O presidente Jair Bolsonaro e o Congresso, unindo do Centrão ao PT, ampliaram para a Nação a velha regra do “toma lá, dá cá”. Com uma das mãos, dão R$ 41,2 bilhões para aumentar o Auxílio Brasil, dobrar o vale-gás e dar voucher para taxistas e caminhoneiros. Com a outra, tomam R$ 6,74 bilhões do Orçamento, principalmente da Saúde e da Educação de todos!
A PEC Kamikaze, ou da reeleição, é compra de votos direta de setores relevantes, já o corte faz um mal enorme ao País, mas é quase uma abstração e não dói imediatamente na pele do eleitor e da eleitora.
Em 2018, o que movia o País e o eleitorado eram a Lava Jato, a corrupção, a “velha política”. O discurso de Bolsonaro coube como uma luva e milhões de pessoas não se deram ao trabalho de analisar o passado, as manifestações, o que havia de real no discurso e no candidato.
Em 2022, com o trauma da covid, 33 milhões de brasileiros com fome, mais de dez milhões sem emprego e a combinação de queda de renda com uma inflação galopante, o mote é economia, emprego, renda, preço e comida. E é por isso que Bolsonaro corre desesperadamente para ter algo a mostrar. Implode a responsabilidade fiscal, o teto de gastos, a lei eleitoral? Danem-se eles!
Ciro Gomes, que concorre pela quarta vez à Presidência e não chega a dois dígitos nas pesquisas, está certo numa coisa: só ele tem um programa de governo que, goste-se ou não, existe e foi publicado. Sem programa, Bolsonaro e Lula vão disputar em duas searas: na economia e na lama.
Na economia, Lula tem o que mostrar, depois da herança bendita de Fernando Henrique Cardoso, da onda internacional favorável e de entregar para Dilma Rousseff um país com 7,5% de crescimento em 2010, o Nordeste bombando, os pobres indo às universidades e viajando de avião e felicidade no ar. Bolsonaro vai suar para competir só com PEC da reeleição e queda no preço da gasolina.
Na seara da lama, Lula vai patinar com mensalão, petrolão, prisão e a cristalização, injusta ou não, de um “PT ladrão”. E vai tentar devolver com orçamento secreto, Codevasf, rachadinhas, vacinas, pastores no MEC, interferência política em PF, Receita e Coaf e um desmanche inédito de Educação, Ambiente, Cultura, política externa... Exemplos borbulhantes.
Bolsonaro insistiu na convenção de domingo na balela das “dores do comunismo” e sua mulher, Michelle, disse que ele foi eleito por Deus para “a libertação da nossa Nação”, mas isso é coisa para convertidos. A maioria do eleitorado quer saúde, comida no prato, filhos na escola, transporte público, paz e felicidade. É o que decidirá se haverá, ou não, segundo turno.