BRASÍLIA - A equipe de transição do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), da área de desenvolvimento regional, admite que o orçamento secreto “desvirtuou” as ações do ministério responsável pelo setor, mas não propõe o fim da prática. Como revelou o Estadão, o esquema gestado pelo governo do presidente Jair Bolsonaro (PL) criou uma moeda de troca do Executivo com o Congresso baseada em repasses de recursos para bases eleitorais de parlamentares aliados, sem a adoção de critérios técnicos e sem transparência.
A equipe de Lula diz que o País precisa “discutir” o orçamento secreto e criar um “pacto” para usá-lo em ações prioritárias. “O País precisa debater isso. Nós não estamos aqui questionando que tem emendas parlamentares. Mas tem que ter um pacto, para que as emendas sejam direcionadas, especialmente em condições críticas, àquilo que é prioridade absoluta de cada ministério. Não pode pulverizar em asfalto quando não tem Defesa Civil”, afirmou o ex-ministro Aloizio Mercadante, coordenador técnico da transição.
Líder do grupo temático, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) disse que a Codevasf, também sofreu como o “desvirtuamento”. Segundo ele, o orçamento de 2023 prevê um aumento de 6,9% para a estrutura administrativa responsável por lidar com as emendas de relator. Somente neste ano foram destinados R$ 4,4 bilhões para o orçamento secreto executado no Ministério do Desenvolvimento Regional.
Ligada à pasta do Desenvolvimento Regional, a Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf), é a “estatal do Centrão” usada para desovar o orçamento secreto - tecnicamente chamado de emenda de relator. O impasse se dá, segundo Randolfe, porque a maior parte dos investimentos da Codevasf vêm das emendas pulverizadas, o que não permite o direcionamento para ações de impacto nacional.
Como mostrou o Estadão, o PT e o PSB do vice-presidente Geral Alckmin (PSB) declararam apoio à candidatura de Arthur Lira (PP-AL) à reeleição na presidência da Câmara. O deputado é principal operador do esquema do orçamento secreto ao lado do senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
Os aliados de Lula defendem atualmente apenas a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição como forma de recompor os recursos do Ministério do Desenvolvimento Regional utilizados no esquema e não apontam como farão para a pasta e a Codevasf deixarem de ser focos de corrupção, como foram no governo Bolsonaro.
Para pressionar o Congresso a aprovar a PEC da Transição, a equipe de Lula alega que a proposta é necessária também para abrir espaço à recomposição de investimentos básicos em áreas como prevenção de desastres e segurança hídrica, que foram esvaziadas na proposta de orçamento apresentada pelo governo Bolsonaro para 2023. Os dados do grupo de trabalho apontam que a atual gestão esvaziou a verba, por exemplo, para a prevenção de desastres naturais e abastecimento de água para regiões críticas do Nordeste.
Os integrantes da transição passaram a criticar os investimentos pulverizados realizados por meio do orçamento secreto do governo Bolsonaro e alegar que a iniciativa compromete obras estruturantes para áreas críticas do País.
“Vivemos no MDR uma situação paradoxal. Não se tem recursos para as obras discricionárias do objetivo fim do ministério e tem recurso demais para pavimentações sem critérios, distribuição de trator e caixas d’água sem água. E o objetivo fim do ministério não é alcançado. O ministério é um verdadeiro cemitério de obras paradas”, disse o senador.
Uma das soluções do GT para retomar a capacidade da pasta, que teria atualmente mais de 50% de obras saneamento paradas, é desmembrá-la em em duas. O governo Lula pode recriar o Ministério das Cidades e reorganizar as funções do Desenvolvimento Regional, que concentraria as áreas de Defesa civil, segurança hídrica, desenvolvimento urbano e os bancos de desenvolvimento.