A primeira baixa do governo Lula foi de um general, justamente no Dia do Exército, após uma solenidade com a presença do presidente, que conversou amigavelmente com o ministro da Defesa, José Múcio, e o comandante da Força, general Tomás Paiva. Houve, porém, uma evidente articulação para isolar as Forças Armadas da crise com o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e o general Gonçalves Dias.
Assim, Múcio foi convenientemente excluído da reunião com o vice Geraldo Alckmin, os ministros do Planalto e da Justiça, mais o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Passos, em que Lula decidiu demitir o general. A ausência foi combinada. “É um caso particular, o Exército não tem nada a ver com isso”, me disse Múcio, sobre Gonçalves Dias retirando vândalos suavemente do andar do gabinete presidencial, enquanto oficiais do GSI até serviam água a eles.
O general Tomás ecoou: “Não tenho alcance sobre os envolvidos, que estavam fora do Exército. Mas quem voltar, aí é outra coisa”, me disse. Eles serão investigados pela Justiça e depois, condenados ou absolvidos, poderão sofrer processo disciplinar na Força. “Se não for crime, pode ser transgressão disciplinar”, deixou claro o comandante.
Demitido “a pedido”, o general Gonçalves Dias, que está na reserva há 11 anos, será ouvido pela PF hoje e repetirá a versão de que foi ao Planalto após a invasão, testou se a porta da sala de Lula estava fechada, no terceiro andar, e conduziu “manifestantes” para o segundo, onde seriam presos. O problema é que a PF e a PM tinham ordens de prender todos eles, mas o GSI mandou não prender ninguém. Só depois de se reunir com outros ministros no Ministério da Justiça, Gonçalves Dias deu a ordem de prisão, por telefone.
Segundo um auxiliar do presidente, o general ficou próximo de Lula nos dois primeiros mandatos e “é íntegro, correto”, mas há um consenso de que os vídeos são “estarrecedores”, porque flagram os oficiais do GSI ajudando os invasores e também porque Gonçalves Dias, o chefe, cometeu vários erros.
Enquanto Andrei Passos afastou a cúpula e 21 superintendentes da PF, ele manteve no GSI “os golpistas do general Heleno e do Bolsonaro”. Na véspera do 8/1, não viu, ou desconsiderou, o ofício da própria PF alertando para a gravidade da situação e não reforçou a segurança do Planalto. E, no dia, foi “leniente, até conivente”, com os invasores. Houve traição?
O bom da história é que, assim como o governo não quer envolver o Exército na crise, o Exército não vai passar a mão na cabeça de ninguém. Cada um que responda pelos seus erros, ou crimes.