A terceira pesquisa Ipec do ano confirma o que todos nós já vínhamos vendo e discutindo: o governo não vai bem, ou, pelo menos, não ia bem. Lula perdeu quatro pontos de aprovação e ganhou quatro de desaprovação desde o início, com uma tendência de baixa que serve de sinal amarelo para o presidente, muito cheio de si, de recuo em recuo.
O campo da pesquisa, até 5 de junho, segunda-feira passada, significa que as entrevistas foram antes do que o governo considera uma guinada e não captaram os efeitos de três programas de impacto popular lançados naquele dia, nem os ventos favoráveis na economia que começaram a soprar na mesma semana.
O início do terceiro mandato foi tomado pelo contra-ataque ao golpe de Estado e a recuperação de programas sociais atrelados a Lula e ao PT, massacrados pela gestão Bolsonaro e imprescindíveis no Brasil: Bolsa Família, Farmácia Popular, Merenda Escolar, Minha Casa, Minha Vida. Eles impactam o eleitorado que votou em massa em Lula, o de baixa renda.
O foco seguinte é a classe média, mais refratária a Lula. Daí o Desenrola, para milhões de devedores com renda até dois salários mínimos e o questionável plano de carros, ônibus e caminhões mais baratos, além de anúncios na área da sustentabilidade e o reforço da posição de Marina Silva. Tudo no mesmo dia, o do Meio Ambiente. E vem aí a retomada de milhares de obras paradas, para aquecer a construção civil, emprego, renda e a economia. Grande parte delas é na Educação.
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Há, ainda, os bolsões corporativos. Enquanto as Forças Armadas recolhem-se às suas funções institucionais, Lula constrói pontes com setores menos hostis do agronegócio e traça estratégias para o imenso público evangélico e tenta acalmar os setores produtivo e financeiro.
Após meter a mão nos preços da Petrobras, ele pode se livrar de intervir na meta de inflação. A inflação caiu mais do que o previsto, o PIB surpreende positivamente e os juros já devem baixar na reunião do Copom dos dias 20 e 21. Não por pressões políticas, mas de acordo com a realidade econômica. Assim, a semana do feriadão começou e acabou bem. Na segunda, os novos programas. Na sexta, a euforia do mercado, que reagiu ao cenário interno e externo com dólar caindo e Bolsa a 117 mil pontos.
A queda de braço entre a tendência negativa das pesquisas e a tendência positiva da economia depende de Lula, num momento crucial na relação com o Congresso. O “Grand Slam” é no Ministério da Saúde, entre o Centrão e Nísia Trindade, que joga um bolão. Por falar nisso, a nossa Bia Haddad ajuda no bom humor nacional. Lula erra muito, mas tem sorte.