Em janeiro do ano passado, a descoberta de irregularidades nos gastos com cartões corporativos, financiados pelo dinheiro de uma rubrica orçamentária chamada "suprimento de fundos", provocou a demissão de uma ministra - Matilde Ribeiro, da Secretaria da Igualdade Racial -, a criação de uma CPI no Congresso e uma série de mudanças nas regras do uso do chamado dinheiro de plástico. Reportagem do Estado publicada no dia 13 de janeiro de 2008 mostrou que o governo federal aumentara em 129% as despesas com cartões corporativos entre 2006 e 2007. Entre os ministros, Matilde era a campeã dos gastos. Com as investigações do Ministério Público e da Controladoria-Geral da União (CGU), foram descobertas várias formas de uso indevido do cartão. O ministro dos Esportes, Orlando Silva, que usou o cartão para pagar até uma tapioca, devolveu mais de R$ 30 mil por gastos considerados irregulares. No caso da Universidade de Brasília (UnB), os cartões foram usados para compra de objetos de luxo para o apartamento do então reitor Timothy Mullholand, como uma lata de lixo de R$ 990 e um sacarrolhas de R$ 859. Durante as investigações da CPI dos Cartões, um novo escândalo envolveu ministros e servidores da Presidência, com a descoberta de que foi elaborado na Casa Civil um dossiê sobre gastos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e de alguns ministros do governo tucano, a partir do exame minucioso das despesas registradas na conta de "suprimentos". A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, garantiu que não deu a ordem para a elaboração do documento e os governistas conseguiram evitar que ela prestasse depoimento à CPI dos Cartões. A CPI também tentou em vão abrir os dados sigilosos dos gastos da Presidência. Todos os requerimentos nesse sentido foram barrados pelos aliados do governo no Congresso. Além da demissão de Matilde, outro efeito concreto do escândalo foi um decreto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que disciplinou o uso dos cartões. Ficou proibido o uso do cartão para compra de bilhetes aéreos e pagamento de diárias a servidores. Também foram encerradas as contas tipo B, abertas em nome de servidores, onde eram depositadas verbas relativas a suprimento de fundos do governo, por serem consideradas pouco transparentes. Os saques em dinheiro foram praticamente eliminados. A reportagem do Estado revelou que, de R$ 75,6 milhões gastos com cartões corporativos em 2007, 75% eram saques em dinheiro.
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