A principal conclusão destas eleições tão conturbadas é que, se Lula é maior do que o PT, o bolsonarismo é maior do que próprio Bolsonaro, está enraizado em todo o País e veio ficar, para o bem ou, mais evidentemente, para o mal. Lula e o PT remetem ao passado, Bolsonaro e o bolsonarismo evocam o futuro. E não é um futuro cor de rosa.
Quem, em sã consciência, poderia imaginar que o obtuso general Pazuello seria o segundo mais votado no Rio de Janeiro, Ricardo Salles teria o dobro de votos de Marina Silva, um garoto de 26 anos de Minas Gerais seria o campeão de votos do País por ser um ardoroso defensor de teses retrógradas?
Tudo isso foi possível pela força de Bolsonaro e do bolsonarismo, que deram ao PL a maior bancada da Câmara desde 1998, com 99 deputados, e empurraram para o Senado 15 aliados-raiz, incluindo seis ex-ministros/secretários do governo e o vice Hamilton Mourão. Sem esquecer que a correlação de forças com os governadores também muda.
“Quem subestimar a força do Bolsonaro vai quebrar a cara”, me disse um dos aliados de primeira hora do presidente, evidentemente, metendo o malho nas pesquisas, na mídia, no Supremo, nos artistas que previram uma onda pró Lula e erraram. A onda no dia D foi azul, não vermelha.
Se Bolsonaro foi um fenômeno em 2018, sem ter nada — dinheiro, tempo de TV e apoios políticos —, imagine-se agora, com um exército de deputados, senadores, governadores e oportunistas em geral? Isso vale para o segundo turno e para um novo mandato, caso ele inverta a tendência e vença no segundo turno.
Quem não colou em Bolsonaro, para não se contaminar com sua imensa rejeição, não tem mais pruridos nem cuidados, vai pular no barco à vontade. O exemplo mais contundente é Romeu Zema, reeleito em primeiro turno em Minas Gerais. Mas a fila é grande: Ratinho Jr. (PR), Mauro Mendes (MT), Ronaldo Caiado (GO), Cláudio Castro (RJ), Gladson Cameli (AC), Antônio Denariun (RR) e Ibaneis Rocha (DF).
RESULTADOS DA VOTAÇÃO
Em sua primeira entrevista, esforçando-se para parecer uma pessoa normal, não aquela do “imbrochável”, do “maricas” e do “coveiro”, ele já mostrou a valia de tantos aliados: “aprovar certas medidas”. Vamos adivinhar quais? Mais armas, retrocesso nas leis do aborto, as “boiadas” no meio ambiente, política externa radical, cultura amordaçada e asfixiada e … interferência no Supremo.
Além de ter mais vagas naturais, como a de Rosa Weber, que se aposenta no ano que vem, Bolsonaro, se eleito, vai se articular com o Congresso para ampliar o número de cadeiras, promover os “terrivelmente evangélicos” e até prever impeachment de seus ministros. Segundo mandato serve para aprofundar pautas e intenções. E o STF vai cair no mesmo balaio de PF, PGR, Coaf, Receita…
A eleição, porém, está longe de ser decidida. Serão 30 dias de campanha, com tempos iguais na TV e Bolsonaro perdeu um milhão de votos desde 2018, enquanto Lula sai, de largada, com seis milhões a mais. O resultado é imprevisível, tudo pode acontecer.
Se Lula ultrapassar o primeiro momento de frustração e atordoamento com o resultado de domingo, ele pode recuperar energia e vencer. Mas, atenção, a sua vida de volta ao Planalto, se ocorrer, não será um mar de rosas. No mínimo, Bolsonaro encomendou um oceano de dificuldades para um eventual, ou duvidoso, governo Lula.