'Espero que nomeação seja repensada’, diz ex-embaixador sobre Eduardo Bolsonaro


Marcílio Marques Moreira questiona intenção do presidente de indicar filho para a embaixada brasileira nos Estados Unidos

Por Paulo Beraldo
O ex-embaixador e ex-ministro da Fazenda Marcílio Marques Moreira em seu escritório no Rio de Janeiro. Foto: Wilton Junior/Estadão

Embaixador em Washington entre 1986 e 1991, o ex-ministro da Fazenda Marcílio Marques Moreira afirmou ao Estado que uma eventual nomeação do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) para a representação diplomática do Brasil nos Estados Unidos deveria ser "repensada". "Essa indicação tem de ser considerada a partir de uma visão objetiva sobre o que representa para o Brasil o embaixador em Washington", disse ele, citando nomes que passaram pelo posto, o mais importante da diplomacia brasileira, e depois assumiram cargos de ministros, como ele próprio.

Antes de liderar a embaixada em Washington, Marcílio concluiu o curso de preparação para a carreira diplomática no Instituto Rio Branco, se formou em direito na Universidade do Estado do Rio de Janeiro e, mais tarde, concluiu mestrado em ciência política pela Universidade de Georgetown, nos EUA.

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Atuou ainda na própria embaixada no fim dos anos 1950 e início dos anos 1960, onde trabalhou com três embaixadores diferentes. Também acumulou quase duas décadas de experiência no setor privado, no Unibanco.

Como avalia a intenção do presidente Jair Bolsonaro de nomear o filho Eduardo para assumir a embaixada do Brasil em Washington?

Essa escolha tem de ser analisada do ponto de vista da própria história da embaixada do Brasil em Washington. Ela foi criada no momento em que o Barão do Rio Branco, em 1904, se convenceu de que o eixo da política e do poder mundial estava se transferindo da Inglaterra para os Estados Unidos. Então, nomeou Joaquim Nabuco, uma grande figura nacional, de nossa representação em Londres para Washington. E elevou de legação para embaixada o posto de Washington. Na história da embaixada nos Estados Unidos, que é longa, houve outras grandes figuras: Oswaldo Aranha (1934-1937), Walther Moreira Salles (1952-1953 e 1959-1961), Roberto de Oliveira Campos (1961-1964). Uma característica da embaixada é ser liderada por alguém que se distinga - no Brasil e no exterior - como uma figura importante da cultura, da economia ou da política brasileira.

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Analisando justamente essa história, os últimos embaixadores em Washington tiveram uma grande trajetória antes de chegarem a esse posto.

Exatamente. Os Estados Unidos são uma sociedade muito complexa. O embaixador tem de ter não só uma boa imagem, mas uma boa representatividade junto ao presidente, ao Congresso americano, ao Judiciário. É uma sociedade que não permite nenhum exagero, nenhuma passagem dos limites legais. Também é preciso ter uma grande capacidade de falar com a comunidade acadêmica, com empresários, intelectuais, jornalistas. São credenciais que parecem não existir (em Eduardo Bolsonaro). Espero que essa nomeação seja repensada. É uma indicação que tem de ser considerada a partir de uma visão objetiva sobre o que representa para o Brasil o embaixador em Washington. É uma grande responsabilidade. O trabalho está ligado a problemas nacionais, de comércio, da dívida externa, do crédito, não é meramente político. É um cargo de política pública, de Estado, e não de governo. É preciso ser uma pessoa multifacetada. A experiência que mais me preparou para o cargo foi ter trabalhado com embaixadores de alto nível e muito bom estilo em Washington. Foi um preparo muito importante. E também eu tinha trabalhado quase 20 anos em um banco.

Um dos argumentos é de que Eduardo tem uma relação muito próxima com o presidente, o que poderia dar fluidez à relação. Como avalia esse argumento?

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O embaixador tem de ter total confiança do presidente. Pude ter essa confiança em dois presidentes. Com isso fica claro, inclusive, que é uma função de Estado, e não de governo. Fui nomeado e exerci a embaixada dois anos e meio com o presidente José Sarney e depois com o Fernando Collor, numa política bastante diferenciada. E ele me manteve lá. Só vim a sair para ser ministro da Economia, Fazenda e Planejamento. Acresce que a boa relação com o presidente Donald Trump é uma coisa positiva no curto prazo, mas estamos à beira de uma nova eleição presidencial e do Congresso nos Estados Unidos. O embaixador tem de ter uma relação muito fluida com o Executivo, mas também com os congressistas.

O ex-embaixador e ex-ministro da Fazenda Marcílio Marques Moreira em seu escritório no Rio de Janeiro. Foto: Wilton Junior/Estadão

Embaixador em Washington entre 1986 e 1991, o ex-ministro da Fazenda Marcílio Marques Moreira afirmou ao Estado que uma eventual nomeação do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) para a representação diplomática do Brasil nos Estados Unidos deveria ser "repensada". "Essa indicação tem de ser considerada a partir de uma visão objetiva sobre o que representa para o Brasil o embaixador em Washington", disse ele, citando nomes que passaram pelo posto, o mais importante da diplomacia brasileira, e depois assumiram cargos de ministros, como ele próprio.

Antes de liderar a embaixada em Washington, Marcílio concluiu o curso de preparação para a carreira diplomática no Instituto Rio Branco, se formou em direito na Universidade do Estado do Rio de Janeiro e, mais tarde, concluiu mestrado em ciência política pela Universidade de Georgetown, nos EUA.

Atuou ainda na própria embaixada no fim dos anos 1950 e início dos anos 1960, onde trabalhou com três embaixadores diferentes. Também acumulou quase duas décadas de experiência no setor privado, no Unibanco.

Como avalia a intenção do presidente Jair Bolsonaro de nomear o filho Eduardo para assumir a embaixada do Brasil em Washington?

Essa escolha tem de ser analisada do ponto de vista da própria história da embaixada do Brasil em Washington. Ela foi criada no momento em que o Barão do Rio Branco, em 1904, se convenceu de que o eixo da política e do poder mundial estava se transferindo da Inglaterra para os Estados Unidos. Então, nomeou Joaquim Nabuco, uma grande figura nacional, de nossa representação em Londres para Washington. E elevou de legação para embaixada o posto de Washington. Na história da embaixada nos Estados Unidos, que é longa, houve outras grandes figuras: Oswaldo Aranha (1934-1937), Walther Moreira Salles (1952-1953 e 1959-1961), Roberto de Oliveira Campos (1961-1964). Uma característica da embaixada é ser liderada por alguém que se distinga - no Brasil e no exterior - como uma figura importante da cultura, da economia ou da política brasileira.

Analisando justamente essa história, os últimos embaixadores em Washington tiveram uma grande trajetória antes de chegarem a esse posto.

Exatamente. Os Estados Unidos são uma sociedade muito complexa. O embaixador tem de ter não só uma boa imagem, mas uma boa representatividade junto ao presidente, ao Congresso americano, ao Judiciário. É uma sociedade que não permite nenhum exagero, nenhuma passagem dos limites legais. Também é preciso ter uma grande capacidade de falar com a comunidade acadêmica, com empresários, intelectuais, jornalistas. São credenciais que parecem não existir (em Eduardo Bolsonaro). Espero que essa nomeação seja repensada. É uma indicação que tem de ser considerada a partir de uma visão objetiva sobre o que representa para o Brasil o embaixador em Washington. É uma grande responsabilidade. O trabalho está ligado a problemas nacionais, de comércio, da dívida externa, do crédito, não é meramente político. É um cargo de política pública, de Estado, e não de governo. É preciso ser uma pessoa multifacetada. A experiência que mais me preparou para o cargo foi ter trabalhado com embaixadores de alto nível e muito bom estilo em Washington. Foi um preparo muito importante. E também eu tinha trabalhado quase 20 anos em um banco.

Um dos argumentos é de que Eduardo tem uma relação muito próxima com o presidente, o que poderia dar fluidez à relação. Como avalia esse argumento?

O embaixador tem de ter total confiança do presidente. Pude ter essa confiança em dois presidentes. Com isso fica claro, inclusive, que é uma função de Estado, e não de governo. Fui nomeado e exerci a embaixada dois anos e meio com o presidente José Sarney e depois com o Fernando Collor, numa política bastante diferenciada. E ele me manteve lá. Só vim a sair para ser ministro da Economia, Fazenda e Planejamento. Acresce que a boa relação com o presidente Donald Trump é uma coisa positiva no curto prazo, mas estamos à beira de uma nova eleição presidencial e do Congresso nos Estados Unidos. O embaixador tem de ter uma relação muito fluida com o Executivo, mas também com os congressistas.

O ex-embaixador e ex-ministro da Fazenda Marcílio Marques Moreira em seu escritório no Rio de Janeiro. Foto: Wilton Junior/Estadão

Embaixador em Washington entre 1986 e 1991, o ex-ministro da Fazenda Marcílio Marques Moreira afirmou ao Estado que uma eventual nomeação do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) para a representação diplomática do Brasil nos Estados Unidos deveria ser "repensada". "Essa indicação tem de ser considerada a partir de uma visão objetiva sobre o que representa para o Brasil o embaixador em Washington", disse ele, citando nomes que passaram pelo posto, o mais importante da diplomacia brasileira, e depois assumiram cargos de ministros, como ele próprio.

Antes de liderar a embaixada em Washington, Marcílio concluiu o curso de preparação para a carreira diplomática no Instituto Rio Branco, se formou em direito na Universidade do Estado do Rio de Janeiro e, mais tarde, concluiu mestrado em ciência política pela Universidade de Georgetown, nos EUA.

Atuou ainda na própria embaixada no fim dos anos 1950 e início dos anos 1960, onde trabalhou com três embaixadores diferentes. Também acumulou quase duas décadas de experiência no setor privado, no Unibanco.

Como avalia a intenção do presidente Jair Bolsonaro de nomear o filho Eduardo para assumir a embaixada do Brasil em Washington?

Essa escolha tem de ser analisada do ponto de vista da própria história da embaixada do Brasil em Washington. Ela foi criada no momento em que o Barão do Rio Branco, em 1904, se convenceu de que o eixo da política e do poder mundial estava se transferindo da Inglaterra para os Estados Unidos. Então, nomeou Joaquim Nabuco, uma grande figura nacional, de nossa representação em Londres para Washington. E elevou de legação para embaixada o posto de Washington. Na história da embaixada nos Estados Unidos, que é longa, houve outras grandes figuras: Oswaldo Aranha (1934-1937), Walther Moreira Salles (1952-1953 e 1959-1961), Roberto de Oliveira Campos (1961-1964). Uma característica da embaixada é ser liderada por alguém que se distinga - no Brasil e no exterior - como uma figura importante da cultura, da economia ou da política brasileira.

Analisando justamente essa história, os últimos embaixadores em Washington tiveram uma grande trajetória antes de chegarem a esse posto.

Exatamente. Os Estados Unidos são uma sociedade muito complexa. O embaixador tem de ter não só uma boa imagem, mas uma boa representatividade junto ao presidente, ao Congresso americano, ao Judiciário. É uma sociedade que não permite nenhum exagero, nenhuma passagem dos limites legais. Também é preciso ter uma grande capacidade de falar com a comunidade acadêmica, com empresários, intelectuais, jornalistas. São credenciais que parecem não existir (em Eduardo Bolsonaro). Espero que essa nomeação seja repensada. É uma indicação que tem de ser considerada a partir de uma visão objetiva sobre o que representa para o Brasil o embaixador em Washington. É uma grande responsabilidade. O trabalho está ligado a problemas nacionais, de comércio, da dívida externa, do crédito, não é meramente político. É um cargo de política pública, de Estado, e não de governo. É preciso ser uma pessoa multifacetada. A experiência que mais me preparou para o cargo foi ter trabalhado com embaixadores de alto nível e muito bom estilo em Washington. Foi um preparo muito importante. E também eu tinha trabalhado quase 20 anos em um banco.

Um dos argumentos é de que Eduardo tem uma relação muito próxima com o presidente, o que poderia dar fluidez à relação. Como avalia esse argumento?

O embaixador tem de ter total confiança do presidente. Pude ter essa confiança em dois presidentes. Com isso fica claro, inclusive, que é uma função de Estado, e não de governo. Fui nomeado e exerci a embaixada dois anos e meio com o presidente José Sarney e depois com o Fernando Collor, numa política bastante diferenciada. E ele me manteve lá. Só vim a sair para ser ministro da Economia, Fazenda e Planejamento. Acresce que a boa relação com o presidente Donald Trump é uma coisa positiva no curto prazo, mas estamos à beira de uma nova eleição presidencial e do Congresso nos Estados Unidos. O embaixador tem de ter uma relação muito fluida com o Executivo, mas também com os congressistas.

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