, mas o fato remete a episódio semelhante na CEF na era Bolsonaro e deixa a sensação de que os erros se repetem, por mais diferentes que os governos sejam – e são.

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Sem recuperar o protagonismo nas questões internacionais e ambientais e insistindo em estatismo e aparelhamento na Petrobras, fundos de pensão, agências reguladoras, Lula faz o oposto do que pretendia: não repete os acertos e traz de volta os erros do passado.

Ao vencer a eleição de 2022 e anunciar ao mundo que “o Brasil voltou”, o presidente Lula trazia com ele alívio pelo fim do governo Bolsonaro e expectativa do retorno de políticas públicas essenciais, reinserção do País no mundo e recuperação da liderança na área ambiental, apagando mensalão e petrolão. Em resumo, Lula prometia repetir os acertos e deixar para trás os erros dos dois mandatos anteriores. Tem sido assim?

“Pária internacional” com Bolsonaro, o Brasil colhe fracassos com Lula, como mediador nas guerras de Rússia e Ucrânia e de Israel e Palestina e a política externa anda em círculos, sem chegar a lugar nenhum, não por culpa do Itamaraty. Lula e o assessor Celso Amorim jogaram as expectativas lá em cima, mas o Brasil não teve fôlego para tanto.

O presidente Lula e o assessor especial Celso Amorim. Foto: Pedro Kirilos/Estadão Foto: Pedro Kirilos

Resultado: rompeu na prática com Israel, afastou-se da Ucrânia, atraiu desconfianças no Ocidente e sinalizou uma aliança tácita com Rússia e China, que transformam os Brics em bunker na disputa por hegemonia com os EUA. Sem contar o nó que Nicolás Maduro deu no Brasil e no amigão Lula, que lhe deu uma importância que ele jamais teve e recebeu em troca agressões, ironias e descaso.

Amorim foi à Rússia na semana passada, um dia depois de Vladimir Putin apoiar Brasil, Índia e China como negociadores de um cessar-fogo com a Ucrânia. Amorim diz que foi “uma coincidência” e a viagem era para uma reunião dos Brics sobre segurança. Ele, porém, já tinha marcado reunião paralela com seu correspondente chinês, claro, sobre a guerra.

É mais um passo do Brasil, que saiu de uma outra frente de negociação, desenhada em Copenhagen e costurada na Suíça, em junho, por países de diferentes continentes, sob argumento de que essas conversações incluíam a Ucrânia e excluíam a Rússia. E agora, chamados por Putin, a China, a Índia e o Brasil vão incluir a Ucrânia? Até onde isso pode ir? Tomara que vá longe, mas não convém comemorar de véspera.

Se não é potência política, econômica e bélica, o Brasil tem inegável liderança ambiental, com a maior fonte de energia renovável, uma legislação ambiental reconhecida mundo afora e a COP 30 em Belém do Pará em 2025. Mas... Amazônia, Cerrado e Pantanal estão em chamas, metade da Chapada dos Veadeiros e do Parque Nacional de Brasília foi dizimada e 60% do território nacional estão envoltos em fumaça.

Ok. Há uma confluência perversa de seca, calor, vento e ação criminosa, mas assusta o mundo e incendeia a oposição interna. Mal comparando, Lula não tem culpa do assédio sexual do então ministro de Direitos Humanos contra a ministra da Igualdade Racial, mas o fato remete a episódio semelhante na CEF na era Bolsonaro e deixa a sensação de que os erros se repetem, por mais diferentes que os governos sejam – e são.

Sem recuperar o protagonismo nas questões internacionais e ambientais e insistindo em estatismo e aparelhamento na Petrobras, fundos de pensão, agências reguladoras, Lula faz o oposto do que pretendia: não repete os acertos e traz de volta os erros do passado.

Ao vencer a eleição de 2022 e anunciar ao mundo que “o Brasil voltou”, o presidente Lula trazia com ele alívio pelo fim do governo Bolsonaro e expectativa do retorno de políticas públicas essenciais, reinserção do País no mundo e recuperação da liderança na área ambiental, apagando mensalão e petrolão. Em resumo, Lula prometia repetir os acertos e deixar para trás os erros dos dois mandatos anteriores. Tem sido assim?

“Pária internacional” com Bolsonaro, o Brasil colhe fracassos com Lula, como mediador nas guerras de Rússia e Ucrânia e de Israel e Palestina e a política externa anda em círculos, sem chegar a lugar nenhum, não por culpa do Itamaraty. Lula e o assessor Celso Amorim jogaram as expectativas lá em cima, mas o Brasil não teve fôlego para tanto.

O presidente Lula e o assessor especial Celso Amorim. Foto: Pedro Kirilos/Estadão Foto: Pedro Kirilos

Resultado: rompeu na prática com Israel, afastou-se da Ucrânia, atraiu desconfianças no Ocidente e sinalizou uma aliança tácita com Rússia e China, que transformam os Brics em bunker na disputa por hegemonia com os EUA. Sem contar o nó que Nicolás Maduro deu no Brasil e no amigão Lula, que lhe deu uma importância que ele jamais teve e recebeu em troca agressões, ironias e descaso.

Amorim foi à Rússia na semana passada, um dia depois de Vladimir Putin apoiar Brasil, Índia e China como negociadores de um cessar-fogo com a Ucrânia. Amorim diz que foi “uma coincidência” e a viagem era para uma reunião dos Brics sobre segurança. Ele, porém, já tinha marcado reunião paralela com seu correspondente chinês, claro, sobre a guerra.

É mais um passo do Brasil, que saiu de uma outra frente de negociação, desenhada em Copenhagen e costurada na Suíça, em junho, por países de diferentes continentes, sob argumento de que essas conversações incluíam a Ucrânia e excluíam a Rússia. E agora, chamados por Putin, a China, a Índia e o Brasil vão incluir a Ucrânia? Até onde isso pode ir? Tomara que vá longe, mas não convém comemorar de véspera.

Se não é potência política, econômica e bélica, o Brasil tem inegável liderança ambiental, com a maior fonte de energia renovável, uma legislação ambiental reconhecida mundo afora e a COP 30 em Belém do Pará em 2025. Mas... Amazônia, Cerrado e Pantanal estão em chamas, metade da Chapada dos Veadeiros e do Parque Nacional de Brasília foi dizimada e 60% do território nacional estão envoltos em fumaça.

Ok. Há uma confluência perversa de seca, calor, vento e ação criminosa, mas assusta o mundo e incendeia a oposição interna. Mal comparando, Lula não tem culpa do assédio sexual do então ministro de Direitos Humanos contra a ministra da Igualdade Racial, mas o fato remete a episódio semelhante na CEF na era Bolsonaro e deixa a sensação de que os erros se repetem, por mais diferentes que os governos sejam – e são.

Sem recuperar o protagonismo nas questões internacionais e ambientais e insistindo em estatismo e aparelhamento na Petrobras, fundos de pensão, agências reguladoras, Lula faz o oposto do que pretendia: não repete os acertos e traz de volta os erros do passado.

Opinião por Eliane Cantanhêde

Comentarista da Rádio Eldorado, Rádio Jornal (PE) e da GloboNews

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