Entenda o esquema de vendas de joias do Bolsonaro em 5 pontos, segundo a PF


Itens vendidos foram recebidos pela comitiva do ex-presidente em viagens oficiais; PF investiga se o ex-presidente usou as vendas para enriquecer ilicitamente

Por Gabriel de Sousa
Atualização:

BRASÍLIA - A Operação Lucas 12:2, deflagrada nesta sexta-feira, 11, pela Polícia Federal (PF), revelou que aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) teriam vendido joias e outros objetos de valor recebidos em viagens oficiais da Presidência da República. Nomeada com um versículo bíblico que diz que “não há nada escondido que não venha a ser descoberto”, os investigadores tentam descobrir se os itens foram omitidos do acervo público e negociados para enriquecer o ex-presidente.

O ex-presidente Jair Bolsonaro teria sido beneficiado com a venda de joias ilegais para o exterior Foto: Wilton Junior/Estadão

Entre os alvos da operação desta sexta estão o general Mauro César Lourena Cid, pai de Mauro Cid; o advogado Frederick Wassef, que representou o ex-chefe do Executivo perante a Justiça; e o tenente Osmar Crivelatti que, assim como Mauro Cid, foi ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.

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A operação desta sexta foi autorizada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes que, entre 105 páginas de denúncias e provas contra os aliados do ex-presidente, argumentou que “há fortes indícios de desvios de bens de alto valor patrimonial”. O Estadão resumiu em cinco tópicos o esquema que está sendo investigado pela PF. Confira:

Como as vendas eram feitas?

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As vendas investigadas seriam de presentes que Bolsonaro recebeu por conta do seu cargo de presidente da República. Essas peças deveriam ser incorporados ao acervo da União, mas foram omitidos dos órgãos públicos, incorporados ao estoque pessoal do ex-chefe do Executivo e negociados para fins de enriquecimento ilícito.

Mensagens recuperadas pela Polícia Federal indicam que Mauro Cid teve a ajuda do seu pai, o general da reserva Mauro Cesar Lourena Cid, para negociar as peças e repassar o dinheiro das vendas. O reflexo do general aparece em uma foto utilizada para barganhar uma escultura que o ex-presidente recebeu em uma viagem oficial.

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O envolvimento do pai do ex-ajudante de ordens coloca o alto escalão das Forças Armadas na mira da PF. Lourena Cid foi colega do ex-presidente na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman) na década de 70. Em uma nota enviada à Coluna do Estadão, o Exército disse que “não compactua com eventuais desvios de conduta de quaisquer de seus integrantes”.

O que foi vendido?

Até o momento, a PF identificou a negociação de dois kits de joias da marca suíça Chopard, duas esculturas douradas e um relógio da marca Patek Philippe, mas não descarta que mais itens tenham sido apropriados indevidamente. Isso acontece porque foi interceptada uma mensagem entre assessores do ex-presidente que mostrou que a ex-primeira dama, Michelle Bolsonaro, teria “sumido” com um pacote de itens preciosos.

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As duas esculturas douradas teriam sido levadas por Bolsonaro no dia 30 de dezembro de 2022, quando ele partiu para os Estados Unidos dois dias antes da posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A investigação aponta que, quando os itens chegaram ao país, foram encaminhados para lojas especializadas nos estados da Flórida, Nova Iorque e Pensilvânia, “para serem avaliados e submetidos à alienação, por meio de leilões e/ou venda direta”.

Um dos objetos vendidos foi um relógio Rolex presenteado a Bolsonaro pelo rei da Arábia Saudita, Salman bin Abdulaziz Al Saud, em uma visita oficial do ex-presidente ao País em 2019. A venda teria ocorrido em junho de 2022, durante uma viagem aos Estados Unidos. Em um e-mail enviado para um possível comprador, Cid disse que o item valia R$ 60 mil e certificou que o relógio “nunca havia sido usado”.

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Bolsonaro foi beneficiado com o dinheiro das vendas?

De acordo com a PF, os montantes obtidos das vendas foram convertidos em dinheiro em espécie e ingressaram no patrimônio pessoal do ex-presidente, por meio de laranjas e sem utilizar o sistema bancário formal, com o objetivo de ocultar a origem, localização e propriedade dos valores. Em mensagens trocadas em janeiro deste ano por Mauro Cid e Marcelo Câmara, assessor especial da Presidência da República, um áudio revelou aos investigadores da PF que Cid estaria com 25 mil dólares que, possivelmente, pertenciam a Bolsonaro.

“Tem vinte e cinco mil dólares com meu pai. Eu estava vendo o que era melhor fazer com esse dinheiro, levar em ‘cash’ aí. Meu pai estava querendo inclusive ir ai falar com o presidente. (...) E aí ele poderia levar. Entregaria em mãos. Mas também pode depositar na conta (...). Eu acho que quanto menos movimentação em conta, melhor, né?”, afirma Mauro Cid.

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A apuração da PF também mostrou que, enquanto estava nos Estados Unidos após deixar o mandato presidencial, Bolsonaro não quis pegar duas esculturas com o pai de Mauro Cid por conta de um valor irrisório das peças, que seriam feitas de latão. “Não. Ele [Bolsonaro] não pegou porque não valia nada. Então tem aqueles dois maiores: não valem nada. É, é... não é nem banhado, é latão. Então meu pai vai levar pro Brasil na mudança”, disse o ex-ajudante de ordens.

Itens foram recomprados nos EUA para despistar as investigações

A relação do esquema com os Estados Unidos inclui o envolvimento de Frederick Wassef, advogado de Bolsonaro, que teria sido escalado para viajar ao País para recomprar um relógio da marca Rolex, que fazia parte de um pacote que foi dado de presente ao ex-presidente pelo regime saudita.

A recuperação do item teria acontecido em março deste ano, após o Estadão revelar que Bolsonaro havia recebido o pacote sem declarar à Receita Federal, Wassef e Cid teriam iniciado uma “verdadeira operação resgate”, antevendo que a imprensa e os órgãos de investigação poderiam rastrear outros presentes negociados ilegalmente. O ex- ajudante de ordens foi responsável por recuperar o restante das joias do kit – anel, abotoaduras, um rosário islâmico (“masbaha”). A recompra teria acontecido em uma loja localizada no complexo Seybold Jewelry Building na cidade de Miami, na Flórida.

“Primeiramente o relógio Rolex DAY-DATE, vendido para a empresa Precision Watches, foi recuperado no dia 14/03/2023, pelo advogado Frederick Wassef, que retornou com o bem ao Brasil, na data de 29/03/2023. No dia 02/04/2023, Mauro Cid e Frederick Wassef se encontraram na cidade de São Paulo, momento em que a posse do relógio passou para Mauro Cid , que retornou para Brasília/DF na mesma data, entregando o bem para Osmar Crivelatti, assessor do ex-presidente Jair Bolsonaro”, afirma o documento.

Cristiano Piquet teria transportado joias

As provas obtidas pela Operação Lucas 12:2 incluem a participação do empresário do ramo imobiliário Cristiano Piquet. Segundo os investigadores, coube a Cristiano fazer o transporte das joias que estavam nos Estados Unidos para a sua casa em Miami.

“É, eu pensei de deixar com o [Cristiano] Piquet pra ele descer pra Miami com esse material. Tinha como engrenar aí pra buscar com o Coronel Camarinha essa mala e entregar por Piquet amanhã, meio-dia?”, perguntou Mauro Cid em uma conversa com Marcelo Câmara.

Piquet é um empresário do ramo imobiliário e ajudou diretamente a equipe de servidores da Presidência a encontrar um imóvel para a estadia do ex-presidente em Orlando, na Flórida, onde Bolsonaro ficou do dia 30 de dezembro até 29 de março, quando retornou ao Brasil.

Com a palavra, os citados

O Estadão tentou entrar em contato com as defesas de Mauro César Lourena Cid, Mauro Cid, Cristiano Piquet, Frederick Wassef, Marcelo Câmara, Osmar Crivelatti, e do ex-presidente da República, Jair Bolsonaro, mas até o momento, não obteve retornos de todos.

Em nota, os advogados de Bolsonaro disseram que o ex-presidente “reitera que jamais apropriou-se ou desviou quaisquer bens públicos” e que ele colocou as informações bancárias à disposição da Justiça. Os demais não comentaram.

BRASÍLIA - A Operação Lucas 12:2, deflagrada nesta sexta-feira, 11, pela Polícia Federal (PF), revelou que aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) teriam vendido joias e outros objetos de valor recebidos em viagens oficiais da Presidência da República. Nomeada com um versículo bíblico que diz que “não há nada escondido que não venha a ser descoberto”, os investigadores tentam descobrir se os itens foram omitidos do acervo público e negociados para enriquecer o ex-presidente.

O ex-presidente Jair Bolsonaro teria sido beneficiado com a venda de joias ilegais para o exterior Foto: Wilton Junior/Estadão

Entre os alvos da operação desta sexta estão o general Mauro César Lourena Cid, pai de Mauro Cid; o advogado Frederick Wassef, que representou o ex-chefe do Executivo perante a Justiça; e o tenente Osmar Crivelatti que, assim como Mauro Cid, foi ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.

A operação desta sexta foi autorizada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes que, entre 105 páginas de denúncias e provas contra os aliados do ex-presidente, argumentou que “há fortes indícios de desvios de bens de alto valor patrimonial”. O Estadão resumiu em cinco tópicos o esquema que está sendo investigado pela PF. Confira:

Como as vendas eram feitas?

As vendas investigadas seriam de presentes que Bolsonaro recebeu por conta do seu cargo de presidente da República. Essas peças deveriam ser incorporados ao acervo da União, mas foram omitidos dos órgãos públicos, incorporados ao estoque pessoal do ex-chefe do Executivo e negociados para fins de enriquecimento ilícito.

Mensagens recuperadas pela Polícia Federal indicam que Mauro Cid teve a ajuda do seu pai, o general da reserva Mauro Cesar Lourena Cid, para negociar as peças e repassar o dinheiro das vendas. O reflexo do general aparece em uma foto utilizada para barganhar uma escultura que o ex-presidente recebeu em uma viagem oficial.

O envolvimento do pai do ex-ajudante de ordens coloca o alto escalão das Forças Armadas na mira da PF. Lourena Cid foi colega do ex-presidente na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman) na década de 70. Em uma nota enviada à Coluna do Estadão, o Exército disse que “não compactua com eventuais desvios de conduta de quaisquer de seus integrantes”.

O que foi vendido?

Até o momento, a PF identificou a negociação de dois kits de joias da marca suíça Chopard, duas esculturas douradas e um relógio da marca Patek Philippe, mas não descarta que mais itens tenham sido apropriados indevidamente. Isso acontece porque foi interceptada uma mensagem entre assessores do ex-presidente que mostrou que a ex-primeira dama, Michelle Bolsonaro, teria “sumido” com um pacote de itens preciosos.

As duas esculturas douradas teriam sido levadas por Bolsonaro no dia 30 de dezembro de 2022, quando ele partiu para os Estados Unidos dois dias antes da posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A investigação aponta que, quando os itens chegaram ao país, foram encaminhados para lojas especializadas nos estados da Flórida, Nova Iorque e Pensilvânia, “para serem avaliados e submetidos à alienação, por meio de leilões e/ou venda direta”.

Um dos objetos vendidos foi um relógio Rolex presenteado a Bolsonaro pelo rei da Arábia Saudita, Salman bin Abdulaziz Al Saud, em uma visita oficial do ex-presidente ao País em 2019. A venda teria ocorrido em junho de 2022, durante uma viagem aos Estados Unidos. Em um e-mail enviado para um possível comprador, Cid disse que o item valia R$ 60 mil e certificou que o relógio “nunca havia sido usado”.

Bolsonaro foi beneficiado com o dinheiro das vendas?

De acordo com a PF, os montantes obtidos das vendas foram convertidos em dinheiro em espécie e ingressaram no patrimônio pessoal do ex-presidente, por meio de laranjas e sem utilizar o sistema bancário formal, com o objetivo de ocultar a origem, localização e propriedade dos valores. Em mensagens trocadas em janeiro deste ano por Mauro Cid e Marcelo Câmara, assessor especial da Presidência da República, um áudio revelou aos investigadores da PF que Cid estaria com 25 mil dólares que, possivelmente, pertenciam a Bolsonaro.

“Tem vinte e cinco mil dólares com meu pai. Eu estava vendo o que era melhor fazer com esse dinheiro, levar em ‘cash’ aí. Meu pai estava querendo inclusive ir ai falar com o presidente. (...) E aí ele poderia levar. Entregaria em mãos. Mas também pode depositar na conta (...). Eu acho que quanto menos movimentação em conta, melhor, né?”, afirma Mauro Cid.

A apuração da PF também mostrou que, enquanto estava nos Estados Unidos após deixar o mandato presidencial, Bolsonaro não quis pegar duas esculturas com o pai de Mauro Cid por conta de um valor irrisório das peças, que seriam feitas de latão. “Não. Ele [Bolsonaro] não pegou porque não valia nada. Então tem aqueles dois maiores: não valem nada. É, é... não é nem banhado, é latão. Então meu pai vai levar pro Brasil na mudança”, disse o ex-ajudante de ordens.

Itens foram recomprados nos EUA para despistar as investigações

A relação do esquema com os Estados Unidos inclui o envolvimento de Frederick Wassef, advogado de Bolsonaro, que teria sido escalado para viajar ao País para recomprar um relógio da marca Rolex, que fazia parte de um pacote que foi dado de presente ao ex-presidente pelo regime saudita.

A recuperação do item teria acontecido em março deste ano, após o Estadão revelar que Bolsonaro havia recebido o pacote sem declarar à Receita Federal, Wassef e Cid teriam iniciado uma “verdadeira operação resgate”, antevendo que a imprensa e os órgãos de investigação poderiam rastrear outros presentes negociados ilegalmente. O ex- ajudante de ordens foi responsável por recuperar o restante das joias do kit – anel, abotoaduras, um rosário islâmico (“masbaha”). A recompra teria acontecido em uma loja localizada no complexo Seybold Jewelry Building na cidade de Miami, na Flórida.

“Primeiramente o relógio Rolex DAY-DATE, vendido para a empresa Precision Watches, foi recuperado no dia 14/03/2023, pelo advogado Frederick Wassef, que retornou com o bem ao Brasil, na data de 29/03/2023. No dia 02/04/2023, Mauro Cid e Frederick Wassef se encontraram na cidade de São Paulo, momento em que a posse do relógio passou para Mauro Cid , que retornou para Brasília/DF na mesma data, entregando o bem para Osmar Crivelatti, assessor do ex-presidente Jair Bolsonaro”, afirma o documento.

Cristiano Piquet teria transportado joias

As provas obtidas pela Operação Lucas 12:2 incluem a participação do empresário do ramo imobiliário Cristiano Piquet. Segundo os investigadores, coube a Cristiano fazer o transporte das joias que estavam nos Estados Unidos para a sua casa em Miami.

“É, eu pensei de deixar com o [Cristiano] Piquet pra ele descer pra Miami com esse material. Tinha como engrenar aí pra buscar com o Coronel Camarinha essa mala e entregar por Piquet amanhã, meio-dia?”, perguntou Mauro Cid em uma conversa com Marcelo Câmara.

Piquet é um empresário do ramo imobiliário e ajudou diretamente a equipe de servidores da Presidência a encontrar um imóvel para a estadia do ex-presidente em Orlando, na Flórida, onde Bolsonaro ficou do dia 30 de dezembro até 29 de março, quando retornou ao Brasil.

Com a palavra, os citados

O Estadão tentou entrar em contato com as defesas de Mauro César Lourena Cid, Mauro Cid, Cristiano Piquet, Frederick Wassef, Marcelo Câmara, Osmar Crivelatti, e do ex-presidente da República, Jair Bolsonaro, mas até o momento, não obteve retornos de todos.

Em nota, os advogados de Bolsonaro disseram que o ex-presidente “reitera que jamais apropriou-se ou desviou quaisquer bens públicos” e que ele colocou as informações bancárias à disposição da Justiça. Os demais não comentaram.

BRASÍLIA - A Operação Lucas 12:2, deflagrada nesta sexta-feira, 11, pela Polícia Federal (PF), revelou que aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) teriam vendido joias e outros objetos de valor recebidos em viagens oficiais da Presidência da República. Nomeada com um versículo bíblico que diz que “não há nada escondido que não venha a ser descoberto”, os investigadores tentam descobrir se os itens foram omitidos do acervo público e negociados para enriquecer o ex-presidente.

O ex-presidente Jair Bolsonaro teria sido beneficiado com a venda de joias ilegais para o exterior Foto: Wilton Junior/Estadão

Entre os alvos da operação desta sexta estão o general Mauro César Lourena Cid, pai de Mauro Cid; o advogado Frederick Wassef, que representou o ex-chefe do Executivo perante a Justiça; e o tenente Osmar Crivelatti que, assim como Mauro Cid, foi ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.

A operação desta sexta foi autorizada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes que, entre 105 páginas de denúncias e provas contra os aliados do ex-presidente, argumentou que “há fortes indícios de desvios de bens de alto valor patrimonial”. O Estadão resumiu em cinco tópicos o esquema que está sendo investigado pela PF. Confira:

Como as vendas eram feitas?

As vendas investigadas seriam de presentes que Bolsonaro recebeu por conta do seu cargo de presidente da República. Essas peças deveriam ser incorporados ao acervo da União, mas foram omitidos dos órgãos públicos, incorporados ao estoque pessoal do ex-chefe do Executivo e negociados para fins de enriquecimento ilícito.

Mensagens recuperadas pela Polícia Federal indicam que Mauro Cid teve a ajuda do seu pai, o general da reserva Mauro Cesar Lourena Cid, para negociar as peças e repassar o dinheiro das vendas. O reflexo do general aparece em uma foto utilizada para barganhar uma escultura que o ex-presidente recebeu em uma viagem oficial.

O envolvimento do pai do ex-ajudante de ordens coloca o alto escalão das Forças Armadas na mira da PF. Lourena Cid foi colega do ex-presidente na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman) na década de 70. Em uma nota enviada à Coluna do Estadão, o Exército disse que “não compactua com eventuais desvios de conduta de quaisquer de seus integrantes”.

O que foi vendido?

Até o momento, a PF identificou a negociação de dois kits de joias da marca suíça Chopard, duas esculturas douradas e um relógio da marca Patek Philippe, mas não descarta que mais itens tenham sido apropriados indevidamente. Isso acontece porque foi interceptada uma mensagem entre assessores do ex-presidente que mostrou que a ex-primeira dama, Michelle Bolsonaro, teria “sumido” com um pacote de itens preciosos.

As duas esculturas douradas teriam sido levadas por Bolsonaro no dia 30 de dezembro de 2022, quando ele partiu para os Estados Unidos dois dias antes da posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A investigação aponta que, quando os itens chegaram ao país, foram encaminhados para lojas especializadas nos estados da Flórida, Nova Iorque e Pensilvânia, “para serem avaliados e submetidos à alienação, por meio de leilões e/ou venda direta”.

Um dos objetos vendidos foi um relógio Rolex presenteado a Bolsonaro pelo rei da Arábia Saudita, Salman bin Abdulaziz Al Saud, em uma visita oficial do ex-presidente ao País em 2019. A venda teria ocorrido em junho de 2022, durante uma viagem aos Estados Unidos. Em um e-mail enviado para um possível comprador, Cid disse que o item valia R$ 60 mil e certificou que o relógio “nunca havia sido usado”.

Bolsonaro foi beneficiado com o dinheiro das vendas?

De acordo com a PF, os montantes obtidos das vendas foram convertidos em dinheiro em espécie e ingressaram no patrimônio pessoal do ex-presidente, por meio de laranjas e sem utilizar o sistema bancário formal, com o objetivo de ocultar a origem, localização e propriedade dos valores. Em mensagens trocadas em janeiro deste ano por Mauro Cid e Marcelo Câmara, assessor especial da Presidência da República, um áudio revelou aos investigadores da PF que Cid estaria com 25 mil dólares que, possivelmente, pertenciam a Bolsonaro.

“Tem vinte e cinco mil dólares com meu pai. Eu estava vendo o que era melhor fazer com esse dinheiro, levar em ‘cash’ aí. Meu pai estava querendo inclusive ir ai falar com o presidente. (...) E aí ele poderia levar. Entregaria em mãos. Mas também pode depositar na conta (...). Eu acho que quanto menos movimentação em conta, melhor, né?”, afirma Mauro Cid.

A apuração da PF também mostrou que, enquanto estava nos Estados Unidos após deixar o mandato presidencial, Bolsonaro não quis pegar duas esculturas com o pai de Mauro Cid por conta de um valor irrisório das peças, que seriam feitas de latão. “Não. Ele [Bolsonaro] não pegou porque não valia nada. Então tem aqueles dois maiores: não valem nada. É, é... não é nem banhado, é latão. Então meu pai vai levar pro Brasil na mudança”, disse o ex-ajudante de ordens.

Itens foram recomprados nos EUA para despistar as investigações

A relação do esquema com os Estados Unidos inclui o envolvimento de Frederick Wassef, advogado de Bolsonaro, que teria sido escalado para viajar ao País para recomprar um relógio da marca Rolex, que fazia parte de um pacote que foi dado de presente ao ex-presidente pelo regime saudita.

A recuperação do item teria acontecido em março deste ano, após o Estadão revelar que Bolsonaro havia recebido o pacote sem declarar à Receita Federal, Wassef e Cid teriam iniciado uma “verdadeira operação resgate”, antevendo que a imprensa e os órgãos de investigação poderiam rastrear outros presentes negociados ilegalmente. O ex- ajudante de ordens foi responsável por recuperar o restante das joias do kit – anel, abotoaduras, um rosário islâmico (“masbaha”). A recompra teria acontecido em uma loja localizada no complexo Seybold Jewelry Building na cidade de Miami, na Flórida.

“Primeiramente o relógio Rolex DAY-DATE, vendido para a empresa Precision Watches, foi recuperado no dia 14/03/2023, pelo advogado Frederick Wassef, que retornou com o bem ao Brasil, na data de 29/03/2023. No dia 02/04/2023, Mauro Cid e Frederick Wassef se encontraram na cidade de São Paulo, momento em que a posse do relógio passou para Mauro Cid , que retornou para Brasília/DF na mesma data, entregando o bem para Osmar Crivelatti, assessor do ex-presidente Jair Bolsonaro”, afirma o documento.

Cristiano Piquet teria transportado joias

As provas obtidas pela Operação Lucas 12:2 incluem a participação do empresário do ramo imobiliário Cristiano Piquet. Segundo os investigadores, coube a Cristiano fazer o transporte das joias que estavam nos Estados Unidos para a sua casa em Miami.

“É, eu pensei de deixar com o [Cristiano] Piquet pra ele descer pra Miami com esse material. Tinha como engrenar aí pra buscar com o Coronel Camarinha essa mala e entregar por Piquet amanhã, meio-dia?”, perguntou Mauro Cid em uma conversa com Marcelo Câmara.

Piquet é um empresário do ramo imobiliário e ajudou diretamente a equipe de servidores da Presidência a encontrar um imóvel para a estadia do ex-presidente em Orlando, na Flórida, onde Bolsonaro ficou do dia 30 de dezembro até 29 de março, quando retornou ao Brasil.

Com a palavra, os citados

O Estadão tentou entrar em contato com as defesas de Mauro César Lourena Cid, Mauro Cid, Cristiano Piquet, Frederick Wassef, Marcelo Câmara, Osmar Crivelatti, e do ex-presidente da República, Jair Bolsonaro, mas até o momento, não obteve retornos de todos.

Em nota, os advogados de Bolsonaro disseram que o ex-presidente “reitera que jamais apropriou-se ou desviou quaisquer bens públicos” e que ele colocou as informações bancárias à disposição da Justiça. Os demais não comentaram.

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