A demissão de Boris Johnson como líder do Partido Conservador britânico abre caminho para uma batalha pela definição de quem será o próximo primeiro-ministro do Reino Unido.
A eleição de um novo líder conservador - o terceiro em seis anos - é uma disputa tradicionalmente cheia de reviravoltas, surpresas, drama e facadas nas costas. Além disso, quem substituir Johnson terá uma maioria dominante no Parlamento e dois anos para governar o país antes que suas novas políticas sejam testadas com eleitores em uma eleição geral.
Johnson afirmou que o calendário para a eleição será definido na próxima semana. Os líderes do Partido Conversador esperam ter um novo líder em outubro durante congresso anual da sigla.
Primeiro passo: liderar o partido
Os candidatos à liderança partidária devem ser membros conservadores e contar com o apoio de ao menos dois parlamentares colegas, que formam equipes de campanha para buscar o apoio. Ninguém se apresentou oficialmente ainda para a disputa. Segundo uma uma pesquisa do YouGov de membros do partido, divulgada nesta quinta-feira, 7, o ministro da Defesa Ben Wallace venceria outros potenciais candidatos, seguido pelo ex-ministro da Defesa e atual secretário de Estado de Comércio Exterior, Penny Mordaunt.
Se houver vários candidatos, os deputados expressam suas preferências entre todos os candidatos da disputa durante uma série de votações secretas até que apenas dois nomes sejam escolhidos e enviados aos membros conservadores de base em todo o país para uma votação na escolha final.
Se, no entanto, apenas um candidato for indicado pelos deputados, essa pessoa se torna líder incontestável, mas ainda pode estar sujeita a votação dos membros do partido para ratificar o resultado.
Esse processo pode se estender por seis semanas ou mais, dependendo de quantos candidatos existem para o cargo. Na última votação desse tipo em 2019, havia 10 candidatos e foram necessárias seis rodadas de votação antes que os dois candidatos finais surgissem. Existem casos em que esse processo foi acelerado. Um exemplo é o caso de Theresa May, antecessora de Johnson no comando do governo em Downing Street. Em julho de 2016, ela se tornou líder do partido sem a necessidade de voto de adesão, após a retirada de seu rival Andrea Leadsom.
O caminho até Downing Street
O chefe de governo, oficialmente chamado de “Governo de Sua Majestade”, é nomeado pela rainha Elizabeth II, que escolhe a pessoa com maior probabilidade de ganhar a confiança da Câmara dos Comuns, sendo, geralmente, o líder do principal partido político. Nesse caso, a preferência são os conservadores, que possuem a maioria absoluta no parlamento inglês desde sua triunfante vitória em dezembro de 2019, quando, liderados por Johnson, obtiveram uma maioria não vista desde os anos 1980 sob a pressão de Margaret Thatcher.
Nem sempre ganha o favorito
Entre os conservadores britânicos, o favorito para o cargo não vence necessariamente. Em 1965, Reginald Maudling era considerado favorito, mas quem ganhou foi Edward Heath.
Após 10 anos, Heath convocou novas eleições para reestabelecer sua autoridade. O esperado era a sua vitória facilmente, mas Margaret Thatcher, surpreendentemente levou a disputa, tornando-se a primeira mulher a liderar o Partido Conservador. Heath nunca a perdoou.
Em 1990, foi Thatcher quem teve que fazer as malas depois de ser ultrapassada por seu rival Michael Heseltine, entretanto, John Major entrou na corrida e venceu Heseltine.
Outro caso foi em 2005 quando David Davis estava previsto para vencer, mas foi derrotado por David Cameron, um jovem forasteiro modernizador.
Na votação realizada em 2016, que deu a vitória de May, o ex-prefeito de Londres Boris Johnson era o favorito antes que seu aliado Michael Gove o demitisse, forçando-o a se retirar.
Perspectivas para o novo líder conservador
A sucessão de Johnson herdará uma economia desgastada por uma crise de elevado custo de vida, à medida que a inflação acelera no ritmo mais rápido em quatro décadas. A agitação entre os trabalhadores já está se fomentando, pois funcionários ferroviários, funcionários dos correios, professores e advogados de defesa declaram paralisações ou debatem isso, provocando paralelos com os anos 1970.
O novo líder também terá que reparar um partido fragmentado que parece cansado depois de 12 anos. Será necessário também consertar as relações com a União Europeia que foram tensas por conta das ameaças de Johnson de renegar o acordo do Brexit que ele mesmo negociou. /AFP e WP Bloomberg
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O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, renunciou ao cargo de líder do Partido Conservador, abrindo caminho para a escolha de um novo premiê.