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Opinião|Milei: onde a política afunda, os ‘salvadores da pátria’ emergem e atacam a democracia


Candidato argentino replica ‘fenômenos’ ou ‘mitos’, como Trump, Bolsonaro e Chavez, que surgem surfando em fakenews, mentiras ao vivo e a interpretação de personagens muito distantes do que são e do que fizeram a vida toda

Por Eliane Cantanhêde

Javier Milei replica na Argentina os “fenômenos”, ou “mitos, Donald Trump nos Estados Unidos, Jair Bolsonaro no Brasil e Hugo Chávez na Venezuela, entre tantos outros exemplos a confirmar que, quando os políticos falham, os partidos caem em descrédito e as instituições se tornam disfuncionais, a política abre espaço a aventureiros com boa lábia e poucos escrúpulos, que se lançam como “salvadores da pátria”, contra o “status quo”.

E é assim que Trump, Bolsonaro e agora Milei atacam as eleições com histórias mirabolantes sobre fraudes, para agitar seus seguidores, atiçar os ânimos e vandalizar as instituições. Derrotados na disputa pela reeleição, Trump liderou a invasão do Capitólio e Bolsonaro incitou o quebra-quebra no Planalto, no Congresso e no Supremo. Milei já está na mesma toada. E se perder?

Podem se dizer de esquerda ou de direita, não importa, o fato é que esses “fenômenos” emergem quando a política afunda, surfando em fakenews, mentiras ao vivo e a interpretação de personagens muito distantes do que são e do que fizeram a vida toda, atacando a democracia e as instituições. Trump é um empresário que disparou nos negócios com métodos, digamos, heterodoxos. Bolsonaro e Chávez foram militares de passado polêmico, um praticamente expulso do Exército e o outro preso por tentativa de golpe de Estado. Todos vestem a fantasia do “bem” contra o “mal”.

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O candidato Javier Milei com uma motosserra, que se tornou um de seus símbolos de campanha. Foto: Marcos Gomez/AG La Plata/AFP

E Milei? Bem... não é fácil definir uma pessoa e especialmente um candidato que, em reuniões, deixa uma cadeira vazia para a alma de um bichinho de estimação que morreu, defende o fim do Banco Central e de hospitais, escolas e universidades públicas e agride os principais parceiros comerciais e estratégicos do país, explorando o gosto dos eleitores pelo que é bizarro, absurdo e estapafúrdio e a ojeriza crescente à política. Quanto mais choca, mais Milei cresce. Mas não é engraçado.

Até a sexta-feira, 17/11, o Itamaraty tinha recebido exatamente 17 pesquisas realizadas na Argentina, sem nenhuma conclusão. Umas dão vitória de Milei, outras, de Sérgio Massa, peronista, ministro da Fazenda em meio à desgraça econômica e apoiado tanto pelo presidente Lula quanto pelo PT. A tendência é levemente favorável a Milei, mas tudo pode acontecer neste domingo, 19/11, nessa disputa entre o ruim e o péssimo.

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Com a indefinição, Lula fez uma inflexão na reta final, evitando citar nomes e fazendo um apelo ao “voto democrático” — que pode ser interpretado como apoio subliminar a Massa, já que remete às ameaças de Milei e à defesa da “tirania” feita pela vice na chapa dele, que, tudo indica, deve ser tão fora da casinha quanto ele. Enquanto Lula se controlava para não escancarar seu “voto”, a diplomacia dos dois países trabalhava nos bastidores.

Tanto a embaixada do Brasil em Buenos Aires abria canais com a equipe de Milei quanto a da Argentina em Brasília disparava mensagens para o Itamaraty. Recado do lado brasileiro: ganhe quem ganhar, as relações com a Argentina são institucionais, de estado, e independem do governo de plantão. Recado do lado argentino, mais difícil de comprar: Milei faz essas piruetas verbais nos palanques, mas não fará (ou faria...) na Casa Rosada. Logo, haveria dois Milei: um na campanha, outro no governo. Será?

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Entre as maluquices do candidato, as que mais preocupam e até assombram o Brasil são a ameaça de rompimento com a China, a promessa de retirar a Argentina do Mercosul e os ataques diretos ao “comunista” Lula. A China é o principal parceiro econômico da Argentina, do Brasil e da maioria da América Latina e Caribe. E o que sobra do Mercosul sem os “hermanos”? Não sobra pedra sobre pedra, às vésperas do acordo com a União Europeia. Uma bomba. Mas Milei avisa, debaixo dos panos, que não a usará.

Quanto aos tiros contra Lula, não ajudam em nada a Argentina, que precisa do Brasil, nem o Brasil, que precisa da Argentina, porque a diplomacia, por mais pragmática que seja, também é feita por presidentes, por pessoas. A empatia entre elas ajuda muito, a ojeriza complica um bocado. E os dois países mantiveram um comércio bilateral de US$ 25 bilhões em 2022 (com superávit de US$ 2,2 bilhões a favor do Brasil), estão juntos também nos Brics, na Unasul e na Celac e têm velhos acordos de cooperação em setores sensíveis, como defesa e área nuclear. Até por isso, reina a paz na região. Que seja eterna enquanto dure.

Javier Milei replica na Argentina os “fenômenos”, ou “mitos, Donald Trump nos Estados Unidos, Jair Bolsonaro no Brasil e Hugo Chávez na Venezuela, entre tantos outros exemplos a confirmar que, quando os políticos falham, os partidos caem em descrédito e as instituições se tornam disfuncionais, a política abre espaço a aventureiros com boa lábia e poucos escrúpulos, que se lançam como “salvadores da pátria”, contra o “status quo”.

E é assim que Trump, Bolsonaro e agora Milei atacam as eleições com histórias mirabolantes sobre fraudes, para agitar seus seguidores, atiçar os ânimos e vandalizar as instituições. Derrotados na disputa pela reeleição, Trump liderou a invasão do Capitólio e Bolsonaro incitou o quebra-quebra no Planalto, no Congresso e no Supremo. Milei já está na mesma toada. E se perder?

Podem se dizer de esquerda ou de direita, não importa, o fato é que esses “fenômenos” emergem quando a política afunda, surfando em fakenews, mentiras ao vivo e a interpretação de personagens muito distantes do que são e do que fizeram a vida toda, atacando a democracia e as instituições. Trump é um empresário que disparou nos negócios com métodos, digamos, heterodoxos. Bolsonaro e Chávez foram militares de passado polêmico, um praticamente expulso do Exército e o outro preso por tentativa de golpe de Estado. Todos vestem a fantasia do “bem” contra o “mal”.

O candidato Javier Milei com uma motosserra, que se tornou um de seus símbolos de campanha. Foto: Marcos Gomez/AG La Plata/AFP

E Milei? Bem... não é fácil definir uma pessoa e especialmente um candidato que, em reuniões, deixa uma cadeira vazia para a alma de um bichinho de estimação que morreu, defende o fim do Banco Central e de hospitais, escolas e universidades públicas e agride os principais parceiros comerciais e estratégicos do país, explorando o gosto dos eleitores pelo que é bizarro, absurdo e estapafúrdio e a ojeriza crescente à política. Quanto mais choca, mais Milei cresce. Mas não é engraçado.

Até a sexta-feira, 17/11, o Itamaraty tinha recebido exatamente 17 pesquisas realizadas na Argentina, sem nenhuma conclusão. Umas dão vitória de Milei, outras, de Sérgio Massa, peronista, ministro da Fazenda em meio à desgraça econômica e apoiado tanto pelo presidente Lula quanto pelo PT. A tendência é levemente favorável a Milei, mas tudo pode acontecer neste domingo, 19/11, nessa disputa entre o ruim e o péssimo.

Com a indefinição, Lula fez uma inflexão na reta final, evitando citar nomes e fazendo um apelo ao “voto democrático” — que pode ser interpretado como apoio subliminar a Massa, já que remete às ameaças de Milei e à defesa da “tirania” feita pela vice na chapa dele, que, tudo indica, deve ser tão fora da casinha quanto ele. Enquanto Lula se controlava para não escancarar seu “voto”, a diplomacia dos dois países trabalhava nos bastidores.

Tanto a embaixada do Brasil em Buenos Aires abria canais com a equipe de Milei quanto a da Argentina em Brasília disparava mensagens para o Itamaraty. Recado do lado brasileiro: ganhe quem ganhar, as relações com a Argentina são institucionais, de estado, e independem do governo de plantão. Recado do lado argentino, mais difícil de comprar: Milei faz essas piruetas verbais nos palanques, mas não fará (ou faria...) na Casa Rosada. Logo, haveria dois Milei: um na campanha, outro no governo. Será?

Entre as maluquices do candidato, as que mais preocupam e até assombram o Brasil são a ameaça de rompimento com a China, a promessa de retirar a Argentina do Mercosul e os ataques diretos ao “comunista” Lula. A China é o principal parceiro econômico da Argentina, do Brasil e da maioria da América Latina e Caribe. E o que sobra do Mercosul sem os “hermanos”? Não sobra pedra sobre pedra, às vésperas do acordo com a União Europeia. Uma bomba. Mas Milei avisa, debaixo dos panos, que não a usará.

Quanto aos tiros contra Lula, não ajudam em nada a Argentina, que precisa do Brasil, nem o Brasil, que precisa da Argentina, porque a diplomacia, por mais pragmática que seja, também é feita por presidentes, por pessoas. A empatia entre elas ajuda muito, a ojeriza complica um bocado. E os dois países mantiveram um comércio bilateral de US$ 25 bilhões em 2022 (com superávit de US$ 2,2 bilhões a favor do Brasil), estão juntos também nos Brics, na Unasul e na Celac e têm velhos acordos de cooperação em setores sensíveis, como defesa e área nuclear. Até por isso, reina a paz na região. Que seja eterna enquanto dure.

Javier Milei replica na Argentina os “fenômenos”, ou “mitos, Donald Trump nos Estados Unidos, Jair Bolsonaro no Brasil e Hugo Chávez na Venezuela, entre tantos outros exemplos a confirmar que, quando os políticos falham, os partidos caem em descrédito e as instituições se tornam disfuncionais, a política abre espaço a aventureiros com boa lábia e poucos escrúpulos, que se lançam como “salvadores da pátria”, contra o “status quo”.

E é assim que Trump, Bolsonaro e agora Milei atacam as eleições com histórias mirabolantes sobre fraudes, para agitar seus seguidores, atiçar os ânimos e vandalizar as instituições. Derrotados na disputa pela reeleição, Trump liderou a invasão do Capitólio e Bolsonaro incitou o quebra-quebra no Planalto, no Congresso e no Supremo. Milei já está na mesma toada. E se perder?

Podem se dizer de esquerda ou de direita, não importa, o fato é que esses “fenômenos” emergem quando a política afunda, surfando em fakenews, mentiras ao vivo e a interpretação de personagens muito distantes do que são e do que fizeram a vida toda, atacando a democracia e as instituições. Trump é um empresário que disparou nos negócios com métodos, digamos, heterodoxos. Bolsonaro e Chávez foram militares de passado polêmico, um praticamente expulso do Exército e o outro preso por tentativa de golpe de Estado. Todos vestem a fantasia do “bem” contra o “mal”.

O candidato Javier Milei com uma motosserra, que se tornou um de seus símbolos de campanha. Foto: Marcos Gomez/AG La Plata/AFP

E Milei? Bem... não é fácil definir uma pessoa e especialmente um candidato que, em reuniões, deixa uma cadeira vazia para a alma de um bichinho de estimação que morreu, defende o fim do Banco Central e de hospitais, escolas e universidades públicas e agride os principais parceiros comerciais e estratégicos do país, explorando o gosto dos eleitores pelo que é bizarro, absurdo e estapafúrdio e a ojeriza crescente à política. Quanto mais choca, mais Milei cresce. Mas não é engraçado.

Até a sexta-feira, 17/11, o Itamaraty tinha recebido exatamente 17 pesquisas realizadas na Argentina, sem nenhuma conclusão. Umas dão vitória de Milei, outras, de Sérgio Massa, peronista, ministro da Fazenda em meio à desgraça econômica e apoiado tanto pelo presidente Lula quanto pelo PT. A tendência é levemente favorável a Milei, mas tudo pode acontecer neste domingo, 19/11, nessa disputa entre o ruim e o péssimo.

Com a indefinição, Lula fez uma inflexão na reta final, evitando citar nomes e fazendo um apelo ao “voto democrático” — que pode ser interpretado como apoio subliminar a Massa, já que remete às ameaças de Milei e à defesa da “tirania” feita pela vice na chapa dele, que, tudo indica, deve ser tão fora da casinha quanto ele. Enquanto Lula se controlava para não escancarar seu “voto”, a diplomacia dos dois países trabalhava nos bastidores.

Tanto a embaixada do Brasil em Buenos Aires abria canais com a equipe de Milei quanto a da Argentina em Brasília disparava mensagens para o Itamaraty. Recado do lado brasileiro: ganhe quem ganhar, as relações com a Argentina são institucionais, de estado, e independem do governo de plantão. Recado do lado argentino, mais difícil de comprar: Milei faz essas piruetas verbais nos palanques, mas não fará (ou faria...) na Casa Rosada. Logo, haveria dois Milei: um na campanha, outro no governo. Será?

Entre as maluquices do candidato, as que mais preocupam e até assombram o Brasil são a ameaça de rompimento com a China, a promessa de retirar a Argentina do Mercosul e os ataques diretos ao “comunista” Lula. A China é o principal parceiro econômico da Argentina, do Brasil e da maioria da América Latina e Caribe. E o que sobra do Mercosul sem os “hermanos”? Não sobra pedra sobre pedra, às vésperas do acordo com a União Europeia. Uma bomba. Mas Milei avisa, debaixo dos panos, que não a usará.

Quanto aos tiros contra Lula, não ajudam em nada a Argentina, que precisa do Brasil, nem o Brasil, que precisa da Argentina, porque a diplomacia, por mais pragmática que seja, também é feita por presidentes, por pessoas. A empatia entre elas ajuda muito, a ojeriza complica um bocado. E os dois países mantiveram um comércio bilateral de US$ 25 bilhões em 2022 (com superávit de US$ 2,2 bilhões a favor do Brasil), estão juntos também nos Brics, na Unasul e na Celac e têm velhos acordos de cooperação em setores sensíveis, como defesa e área nuclear. Até por isso, reina a paz na região. Que seja eterna enquanto dure.

Javier Milei replica na Argentina os “fenômenos”, ou “mitos, Donald Trump nos Estados Unidos, Jair Bolsonaro no Brasil e Hugo Chávez na Venezuela, entre tantos outros exemplos a confirmar que, quando os políticos falham, os partidos caem em descrédito e as instituições se tornam disfuncionais, a política abre espaço a aventureiros com boa lábia e poucos escrúpulos, que se lançam como “salvadores da pátria”, contra o “status quo”.

E é assim que Trump, Bolsonaro e agora Milei atacam as eleições com histórias mirabolantes sobre fraudes, para agitar seus seguidores, atiçar os ânimos e vandalizar as instituições. Derrotados na disputa pela reeleição, Trump liderou a invasão do Capitólio e Bolsonaro incitou o quebra-quebra no Planalto, no Congresso e no Supremo. Milei já está na mesma toada. E se perder?

Podem se dizer de esquerda ou de direita, não importa, o fato é que esses “fenômenos” emergem quando a política afunda, surfando em fakenews, mentiras ao vivo e a interpretação de personagens muito distantes do que são e do que fizeram a vida toda, atacando a democracia e as instituições. Trump é um empresário que disparou nos negócios com métodos, digamos, heterodoxos. Bolsonaro e Chávez foram militares de passado polêmico, um praticamente expulso do Exército e o outro preso por tentativa de golpe de Estado. Todos vestem a fantasia do “bem” contra o “mal”.

O candidato Javier Milei com uma motosserra, que se tornou um de seus símbolos de campanha. Foto: Marcos Gomez/AG La Plata/AFP

E Milei? Bem... não é fácil definir uma pessoa e especialmente um candidato que, em reuniões, deixa uma cadeira vazia para a alma de um bichinho de estimação que morreu, defende o fim do Banco Central e de hospitais, escolas e universidades públicas e agride os principais parceiros comerciais e estratégicos do país, explorando o gosto dos eleitores pelo que é bizarro, absurdo e estapafúrdio e a ojeriza crescente à política. Quanto mais choca, mais Milei cresce. Mas não é engraçado.

Até a sexta-feira, 17/11, o Itamaraty tinha recebido exatamente 17 pesquisas realizadas na Argentina, sem nenhuma conclusão. Umas dão vitória de Milei, outras, de Sérgio Massa, peronista, ministro da Fazenda em meio à desgraça econômica e apoiado tanto pelo presidente Lula quanto pelo PT. A tendência é levemente favorável a Milei, mas tudo pode acontecer neste domingo, 19/11, nessa disputa entre o ruim e o péssimo.

Com a indefinição, Lula fez uma inflexão na reta final, evitando citar nomes e fazendo um apelo ao “voto democrático” — que pode ser interpretado como apoio subliminar a Massa, já que remete às ameaças de Milei e à defesa da “tirania” feita pela vice na chapa dele, que, tudo indica, deve ser tão fora da casinha quanto ele. Enquanto Lula se controlava para não escancarar seu “voto”, a diplomacia dos dois países trabalhava nos bastidores.

Tanto a embaixada do Brasil em Buenos Aires abria canais com a equipe de Milei quanto a da Argentina em Brasília disparava mensagens para o Itamaraty. Recado do lado brasileiro: ganhe quem ganhar, as relações com a Argentina são institucionais, de estado, e independem do governo de plantão. Recado do lado argentino, mais difícil de comprar: Milei faz essas piruetas verbais nos palanques, mas não fará (ou faria...) na Casa Rosada. Logo, haveria dois Milei: um na campanha, outro no governo. Será?

Entre as maluquices do candidato, as que mais preocupam e até assombram o Brasil são a ameaça de rompimento com a China, a promessa de retirar a Argentina do Mercosul e os ataques diretos ao “comunista” Lula. A China é o principal parceiro econômico da Argentina, do Brasil e da maioria da América Latina e Caribe. E o que sobra do Mercosul sem os “hermanos”? Não sobra pedra sobre pedra, às vésperas do acordo com a União Europeia. Uma bomba. Mas Milei avisa, debaixo dos panos, que não a usará.

Quanto aos tiros contra Lula, não ajudam em nada a Argentina, que precisa do Brasil, nem o Brasil, que precisa da Argentina, porque a diplomacia, por mais pragmática que seja, também é feita por presidentes, por pessoas. A empatia entre elas ajuda muito, a ojeriza complica um bocado. E os dois países mantiveram um comércio bilateral de US$ 25 bilhões em 2022 (com superávit de US$ 2,2 bilhões a favor do Brasil), estão juntos também nos Brics, na Unasul e na Celac e têm velhos acordos de cooperação em setores sensíveis, como defesa e área nuclear. Até por isso, reina a paz na região. Que seja eterna enquanto dure.

Javier Milei replica na Argentina os “fenômenos”, ou “mitos, Donald Trump nos Estados Unidos, Jair Bolsonaro no Brasil e Hugo Chávez na Venezuela, entre tantos outros exemplos a confirmar que, quando os políticos falham, os partidos caem em descrédito e as instituições se tornam disfuncionais, a política abre espaço a aventureiros com boa lábia e poucos escrúpulos, que se lançam como “salvadores da pátria”, contra o “status quo”.

E é assim que Trump, Bolsonaro e agora Milei atacam as eleições com histórias mirabolantes sobre fraudes, para agitar seus seguidores, atiçar os ânimos e vandalizar as instituições. Derrotados na disputa pela reeleição, Trump liderou a invasão do Capitólio e Bolsonaro incitou o quebra-quebra no Planalto, no Congresso e no Supremo. Milei já está na mesma toada. E se perder?

Podem se dizer de esquerda ou de direita, não importa, o fato é que esses “fenômenos” emergem quando a política afunda, surfando em fakenews, mentiras ao vivo e a interpretação de personagens muito distantes do que são e do que fizeram a vida toda, atacando a democracia e as instituições. Trump é um empresário que disparou nos negócios com métodos, digamos, heterodoxos. Bolsonaro e Chávez foram militares de passado polêmico, um praticamente expulso do Exército e o outro preso por tentativa de golpe de Estado. Todos vestem a fantasia do “bem” contra o “mal”.

O candidato Javier Milei com uma motosserra, que se tornou um de seus símbolos de campanha. Foto: Marcos Gomez/AG La Plata/AFP

E Milei? Bem... não é fácil definir uma pessoa e especialmente um candidato que, em reuniões, deixa uma cadeira vazia para a alma de um bichinho de estimação que morreu, defende o fim do Banco Central e de hospitais, escolas e universidades públicas e agride os principais parceiros comerciais e estratégicos do país, explorando o gosto dos eleitores pelo que é bizarro, absurdo e estapafúrdio e a ojeriza crescente à política. Quanto mais choca, mais Milei cresce. Mas não é engraçado.

Até a sexta-feira, 17/11, o Itamaraty tinha recebido exatamente 17 pesquisas realizadas na Argentina, sem nenhuma conclusão. Umas dão vitória de Milei, outras, de Sérgio Massa, peronista, ministro da Fazenda em meio à desgraça econômica e apoiado tanto pelo presidente Lula quanto pelo PT. A tendência é levemente favorável a Milei, mas tudo pode acontecer neste domingo, 19/11, nessa disputa entre o ruim e o péssimo.

Com a indefinição, Lula fez uma inflexão na reta final, evitando citar nomes e fazendo um apelo ao “voto democrático” — que pode ser interpretado como apoio subliminar a Massa, já que remete às ameaças de Milei e à defesa da “tirania” feita pela vice na chapa dele, que, tudo indica, deve ser tão fora da casinha quanto ele. Enquanto Lula se controlava para não escancarar seu “voto”, a diplomacia dos dois países trabalhava nos bastidores.

Tanto a embaixada do Brasil em Buenos Aires abria canais com a equipe de Milei quanto a da Argentina em Brasília disparava mensagens para o Itamaraty. Recado do lado brasileiro: ganhe quem ganhar, as relações com a Argentina são institucionais, de estado, e independem do governo de plantão. Recado do lado argentino, mais difícil de comprar: Milei faz essas piruetas verbais nos palanques, mas não fará (ou faria...) na Casa Rosada. Logo, haveria dois Milei: um na campanha, outro no governo. Será?

Entre as maluquices do candidato, as que mais preocupam e até assombram o Brasil são a ameaça de rompimento com a China, a promessa de retirar a Argentina do Mercosul e os ataques diretos ao “comunista” Lula. A China é o principal parceiro econômico da Argentina, do Brasil e da maioria da América Latina e Caribe. E o que sobra do Mercosul sem os “hermanos”? Não sobra pedra sobre pedra, às vésperas do acordo com a União Europeia. Uma bomba. Mas Milei avisa, debaixo dos panos, que não a usará.

Quanto aos tiros contra Lula, não ajudam em nada a Argentina, que precisa do Brasil, nem o Brasil, que precisa da Argentina, porque a diplomacia, por mais pragmática que seja, também é feita por presidentes, por pessoas. A empatia entre elas ajuda muito, a ojeriza complica um bocado. E os dois países mantiveram um comércio bilateral de US$ 25 bilhões em 2022 (com superávit de US$ 2,2 bilhões a favor do Brasil), estão juntos também nos Brics, na Unasul e na Celac e têm velhos acordos de cooperação em setores sensíveis, como defesa e área nuclear. Até por isso, reina a paz na região. Que seja eterna enquanto dure.

Opinião por Eliane Cantanhêde

Comentarista da Rádio Eldorado, Rádio Jornal (PE) e do telejornal GloboNews em Pauta

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