Um olhar crítico no poder e nos poderosos

Opinião|Lula acertou: não é hora de usar o passado para agravar o presente


Apesar dos pesares, de posições ideológicas antiquadas e de sucessivas falas fora de tempo e lugar, se há uma área onde o presidente vem acertando, é a militar

Por Eliane Cantanhêde

Num ambiente de grave polarização na sociedade e de divisão mais grave ainda nas Forças Armadas, o presidente Lula acertou ao vetar atos e notas oficiais a favor ou contra o golpe militar, deixando a dinâmica da democracia agir e, fora do governo, cada lado se manifestar como bem entender. Há, porém, uma providência inadiável a ser tomada, por mais que haja resistência entre oficiais: rever o ensino sobre 1964 desde os colégios militares até a Academia Militar de Agulhas Negras (Aman), por exemplo.

Tratada com superficialidade e como retaliação pelo PT, essa providência se tornou uma espécie de dogma nas Forças Armadas, mas, a esta altura, seis décadas depois, é hora de atualizar o ensino e o debate sobre o golpe e romper uma bolha em que militares de várias gerações e patentes veem aquilo tudo como um passeio no paraíso. Não foi. Nada que asfixie as instituições, anule a democracia e abrigue tortura, mortes e desaparecimentos de cidadãos e cidadãs sob a guarda do Estado, inclusive de estudantes muito jovens, pode ser considerado paraíso.

Lula e o ministro da Defesa, José Múcio, ao lado dos comandantes das Forças Armadas no desfile de Sete de Setembro, em 2023 Foto: Wilton Junior/Estadão
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Há até a questão semântica. Não faz sentido militares tratarem aquilo tudo como “revolução” e “regime”, quando o mundo inteiro define adequadamente o que houve no Brasil: golpe e ditadura. Também é incompreensível que os alunos da Aman sejam submetidos a apostilas produzidas dentro da bolha e a palestrantes de um viés só, não a livros de história e a acadêmicos que joguem luzes sobre aqueles 21 anos e tragam o sempre muito bem-vindo contraditório.

A isso se chama inteligência, debate intelectual e capacidade de pensar, indispensáveis a civis e militares, sempre. Até e principalmente porque isso serve, ou teria servido, como antídoto para novos ímpetos golpistas dentro das Forças Armadas.

O nosso Estadão, aliás, nos brinda neste domingo com um caderno especial condensando preciosidades históricas: depoimentos de quem viveu o antes e o durante do golpe ao Jornal da Tarde, do mesmo grupo, em 1977 e 1978, quando ainda imperava a censura à imprensa – e à verdade –, com o compromisso de só serem publicadas na íntegra após a morte dos entrevistados. Diz o ditado que “a verdade dói”, mas a realidade demonstra, com abundância de exemplos, que dores e feridas da história e das sociedades só cicatrizam e não se repetem com a verdade como ela é.

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Neste 31 de Março, militares de pijama podem fazer loas a ditadores nos clubes militares, assim com famílias, vítimas e militantes têm toda a legitimidade para lembrar os seus mortos, chorar suas feridas, lembrar os anos de chumbo para a história e gritar um grito que não é só deles, as vítimas diretas, mas de toda a Nação, também vítima: Tortura, nunca mais! Mas a responsabilidade do presidente Lula é principalmente com o presente e com o futuro.

Os nervos estão à flor da pele, com Lula caindo nas pesquisas e Jair Bolsonaro acuado pela montanha de provas em inquéritos que vão desde a absurda falsificação de atestados de vacina até a escabrosa tentativa de golpe de Estado. Quem lucraria com notas e eventos das Forças Armadas enaltecendo 1964? E com a área civil do governo remoendo as culpas de militares nos porões da ditadura? Isso jamais será esquecido, mas não é hora de potencializar divisões, polarizações, guerras ideológicas. O golpe de 64 passou, mas o golpe de 2022 ainda paira no ar.

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Vamos admitir que, apesar dos pesares, de posições ideológicas antiquadas e de sucessivas falas fora de tempo e lugar, se há uma área onde Lula vem acertando, é a militar. Escolheu bem o ex-deputado e articulador político José Múcio, que tem perfil e personalidade para a Defesa, e os três comandantes: general Tomás Paiva no Exército, almirante Marcos Sampaio Olsen na Marinha e brigadeiro Marcelo Kanitz Damasceno na Aeronáutica.

São oficiais que batem continência para a Constituição e os poderes constituídos e estão focados na defesa do País e na profissionalização e modernização das Forças, como todo militar deve ser. É preciso respaldar a posição e a atuação de cada um. Eles calaram a insubordinação e respeitam as investigações do que e de quem deve ser investigado, mas as divisões internas ainda existem e as tensões estão no ar. É hora de reforçar os legalistas, não de acirrar as divisões. Lula sabe e precisa disso. O Brasil também.

Num ambiente de grave polarização na sociedade e de divisão mais grave ainda nas Forças Armadas, o presidente Lula acertou ao vetar atos e notas oficiais a favor ou contra o golpe militar, deixando a dinâmica da democracia agir e, fora do governo, cada lado se manifestar como bem entender. Há, porém, uma providência inadiável a ser tomada, por mais que haja resistência entre oficiais: rever o ensino sobre 1964 desde os colégios militares até a Academia Militar de Agulhas Negras (Aman), por exemplo.

Tratada com superficialidade e como retaliação pelo PT, essa providência se tornou uma espécie de dogma nas Forças Armadas, mas, a esta altura, seis décadas depois, é hora de atualizar o ensino e o debate sobre o golpe e romper uma bolha em que militares de várias gerações e patentes veem aquilo tudo como um passeio no paraíso. Não foi. Nada que asfixie as instituições, anule a democracia e abrigue tortura, mortes e desaparecimentos de cidadãos e cidadãs sob a guarda do Estado, inclusive de estudantes muito jovens, pode ser considerado paraíso.

Lula e o ministro da Defesa, José Múcio, ao lado dos comandantes das Forças Armadas no desfile de Sete de Setembro, em 2023 Foto: Wilton Junior/Estadão

Há até a questão semântica. Não faz sentido militares tratarem aquilo tudo como “revolução” e “regime”, quando o mundo inteiro define adequadamente o que houve no Brasil: golpe e ditadura. Também é incompreensível que os alunos da Aman sejam submetidos a apostilas produzidas dentro da bolha e a palestrantes de um viés só, não a livros de história e a acadêmicos que joguem luzes sobre aqueles 21 anos e tragam o sempre muito bem-vindo contraditório.

A isso se chama inteligência, debate intelectual e capacidade de pensar, indispensáveis a civis e militares, sempre. Até e principalmente porque isso serve, ou teria servido, como antídoto para novos ímpetos golpistas dentro das Forças Armadas.

O nosso Estadão, aliás, nos brinda neste domingo com um caderno especial condensando preciosidades históricas: depoimentos de quem viveu o antes e o durante do golpe ao Jornal da Tarde, do mesmo grupo, em 1977 e 1978, quando ainda imperava a censura à imprensa – e à verdade –, com o compromisso de só serem publicadas na íntegra após a morte dos entrevistados. Diz o ditado que “a verdade dói”, mas a realidade demonstra, com abundância de exemplos, que dores e feridas da história e das sociedades só cicatrizam e não se repetem com a verdade como ela é.

Neste 31 de Março, militares de pijama podem fazer loas a ditadores nos clubes militares, assim com famílias, vítimas e militantes têm toda a legitimidade para lembrar os seus mortos, chorar suas feridas, lembrar os anos de chumbo para a história e gritar um grito que não é só deles, as vítimas diretas, mas de toda a Nação, também vítima: Tortura, nunca mais! Mas a responsabilidade do presidente Lula é principalmente com o presente e com o futuro.

Os nervos estão à flor da pele, com Lula caindo nas pesquisas e Jair Bolsonaro acuado pela montanha de provas em inquéritos que vão desde a absurda falsificação de atestados de vacina até a escabrosa tentativa de golpe de Estado. Quem lucraria com notas e eventos das Forças Armadas enaltecendo 1964? E com a área civil do governo remoendo as culpas de militares nos porões da ditadura? Isso jamais será esquecido, mas não é hora de potencializar divisões, polarizações, guerras ideológicas. O golpe de 64 passou, mas o golpe de 2022 ainda paira no ar.

Vamos admitir que, apesar dos pesares, de posições ideológicas antiquadas e de sucessivas falas fora de tempo e lugar, se há uma área onde Lula vem acertando, é a militar. Escolheu bem o ex-deputado e articulador político José Múcio, que tem perfil e personalidade para a Defesa, e os três comandantes: general Tomás Paiva no Exército, almirante Marcos Sampaio Olsen na Marinha e brigadeiro Marcelo Kanitz Damasceno na Aeronáutica.

São oficiais que batem continência para a Constituição e os poderes constituídos e estão focados na defesa do País e na profissionalização e modernização das Forças, como todo militar deve ser. É preciso respaldar a posição e a atuação de cada um. Eles calaram a insubordinação e respeitam as investigações do que e de quem deve ser investigado, mas as divisões internas ainda existem e as tensões estão no ar. É hora de reforçar os legalistas, não de acirrar as divisões. Lula sabe e precisa disso. O Brasil também.

Num ambiente de grave polarização na sociedade e de divisão mais grave ainda nas Forças Armadas, o presidente Lula acertou ao vetar atos e notas oficiais a favor ou contra o golpe militar, deixando a dinâmica da democracia agir e, fora do governo, cada lado se manifestar como bem entender. Há, porém, uma providência inadiável a ser tomada, por mais que haja resistência entre oficiais: rever o ensino sobre 1964 desde os colégios militares até a Academia Militar de Agulhas Negras (Aman), por exemplo.

Tratada com superficialidade e como retaliação pelo PT, essa providência se tornou uma espécie de dogma nas Forças Armadas, mas, a esta altura, seis décadas depois, é hora de atualizar o ensino e o debate sobre o golpe e romper uma bolha em que militares de várias gerações e patentes veem aquilo tudo como um passeio no paraíso. Não foi. Nada que asfixie as instituições, anule a democracia e abrigue tortura, mortes e desaparecimentos de cidadãos e cidadãs sob a guarda do Estado, inclusive de estudantes muito jovens, pode ser considerado paraíso.

Lula e o ministro da Defesa, José Múcio, ao lado dos comandantes das Forças Armadas no desfile de Sete de Setembro, em 2023 Foto: Wilton Junior/Estadão

Há até a questão semântica. Não faz sentido militares tratarem aquilo tudo como “revolução” e “regime”, quando o mundo inteiro define adequadamente o que houve no Brasil: golpe e ditadura. Também é incompreensível que os alunos da Aman sejam submetidos a apostilas produzidas dentro da bolha e a palestrantes de um viés só, não a livros de história e a acadêmicos que joguem luzes sobre aqueles 21 anos e tragam o sempre muito bem-vindo contraditório.

A isso se chama inteligência, debate intelectual e capacidade de pensar, indispensáveis a civis e militares, sempre. Até e principalmente porque isso serve, ou teria servido, como antídoto para novos ímpetos golpistas dentro das Forças Armadas.

O nosso Estadão, aliás, nos brinda neste domingo com um caderno especial condensando preciosidades históricas: depoimentos de quem viveu o antes e o durante do golpe ao Jornal da Tarde, do mesmo grupo, em 1977 e 1978, quando ainda imperava a censura à imprensa – e à verdade –, com o compromisso de só serem publicadas na íntegra após a morte dos entrevistados. Diz o ditado que “a verdade dói”, mas a realidade demonstra, com abundância de exemplos, que dores e feridas da história e das sociedades só cicatrizam e não se repetem com a verdade como ela é.

Neste 31 de Março, militares de pijama podem fazer loas a ditadores nos clubes militares, assim com famílias, vítimas e militantes têm toda a legitimidade para lembrar os seus mortos, chorar suas feridas, lembrar os anos de chumbo para a história e gritar um grito que não é só deles, as vítimas diretas, mas de toda a Nação, também vítima: Tortura, nunca mais! Mas a responsabilidade do presidente Lula é principalmente com o presente e com o futuro.

Os nervos estão à flor da pele, com Lula caindo nas pesquisas e Jair Bolsonaro acuado pela montanha de provas em inquéritos que vão desde a absurda falsificação de atestados de vacina até a escabrosa tentativa de golpe de Estado. Quem lucraria com notas e eventos das Forças Armadas enaltecendo 1964? E com a área civil do governo remoendo as culpas de militares nos porões da ditadura? Isso jamais será esquecido, mas não é hora de potencializar divisões, polarizações, guerras ideológicas. O golpe de 64 passou, mas o golpe de 2022 ainda paira no ar.

Vamos admitir que, apesar dos pesares, de posições ideológicas antiquadas e de sucessivas falas fora de tempo e lugar, se há uma área onde Lula vem acertando, é a militar. Escolheu bem o ex-deputado e articulador político José Múcio, que tem perfil e personalidade para a Defesa, e os três comandantes: general Tomás Paiva no Exército, almirante Marcos Sampaio Olsen na Marinha e brigadeiro Marcelo Kanitz Damasceno na Aeronáutica.

São oficiais que batem continência para a Constituição e os poderes constituídos e estão focados na defesa do País e na profissionalização e modernização das Forças, como todo militar deve ser. É preciso respaldar a posição e a atuação de cada um. Eles calaram a insubordinação e respeitam as investigações do que e de quem deve ser investigado, mas as divisões internas ainda existem e as tensões estão no ar. É hora de reforçar os legalistas, não de acirrar as divisões. Lula sabe e precisa disso. O Brasil também.

Num ambiente de grave polarização na sociedade e de divisão mais grave ainda nas Forças Armadas, o presidente Lula acertou ao vetar atos e notas oficiais a favor ou contra o golpe militar, deixando a dinâmica da democracia agir e, fora do governo, cada lado se manifestar como bem entender. Há, porém, uma providência inadiável a ser tomada, por mais que haja resistência entre oficiais: rever o ensino sobre 1964 desde os colégios militares até a Academia Militar de Agulhas Negras (Aman), por exemplo.

Tratada com superficialidade e como retaliação pelo PT, essa providência se tornou uma espécie de dogma nas Forças Armadas, mas, a esta altura, seis décadas depois, é hora de atualizar o ensino e o debate sobre o golpe e romper uma bolha em que militares de várias gerações e patentes veem aquilo tudo como um passeio no paraíso. Não foi. Nada que asfixie as instituições, anule a democracia e abrigue tortura, mortes e desaparecimentos de cidadãos e cidadãs sob a guarda do Estado, inclusive de estudantes muito jovens, pode ser considerado paraíso.

Lula e o ministro da Defesa, José Múcio, ao lado dos comandantes das Forças Armadas no desfile de Sete de Setembro, em 2023 Foto: Wilton Junior/Estadão

Há até a questão semântica. Não faz sentido militares tratarem aquilo tudo como “revolução” e “regime”, quando o mundo inteiro define adequadamente o que houve no Brasil: golpe e ditadura. Também é incompreensível que os alunos da Aman sejam submetidos a apostilas produzidas dentro da bolha e a palestrantes de um viés só, não a livros de história e a acadêmicos que joguem luzes sobre aqueles 21 anos e tragam o sempre muito bem-vindo contraditório.

A isso se chama inteligência, debate intelectual e capacidade de pensar, indispensáveis a civis e militares, sempre. Até e principalmente porque isso serve, ou teria servido, como antídoto para novos ímpetos golpistas dentro das Forças Armadas.

O nosso Estadão, aliás, nos brinda neste domingo com um caderno especial condensando preciosidades históricas: depoimentos de quem viveu o antes e o durante do golpe ao Jornal da Tarde, do mesmo grupo, em 1977 e 1978, quando ainda imperava a censura à imprensa – e à verdade –, com o compromisso de só serem publicadas na íntegra após a morte dos entrevistados. Diz o ditado que “a verdade dói”, mas a realidade demonstra, com abundância de exemplos, que dores e feridas da história e das sociedades só cicatrizam e não se repetem com a verdade como ela é.

Neste 31 de Março, militares de pijama podem fazer loas a ditadores nos clubes militares, assim com famílias, vítimas e militantes têm toda a legitimidade para lembrar os seus mortos, chorar suas feridas, lembrar os anos de chumbo para a história e gritar um grito que não é só deles, as vítimas diretas, mas de toda a Nação, também vítima: Tortura, nunca mais! Mas a responsabilidade do presidente Lula é principalmente com o presente e com o futuro.

Os nervos estão à flor da pele, com Lula caindo nas pesquisas e Jair Bolsonaro acuado pela montanha de provas em inquéritos que vão desde a absurda falsificação de atestados de vacina até a escabrosa tentativa de golpe de Estado. Quem lucraria com notas e eventos das Forças Armadas enaltecendo 1964? E com a área civil do governo remoendo as culpas de militares nos porões da ditadura? Isso jamais será esquecido, mas não é hora de potencializar divisões, polarizações, guerras ideológicas. O golpe de 64 passou, mas o golpe de 2022 ainda paira no ar.

Vamos admitir que, apesar dos pesares, de posições ideológicas antiquadas e de sucessivas falas fora de tempo e lugar, se há uma área onde Lula vem acertando, é a militar. Escolheu bem o ex-deputado e articulador político José Múcio, que tem perfil e personalidade para a Defesa, e os três comandantes: general Tomás Paiva no Exército, almirante Marcos Sampaio Olsen na Marinha e brigadeiro Marcelo Kanitz Damasceno na Aeronáutica.

São oficiais que batem continência para a Constituição e os poderes constituídos e estão focados na defesa do País e na profissionalização e modernização das Forças, como todo militar deve ser. É preciso respaldar a posição e a atuação de cada um. Eles calaram a insubordinação e respeitam as investigações do que e de quem deve ser investigado, mas as divisões internas ainda existem e as tensões estão no ar. É hora de reforçar os legalistas, não de acirrar as divisões. Lula sabe e precisa disso. O Brasil também.

Opinião por Eliane Cantanhêde

Comentarista da Rádio Eldorado, Rádio Jornal (PE) e do telejornal GloboNews em Pauta

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