O pior já passou? Não, não passou. A previsão é de tempos ainda muito difíceis e dolorosos no Rio Grande do Sul, com chuvas e enchentes ao sul do Estado e aumento do risco de doenças por toda parte onde a água começa a secar e a lama fica, com uma profusão de bactérias, sujeira e dor. O foco, neste momento, está na saúde e na ajuda emergencial para famílias, municípios, Estado e produtores, sem descuidar da reconstrução.
Em Pelotas e Rio Grande, cidades banhadas pela Lagoa dos Patos, atenção total para a piora da situação, com mais água escoando para o oceano e os níveis da lagoa subindo e ameaçando com inundações, deslizamentos e a destruição de casas, comércios, empresas. Logo, a vida de pessoas.
Em todo o Estado, alerta para as doenças ligadas à água, como leptospirose, hepatite A e diarreias, e o frio potencializa as síndromes respiratórias, especialmente em circunstâncias adversas, com crianças, idosos e suas famílias amontoados em abrigos e que deixaram cobertores e agasalhos para trás, em suas casas alagadas, muitas perdidas para sempre. Como centenas de pessoas poderão usar máscaras, dia e noite, num ambiente assim? O razoável é que só os que apresentarem sintomas passem a usar.
O secretário de Atenção Especializada do Ministério da Saúde, sanitarista Adriano Massuda, que se reuniu nesta semana com os secretários de Saúde Arita Bergmann, do Estado, e Fernando Ritter, de Porto Alegre, registra que foram garantidos 1,2 milhão de doses de vacinas, o abastecimento de oxigênio, que poderia faltar em dois dias, e cem kits para desastres desse tipo.
Cada kit é suficiente para atender 1.500 pessoas durante 30 dias e contém 40 itens, como analgésicos, anti-inflamatórios, antibióticos e material de primeiros socorros e a isso se somam as parcerias com Estados, municípios, indústrias farmacêuticas e de material de saúde, planos de saúde, clínicas e entidades. “Uma operação de guerra”, resume Massuda.
Leia outras colunas
O governo federal também anuncia R$ 30 milhões para assistência de alta complexidade, já que pacientes de câncer e renais, por exemplo, ficaram de repente sem hospitais e desorientados. E há, como alerta o secretário, a grave questão das doenças mentais, a ansiedade, o medo, o desespero. A intenção é também aumentar o número de leitos na capital e nas cidades atingidas, criar pelo menos mais um hospital de campanha e monitorar o número de profissionais de saúde que a emergência exige.
Essa guerra, que não é só da saúde, mas de todo o governo federal e do País inteiro, joga luzes nos erros do passado e nos riscos do futuro: se o Brasil, os demais Países e a humanidade inteira não tiverem o diagnóstico correto e não agirem adequadamente para enfrentar para as mudanças climáticas, a vida na Terra estará ameaçada. O alarme já é estridente: enchentes nunca antes vistas, secas aterrorizantes, incêndios e devastação por todo o planeta.
Do ponto de vista político, é preciso criticar quando algo vai mal, por exemplo, na política externa e na ingerência política na Petrobras, mas é também preciso reconhecer quando as ações vão na direção certa. O presidente Lula tem comandado a guerra, tomado decisões, liberado verbas emergenciais, cobrado os ministros, acompanhado de perto ações e marcado presença na área da tragédia, que é o que se espera de governantes e líderes. A grande dúvida é de onde vem tanto dinheiro, e num momento em que o grande nó da política econômica é a questão fiscal.
E Lula arranhou seu desempenho ao nomear como o homem de Brasília na crise o gaúcho Paulo Pimenta, ministro, deputado federal mais votado do PT na história do Estado e candidato natural ao governo em 2026. Pior: anunciar Pimenta, rindo, alegre, como se fosse um palanque. Mas é um erro de forma, que não afeta o conteúdo. A verdade é que o governo tem feito tudo o que é possível. Se terá efeitos na popularidade de Lula, na avaliação do governo e em futuras eleições... Bem, isso é da natureza política. Aliás, da própria natureza humana.