RIO – Em três cidades de São Paulo, o Estado com o maior número de eleitores do País, 34,4 milhões, o PSDB mantinha o comando das prefeituras, ininterruptamente, desde 2000. O poderio político do partido na base eleitoral mais forte do tucanato se perpetuou por 24 anos em Cravinhos, e por 28 anos, em Ilha Comprida e Junqueirópolis – três municípios do interior paulista com menos de 50 mil habitantes. O declínio a nível nacional da sigla impactou o diretório paulista e causou uma revoada no ninho tucano.
As três cidades estão entre as 28 cidades mapeadas pelo Estadão em dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), atas de Tribunais Regionais Eleitorais nos Estados, Diários Oficiais de Justiça e no acervo do jornal governadas pelo mesmo partido há pelo menos 24 anos. São seis eleições consecutivas de vitórias nas urnas da mesma legenda, apesar de algumas mudanças de nomes das legendas no decorrer dos anos.
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O PSDB governou São Paulo por 28 anos, até ser desbancado pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) em 2022. O partido que chegou a ter o maior número de prefeitos eleitos no Estado perdeu relevância a nível municipal, estadual e nacional. O partido que tinha 205 prefeitos em 2008, vive uma crise interna desde a ascensão do bolsonarismo e a tomada de espaço entre eleitores conservadores. Atualmente, tem apenas 28 prefeituras sob o comando da legenda.
Os tucanos mantinham as prefeituras de Ilha Comprida e Junqueirópolis desde 1996, e Cravinhos a partir de 2000. Os três prefeitos do PSDB, no entanto, deixaram o partido no decorrer do último mandato e colocaram fim à sequência histórica da sigla nos três municípios. Nas eleições deste ano, o partido —que concorre com o apresentador José Luiz Datena à Prefeitura da capital paulista— não apresentou candidaturas próprias nas três cidades.
De acordo com dados do TSE, o PSDB tem 65 candidatos a prefeito no Estado de São Paulo nas eleições municipais deste ano. Na eleição passada, foram 400 tucanos candidatos entre as 645 cidades de São Paulo sob a gestão do então governador João Doria.
Segundo o cientista político Carlos Ranulfo, pesquisador do Instituto da Democracia, o PSDB perdeu protagonismo e teve uma das principais bandeiras, o antipetismo, “roubada pelo bolsonarismo”.
“O bolsonarismo roubou do PSDB a sua principal bandeira que era ser o candidato capaz de derrotar o PT. Ficou evidente em 2018 e se confirmou nas prefeituras de São Paulo. Quando ficou clara a derrocada do PSDB como uma referência nacional, os prefeitos rapidamente abandonaram o barco”, analisou Ranulfo.
Bolsonarismo esvazia PSDB
Um dos casos em que o PSDB perdeu força para o bolsonarismo foi em Ilha Comprida, no Vale do Ribeira. O prefeito Geraldino Júnior, eleito em 2020 pelo PSDB, deixou o partido e se filiou ao PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro. O chefe do Executivo municipal foi apeado do poder em julho deste ano ao ter o mandato cassado por uma Comissão de Investigação e Processante (CIP) da Câmara Municipal por não responder a requerimentos apresentados pelos vereadores.
Neste ano, Ilha Comprida nem sequer terá um candidato do PSDB na disputa. O partido decidiu apoiar um nome do PL, Ricardo Oliveira Ragni de Castro.
O PL viu o número de candidatos a prefeito aumentar exponencialmente após o embarque de Bolsonaro e seus aliados em novembro de 2021. Nas eleições deste ano, o partido terá 289 nomes na disputa municipal em São Paulo. Se comparado a 2020, quando lançou 116 postulantes, o partido teve um crescimento de 149%.
Segundo Ranulfo, ao perder protagonismo nacional e acesso a um fundo eleitoral relevante, o partido viu a migração de seus quadros para outras legendas.
“Por que o PSDB desapareceu do mapa, não só em São Paulo? Na Câmara dos Deputados, o PSDB elegeu 13 deputados em 2022, e já chegou eleger 99 deputados. O partido quase desapareceu do mapa. Bolsonaro capturou o anti-petismo e o PSDB nunca foi um partido com enraizamento social muito forte”, disse.