Em viagem a São Paulo nesta segunda-feira, 3, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) selou publicamente o alinhamento político de seu governo com o presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf (MDB). O empresário, que fez oposição sistemática ao governo Dilma Rousseff (PT), pode deixar o MDB e migrar para a Aliança pelo Brasil, partido que o presidente tenta criar.
Skaf esteve ao lado de Bolsonaro pela manhã na cerimônia de lançamento da pedra fundamental do Colégio Militar de São Paulo, o primeiro do Estado, que será construído em um terreno ao lado do Campo de Marte, na zona norte da capital. O projeto arquitetônico do empreendimento foi doado pela Fiesp. Em seguida, eles visitarama primeira turma de alunos do colégio, que está tendo aulas em uma unidade de treinamento do Exército, e depois seguiram para um almoço com empresários na sede da Federação, na Avenida Paulista.
"Essa casa está apoiando o governo Jair Bolsonaro. Vamos estar juntos para derrubar todos os obstáculos. Estamos apoiando seu governo não por razão política e partidária, mas por enxergarmos com clareza que o rumo está certo", disse Skaf em seu discurso.
Em sua fala, o presidente retribuiu com uma brincadeira. "Paulo Skaf conseguiu emprego no meu governo, de porta-voz", disse. Ao citar sua falta de conhecimento sobre economia, Bolsonaro ironizou a ex-presidente Dilma Rousseff. "Tínhamos uma presidente que era economista, acabou não dando certo."
O ministro da Economia, Paulo Guedes, também foi exaltado pelo presidente, que declarou "apoio incondicional a ele". "Em algumas coisas não concordo com ele. Me coloquei contra aumento da cerveja, apesar de não ser amante desse esporte", disse Bolsonaro. O presidente também elogiou o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) por seu apoio às reformas do governo."O Maia, como presidente de um dos Poderes, tem se mostrado mais que simpático (às reformas). Ele quer ser protagonista nessa questão".
Prestígio
Para prestigiar Skaf, Bolsonaro levou uma comitiva de peso para São Paulo. Estavam os ministros da Educação, Abraham Weintraub, do Meio Ambiente, Ricardo Salles, o senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ), o deputado Eduardo Bolsonaro (sem partido-SP), e a secretária nacional de Cultura, Regina Duarte.
Desde a posse de Bolsonaro em janeiro, a Fiesp tornou-se uma espécie de base avançada do governo federal em São Paulo. Em 2019, dez ministros e 14 secretários estiveram 40 vezes na Fiesp.
A federação, que em governos anteriores fez fortes campanhas contra o aumento de impostos e defendeu o impeachment de Dilma, não levantou no ano passado nenhuma bandeira que pudesse incomodar o Plácio do Planalto.
Com o MDB cada vez mais próximo do governador João Doria (PSDB), – que não participou de nenhuma das agendas desta segunda-feira – Skaf passou a ventilar a possibilidade de disputar o Palácio dos Bandeirantes em 2022 pela Aliança pelo Brasil. Os bolsonaristas abriram o caminho para que o presidente da Fiesp assuma o comando da legenda no Estado.
Os bolsonaristas abriram o caminho para que o presidente da Fiesp assuma o comando da legenda no Estado. O movimento é consenso entre os filhos do presidente e o núcleo ideológico da futura legenda.
As conversas entre Skaf e Bolsonaro estão avançadas e ambos estudam apoiar juntos a candidatura do apresentador José Luiz Datena para a prefeitura da capital na eleição de outubro.
Caso a Aliança não consiga reunir as assinaturas necessárias para disputar as eleições municipais até o dia 4 de abril, prazo limite estipulado pelo Tribunal Superior Eleitoral, o dirigente empresarial vai adiar os planos e permanecer no MDB até 2021. /COLABORARAM ANDRÉ ÍTALO ROCHA, BÁRBARA NASCIMENTO e PEDRO CARAMURU