BRASÍLIA - Quase sete anos após ver sua empresa virar alvo da operação Lava Jato, o empresário Emílio Odebrecht, de 78 anos, decidiu dar sua versão da história. Na primeira semana de maio, o dono de um dos principais grupos empresariais do País lança um livro de memórias em que culpa os investigadores por uma tentativa de destruir a Odebrecht.
A acusação está estampada já no título da obra: “Uma Guerra contra o Brasil - como a Lava Jato agrediu a soberania nacional, enfraqueceu a indústria pesada brasileira e tentou destruir o Grupo Odebrecht”. A orelha do livro, editado pela Topbooks, é assinada pelo escritor e biógrafo Fernando Morais, autor de “Chatô, o rei do Brasil”, “Olga” e, mais recentemente, “Lula: biografia”.
Fundada há quase 80 anos pelo pernambucano Norberto Odebrechet, pai de Emílio, a construtora Odebrecht, hoje Novonor, tornou-se um dos maiores grupos empresariais brasileiros, com atuação em mais de 20 países.
A divulgação do livro de Emílio Odebrecht, baiano de Salvador, ocorre em meio a iniciativas para por em suspeição os acordos de leniência feitos por empresas alvos da Lava Jato. Partidos aliados do Palácio do Planalto recorreram ao Supremo Tribunal Federal (STF) para pedir que os pagamentos decorrentes dos acordos sejam suspensos. A ação é assinada por PSOL, PCdoB e Solidariedade. As legendas argumentam que “os acordos foram pactuados em situação de “extrema anormalidade político-jurídico-institucional, mediante situação de coação”.
Em 2016, a operação coordenada pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal no Paraná incluiu a construtora nas apurações que envolviam a Petrobras. Os investigadores acusaram a empreiteira de pagar propina a dirigentes da estatal e a políticos em troca de contratos e apoio.
Preso por dois anos e cinco meses em Curitiba, Marcelo Odebrecht, filho de Emílio, Marcelo Odebrecht confessou em depoimento que a construtora fazia pagamento de propina para políticos, incluindo a “conta italiano”, exclusiva de recursos parao PT e o Instituto Lula. Ao todo, 77 executivos da empresa fizeram delação premiada. Um deles entregou à Operação Lava Jato uma tabela com os codinomes dos partidos políticos. Na planilha, as legendas políticas tinha nome de clubes de futebol. O PT era Flamengo e o PSDB, Corinthians. O PSB era o Internacional.
“Posso dizer que o financiamento ilegal funcionava da seguinte forma: a cada eleição se definia como seria operado o caixa, tanto para doações legais, como ilegais, atribuindo apelidos para cada cargo a ser disputado, por exemplo, em eleições para presidente (general), governador (capitão), senador (tenente), deputado federal (sargento), deputado estadual (cabo). Em outra eleição me recordo foram atribuídas posições de jogadores de futebol para cada cargo a ser disputado, como centroavante, meia, ponta esquerda, goleiro, etc. O nome dos políticos beneficiados também era substituído por apelidos”, detalhou o delator Luiz Eduardo Rocha Soares.
As finanças do grupo ficaram abaladas após o processo de investigação da Lava Jato. Em 2018, a empresa assinou com a Controladoria-Geral da União (CGU) e a Advocacia-Geral da União (AGU) um acordo de leniência de R$ 2,72 bilhões para ser pago em parcelas anuais ao longo de 22 anos. Na época, o acordo foi questionado pelo Tribunal de Contas da União (TCU).
Emilou conheceu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na década de 1980 por intermédio de Mário Covas. Na época, Lula era sindicalista e trataram de problemas com greves no Polo Petroquímico de Camaçari, na Bahia. A partir daí, a amizade dos dois foi ficando cada vez mais forte, com troca de favores, inclusive durante os dois primeiros mandatos do petista e após ele deixar o governo.