Queridinho do presidente Jair Bolsonaro, mas alvo de inquéritos e investigações em São Paulo e em Brasília, o polêmico Ricardo Salles, o “ministro da boiada”, caiu num momento em que o Supremo Tribunal Federal aperta o torniquete contra ele e que a CPI da Covid acua o próprio Bolsonaro por causa da explosiva compra da vacina Covaxin.
O script da demissão “a pedido” de Salles – que nestes dois anos e meio foi mero executor da política criminosa de Bolsonaro para o meio ambiente – não é novidade no governo Bolsonaro. O ministro entra na mira da justiça e da mídia, passa a ser elogiado e a participar de atos com o presidente e, quando todo mundo está distraído em outras frentes, finalmente cai.
Na lista de alvos, destacam-se três que, como o próprio Salles, exercitaram bravamente a máxima do “um manda, o outro obedece”: Abraham Weintraub (Educação), Ernesto Araújo (Relações Exteriores) e o general da ativa Eduardo Pazzuelo (Saúde). Todos perderam seus cargos, mas levando troféus para pendurar na parede: as fotos de véspera, sorridentes, com o presidente amigão.
Em comum, também, o fato de que todos eram as pessoas erradas, no lugar errado, na hora errada. Weintraub entendia de brigas e armas, nada de educação. Araújo destruiu a política externa e a imagem do Brasil no mundo desenvolvido. Pazzuelo jamais tinha visto uma curva epidemiológica e nem sequer sabia o que era o SUS.
E o que dizer de Salles, um ministro do Meio Ambiente que jamais pusera os pés na Amazônia? Ele não entendia nada da área e, ao contrário, sempre fez o jogo de madeireiros ilegais e de destruidores do ambiente e da própria Amazônia, enquanto agia ativamente contra os biomas, o Ibama e o ICMBio.
Quanto mais errava, mais Salles agradava a Bolsonaro. Sentia-se com costas tão quentes a ponto de chamar o general Luiz Eduardo Ramos (Casa Civil) de “Maria fofoca”, mas nem Bolsonaro, nem as costas quentes, foram suficientes para salvá-lo das denúncias que vêm dos Estados Unidos, passam pela Polícia Federal e desabam no Supremo. A sensação em Brasília é que Salles se livra do ministério, mas não de “uma bomba”. E que o ministro muda, mas a destruição da Amazônia continua.