Um olhar crítico no poder e nos poderosos

Opinião|Sob pressão, Lula titubeia sobre aborto, delação, Juscelino Filho. E o corte de gastos?


Quanto mais o governo dá demonstrações de fragilidade, mais frágil fica, mais os adversários e os aliados de ocasião se tornam vorazes e dispostos a lhe impor impor derrotas

Por Eliane Cantanhêde
Atualização:

Governo fraco é alvo fácil de pressões da Câmara, do Senado, do mercado e da opinião pública, e é isso que acontece no terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, que passou a sofrer derrotas no Congresso e titubeia em questões de grande relevância, como a equiparação do aborto a homicídio, o veto a delações premiadas de presos e o indiciamento do ministro Juscelino Filho pela PF. Como se o governo não tivesse nada a ver com isso. Tem!

Até a reação à devolução da medida provisória sobre PIS e Cofins, para compensar R$ 26 bilhões de perdas com a desoneração da folha de pagamentos, foi tímida, medrosa, com Lula, seus ministros e líderes apoiando a decisão do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, e deixando no sereno o avalista do governo, Fernando Haddad. Devolver projetos do Executivo é quase um tapa na cara. O Planalto ofereceu a outra face, por insegurança, por estar nas mãos do Congresso.

O projeto que pode punir a vítima estuprada com até 20 anos de prisão, enquanto seu estuprador é passível de, no máximo, dez, é classificado como “escândalo”, “desumano”, “fundamentalista”, mas Lula calou, seu líder na Câmara, José Guimarães, disse que “é problema do Parlamento, não do governo”, e os ministros das Mulheres e dos Direitos Humanos, que se manifestaram contra, ficaram falando sozinhos. Nem a ministra da Saúde tomou uma posição. Por que esse torpor geral? Porque a “Bancada da Bíblia” é forte, ameaçadora, e de oposição.

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Demonstração de fragilidade do governo faz com que a oposição se anime a impor novas derrotas ao governo Foto: Wilton Júnior/Estadão

A inflexão só veio dois dias depois, no rastro de manifestações (aliás, de mulheres e homens) nas capitais. A primeira-dama Jana condenou o projeto nas redes sociais e o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, chamou a proposta de “uma barbaridade”, avisando, enfim: “Não contem com o governo”. Já no caso do veto às delações premiadas, sem protestos nem gritaria, o governo lavou as mãos.

Quanto mais o governo dá demonstrações de fragilidade, mais frágil fica, mais os adversários e os aliados de ocasião se tornam vorazes, audaciosos e à vontade para lhe impor derrotas. E o governo não para de ir e vir, exibir divergências internas, ceder no que não deveria, abaixar a cabeça para as derrotas. A sensação é de que algo não vai bem.

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E não adianta botar a culpa, derrota atrás de derrota, problema atrás de problema, na articulação política. O centro das intempéries do governo vem da falta de maioria no Congresso, especialmente na Câmara, onde a direita é muito maior e mais unida do que a esquerda. Uma articulação governista pode ajudar, mas não faz mágica. E o efeito das emendas não dá mais para o gasto. Nos cálculos da Fazenda, elas somavam R$ 17 bilhões e dispararam para R$ 53 bilhões, mas o Congresso não está satisfeito. Onde isso vai parar?

Vejamos o caso do ministro Juscelino Filho, das Comunicações, que desde o primeiro mês do governo é alvo de reportagens consistentes e detalhadas sobre variados desvios, principalmente as do Estadão: avião da FAB e diárias com dinheiro público para ir a leilões de cavalos de raça em São Paulo, pagar trabalhador do haras da família no Maranhão com verba de seu gabinete de deputado em Brasília, deixar o ministério nas mãos do sogro, que não tem nada a ver com isso...

O ministro acaba de ser indiciado pela Polícia Federal – órgão do Ministério da Justiça, portanto, do governo – por desvio de emendas parlamentares para uma cidade maranhense onde sua irmã é prefeita e usou a grana para construir uma estrada que beneficia uma única família, a deles. Da Europa, Lula desconversou: “o ministro tem o direito de provar que é inocente”. Por que? Juscelino Filho é do União Brasil — partido com três ministros que, vira e mexe, vota contra o governo — e apadrinhado por Davi Alcolumbre, que manda no Senado.

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Lula, portanto, está refém de Lira, Alcolumbre, bancada evangélica, União Brasil... E, enquanto o seu time bate cabeça, com Rui Costa, ministros e dirigentes petistas contra Haddad e o corte de gastos, ele faz uma reunião atrás da outra para falar obviedades, dar broncas e prometer assumir a coordenação política. Bla-bla-bla não vai melhorar a percepção sobre o governo, nem a popularidade do presidente.

Governo fraco é alvo fácil de pressões da Câmara, do Senado, do mercado e da opinião pública, e é isso que acontece no terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, que passou a sofrer derrotas no Congresso e titubeia em questões de grande relevância, como a equiparação do aborto a homicídio, o veto a delações premiadas de presos e o indiciamento do ministro Juscelino Filho pela PF. Como se o governo não tivesse nada a ver com isso. Tem!

Até a reação à devolução da medida provisória sobre PIS e Cofins, para compensar R$ 26 bilhões de perdas com a desoneração da folha de pagamentos, foi tímida, medrosa, com Lula, seus ministros e líderes apoiando a decisão do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, e deixando no sereno o avalista do governo, Fernando Haddad. Devolver projetos do Executivo é quase um tapa na cara. O Planalto ofereceu a outra face, por insegurança, por estar nas mãos do Congresso.

O projeto que pode punir a vítima estuprada com até 20 anos de prisão, enquanto seu estuprador é passível de, no máximo, dez, é classificado como “escândalo”, “desumano”, “fundamentalista”, mas Lula calou, seu líder na Câmara, José Guimarães, disse que “é problema do Parlamento, não do governo”, e os ministros das Mulheres e dos Direitos Humanos, que se manifestaram contra, ficaram falando sozinhos. Nem a ministra da Saúde tomou uma posição. Por que esse torpor geral? Porque a “Bancada da Bíblia” é forte, ameaçadora, e de oposição.

Demonstração de fragilidade do governo faz com que a oposição se anime a impor novas derrotas ao governo Foto: Wilton Júnior/Estadão

A inflexão só veio dois dias depois, no rastro de manifestações (aliás, de mulheres e homens) nas capitais. A primeira-dama Jana condenou o projeto nas redes sociais e o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, chamou a proposta de “uma barbaridade”, avisando, enfim: “Não contem com o governo”. Já no caso do veto às delações premiadas, sem protestos nem gritaria, o governo lavou as mãos.

Quanto mais o governo dá demonstrações de fragilidade, mais frágil fica, mais os adversários e os aliados de ocasião se tornam vorazes, audaciosos e à vontade para lhe impor derrotas. E o governo não para de ir e vir, exibir divergências internas, ceder no que não deveria, abaixar a cabeça para as derrotas. A sensação é de que algo não vai bem.

E não adianta botar a culpa, derrota atrás de derrota, problema atrás de problema, na articulação política. O centro das intempéries do governo vem da falta de maioria no Congresso, especialmente na Câmara, onde a direita é muito maior e mais unida do que a esquerda. Uma articulação governista pode ajudar, mas não faz mágica. E o efeito das emendas não dá mais para o gasto. Nos cálculos da Fazenda, elas somavam R$ 17 bilhões e dispararam para R$ 53 bilhões, mas o Congresso não está satisfeito. Onde isso vai parar?

Vejamos o caso do ministro Juscelino Filho, das Comunicações, que desde o primeiro mês do governo é alvo de reportagens consistentes e detalhadas sobre variados desvios, principalmente as do Estadão: avião da FAB e diárias com dinheiro público para ir a leilões de cavalos de raça em São Paulo, pagar trabalhador do haras da família no Maranhão com verba de seu gabinete de deputado em Brasília, deixar o ministério nas mãos do sogro, que não tem nada a ver com isso...

O ministro acaba de ser indiciado pela Polícia Federal – órgão do Ministério da Justiça, portanto, do governo – por desvio de emendas parlamentares para uma cidade maranhense onde sua irmã é prefeita e usou a grana para construir uma estrada que beneficia uma única família, a deles. Da Europa, Lula desconversou: “o ministro tem o direito de provar que é inocente”. Por que? Juscelino Filho é do União Brasil — partido com três ministros que, vira e mexe, vota contra o governo — e apadrinhado por Davi Alcolumbre, que manda no Senado.

Lula, portanto, está refém de Lira, Alcolumbre, bancada evangélica, União Brasil... E, enquanto o seu time bate cabeça, com Rui Costa, ministros e dirigentes petistas contra Haddad e o corte de gastos, ele faz uma reunião atrás da outra para falar obviedades, dar broncas e prometer assumir a coordenação política. Bla-bla-bla não vai melhorar a percepção sobre o governo, nem a popularidade do presidente.

Governo fraco é alvo fácil de pressões da Câmara, do Senado, do mercado e da opinião pública, e é isso que acontece no terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, que passou a sofrer derrotas no Congresso e titubeia em questões de grande relevância, como a equiparação do aborto a homicídio, o veto a delações premiadas de presos e o indiciamento do ministro Juscelino Filho pela PF. Como se o governo não tivesse nada a ver com isso. Tem!

Até a reação à devolução da medida provisória sobre PIS e Cofins, para compensar R$ 26 bilhões de perdas com a desoneração da folha de pagamentos, foi tímida, medrosa, com Lula, seus ministros e líderes apoiando a decisão do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, e deixando no sereno o avalista do governo, Fernando Haddad. Devolver projetos do Executivo é quase um tapa na cara. O Planalto ofereceu a outra face, por insegurança, por estar nas mãos do Congresso.

O projeto que pode punir a vítima estuprada com até 20 anos de prisão, enquanto seu estuprador é passível de, no máximo, dez, é classificado como “escândalo”, “desumano”, “fundamentalista”, mas Lula calou, seu líder na Câmara, José Guimarães, disse que “é problema do Parlamento, não do governo”, e os ministros das Mulheres e dos Direitos Humanos, que se manifestaram contra, ficaram falando sozinhos. Nem a ministra da Saúde tomou uma posição. Por que esse torpor geral? Porque a “Bancada da Bíblia” é forte, ameaçadora, e de oposição.

Demonstração de fragilidade do governo faz com que a oposição se anime a impor novas derrotas ao governo Foto: Wilton Júnior/Estadão

A inflexão só veio dois dias depois, no rastro de manifestações (aliás, de mulheres e homens) nas capitais. A primeira-dama Jana condenou o projeto nas redes sociais e o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, chamou a proposta de “uma barbaridade”, avisando, enfim: “Não contem com o governo”. Já no caso do veto às delações premiadas, sem protestos nem gritaria, o governo lavou as mãos.

Quanto mais o governo dá demonstrações de fragilidade, mais frágil fica, mais os adversários e os aliados de ocasião se tornam vorazes, audaciosos e à vontade para lhe impor derrotas. E o governo não para de ir e vir, exibir divergências internas, ceder no que não deveria, abaixar a cabeça para as derrotas. A sensação é de que algo não vai bem.

E não adianta botar a culpa, derrota atrás de derrota, problema atrás de problema, na articulação política. O centro das intempéries do governo vem da falta de maioria no Congresso, especialmente na Câmara, onde a direita é muito maior e mais unida do que a esquerda. Uma articulação governista pode ajudar, mas não faz mágica. E o efeito das emendas não dá mais para o gasto. Nos cálculos da Fazenda, elas somavam R$ 17 bilhões e dispararam para R$ 53 bilhões, mas o Congresso não está satisfeito. Onde isso vai parar?

Vejamos o caso do ministro Juscelino Filho, das Comunicações, que desde o primeiro mês do governo é alvo de reportagens consistentes e detalhadas sobre variados desvios, principalmente as do Estadão: avião da FAB e diárias com dinheiro público para ir a leilões de cavalos de raça em São Paulo, pagar trabalhador do haras da família no Maranhão com verba de seu gabinete de deputado em Brasília, deixar o ministério nas mãos do sogro, que não tem nada a ver com isso...

O ministro acaba de ser indiciado pela Polícia Federal – órgão do Ministério da Justiça, portanto, do governo – por desvio de emendas parlamentares para uma cidade maranhense onde sua irmã é prefeita e usou a grana para construir uma estrada que beneficia uma única família, a deles. Da Europa, Lula desconversou: “o ministro tem o direito de provar que é inocente”. Por que? Juscelino Filho é do União Brasil — partido com três ministros que, vira e mexe, vota contra o governo — e apadrinhado por Davi Alcolumbre, que manda no Senado.

Lula, portanto, está refém de Lira, Alcolumbre, bancada evangélica, União Brasil... E, enquanto o seu time bate cabeça, com Rui Costa, ministros e dirigentes petistas contra Haddad e o corte de gastos, ele faz uma reunião atrás da outra para falar obviedades, dar broncas e prometer assumir a coordenação política. Bla-bla-bla não vai melhorar a percepção sobre o governo, nem a popularidade do presidente.

Governo fraco é alvo fácil de pressões da Câmara, do Senado, do mercado e da opinião pública, e é isso que acontece no terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, que passou a sofrer derrotas no Congresso e titubeia em questões de grande relevância, como a equiparação do aborto a homicídio, o veto a delações premiadas de presos e o indiciamento do ministro Juscelino Filho pela PF. Como se o governo não tivesse nada a ver com isso. Tem!

Até a reação à devolução da medida provisória sobre PIS e Cofins, para compensar R$ 26 bilhões de perdas com a desoneração da folha de pagamentos, foi tímida, medrosa, com Lula, seus ministros e líderes apoiando a decisão do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, e deixando no sereno o avalista do governo, Fernando Haddad. Devolver projetos do Executivo é quase um tapa na cara. O Planalto ofereceu a outra face, por insegurança, por estar nas mãos do Congresso.

O projeto que pode punir a vítima estuprada com até 20 anos de prisão, enquanto seu estuprador é passível de, no máximo, dez, é classificado como “escândalo”, “desumano”, “fundamentalista”, mas Lula calou, seu líder na Câmara, José Guimarães, disse que “é problema do Parlamento, não do governo”, e os ministros das Mulheres e dos Direitos Humanos, que se manifestaram contra, ficaram falando sozinhos. Nem a ministra da Saúde tomou uma posição. Por que esse torpor geral? Porque a “Bancada da Bíblia” é forte, ameaçadora, e de oposição.

Demonstração de fragilidade do governo faz com que a oposição se anime a impor novas derrotas ao governo Foto: Wilton Júnior/Estadão

A inflexão só veio dois dias depois, no rastro de manifestações (aliás, de mulheres e homens) nas capitais. A primeira-dama Jana condenou o projeto nas redes sociais e o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, chamou a proposta de “uma barbaridade”, avisando, enfim: “Não contem com o governo”. Já no caso do veto às delações premiadas, sem protestos nem gritaria, o governo lavou as mãos.

Quanto mais o governo dá demonstrações de fragilidade, mais frágil fica, mais os adversários e os aliados de ocasião se tornam vorazes, audaciosos e à vontade para lhe impor derrotas. E o governo não para de ir e vir, exibir divergências internas, ceder no que não deveria, abaixar a cabeça para as derrotas. A sensação é de que algo não vai bem.

E não adianta botar a culpa, derrota atrás de derrota, problema atrás de problema, na articulação política. O centro das intempéries do governo vem da falta de maioria no Congresso, especialmente na Câmara, onde a direita é muito maior e mais unida do que a esquerda. Uma articulação governista pode ajudar, mas não faz mágica. E o efeito das emendas não dá mais para o gasto. Nos cálculos da Fazenda, elas somavam R$ 17 bilhões e dispararam para R$ 53 bilhões, mas o Congresso não está satisfeito. Onde isso vai parar?

Vejamos o caso do ministro Juscelino Filho, das Comunicações, que desde o primeiro mês do governo é alvo de reportagens consistentes e detalhadas sobre variados desvios, principalmente as do Estadão: avião da FAB e diárias com dinheiro público para ir a leilões de cavalos de raça em São Paulo, pagar trabalhador do haras da família no Maranhão com verba de seu gabinete de deputado em Brasília, deixar o ministério nas mãos do sogro, que não tem nada a ver com isso...

O ministro acaba de ser indiciado pela Polícia Federal – órgão do Ministério da Justiça, portanto, do governo – por desvio de emendas parlamentares para uma cidade maranhense onde sua irmã é prefeita e usou a grana para construir uma estrada que beneficia uma única família, a deles. Da Europa, Lula desconversou: “o ministro tem o direito de provar que é inocente”. Por que? Juscelino Filho é do União Brasil — partido com três ministros que, vira e mexe, vota contra o governo — e apadrinhado por Davi Alcolumbre, que manda no Senado.

Lula, portanto, está refém de Lira, Alcolumbre, bancada evangélica, União Brasil... E, enquanto o seu time bate cabeça, com Rui Costa, ministros e dirigentes petistas contra Haddad e o corte de gastos, ele faz uma reunião atrás da outra para falar obviedades, dar broncas e prometer assumir a coordenação política. Bla-bla-bla não vai melhorar a percepção sobre o governo, nem a popularidade do presidente.

Opinião por Eliane Cantanhêde

Comentarista da Rádio Eldorado, Rádio Jornal (PE) e do telejornal GloboNews em Pauta

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