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Opinião|Perigo concreto para a Argentina, Milei forma com Trump e Bolsonaro o trio da antidemocracia


Vitória de anarcocapitalista na Argentina coloca em jogo as relações bilaterais, a sobrevivência do Mercosul, o acordo com a União Europeia e as negociações com o resto do mundo

Por Eliane Cantanhêde

O que começa errado tende a dar errado até o fim e este é exatamente o caso, não só da eleição do anarcocapitalista Javier Milei à presidência da Argentina como também das relações entre Milei e Lula. Se fosse só entre os dois, problema deles. Como é entre os dois principais países do Mercosul, a coisa complica, e muito. Estão em jogo as relações bilaterais, a sobrevivência do bloco, o acordo com a União Europeia, o próprio equilíbrio do Cone Sul e as negociações com o resto do mundo.

O candidato eleito na Argentina, Javier Milei, durante votação em segundo turno em Buenos Aires no último domingo, 19 

Milei foi eleito com uma margem bem ampla (mais de 10 pontos) no domingo, às vésperas de três eventos relevantes nesta semana em Brasília. Primeiro, a conclusão das negociações entre Mercosul e União Europeia e a reunião 12 X 12, entre os ministros de Defesa e de Relações Exteriores dos 12 países da América do Sul. Como Milei ameaçou retirar a Argentina do Mercosul, imaginem o climão nos preparativos para o anúncio do acordo e para a reunião.

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O terceiro evento é entre os chanceleres dos oito países amazônicos (incluindo Guiana e Suriname), para tratar de um outro incêndio: esse clima desvairado que, ao mesmo tempo em que lambe a Amazônia, causa grandes enchentes no Sul e um calor infernal no Sudeste e Centro Oeste do Brasil. Um dos símbolos da campanha de Milei foi... uma motosserra! Ok, era para simbolizar o corte drástico nos gastos públicos, mas remete diretamente, e sem nenhuma dúvida, a ambiente, clima, florestas, essas “bobagens” que a extrema direita detesta, ou despreza, como “coisa de comunista”.

Durante a campanha, Milei xingava Lula justamente de “ladrão” e “comunista”, avisando que não queria nada com ele, enquanto Lula despachava o PT e seus próprios marqueteiros para apoiar, e se embolar, com o agora derrotado Sérgio Massa, candidato peronista. O peronismo perdeu, Lula e o Brasil perderam juntos. Mas houve quem ganhasse: Jair Bolsonaro, amigão de Donald Trump e agora de Milei, formando um trio do balacobaco contra a democracia.

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Deputado Eduardo Bolsonaro, filho de Jair Bolsonaro, em selfie com apoiadores de Javier Milei, em Buenos Aires, durante a campanha eleitoral argentina Foto: Luis Robayo/AFP

No primeiro discurso depois de eleito, Milei foi menos histriônico, mais adequado, e falou inúmeras vezes em transformar novamente a Argentina numa “grande potência”, mas sem avançar sobre suas ideias e seus programas, que continuam sendo incógnitas e, portanto, ameaçadoras, como acabar com o Banco Central e dolarizar a economia. Mas uma coisa é certa: a beligerância contra o Brasil, que as duas chancelarias achavam que evaporaria após as eleições, não evaporou e está passando das palavras aos atos.

Na reta final das eleições, Lula fez um “apelo ao voto democrático”, sem citar nenhum dos dois, e Janja publicou na internet uma charge com um abraço entre dois personagens icônicos dos quadrinhos, a argentina Mafalda e a brasileira Monica, com uma legenda provocativa: “que Massa esse abraço”. Infantil e desnecessário, que pode custar caro. E agora? Milei já anunciou que romperá a tradição e suas primeiras viagens serão aos Estados Unidos e a Israel, não ao Brasil. E Lula revida.

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No dia da vitória de Milei, o presidente brasileiro, pelas redes, desejou “sorte e sucesso” ao novo governo, sem incluir o nome do presidente eleito. No dia seguinte, o chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, Paulo Pimenta, avisou que Lula não vai telefonar para cumprimentar Milei, o que é diplomaticamente obrigatório, até que ele peça desculpas pelos xingamentos da campanha. Então, parece que não vai ligar nunca... Como também não quer ir à posse, em 10/12, abrindo espaço para um brilhareco de Bolsonaro no país vizinho e na região.

É assim que, além de ser uma real ameaça política, econômica e social para uma Argentina já tão combalida, Javier Milei joga seu país contra o Brasil, traz o fantasma da extrema direita de volta e dá a Lula um problemaço para o presente e uma ameaça para o futuro. Com a vitória do absurdo Milei na Argentina, a dianteira do absurdo Trump nos EUA e o Brasil dividido ao meio, como ficam o absurdo Bolsonaro e o bolsonarismo?

O que começa errado tende a dar errado até o fim e este é exatamente o caso, não só da eleição do anarcocapitalista Javier Milei à presidência da Argentina como também das relações entre Milei e Lula. Se fosse só entre os dois, problema deles. Como é entre os dois principais países do Mercosul, a coisa complica, e muito. Estão em jogo as relações bilaterais, a sobrevivência do bloco, o acordo com a União Europeia, o próprio equilíbrio do Cone Sul e as negociações com o resto do mundo.

O candidato eleito na Argentina, Javier Milei, durante votação em segundo turno em Buenos Aires no último domingo, 19 

Milei foi eleito com uma margem bem ampla (mais de 10 pontos) no domingo, às vésperas de três eventos relevantes nesta semana em Brasília. Primeiro, a conclusão das negociações entre Mercosul e União Europeia e a reunião 12 X 12, entre os ministros de Defesa e de Relações Exteriores dos 12 países da América do Sul. Como Milei ameaçou retirar a Argentina do Mercosul, imaginem o climão nos preparativos para o anúncio do acordo e para a reunião.

O terceiro evento é entre os chanceleres dos oito países amazônicos (incluindo Guiana e Suriname), para tratar de um outro incêndio: esse clima desvairado que, ao mesmo tempo em que lambe a Amazônia, causa grandes enchentes no Sul e um calor infernal no Sudeste e Centro Oeste do Brasil. Um dos símbolos da campanha de Milei foi... uma motosserra! Ok, era para simbolizar o corte drástico nos gastos públicos, mas remete diretamente, e sem nenhuma dúvida, a ambiente, clima, florestas, essas “bobagens” que a extrema direita detesta, ou despreza, como “coisa de comunista”.

Durante a campanha, Milei xingava Lula justamente de “ladrão” e “comunista”, avisando que não queria nada com ele, enquanto Lula despachava o PT e seus próprios marqueteiros para apoiar, e se embolar, com o agora derrotado Sérgio Massa, candidato peronista. O peronismo perdeu, Lula e o Brasil perderam juntos. Mas houve quem ganhasse: Jair Bolsonaro, amigão de Donald Trump e agora de Milei, formando um trio do balacobaco contra a democracia.

Deputado Eduardo Bolsonaro, filho de Jair Bolsonaro, em selfie com apoiadores de Javier Milei, em Buenos Aires, durante a campanha eleitoral argentina Foto: Luis Robayo/AFP

No primeiro discurso depois de eleito, Milei foi menos histriônico, mais adequado, e falou inúmeras vezes em transformar novamente a Argentina numa “grande potência”, mas sem avançar sobre suas ideias e seus programas, que continuam sendo incógnitas e, portanto, ameaçadoras, como acabar com o Banco Central e dolarizar a economia. Mas uma coisa é certa: a beligerância contra o Brasil, que as duas chancelarias achavam que evaporaria após as eleições, não evaporou e está passando das palavras aos atos.

Na reta final das eleições, Lula fez um “apelo ao voto democrático”, sem citar nenhum dos dois, e Janja publicou na internet uma charge com um abraço entre dois personagens icônicos dos quadrinhos, a argentina Mafalda e a brasileira Monica, com uma legenda provocativa: “que Massa esse abraço”. Infantil e desnecessário, que pode custar caro. E agora? Milei já anunciou que romperá a tradição e suas primeiras viagens serão aos Estados Unidos e a Israel, não ao Brasil. E Lula revida.

No dia da vitória de Milei, o presidente brasileiro, pelas redes, desejou “sorte e sucesso” ao novo governo, sem incluir o nome do presidente eleito. No dia seguinte, o chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, Paulo Pimenta, avisou que Lula não vai telefonar para cumprimentar Milei, o que é diplomaticamente obrigatório, até que ele peça desculpas pelos xingamentos da campanha. Então, parece que não vai ligar nunca... Como também não quer ir à posse, em 10/12, abrindo espaço para um brilhareco de Bolsonaro no país vizinho e na região.

É assim que, além de ser uma real ameaça política, econômica e social para uma Argentina já tão combalida, Javier Milei joga seu país contra o Brasil, traz o fantasma da extrema direita de volta e dá a Lula um problemaço para o presente e uma ameaça para o futuro. Com a vitória do absurdo Milei na Argentina, a dianteira do absurdo Trump nos EUA e o Brasil dividido ao meio, como ficam o absurdo Bolsonaro e o bolsonarismo?

O que começa errado tende a dar errado até o fim e este é exatamente o caso, não só da eleição do anarcocapitalista Javier Milei à presidência da Argentina como também das relações entre Milei e Lula. Se fosse só entre os dois, problema deles. Como é entre os dois principais países do Mercosul, a coisa complica, e muito. Estão em jogo as relações bilaterais, a sobrevivência do bloco, o acordo com a União Europeia, o próprio equilíbrio do Cone Sul e as negociações com o resto do mundo.

O candidato eleito na Argentina, Javier Milei, durante votação em segundo turno em Buenos Aires no último domingo, 19 

Milei foi eleito com uma margem bem ampla (mais de 10 pontos) no domingo, às vésperas de três eventos relevantes nesta semana em Brasília. Primeiro, a conclusão das negociações entre Mercosul e União Europeia e a reunião 12 X 12, entre os ministros de Defesa e de Relações Exteriores dos 12 países da América do Sul. Como Milei ameaçou retirar a Argentina do Mercosul, imaginem o climão nos preparativos para o anúncio do acordo e para a reunião.

O terceiro evento é entre os chanceleres dos oito países amazônicos (incluindo Guiana e Suriname), para tratar de um outro incêndio: esse clima desvairado que, ao mesmo tempo em que lambe a Amazônia, causa grandes enchentes no Sul e um calor infernal no Sudeste e Centro Oeste do Brasil. Um dos símbolos da campanha de Milei foi... uma motosserra! Ok, era para simbolizar o corte drástico nos gastos públicos, mas remete diretamente, e sem nenhuma dúvida, a ambiente, clima, florestas, essas “bobagens” que a extrema direita detesta, ou despreza, como “coisa de comunista”.

Durante a campanha, Milei xingava Lula justamente de “ladrão” e “comunista”, avisando que não queria nada com ele, enquanto Lula despachava o PT e seus próprios marqueteiros para apoiar, e se embolar, com o agora derrotado Sérgio Massa, candidato peronista. O peronismo perdeu, Lula e o Brasil perderam juntos. Mas houve quem ganhasse: Jair Bolsonaro, amigão de Donald Trump e agora de Milei, formando um trio do balacobaco contra a democracia.

Deputado Eduardo Bolsonaro, filho de Jair Bolsonaro, em selfie com apoiadores de Javier Milei, em Buenos Aires, durante a campanha eleitoral argentina Foto: Luis Robayo/AFP

No primeiro discurso depois de eleito, Milei foi menos histriônico, mais adequado, e falou inúmeras vezes em transformar novamente a Argentina numa “grande potência”, mas sem avançar sobre suas ideias e seus programas, que continuam sendo incógnitas e, portanto, ameaçadoras, como acabar com o Banco Central e dolarizar a economia. Mas uma coisa é certa: a beligerância contra o Brasil, que as duas chancelarias achavam que evaporaria após as eleições, não evaporou e está passando das palavras aos atos.

Na reta final das eleições, Lula fez um “apelo ao voto democrático”, sem citar nenhum dos dois, e Janja publicou na internet uma charge com um abraço entre dois personagens icônicos dos quadrinhos, a argentina Mafalda e a brasileira Monica, com uma legenda provocativa: “que Massa esse abraço”. Infantil e desnecessário, que pode custar caro. E agora? Milei já anunciou que romperá a tradição e suas primeiras viagens serão aos Estados Unidos e a Israel, não ao Brasil. E Lula revida.

No dia da vitória de Milei, o presidente brasileiro, pelas redes, desejou “sorte e sucesso” ao novo governo, sem incluir o nome do presidente eleito. No dia seguinte, o chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, Paulo Pimenta, avisou que Lula não vai telefonar para cumprimentar Milei, o que é diplomaticamente obrigatório, até que ele peça desculpas pelos xingamentos da campanha. Então, parece que não vai ligar nunca... Como também não quer ir à posse, em 10/12, abrindo espaço para um brilhareco de Bolsonaro no país vizinho e na região.

É assim que, além de ser uma real ameaça política, econômica e social para uma Argentina já tão combalida, Javier Milei joga seu país contra o Brasil, traz o fantasma da extrema direita de volta e dá a Lula um problemaço para o presente e uma ameaça para o futuro. Com a vitória do absurdo Milei na Argentina, a dianteira do absurdo Trump nos EUA e o Brasil dividido ao meio, como ficam o absurdo Bolsonaro e o bolsonarismo?

Opinião por Eliane Cantanhêde

Comentarista da Rádio Eldorado, Rádio Jornal (PE) e da GloboNews

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