Um olhar crítico no poder e nos poderosos

Opinião|Entre o certo e o incerto, o ruim e o pior, Brasil ficou com o certo e ruim na Argentina


O governo e setores empresariais brasileiros vão dobrar a aposta em Sérgio Massa

Por Eliane Cantanhêde

Todas as vezes que a política falha aparece um outsider como salvador da pátria, cavalgando ideias extravagantes, falso moralismo, patriotismo tosco e populismo barato, tudo assim, recheado de adjetivos. É o caso de Javier Milei, o “fenômeno” — ou seria “mito”? — na Argentina, país que, um dia, já foi tão politizado e bem resolvido, mas virou um caos. A surpresa, inclusive no Brasil, foi a dianteira do ministro Sérgio Massa no primeiro turno, mas Milei continua no jogo e eleição ainda vai dar o que falar – e o que escrever.

O mais estratégico parceiro brasileiro está entre o certo é o incerto, o ruim e o pior, um “anarcocapitalista” defensor, não de um Estado mínimo, mas de zero Estado, e um ministro da Fazenda especialista em bater recordes, com cerca de140% de inflação ao ano e 1.000 pesos por um dólar. É fantástico. As pessoas devem andar nas ruas, não com carteiras, mas com sacolas. O resto está em dólar mesmo, debaixo do colchão. Os bancos? Ah, os bancos…

Sergio Massa, ministro da Economia da Argentina, é o preferido do governo Lula na disputa presidencial. Foto: Mario De Fina/AP 
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O segundo turno é uma guerra de rejeições, como no Brasil. Em 2018, a ojeriza ao PT pós Lava Jato elegeu Jair Messias Bolsonaro, capitão praticamente expulso do Exército e deputado por décadas sem fazer nada, a não ser empurrar os próprios filhos para a política. Deu no que deu e, em 2022, a roda girou ao contrário: o horror ao Messias e o triste fim da Lava Jato trouxeram de volta Luiz Inácio Lula da Silva e o PT.

Lá na Argentina, como cá no Brasil e alhures – vide os Estados Unidos – há uma profunda crise do sistema representativo e um vácuo de lideranças, como o que elegeu Hugo Chaves na Venezuela, um coronel que havia sido preso por tentativa de golpe de Estado e que, ainda hoje, vaga como fantasma pelos destroços do país.

Javier Milei ficou em segundo lugar na disputa pelo primeiro turno da campanha presidencial. Foto: Natacha Pisarenko/AP 
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Assim como a direita brasileira não conseguiu encontrar ninguém melhor que Bolsonaro em 2018, a esquerda não identificou nenhum sangue novo em 2022. Os argentinos, sem opção, terão de se contentar com o amalucado Milei ou o incompetente Massa, em meio à crise política e econômica, com óbvios reflexos sociais.

Milei é de um partido tipo o meteórico PRN de Fernando Collor, só fala e promete absurdos e ilustrou seu último comício de campanha com um fuzil, metralhadora, sei lá o quê, e imagens da bomba atômica. Massa, um político que já trafegou entre o peronismo e o antiperonismo, ficou espremido entre o presidente Alberto Fernández, que sequer conseguiu disputar a reeleição, e a vice e ex-presidente Cristina Kirchner, enrolada com a justiça.

O erro de Milei foi exagerar na dose, ao ser ou se mostrar louco, falar em fechar o Banco Central e as universidades, escolas e hospitais públicos e jogar tudo nas mãos da iniciativa privada. Colou para os jovens, mas afugentou os mais velhos e os que têm algum juízo. Nem as próprias empresas entraram nessa. E Massa anuncia com “União Nacional”, sem efeito em polarizações irracionais, mas útil como bordão em tempos de crise.

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Apesar do princípio de não ingerência ostensiva em questões internas, o governo Lula trabalhou intensamente por Massa, considerado, entre os males, o menor. Fernando Haddad, da Economia, assumiu o “voto”, os marqueteiros do PT puseram-se à disposição e Massa não se fez de rogado. Congelou até as tarifas de transporte público. Agora, é saber que milagre ele pretende fazer para recuperar minimamente a economia argentina.

A pitada ridícula brasileira partiu do deputado Eduardo Bolsonaro, “desligado” num programa de TV em Buenos Aires ao fazer campanha pelo armamento da população civil. Um apresentador gritou “para”. O outro resumiu: “é por isso que os brasileiros removeram o pai dele do poder, felizmente”. E pensar que Sua Excelência foi o deputado federal mais votado do Brasil em 2018 e foi cogitado por papai presidente para ser… embaixador em Washington!

O governo e setores empresariais brasileiros vão dobrar a aposta em Massa. Além de não ameaçar Lula, o Mercosul nem o combalido acordo do bloco com a União Europeia, ele tem mais uma vantagem: se vencer, será devedor de Lula. A eleição passa e a crise Argentina fica. Mas, com Milei, pode, ou poderia, ficar ainda pior.

Todas as vezes que a política falha aparece um outsider como salvador da pátria, cavalgando ideias extravagantes, falso moralismo, patriotismo tosco e populismo barato, tudo assim, recheado de adjetivos. É o caso de Javier Milei, o “fenômeno” — ou seria “mito”? — na Argentina, país que, um dia, já foi tão politizado e bem resolvido, mas virou um caos. A surpresa, inclusive no Brasil, foi a dianteira do ministro Sérgio Massa no primeiro turno, mas Milei continua no jogo e eleição ainda vai dar o que falar – e o que escrever.

O mais estratégico parceiro brasileiro está entre o certo é o incerto, o ruim e o pior, um “anarcocapitalista” defensor, não de um Estado mínimo, mas de zero Estado, e um ministro da Fazenda especialista em bater recordes, com cerca de140% de inflação ao ano e 1.000 pesos por um dólar. É fantástico. As pessoas devem andar nas ruas, não com carteiras, mas com sacolas. O resto está em dólar mesmo, debaixo do colchão. Os bancos? Ah, os bancos…

Sergio Massa, ministro da Economia da Argentina, é o preferido do governo Lula na disputa presidencial. Foto: Mario De Fina/AP 

O segundo turno é uma guerra de rejeições, como no Brasil. Em 2018, a ojeriza ao PT pós Lava Jato elegeu Jair Messias Bolsonaro, capitão praticamente expulso do Exército e deputado por décadas sem fazer nada, a não ser empurrar os próprios filhos para a política. Deu no que deu e, em 2022, a roda girou ao contrário: o horror ao Messias e o triste fim da Lava Jato trouxeram de volta Luiz Inácio Lula da Silva e o PT.

Lá na Argentina, como cá no Brasil e alhures – vide os Estados Unidos – há uma profunda crise do sistema representativo e um vácuo de lideranças, como o que elegeu Hugo Chaves na Venezuela, um coronel que havia sido preso por tentativa de golpe de Estado e que, ainda hoje, vaga como fantasma pelos destroços do país.

Javier Milei ficou em segundo lugar na disputa pelo primeiro turno da campanha presidencial. Foto: Natacha Pisarenko/AP 

Assim como a direita brasileira não conseguiu encontrar ninguém melhor que Bolsonaro em 2018, a esquerda não identificou nenhum sangue novo em 2022. Os argentinos, sem opção, terão de se contentar com o amalucado Milei ou o incompetente Massa, em meio à crise política e econômica, com óbvios reflexos sociais.

Milei é de um partido tipo o meteórico PRN de Fernando Collor, só fala e promete absurdos e ilustrou seu último comício de campanha com um fuzil, metralhadora, sei lá o quê, e imagens da bomba atômica. Massa, um político que já trafegou entre o peronismo e o antiperonismo, ficou espremido entre o presidente Alberto Fernández, que sequer conseguiu disputar a reeleição, e a vice e ex-presidente Cristina Kirchner, enrolada com a justiça.

O erro de Milei foi exagerar na dose, ao ser ou se mostrar louco, falar em fechar o Banco Central e as universidades, escolas e hospitais públicos e jogar tudo nas mãos da iniciativa privada. Colou para os jovens, mas afugentou os mais velhos e os que têm algum juízo. Nem as próprias empresas entraram nessa. E Massa anuncia com “União Nacional”, sem efeito em polarizações irracionais, mas útil como bordão em tempos de crise.

Apesar do princípio de não ingerência ostensiva em questões internas, o governo Lula trabalhou intensamente por Massa, considerado, entre os males, o menor. Fernando Haddad, da Economia, assumiu o “voto”, os marqueteiros do PT puseram-se à disposição e Massa não se fez de rogado. Congelou até as tarifas de transporte público. Agora, é saber que milagre ele pretende fazer para recuperar minimamente a economia argentina.

A pitada ridícula brasileira partiu do deputado Eduardo Bolsonaro, “desligado” num programa de TV em Buenos Aires ao fazer campanha pelo armamento da população civil. Um apresentador gritou “para”. O outro resumiu: “é por isso que os brasileiros removeram o pai dele do poder, felizmente”. E pensar que Sua Excelência foi o deputado federal mais votado do Brasil em 2018 e foi cogitado por papai presidente para ser… embaixador em Washington!

O governo e setores empresariais brasileiros vão dobrar a aposta em Massa. Além de não ameaçar Lula, o Mercosul nem o combalido acordo do bloco com a União Europeia, ele tem mais uma vantagem: se vencer, será devedor de Lula. A eleição passa e a crise Argentina fica. Mas, com Milei, pode, ou poderia, ficar ainda pior.

Todas as vezes que a política falha aparece um outsider como salvador da pátria, cavalgando ideias extravagantes, falso moralismo, patriotismo tosco e populismo barato, tudo assim, recheado de adjetivos. É o caso de Javier Milei, o “fenômeno” — ou seria “mito”? — na Argentina, país que, um dia, já foi tão politizado e bem resolvido, mas virou um caos. A surpresa, inclusive no Brasil, foi a dianteira do ministro Sérgio Massa no primeiro turno, mas Milei continua no jogo e eleição ainda vai dar o que falar – e o que escrever.

O mais estratégico parceiro brasileiro está entre o certo é o incerto, o ruim e o pior, um “anarcocapitalista” defensor, não de um Estado mínimo, mas de zero Estado, e um ministro da Fazenda especialista em bater recordes, com cerca de140% de inflação ao ano e 1.000 pesos por um dólar. É fantástico. As pessoas devem andar nas ruas, não com carteiras, mas com sacolas. O resto está em dólar mesmo, debaixo do colchão. Os bancos? Ah, os bancos…

Sergio Massa, ministro da Economia da Argentina, é o preferido do governo Lula na disputa presidencial. Foto: Mario De Fina/AP 

O segundo turno é uma guerra de rejeições, como no Brasil. Em 2018, a ojeriza ao PT pós Lava Jato elegeu Jair Messias Bolsonaro, capitão praticamente expulso do Exército e deputado por décadas sem fazer nada, a não ser empurrar os próprios filhos para a política. Deu no que deu e, em 2022, a roda girou ao contrário: o horror ao Messias e o triste fim da Lava Jato trouxeram de volta Luiz Inácio Lula da Silva e o PT.

Lá na Argentina, como cá no Brasil e alhures – vide os Estados Unidos – há uma profunda crise do sistema representativo e um vácuo de lideranças, como o que elegeu Hugo Chaves na Venezuela, um coronel que havia sido preso por tentativa de golpe de Estado e que, ainda hoje, vaga como fantasma pelos destroços do país.

Javier Milei ficou em segundo lugar na disputa pelo primeiro turno da campanha presidencial. Foto: Natacha Pisarenko/AP 

Assim como a direita brasileira não conseguiu encontrar ninguém melhor que Bolsonaro em 2018, a esquerda não identificou nenhum sangue novo em 2022. Os argentinos, sem opção, terão de se contentar com o amalucado Milei ou o incompetente Massa, em meio à crise política e econômica, com óbvios reflexos sociais.

Milei é de um partido tipo o meteórico PRN de Fernando Collor, só fala e promete absurdos e ilustrou seu último comício de campanha com um fuzil, metralhadora, sei lá o quê, e imagens da bomba atômica. Massa, um político que já trafegou entre o peronismo e o antiperonismo, ficou espremido entre o presidente Alberto Fernández, que sequer conseguiu disputar a reeleição, e a vice e ex-presidente Cristina Kirchner, enrolada com a justiça.

O erro de Milei foi exagerar na dose, ao ser ou se mostrar louco, falar em fechar o Banco Central e as universidades, escolas e hospitais públicos e jogar tudo nas mãos da iniciativa privada. Colou para os jovens, mas afugentou os mais velhos e os que têm algum juízo. Nem as próprias empresas entraram nessa. E Massa anuncia com “União Nacional”, sem efeito em polarizações irracionais, mas útil como bordão em tempos de crise.

Apesar do princípio de não ingerência ostensiva em questões internas, o governo Lula trabalhou intensamente por Massa, considerado, entre os males, o menor. Fernando Haddad, da Economia, assumiu o “voto”, os marqueteiros do PT puseram-se à disposição e Massa não se fez de rogado. Congelou até as tarifas de transporte público. Agora, é saber que milagre ele pretende fazer para recuperar minimamente a economia argentina.

A pitada ridícula brasileira partiu do deputado Eduardo Bolsonaro, “desligado” num programa de TV em Buenos Aires ao fazer campanha pelo armamento da população civil. Um apresentador gritou “para”. O outro resumiu: “é por isso que os brasileiros removeram o pai dele do poder, felizmente”. E pensar que Sua Excelência foi o deputado federal mais votado do Brasil em 2018 e foi cogitado por papai presidente para ser… embaixador em Washington!

O governo e setores empresariais brasileiros vão dobrar a aposta em Massa. Além de não ameaçar Lula, o Mercosul nem o combalido acordo do bloco com a União Europeia, ele tem mais uma vantagem: se vencer, será devedor de Lula. A eleição passa e a crise Argentina fica. Mas, com Milei, pode, ou poderia, ficar ainda pior.

Todas as vezes que a política falha aparece um outsider como salvador da pátria, cavalgando ideias extravagantes, falso moralismo, patriotismo tosco e populismo barato, tudo assim, recheado de adjetivos. É o caso de Javier Milei, o “fenômeno” — ou seria “mito”? — na Argentina, país que, um dia, já foi tão politizado e bem resolvido, mas virou um caos. A surpresa, inclusive no Brasil, foi a dianteira do ministro Sérgio Massa no primeiro turno, mas Milei continua no jogo e eleição ainda vai dar o que falar – e o que escrever.

O mais estratégico parceiro brasileiro está entre o certo é o incerto, o ruim e o pior, um “anarcocapitalista” defensor, não de um Estado mínimo, mas de zero Estado, e um ministro da Fazenda especialista em bater recordes, com cerca de140% de inflação ao ano e 1.000 pesos por um dólar. É fantástico. As pessoas devem andar nas ruas, não com carteiras, mas com sacolas. O resto está em dólar mesmo, debaixo do colchão. Os bancos? Ah, os bancos…

Sergio Massa, ministro da Economia da Argentina, é o preferido do governo Lula na disputa presidencial. Foto: Mario De Fina/AP 

O segundo turno é uma guerra de rejeições, como no Brasil. Em 2018, a ojeriza ao PT pós Lava Jato elegeu Jair Messias Bolsonaro, capitão praticamente expulso do Exército e deputado por décadas sem fazer nada, a não ser empurrar os próprios filhos para a política. Deu no que deu e, em 2022, a roda girou ao contrário: o horror ao Messias e o triste fim da Lava Jato trouxeram de volta Luiz Inácio Lula da Silva e o PT.

Lá na Argentina, como cá no Brasil e alhures – vide os Estados Unidos – há uma profunda crise do sistema representativo e um vácuo de lideranças, como o que elegeu Hugo Chaves na Venezuela, um coronel que havia sido preso por tentativa de golpe de Estado e que, ainda hoje, vaga como fantasma pelos destroços do país.

Javier Milei ficou em segundo lugar na disputa pelo primeiro turno da campanha presidencial. Foto: Natacha Pisarenko/AP 

Assim como a direita brasileira não conseguiu encontrar ninguém melhor que Bolsonaro em 2018, a esquerda não identificou nenhum sangue novo em 2022. Os argentinos, sem opção, terão de se contentar com o amalucado Milei ou o incompetente Massa, em meio à crise política e econômica, com óbvios reflexos sociais.

Milei é de um partido tipo o meteórico PRN de Fernando Collor, só fala e promete absurdos e ilustrou seu último comício de campanha com um fuzil, metralhadora, sei lá o quê, e imagens da bomba atômica. Massa, um político que já trafegou entre o peronismo e o antiperonismo, ficou espremido entre o presidente Alberto Fernández, que sequer conseguiu disputar a reeleição, e a vice e ex-presidente Cristina Kirchner, enrolada com a justiça.

O erro de Milei foi exagerar na dose, ao ser ou se mostrar louco, falar em fechar o Banco Central e as universidades, escolas e hospitais públicos e jogar tudo nas mãos da iniciativa privada. Colou para os jovens, mas afugentou os mais velhos e os que têm algum juízo. Nem as próprias empresas entraram nessa. E Massa anuncia com “União Nacional”, sem efeito em polarizações irracionais, mas útil como bordão em tempos de crise.

Apesar do princípio de não ingerência ostensiva em questões internas, o governo Lula trabalhou intensamente por Massa, considerado, entre os males, o menor. Fernando Haddad, da Economia, assumiu o “voto”, os marqueteiros do PT puseram-se à disposição e Massa não se fez de rogado. Congelou até as tarifas de transporte público. Agora, é saber que milagre ele pretende fazer para recuperar minimamente a economia argentina.

A pitada ridícula brasileira partiu do deputado Eduardo Bolsonaro, “desligado” num programa de TV em Buenos Aires ao fazer campanha pelo armamento da população civil. Um apresentador gritou “para”. O outro resumiu: “é por isso que os brasileiros removeram o pai dele do poder, felizmente”. E pensar que Sua Excelência foi o deputado federal mais votado do Brasil em 2018 e foi cogitado por papai presidente para ser… embaixador em Washington!

O governo e setores empresariais brasileiros vão dobrar a aposta em Massa. Além de não ameaçar Lula, o Mercosul nem o combalido acordo do bloco com a União Europeia, ele tem mais uma vantagem: se vencer, será devedor de Lula. A eleição passa e a crise Argentina fica. Mas, com Milei, pode, ou poderia, ficar ainda pior.

Opinião por Eliane Cantanhêde

Comentarista da Rádio Eldorado, Rádio Jornal (PE) e do telejornal GloboNews em Pauta

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