BRASÍLIA - No dia em que a Polícia Federal cumpriu mais de 100 mandados de busca e apreensão e prendeu pessoas acusadas de envolvimento com atos antidemocráticos, extremistas acampados em frente ao Quartel General do Exército, em Brasília, continuaram a entoar pedidos de intervenção militar, com acusações golpistas e ameaça direta à realização da cerimônia de posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva.
Organizados em dezenas de tendas de grande porte instaladas em frente à entrada do principal QG do Exército do País, com estruturas de carros de som, geradores de energia, cozinhas e banheiros químicos, os apoiadores do presidente Jair Bolsonaro mais radicais continuam a dizer que “o bandido não vai subir a rampa” e que Bolsonaro tem “dado depoimentos” para deixar claro que vai “fazer algo com apoio do Exército”.
“Gente, olha quanto patriota. Todo esse pessoal que está aqui tem consciência do que o Brasil está vivendo. Tem uma tomada de poder antidemocrática, não existe mais democracia, instituições, nada disso”, disse um bolsonarista, para depois dar a sua visão sobre a situação econômica do País, descolada da realidade. “A gente estava voando, com Bolsonaro tacando o pau na nossa economia, com inflação baixa, com superávit primário, com teto de gastos respeitado.”
Outro acampado pediu o microfone para anunciar que o governo eleito estaria se mobilizando para colocar a ex-presidente Dilma Rousseff na presidência da Petrobras, uma hipótese que nunca foi cogitada pelo governo de transição, por Lula ou pela própria Dilma.
“O Mercadante já foi selecionado como presidente do BNDES e, agora, parece que a Dilma está sendo cotada para ir para a presidência da Petrobras, de novo, galera”, afirmou, arrancando vaias dos que o acompanhavam. Dilma nunca, em nenhum momento, foi presidente da Petrobras.
Para manter a mobilização, os extremistas se alternam, constantemente, no microfone, com sucessivas ameaças à democracia, pedidos de intervenção, ofensas a Lula e a ministros do Supremo Tribunal Federal, especialmente direcionadas ao ministro Alexandre de Moraes, que autorizou as operações da PF nesta quinta-feira e que ontem disse que “ainda tem muita gente para prender e multar” no País, em referência às mobilizações golpistas.
No microfone, um terceiro acampado tratou de renovar o ânimo dos que o acompanhavam nesta tarde. “O ladrão não vai subir a rampa, o ladrão não vai subir a rampa. Nós temos o Bolsonaro dando depoimentos, nós estamos em outros QGs no Brasil soltando informações, na medida do possível, e o ladrão não vai subir a rampa”, afirmou, seguido por gritos e assovios.
A despeito das ameaças, o governo de transição de Lula prepara uma festa para cerca de 300 mil pessoas em Brasília, no dia 1 de janeiro. As forças policiais, com apoio da Secretaria de Segurança do Distrito Federal, estão mobilizadas para impor um sistema de segurança que garanta a tranquilidade de todos que estiverem na capital federal para participar da cerimônia.
A primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, está à frente da organização do evento, que contará com dezenas de shows durante todo o dia. A previsão é que Lula e Janja façam o tradicional desfile em carro aberto, pela Esplanada dos Ministérios.