Entenda por que guerra em Israel acirra a polarização entre direita e esquerda no Brasil


Militantes usam conflito como pretexto para proselitismo político nas redes sociais após ataque do Hamas contra Israel

Por Rayanderson Guerra
Atualização:

RIO – A ofensiva do grupo extremista islâmico Hamas contra Israel inflamou a polarização política no Brasil entre militantes de esquerda e direita. Enquanto críticos ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobram um posicionamento e a condenação enfática do governo federal e do chefe do Executivo contra o grupo terrorista, aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) utilizam da narrativa religiosa para justificar a defesa da guerra.

Israel declarou “estado de alerta para guerra” e convocou reservas depois que militantes do Hamas se infiltraram no território israelense a partir da Faixa de Gaza e dispararam foguetes contra Israel, matando centenas de pessoas no sábado, 7. Esse é um dos confrontos mais sérios dos últimos anos, após semanas de tensões crescentes ao longo da fronteira volátil. O número de mortos pelo Hamas em Israel chegou a 800 e o de palestinos em Gaza, a 687, até esta segunda-feira, 9.

No Brasil, o ataque terrorista passou a ser usado para proselitismo político. Ao repudiar os massacres, Bolsonaro afirmou, em post de cinco parágrafos, que o Hamas “parabenizou Luís (sic) Inácio Lula da Silva quando o TSE o anunciou vencedor das eleições de 2022″. Ele terminou o posicionamento com “Shalom”, palavra de origem hebraica para dizer “paz”.

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Lula, por sua vez, disse ter ficado “chocado” com os ataques terroristas contra civis em Israel, expressou condolências às famílias das vítimas e, sem citar o Hamas, destacou que “o Brasil não poupará esforços para evitar a escalada do conflito, inclusive no exercício da Presidência do Conselho de Segurança da ONU”.

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O cientista político e professor da FGV EAESP Guilherme Casarões explica que a polarização em torno da relação entre Israel e Palestina existe no Brasil, de forma mais acentuada, desde o fim do segundo mandato do presidente Lula, quando tentou-se a negociação de um acordo nuclear com o Irã, em 2010.

“Naquele momento, houve uma grande discussão sobre em que medida o Brasil não estaria colaborando com países e governantes que querem a eliminação do Estado de Israel. Naquele momento, um pedaço expressivo da comunidade judaica, inclusive, criticou a maneira como Lula estava conduzindo a sua política externa do Oriente Médio, mesmo os judeus identificados com a esquerda, apoiadores do governo Lula, ficaram preocupados com aquela aproximação”, disse.

De acordo com Casarões, a discussão “furou a bolha” em meados de 2014, no governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). O Executivo brasileiro teve de lidar com uma crise diplomática com Israel após críticas a um ataque do país à Gaza.

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“Isso resgatou toda essa hostilidade que muita gente tem, sobretudo no campo conservador, com o governo do PT. Foi o primeiro momento em que vimos forças mais amplas da política brasileira se posicionando de uma maneira muito clara, tanto a favor da postura do PT de condenar Israel, quanto os conservadores, especialmente os evangélicos, que começaram a se organizar de maneira muito clara para para criticar o governo. A esquerda, principalmente, tem essa visão de colocar os palestinos como vítimas desse processo”, afirmou.

Soldados de Israel após os ataques do Hamas  Foto: Tamir Kalifa/NYT

O cientista político André Lajst, presidente executivo da StandWithUs Brasil e especialista em conflitos no Oriente Médio, afirma que o governo erra ao não responsabilizar nominalmente o Hamas pelos ataques terroristas.

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“O que aconteceu é abominável. É uma barbárie, um massacre. Foi o segundo maior atentado da história da humanidade com mil mortos em um dia. Inequivocamente, as pessoas precisam condenar essa violência, só que existe aqui interesses políticos, né? A extrema esquerda e grupos radicais não representam, mas dizem representar os palestinos. Estão tentando justificar o que o Hamas fez dizendo que na verdade é culpa de Israel. A neutralidade perante a guerra e o terrorismo que assola todos os países hoje em dia no mundo só beneficia o terrorista. Ela não beneficia a democracia, a liberdade e nem a paz entre os povos”, disse.

Já Casarões afirma que Lula segue a tradição diplomática brasileira de reconhecimento dos dois Estados e acompanha os posicionamento da ONU sobre as definições de quais grupos são reconhecidos como terroristas.

“Oficialmente, em tese, o Hamas é parte da política palestina. Então, rotular um grupo como terrorista é algo que o Brasil já teria uma dificuldade natural em fazer por reconhecer o estado palestino e por ter um certo cuidado ao lidar com os atores regionais, até para não perder nenhum canal de diálogo. O Brasil, por tradição diplomática, só considera grupo terrorista aqueles que são tratados dessa forma pela ONU”, afirmou.

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Ele explica que a chegada de Jair Bolsonaro ao poder aprofundou a polarização e a narrativa de palestinos contra israelenses, segundo Casarões. Para o professor da FGV, enquanto Lula segue a tradição da diplomacia brasileira, o ex-presidente apostou na narrativa do “bem contra o mal”.

“Quando Bolsonaro assume a Presidência, a gente percebe um problema adicional que não são só as críticas, mas a tentativa de medidas concretas de política externa para mudar a relação com Israel, como a mudança da embaixada para Jerusalém. É um movimento de inflexão, de ruptura, com aquilo que o Brasil vinha fazendo na diplomacia. Se tornou uma relação do bem contra o mal. É muito diferente da maneira como o governo Lula vinha conduzindo”, disse.

O Brasil é um histórico defensor da existência de dois Estados, um palestino e outro israelense, como solução para o conflito na região. Salvo os governos de Jânio Quadros e Jair Bolsonaro, o País sempre se posicionou a partir de princípios pragmáticos e equidistantes em relação às tensões entre os dois territórios.

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Mudança de posicionamento

Quando o Hamas chegou ao poder em 2006, Lula disse que a eleição do grupo faria com que o exercício da democracia fosse levado à sua plenitude. Em seu primeiro mandato, o petista acreditava que o grupo que acabara de chegar ao poder na Autoridade Nacional Palestina ia respeitar as regras e organismos internacionais.

“Nós reconhecemos a existência do Estado de Israel e do Estado da Palestina, portanto são dois Estados que devem conviver bem, como vive o Brasil com todos os Estados do mundo”, afirmou Lula à época.

A posição do presidente mudou. No fim de semana, o Itamaraty emitiu duas notas condenando o conflito, mas sem mencionar o Hamas. Em nota, o Itamaraty diz que a diplomacia brasileira mantém “compromisso com a solução de dois Estados, com um Estado Palestino economicamente viável, convivendo em paz e segurança com Israel”.

“O governo brasileiro condena a série de bombardeios e ataques terrestres realizados hoje em Israel a partir da Faixa de Gaza. O governo brasileiro reitera seu compromisso com a solução de dois Estados, com um Estado Palestino economicamente viável, convivendo em paz e segurança com Israel, dentro de fronteiras mutuamente acordadas e internacionalmente reconhecidas”, disse o Itamaraty.

RIO – A ofensiva do grupo extremista islâmico Hamas contra Israel inflamou a polarização política no Brasil entre militantes de esquerda e direita. Enquanto críticos ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobram um posicionamento e a condenação enfática do governo federal e do chefe do Executivo contra o grupo terrorista, aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) utilizam da narrativa religiosa para justificar a defesa da guerra.

Israel declarou “estado de alerta para guerra” e convocou reservas depois que militantes do Hamas se infiltraram no território israelense a partir da Faixa de Gaza e dispararam foguetes contra Israel, matando centenas de pessoas no sábado, 7. Esse é um dos confrontos mais sérios dos últimos anos, após semanas de tensões crescentes ao longo da fronteira volátil. O número de mortos pelo Hamas em Israel chegou a 800 e o de palestinos em Gaza, a 687, até esta segunda-feira, 9.

No Brasil, o ataque terrorista passou a ser usado para proselitismo político. Ao repudiar os massacres, Bolsonaro afirmou, em post de cinco parágrafos, que o Hamas “parabenizou Luís (sic) Inácio Lula da Silva quando o TSE o anunciou vencedor das eleições de 2022″. Ele terminou o posicionamento com “Shalom”, palavra de origem hebraica para dizer “paz”.

Lula, por sua vez, disse ter ficado “chocado” com os ataques terroristas contra civis em Israel, expressou condolências às famílias das vítimas e, sem citar o Hamas, destacou que “o Brasil não poupará esforços para evitar a escalada do conflito, inclusive no exercício da Presidência do Conselho de Segurança da ONU”.

O cientista político e professor da FGV EAESP Guilherme Casarões explica que a polarização em torno da relação entre Israel e Palestina existe no Brasil, de forma mais acentuada, desde o fim do segundo mandato do presidente Lula, quando tentou-se a negociação de um acordo nuclear com o Irã, em 2010.

“Naquele momento, houve uma grande discussão sobre em que medida o Brasil não estaria colaborando com países e governantes que querem a eliminação do Estado de Israel. Naquele momento, um pedaço expressivo da comunidade judaica, inclusive, criticou a maneira como Lula estava conduzindo a sua política externa do Oriente Médio, mesmo os judeus identificados com a esquerda, apoiadores do governo Lula, ficaram preocupados com aquela aproximação”, disse.

De acordo com Casarões, a discussão “furou a bolha” em meados de 2014, no governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). O Executivo brasileiro teve de lidar com uma crise diplomática com Israel após críticas a um ataque do país à Gaza.

“Isso resgatou toda essa hostilidade que muita gente tem, sobretudo no campo conservador, com o governo do PT. Foi o primeiro momento em que vimos forças mais amplas da política brasileira se posicionando de uma maneira muito clara, tanto a favor da postura do PT de condenar Israel, quanto os conservadores, especialmente os evangélicos, que começaram a se organizar de maneira muito clara para para criticar o governo. A esquerda, principalmente, tem essa visão de colocar os palestinos como vítimas desse processo”, afirmou.

Soldados de Israel após os ataques do Hamas  Foto: Tamir Kalifa/NYT

O cientista político André Lajst, presidente executivo da StandWithUs Brasil e especialista em conflitos no Oriente Médio, afirma que o governo erra ao não responsabilizar nominalmente o Hamas pelos ataques terroristas.

“O que aconteceu é abominável. É uma barbárie, um massacre. Foi o segundo maior atentado da história da humanidade com mil mortos em um dia. Inequivocamente, as pessoas precisam condenar essa violência, só que existe aqui interesses políticos, né? A extrema esquerda e grupos radicais não representam, mas dizem representar os palestinos. Estão tentando justificar o que o Hamas fez dizendo que na verdade é culpa de Israel. A neutralidade perante a guerra e o terrorismo que assola todos os países hoje em dia no mundo só beneficia o terrorista. Ela não beneficia a democracia, a liberdade e nem a paz entre os povos”, disse.

Já Casarões afirma que Lula segue a tradição diplomática brasileira de reconhecimento dos dois Estados e acompanha os posicionamento da ONU sobre as definições de quais grupos são reconhecidos como terroristas.

“Oficialmente, em tese, o Hamas é parte da política palestina. Então, rotular um grupo como terrorista é algo que o Brasil já teria uma dificuldade natural em fazer por reconhecer o estado palestino e por ter um certo cuidado ao lidar com os atores regionais, até para não perder nenhum canal de diálogo. O Brasil, por tradição diplomática, só considera grupo terrorista aqueles que são tratados dessa forma pela ONU”, afirmou.

Ele explica que a chegada de Jair Bolsonaro ao poder aprofundou a polarização e a narrativa de palestinos contra israelenses, segundo Casarões. Para o professor da FGV, enquanto Lula segue a tradição da diplomacia brasileira, o ex-presidente apostou na narrativa do “bem contra o mal”.

“Quando Bolsonaro assume a Presidência, a gente percebe um problema adicional que não são só as críticas, mas a tentativa de medidas concretas de política externa para mudar a relação com Israel, como a mudança da embaixada para Jerusalém. É um movimento de inflexão, de ruptura, com aquilo que o Brasil vinha fazendo na diplomacia. Se tornou uma relação do bem contra o mal. É muito diferente da maneira como o governo Lula vinha conduzindo”, disse.

O Brasil é um histórico defensor da existência de dois Estados, um palestino e outro israelense, como solução para o conflito na região. Salvo os governos de Jânio Quadros e Jair Bolsonaro, o País sempre se posicionou a partir de princípios pragmáticos e equidistantes em relação às tensões entre os dois territórios.

Mudança de posicionamento

Quando o Hamas chegou ao poder em 2006, Lula disse que a eleição do grupo faria com que o exercício da democracia fosse levado à sua plenitude. Em seu primeiro mandato, o petista acreditava que o grupo que acabara de chegar ao poder na Autoridade Nacional Palestina ia respeitar as regras e organismos internacionais.

“Nós reconhecemos a existência do Estado de Israel e do Estado da Palestina, portanto são dois Estados que devem conviver bem, como vive o Brasil com todos os Estados do mundo”, afirmou Lula à época.

A posição do presidente mudou. No fim de semana, o Itamaraty emitiu duas notas condenando o conflito, mas sem mencionar o Hamas. Em nota, o Itamaraty diz que a diplomacia brasileira mantém “compromisso com a solução de dois Estados, com um Estado Palestino economicamente viável, convivendo em paz e segurança com Israel”.

“O governo brasileiro condena a série de bombardeios e ataques terrestres realizados hoje em Israel a partir da Faixa de Gaza. O governo brasileiro reitera seu compromisso com a solução de dois Estados, com um Estado Palestino economicamente viável, convivendo em paz e segurança com Israel, dentro de fronteiras mutuamente acordadas e internacionalmente reconhecidas”, disse o Itamaraty.

RIO – A ofensiva do grupo extremista islâmico Hamas contra Israel inflamou a polarização política no Brasil entre militantes de esquerda e direita. Enquanto críticos ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobram um posicionamento e a condenação enfática do governo federal e do chefe do Executivo contra o grupo terrorista, aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) utilizam da narrativa religiosa para justificar a defesa da guerra.

Israel declarou “estado de alerta para guerra” e convocou reservas depois que militantes do Hamas se infiltraram no território israelense a partir da Faixa de Gaza e dispararam foguetes contra Israel, matando centenas de pessoas no sábado, 7. Esse é um dos confrontos mais sérios dos últimos anos, após semanas de tensões crescentes ao longo da fronteira volátil. O número de mortos pelo Hamas em Israel chegou a 800 e o de palestinos em Gaza, a 687, até esta segunda-feira, 9.

No Brasil, o ataque terrorista passou a ser usado para proselitismo político. Ao repudiar os massacres, Bolsonaro afirmou, em post de cinco parágrafos, que o Hamas “parabenizou Luís (sic) Inácio Lula da Silva quando o TSE o anunciou vencedor das eleições de 2022″. Ele terminou o posicionamento com “Shalom”, palavra de origem hebraica para dizer “paz”.

Lula, por sua vez, disse ter ficado “chocado” com os ataques terroristas contra civis em Israel, expressou condolências às famílias das vítimas e, sem citar o Hamas, destacou que “o Brasil não poupará esforços para evitar a escalada do conflito, inclusive no exercício da Presidência do Conselho de Segurança da ONU”.

O cientista político e professor da FGV EAESP Guilherme Casarões explica que a polarização em torno da relação entre Israel e Palestina existe no Brasil, de forma mais acentuada, desde o fim do segundo mandato do presidente Lula, quando tentou-se a negociação de um acordo nuclear com o Irã, em 2010.

“Naquele momento, houve uma grande discussão sobre em que medida o Brasil não estaria colaborando com países e governantes que querem a eliminação do Estado de Israel. Naquele momento, um pedaço expressivo da comunidade judaica, inclusive, criticou a maneira como Lula estava conduzindo a sua política externa do Oriente Médio, mesmo os judeus identificados com a esquerda, apoiadores do governo Lula, ficaram preocupados com aquela aproximação”, disse.

De acordo com Casarões, a discussão “furou a bolha” em meados de 2014, no governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). O Executivo brasileiro teve de lidar com uma crise diplomática com Israel após críticas a um ataque do país à Gaza.

“Isso resgatou toda essa hostilidade que muita gente tem, sobretudo no campo conservador, com o governo do PT. Foi o primeiro momento em que vimos forças mais amplas da política brasileira se posicionando de uma maneira muito clara, tanto a favor da postura do PT de condenar Israel, quanto os conservadores, especialmente os evangélicos, que começaram a se organizar de maneira muito clara para para criticar o governo. A esquerda, principalmente, tem essa visão de colocar os palestinos como vítimas desse processo”, afirmou.

Soldados de Israel após os ataques do Hamas  Foto: Tamir Kalifa/NYT

O cientista político André Lajst, presidente executivo da StandWithUs Brasil e especialista em conflitos no Oriente Médio, afirma que o governo erra ao não responsabilizar nominalmente o Hamas pelos ataques terroristas.

“O que aconteceu é abominável. É uma barbárie, um massacre. Foi o segundo maior atentado da história da humanidade com mil mortos em um dia. Inequivocamente, as pessoas precisam condenar essa violência, só que existe aqui interesses políticos, né? A extrema esquerda e grupos radicais não representam, mas dizem representar os palestinos. Estão tentando justificar o que o Hamas fez dizendo que na verdade é culpa de Israel. A neutralidade perante a guerra e o terrorismo que assola todos os países hoje em dia no mundo só beneficia o terrorista. Ela não beneficia a democracia, a liberdade e nem a paz entre os povos”, disse.

Já Casarões afirma que Lula segue a tradição diplomática brasileira de reconhecimento dos dois Estados e acompanha os posicionamento da ONU sobre as definições de quais grupos são reconhecidos como terroristas.

“Oficialmente, em tese, o Hamas é parte da política palestina. Então, rotular um grupo como terrorista é algo que o Brasil já teria uma dificuldade natural em fazer por reconhecer o estado palestino e por ter um certo cuidado ao lidar com os atores regionais, até para não perder nenhum canal de diálogo. O Brasil, por tradição diplomática, só considera grupo terrorista aqueles que são tratados dessa forma pela ONU”, afirmou.

Ele explica que a chegada de Jair Bolsonaro ao poder aprofundou a polarização e a narrativa de palestinos contra israelenses, segundo Casarões. Para o professor da FGV, enquanto Lula segue a tradição da diplomacia brasileira, o ex-presidente apostou na narrativa do “bem contra o mal”.

“Quando Bolsonaro assume a Presidência, a gente percebe um problema adicional que não são só as críticas, mas a tentativa de medidas concretas de política externa para mudar a relação com Israel, como a mudança da embaixada para Jerusalém. É um movimento de inflexão, de ruptura, com aquilo que o Brasil vinha fazendo na diplomacia. Se tornou uma relação do bem contra o mal. É muito diferente da maneira como o governo Lula vinha conduzindo”, disse.

O Brasil é um histórico defensor da existência de dois Estados, um palestino e outro israelense, como solução para o conflito na região. Salvo os governos de Jânio Quadros e Jair Bolsonaro, o País sempre se posicionou a partir de princípios pragmáticos e equidistantes em relação às tensões entre os dois territórios.

Mudança de posicionamento

Quando o Hamas chegou ao poder em 2006, Lula disse que a eleição do grupo faria com que o exercício da democracia fosse levado à sua plenitude. Em seu primeiro mandato, o petista acreditava que o grupo que acabara de chegar ao poder na Autoridade Nacional Palestina ia respeitar as regras e organismos internacionais.

“Nós reconhecemos a existência do Estado de Israel e do Estado da Palestina, portanto são dois Estados que devem conviver bem, como vive o Brasil com todos os Estados do mundo”, afirmou Lula à época.

A posição do presidente mudou. No fim de semana, o Itamaraty emitiu duas notas condenando o conflito, mas sem mencionar o Hamas. Em nota, o Itamaraty diz que a diplomacia brasileira mantém “compromisso com a solução de dois Estados, com um Estado Palestino economicamente viável, convivendo em paz e segurança com Israel”.

“O governo brasileiro condena a série de bombardeios e ataques terrestres realizados hoje em Israel a partir da Faixa de Gaza. O governo brasileiro reitera seu compromisso com a solução de dois Estados, com um Estado Palestino economicamente viável, convivendo em paz e segurança com Israel, dentro de fronteiras mutuamente acordadas e internacionalmente reconhecidas”, disse o Itamaraty.

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