‘Eu vou dar 20 ou 30 versões, posso dizer o que quiser’, diz advogado de Mauro Cid


Cezar Bitencourt também minimiza envolvimento de ex-primeira-dama nas vendas de joias recebidas como presentes oficiais por ela e o marido e diz que defenderia Jair Bolsonaro se ele o procurasse ‘pagando bem’

Por Tácio Lorran
Atualização:
Foto: Reprodução/Instagram @profcezarbitencourt
Entrevista comCezar BitencourtAdvogado responsável pela defesa de Mauro Cid

BRASÍLIA - Após recuar da informação de que seu cliente iria incriminar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no escândalo das joias, o advogado Cezar Bitencourt afirma que dará “20, 30 versões” e que “pode dizer o que quiser”. Em entrevista ao Estadão, o criminalista chega a afirmar que defenderia Bolsonaro se ele o procurasse “pagando bem” e “bem mais caro” do que o cobrado do seu cliente, o tenente-coronel Mauro Cid.

O advogado admite, por outro lado, que seu cliente fará de tudo para livrar o pai de uma eventual prisão e condenação, mesmo que isso atinja Bolsonaro. “Vou fazer o trabalho de defesa do meu cliente, se respingar nele [Bolsonaro], não vou deixar de usar”, afirmou.

O advogado Cezar Bitencourt, que atua na defesa de Mauro Cid. Foto: Reprodução/Instagram @profcezarbitencourt
continua após a publicidade

Lourena Cid foi alvo de mandado de busca e apreensão no âmbito de operação deflagrada pela Polícia Federal no último dia 11 para apurar a venda de joias e outros objetos de valor recebidos em viagens oficiais da Presidência da República. O pai de Mauro Cid aparece no reflexo de uma caixa de escultura que seria negociada nos Estados Unidos. Além disso, a conta do general teria sido usada para os investigados trazerem o dinheiro obtido nas vendas ao Brasil.

Na entrevista, o advogado ainda minimizou a participação da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro no esquema. “As pessoas podem ganhar presentes”.

continua após a publicidade

As declarações indicam que as defesas de Bolsonaro e Cid podem atuar em conjunto e não um acusando o outro como a entrevista do criminalista à Veja sinalizou.

Confira a íntegra:

A atuação do senhor seria pro bono (sem custo)?

continua após a publicidade

Não, claro que não. Não é verdade. Não tenho que falar [o valor]. Os meus honorários eu falo para a Receita Federal.

O senhor poderia revelar os valores?

Não. Não vale a pena. Mas não sou barato, né?!

continua após a publicidade

Mas chega na casa dos milhões?

Próximo, por aí. Mas não vamos valar em valores. Isso é entre o advogado e o cliente.

O senhor mudou o discurso em relação à linha de defesa?

continua após a publicidade

Eu vou dar 20 ou 30 versões, posso dizer o que quiser. A versão da defesa, efetivamente, vai vir nos autos. Não é questão de mudar. Imagine se eu tivesse que ficar preso com uma informação que eu dei? A defesa técnica eu faço no processo. Eu falo sobre fatos para jornalistas, não vou falar sobre defesa técnica.

Eu vou dar 20 ou 30 versões, posso dizer o que quiser. A versão da defesa, efetivamente, vai vir nos autos”

O senhor diz à revista Veja que o Bolsonaro teria pedido para vender as joias. E quando o senhor fala com a Globo News o senhor tira essa parte. É um detalhe mínimo, mas importante, certo?

continua após a publicidade

É, mas eu tinha que ter uma confirmação desse negócio porque eu poderia ter me enganado, né? Eu não tenho muita simpatia por ele, então tenho que tomar mais cuidado para não deixar essa antipatia falar.

Mas o senhor confirma que teve essa mudança?

Teve uma pequena mudança de redação. Teve, sim. A defesa eu não mudei porque eu não fiz a defesa ainda, isso eu vou fazer nos autos. Eu tô dando informações. Não é aquilo que a gente fala para a imprensa que a gente coloca no processo.

O senhor tem informação de que as investigações também podem chegar na Michelle Bolsonaro ou no Nelson Piquet?

Não tenho a menor ideia, eu não li os autos. A Michelle pode fazer a extensão? Acho que não. Desses fatos? Não sei. Acho difícil nela. Pode ser, mas acho difícil. E com o Piquet não vejo razão nenhuma.

Uma parte das joias chegou a ficar na fazenda do Piquet, que é aliado do Bolsonaro

Se eu tenho uma fazenda, e um amigo coloca uma coisa lá, eu não tenho responsabilidade por isso.

Não tem responsabilidade?

Não. Como vou responder se eu tenho uma fazenda e um cara bota no canto um negócio lá?

Mas se a pessoa autoriza ela tem responsabilidade

Então, mas aí você botou um ‘se’. Não sei, não. Não sou advogado do Piquet. Não tenho nada. É muita picuinha. O cara está participando? Não. Até fizeram uma brincadeira aqui comigo. Se o presidente resolver fugir de uma hora para a outra, com certeza vai pegar um avião do Piquet. Mas isso é uma brincadeira, né? Mas isso não vai implicar ele não. O cara tem outras assessorias, outras pessoas mais próximas.

E no caso da Michelle? Temos outros fatores apontando para ela, como a questão do dinheiro vivo

As pessoas podem ganhar presentes, não vejo problema nenhum. Ainda mais se tratando da primeira-dama. Presente é presente. Eu tive uma informação hoje. Tem um departamento lá que tem um cidadão que é chefe desse departamento há 10 anos. Chegou presente de fora. Eles têm um departamento encarregado de despachar, reportar, catalogar e verificar esses tipos de presentes. E tem dois setores, o público e o privado. O encarregado chefe desse departamento, que sequer o Bolsonaro conversa, vai lá e faz a catalogação. Ele bota lá como público e é público. Os outros ele diz que é particular, então é particular. Então isso é do presidente. E ele faz o que quiser, pode vender. Claro, caso tenha acontecido um erro, deve se apurar juridicamente. Mas isso aí tem um problema, tem um erro de direito, pode ter sido induzido a erro. Pode acontecer? Pode. Não tenho nenhuma simpatia com o Bolsonaro. Não sou político, não gosto de política partidária. Nunca fiz política. Eu sou advogado. Se o presidente me procurasse, pagando bem, faria a defesa dele. Bem mais caro, é claro.

O senhor chegou a conversar com o dr Paulo Bueno, advogado do Bolsonaro?

Conversamos. Ele me telefonou, nos cumprimentamos. Não tem problema.

Qual foi o teor da conversa com ele?

Papo furado. A gente se trata bem. O advogado não é inimigo da parte contrária. Nós não assumimos a posição de parte, nós somos advogados da parte. Um jornalista não vai ficar inimigo de outro jornalista.

Os senhores chegaram a falar do processo?

Não, não falamos. Talvez eu nem conheça o processo ainda, está chegando. Ele faz o trabalho dele e eu faço o meu.

Ele chegou a te oferecer acesso aos autos?

Não, os autos são públicos.

Então o senhor já tem acesso?

Eu tenho acesso.

Na Globo News o dr Paulo Bueno disse que te ofereceu acesso aos autos

Gentileza, falando assim, mas eu tenho acesso. Troca de gentileza.

E quando foi essa ligação?

Não sei, acho que foi ontem a noite. Que dia é hoje? Hoje é sábado, nem me lembro mais. Acho que foi ontem.

Mas foi só uma ligação, correto?

Só uma ligação.

O Frederick Wassef chegou a te procurar também?

Não. Esse cara não tem nível, né. É um trapalhão.

O senhor acha que ele cometeu algum crime?

Não acho nada, não vou dar opinião sobre o colega. Acho que ele é um lunático, é motivo de piada.

A investigação da Polícia Federal diz que ele atuou na recuperação das joias, e ele mesmo disse que pagou com dinheiro do próprio bolso

Ele só está querendo fazer média pois já está escanteado. Não ajuda o presidente, só atrapalha. Ele não tem nível, não tem preparo técnico. É complicado. Pelo que eu entendi, ele está sendo escanteado. Lá atrás pode ter ajudado nos negócios dos filhos, mas não tem conhecimento técnico-jurídico para encarar esse tipo de coisa.

E sobre o caso do ex-presidente Bolsonaro, o senhor acha que ele cometeu algum tipo de crime?

Quem vai julgar são as autoridades. Eu defendo um outro nem que está muito alinhado com ele, então é melhor não emitir opinião.

O senhor fala que o Mauro Cid não está muito alinhado com o Bolsonaro?

Não. Eu não estou alinhado. Eu vou fazer a defesa do meu constituinte e, se possível, nem tocar no nome do outro [Bolsonaro].

O senhor chegou a conversar novamente com o Mauro Cid?

Conversei hoje.

E o que trataram na conversa? Falou sobre a repercussão que teve?

Falei de um relatório das coisas que fiz durante a semana. Pedi um material que ele tem por causa do processo, e as coisas que a gente vai fazer na semana que vem.

Chegaram a falar em Bolsonaro na conversa?

Não, não é tão importante assim para ficar falando nele.

Mas ele demonstrou alguma preocupação em proteger o Bolsonaro?

Não, ele tem que se preocupar com a defesa dele, que é comigo. Esquece o outro lado. Acho que não é uma guerra.

Em relação ao pai, o Mauro Cid está demonstrando uma preocupação, correto?

É, mas o pai que está preocupado com o filho. Conversei com o pai também. Eles confiam no meu trabalho.

Podemos entender então que ele demonstra preocupação com o pai, e não com o Bolsonaro?

Pode. Ele se preocupa com o pai, com o Bolsonaro não. Não tem que se preocupar com o outro. Talvez o Bolsonaro pode ter preocupação com ele. Mas vi uma entrevista do presidente, ele olhou, viu o material que escrevi a respeito do meu cliente, e disse que não tem nada demais. E não tem mesmo. Essas coisas vão acontecendo no desenrolar do processo. Pode desagradar? Pode. Pode desagradar muito? Pode. Pode agradar? Também. Depende das circunstâncias.

Alguém disse: ‘Você mudou a versão’. Olha, eu mudei, assim, o ângulo dos fatos. Mas a versão, defesa técnica, eu vou falar nos autos.

Mas essas mudanças protegem o Bolsonaro, correto?

Eu não estou preocupado com o Bolsonaro. Nem protege nem prejudica. O problema vai acontecer na hora certa. Quando tiver uma outra coisa. Tudo que saiu até agora eu acho que é neutro. Não tenho nenhuma preocupação em agradar ou desagradar o Bolsonaro. Vou fazer o trabalho de defesa do meu cliente, se respingar nele não vou deixar de usar.

O senhor não está preocupado se o Bolsonaro vai ou não ser preso?

Não, para mim não faz diferença. Quem decide isso é a Justiça, eu sou advogado do meu cliente.

Sobre o Mauro Cid, o senhor pretende avaliar uma prisão domiciliar?

Não, isso eu vou avaliar semana que vem. Nem falei com o delegado da Polícia Federal ainda. Um passo de cada vez.

BRASÍLIA - Após recuar da informação de que seu cliente iria incriminar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no escândalo das joias, o advogado Cezar Bitencourt afirma que dará “20, 30 versões” e que “pode dizer o que quiser”. Em entrevista ao Estadão, o criminalista chega a afirmar que defenderia Bolsonaro se ele o procurasse “pagando bem” e “bem mais caro” do que o cobrado do seu cliente, o tenente-coronel Mauro Cid.

O advogado admite, por outro lado, que seu cliente fará de tudo para livrar o pai de uma eventual prisão e condenação, mesmo que isso atinja Bolsonaro. “Vou fazer o trabalho de defesa do meu cliente, se respingar nele [Bolsonaro], não vou deixar de usar”, afirmou.

O advogado Cezar Bitencourt, que atua na defesa de Mauro Cid. Foto: Reprodução/Instagram @profcezarbitencourt

Lourena Cid foi alvo de mandado de busca e apreensão no âmbito de operação deflagrada pela Polícia Federal no último dia 11 para apurar a venda de joias e outros objetos de valor recebidos em viagens oficiais da Presidência da República. O pai de Mauro Cid aparece no reflexo de uma caixa de escultura que seria negociada nos Estados Unidos. Além disso, a conta do general teria sido usada para os investigados trazerem o dinheiro obtido nas vendas ao Brasil.

Na entrevista, o advogado ainda minimizou a participação da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro no esquema. “As pessoas podem ganhar presentes”.

As declarações indicam que as defesas de Bolsonaro e Cid podem atuar em conjunto e não um acusando o outro como a entrevista do criminalista à Veja sinalizou.

Confira a íntegra:

A atuação do senhor seria pro bono (sem custo)?

Não, claro que não. Não é verdade. Não tenho que falar [o valor]. Os meus honorários eu falo para a Receita Federal.

O senhor poderia revelar os valores?

Não. Não vale a pena. Mas não sou barato, né?!

Mas chega na casa dos milhões?

Próximo, por aí. Mas não vamos valar em valores. Isso é entre o advogado e o cliente.

O senhor mudou o discurso em relação à linha de defesa?

Eu vou dar 20 ou 30 versões, posso dizer o que quiser. A versão da defesa, efetivamente, vai vir nos autos. Não é questão de mudar. Imagine se eu tivesse que ficar preso com uma informação que eu dei? A defesa técnica eu faço no processo. Eu falo sobre fatos para jornalistas, não vou falar sobre defesa técnica.

Eu vou dar 20 ou 30 versões, posso dizer o que quiser. A versão da defesa, efetivamente, vai vir nos autos”

O senhor diz à revista Veja que o Bolsonaro teria pedido para vender as joias. E quando o senhor fala com a Globo News o senhor tira essa parte. É um detalhe mínimo, mas importante, certo?

É, mas eu tinha que ter uma confirmação desse negócio porque eu poderia ter me enganado, né? Eu não tenho muita simpatia por ele, então tenho que tomar mais cuidado para não deixar essa antipatia falar.

Mas o senhor confirma que teve essa mudança?

Teve uma pequena mudança de redação. Teve, sim. A defesa eu não mudei porque eu não fiz a defesa ainda, isso eu vou fazer nos autos. Eu tô dando informações. Não é aquilo que a gente fala para a imprensa que a gente coloca no processo.

O senhor tem informação de que as investigações também podem chegar na Michelle Bolsonaro ou no Nelson Piquet?

Não tenho a menor ideia, eu não li os autos. A Michelle pode fazer a extensão? Acho que não. Desses fatos? Não sei. Acho difícil nela. Pode ser, mas acho difícil. E com o Piquet não vejo razão nenhuma.

Uma parte das joias chegou a ficar na fazenda do Piquet, que é aliado do Bolsonaro

Se eu tenho uma fazenda, e um amigo coloca uma coisa lá, eu não tenho responsabilidade por isso.

Não tem responsabilidade?

Não. Como vou responder se eu tenho uma fazenda e um cara bota no canto um negócio lá?

Mas se a pessoa autoriza ela tem responsabilidade

Então, mas aí você botou um ‘se’. Não sei, não. Não sou advogado do Piquet. Não tenho nada. É muita picuinha. O cara está participando? Não. Até fizeram uma brincadeira aqui comigo. Se o presidente resolver fugir de uma hora para a outra, com certeza vai pegar um avião do Piquet. Mas isso é uma brincadeira, né? Mas isso não vai implicar ele não. O cara tem outras assessorias, outras pessoas mais próximas.

E no caso da Michelle? Temos outros fatores apontando para ela, como a questão do dinheiro vivo

As pessoas podem ganhar presentes, não vejo problema nenhum. Ainda mais se tratando da primeira-dama. Presente é presente. Eu tive uma informação hoje. Tem um departamento lá que tem um cidadão que é chefe desse departamento há 10 anos. Chegou presente de fora. Eles têm um departamento encarregado de despachar, reportar, catalogar e verificar esses tipos de presentes. E tem dois setores, o público e o privado. O encarregado chefe desse departamento, que sequer o Bolsonaro conversa, vai lá e faz a catalogação. Ele bota lá como público e é público. Os outros ele diz que é particular, então é particular. Então isso é do presidente. E ele faz o que quiser, pode vender. Claro, caso tenha acontecido um erro, deve se apurar juridicamente. Mas isso aí tem um problema, tem um erro de direito, pode ter sido induzido a erro. Pode acontecer? Pode. Não tenho nenhuma simpatia com o Bolsonaro. Não sou político, não gosto de política partidária. Nunca fiz política. Eu sou advogado. Se o presidente me procurasse, pagando bem, faria a defesa dele. Bem mais caro, é claro.

O senhor chegou a conversar com o dr Paulo Bueno, advogado do Bolsonaro?

Conversamos. Ele me telefonou, nos cumprimentamos. Não tem problema.

Qual foi o teor da conversa com ele?

Papo furado. A gente se trata bem. O advogado não é inimigo da parte contrária. Nós não assumimos a posição de parte, nós somos advogados da parte. Um jornalista não vai ficar inimigo de outro jornalista.

Os senhores chegaram a falar do processo?

Não, não falamos. Talvez eu nem conheça o processo ainda, está chegando. Ele faz o trabalho dele e eu faço o meu.

Ele chegou a te oferecer acesso aos autos?

Não, os autos são públicos.

Então o senhor já tem acesso?

Eu tenho acesso.

Na Globo News o dr Paulo Bueno disse que te ofereceu acesso aos autos

Gentileza, falando assim, mas eu tenho acesso. Troca de gentileza.

E quando foi essa ligação?

Não sei, acho que foi ontem a noite. Que dia é hoje? Hoje é sábado, nem me lembro mais. Acho que foi ontem.

Mas foi só uma ligação, correto?

Só uma ligação.

O Frederick Wassef chegou a te procurar também?

Não. Esse cara não tem nível, né. É um trapalhão.

O senhor acha que ele cometeu algum crime?

Não acho nada, não vou dar opinião sobre o colega. Acho que ele é um lunático, é motivo de piada.

A investigação da Polícia Federal diz que ele atuou na recuperação das joias, e ele mesmo disse que pagou com dinheiro do próprio bolso

Ele só está querendo fazer média pois já está escanteado. Não ajuda o presidente, só atrapalha. Ele não tem nível, não tem preparo técnico. É complicado. Pelo que eu entendi, ele está sendo escanteado. Lá atrás pode ter ajudado nos negócios dos filhos, mas não tem conhecimento técnico-jurídico para encarar esse tipo de coisa.

E sobre o caso do ex-presidente Bolsonaro, o senhor acha que ele cometeu algum tipo de crime?

Quem vai julgar são as autoridades. Eu defendo um outro nem que está muito alinhado com ele, então é melhor não emitir opinião.

O senhor fala que o Mauro Cid não está muito alinhado com o Bolsonaro?

Não. Eu não estou alinhado. Eu vou fazer a defesa do meu constituinte e, se possível, nem tocar no nome do outro [Bolsonaro].

O senhor chegou a conversar novamente com o Mauro Cid?

Conversei hoje.

E o que trataram na conversa? Falou sobre a repercussão que teve?

Falei de um relatório das coisas que fiz durante a semana. Pedi um material que ele tem por causa do processo, e as coisas que a gente vai fazer na semana que vem.

Chegaram a falar em Bolsonaro na conversa?

Não, não é tão importante assim para ficar falando nele.

Mas ele demonstrou alguma preocupação em proteger o Bolsonaro?

Não, ele tem que se preocupar com a defesa dele, que é comigo. Esquece o outro lado. Acho que não é uma guerra.

Em relação ao pai, o Mauro Cid está demonstrando uma preocupação, correto?

É, mas o pai que está preocupado com o filho. Conversei com o pai também. Eles confiam no meu trabalho.

Podemos entender então que ele demonstra preocupação com o pai, e não com o Bolsonaro?

Pode. Ele se preocupa com o pai, com o Bolsonaro não. Não tem que se preocupar com o outro. Talvez o Bolsonaro pode ter preocupação com ele. Mas vi uma entrevista do presidente, ele olhou, viu o material que escrevi a respeito do meu cliente, e disse que não tem nada demais. E não tem mesmo. Essas coisas vão acontecendo no desenrolar do processo. Pode desagradar? Pode. Pode desagradar muito? Pode. Pode agradar? Também. Depende das circunstâncias.

Alguém disse: ‘Você mudou a versão’. Olha, eu mudei, assim, o ângulo dos fatos. Mas a versão, defesa técnica, eu vou falar nos autos.

Mas essas mudanças protegem o Bolsonaro, correto?

Eu não estou preocupado com o Bolsonaro. Nem protege nem prejudica. O problema vai acontecer na hora certa. Quando tiver uma outra coisa. Tudo que saiu até agora eu acho que é neutro. Não tenho nenhuma preocupação em agradar ou desagradar o Bolsonaro. Vou fazer o trabalho de defesa do meu cliente, se respingar nele não vou deixar de usar.

O senhor não está preocupado se o Bolsonaro vai ou não ser preso?

Não, para mim não faz diferença. Quem decide isso é a Justiça, eu sou advogado do meu cliente.

Sobre o Mauro Cid, o senhor pretende avaliar uma prisão domiciliar?

Não, isso eu vou avaliar semana que vem. Nem falei com o delegado da Polícia Federal ainda. Um passo de cada vez.

BRASÍLIA - Após recuar da informação de que seu cliente iria incriminar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no escândalo das joias, o advogado Cezar Bitencourt afirma que dará “20, 30 versões” e que “pode dizer o que quiser”. Em entrevista ao Estadão, o criminalista chega a afirmar que defenderia Bolsonaro se ele o procurasse “pagando bem” e “bem mais caro” do que o cobrado do seu cliente, o tenente-coronel Mauro Cid.

O advogado admite, por outro lado, que seu cliente fará de tudo para livrar o pai de uma eventual prisão e condenação, mesmo que isso atinja Bolsonaro. “Vou fazer o trabalho de defesa do meu cliente, se respingar nele [Bolsonaro], não vou deixar de usar”, afirmou.

O advogado Cezar Bitencourt, que atua na defesa de Mauro Cid. Foto: Reprodução/Instagram @profcezarbitencourt

Lourena Cid foi alvo de mandado de busca e apreensão no âmbito de operação deflagrada pela Polícia Federal no último dia 11 para apurar a venda de joias e outros objetos de valor recebidos em viagens oficiais da Presidência da República. O pai de Mauro Cid aparece no reflexo de uma caixa de escultura que seria negociada nos Estados Unidos. Além disso, a conta do general teria sido usada para os investigados trazerem o dinheiro obtido nas vendas ao Brasil.

Na entrevista, o advogado ainda minimizou a participação da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro no esquema. “As pessoas podem ganhar presentes”.

As declarações indicam que as defesas de Bolsonaro e Cid podem atuar em conjunto e não um acusando o outro como a entrevista do criminalista à Veja sinalizou.

Confira a íntegra:

A atuação do senhor seria pro bono (sem custo)?

Não, claro que não. Não é verdade. Não tenho que falar [o valor]. Os meus honorários eu falo para a Receita Federal.

O senhor poderia revelar os valores?

Não. Não vale a pena. Mas não sou barato, né?!

Mas chega na casa dos milhões?

Próximo, por aí. Mas não vamos valar em valores. Isso é entre o advogado e o cliente.

O senhor mudou o discurso em relação à linha de defesa?

Eu vou dar 20 ou 30 versões, posso dizer o que quiser. A versão da defesa, efetivamente, vai vir nos autos. Não é questão de mudar. Imagine se eu tivesse que ficar preso com uma informação que eu dei? A defesa técnica eu faço no processo. Eu falo sobre fatos para jornalistas, não vou falar sobre defesa técnica.

Eu vou dar 20 ou 30 versões, posso dizer o que quiser. A versão da defesa, efetivamente, vai vir nos autos”

O senhor diz à revista Veja que o Bolsonaro teria pedido para vender as joias. E quando o senhor fala com a Globo News o senhor tira essa parte. É um detalhe mínimo, mas importante, certo?

É, mas eu tinha que ter uma confirmação desse negócio porque eu poderia ter me enganado, né? Eu não tenho muita simpatia por ele, então tenho que tomar mais cuidado para não deixar essa antipatia falar.

Mas o senhor confirma que teve essa mudança?

Teve uma pequena mudança de redação. Teve, sim. A defesa eu não mudei porque eu não fiz a defesa ainda, isso eu vou fazer nos autos. Eu tô dando informações. Não é aquilo que a gente fala para a imprensa que a gente coloca no processo.

O senhor tem informação de que as investigações também podem chegar na Michelle Bolsonaro ou no Nelson Piquet?

Não tenho a menor ideia, eu não li os autos. A Michelle pode fazer a extensão? Acho que não. Desses fatos? Não sei. Acho difícil nela. Pode ser, mas acho difícil. E com o Piquet não vejo razão nenhuma.

Uma parte das joias chegou a ficar na fazenda do Piquet, que é aliado do Bolsonaro

Se eu tenho uma fazenda, e um amigo coloca uma coisa lá, eu não tenho responsabilidade por isso.

Não tem responsabilidade?

Não. Como vou responder se eu tenho uma fazenda e um cara bota no canto um negócio lá?

Mas se a pessoa autoriza ela tem responsabilidade

Então, mas aí você botou um ‘se’. Não sei, não. Não sou advogado do Piquet. Não tenho nada. É muita picuinha. O cara está participando? Não. Até fizeram uma brincadeira aqui comigo. Se o presidente resolver fugir de uma hora para a outra, com certeza vai pegar um avião do Piquet. Mas isso é uma brincadeira, né? Mas isso não vai implicar ele não. O cara tem outras assessorias, outras pessoas mais próximas.

E no caso da Michelle? Temos outros fatores apontando para ela, como a questão do dinheiro vivo

As pessoas podem ganhar presentes, não vejo problema nenhum. Ainda mais se tratando da primeira-dama. Presente é presente. Eu tive uma informação hoje. Tem um departamento lá que tem um cidadão que é chefe desse departamento há 10 anos. Chegou presente de fora. Eles têm um departamento encarregado de despachar, reportar, catalogar e verificar esses tipos de presentes. E tem dois setores, o público e o privado. O encarregado chefe desse departamento, que sequer o Bolsonaro conversa, vai lá e faz a catalogação. Ele bota lá como público e é público. Os outros ele diz que é particular, então é particular. Então isso é do presidente. E ele faz o que quiser, pode vender. Claro, caso tenha acontecido um erro, deve se apurar juridicamente. Mas isso aí tem um problema, tem um erro de direito, pode ter sido induzido a erro. Pode acontecer? Pode. Não tenho nenhuma simpatia com o Bolsonaro. Não sou político, não gosto de política partidária. Nunca fiz política. Eu sou advogado. Se o presidente me procurasse, pagando bem, faria a defesa dele. Bem mais caro, é claro.

O senhor chegou a conversar com o dr Paulo Bueno, advogado do Bolsonaro?

Conversamos. Ele me telefonou, nos cumprimentamos. Não tem problema.

Qual foi o teor da conversa com ele?

Papo furado. A gente se trata bem. O advogado não é inimigo da parte contrária. Nós não assumimos a posição de parte, nós somos advogados da parte. Um jornalista não vai ficar inimigo de outro jornalista.

Os senhores chegaram a falar do processo?

Não, não falamos. Talvez eu nem conheça o processo ainda, está chegando. Ele faz o trabalho dele e eu faço o meu.

Ele chegou a te oferecer acesso aos autos?

Não, os autos são públicos.

Então o senhor já tem acesso?

Eu tenho acesso.

Na Globo News o dr Paulo Bueno disse que te ofereceu acesso aos autos

Gentileza, falando assim, mas eu tenho acesso. Troca de gentileza.

E quando foi essa ligação?

Não sei, acho que foi ontem a noite. Que dia é hoje? Hoje é sábado, nem me lembro mais. Acho que foi ontem.

Mas foi só uma ligação, correto?

Só uma ligação.

O Frederick Wassef chegou a te procurar também?

Não. Esse cara não tem nível, né. É um trapalhão.

O senhor acha que ele cometeu algum crime?

Não acho nada, não vou dar opinião sobre o colega. Acho que ele é um lunático, é motivo de piada.

A investigação da Polícia Federal diz que ele atuou na recuperação das joias, e ele mesmo disse que pagou com dinheiro do próprio bolso

Ele só está querendo fazer média pois já está escanteado. Não ajuda o presidente, só atrapalha. Ele não tem nível, não tem preparo técnico. É complicado. Pelo que eu entendi, ele está sendo escanteado. Lá atrás pode ter ajudado nos negócios dos filhos, mas não tem conhecimento técnico-jurídico para encarar esse tipo de coisa.

E sobre o caso do ex-presidente Bolsonaro, o senhor acha que ele cometeu algum tipo de crime?

Quem vai julgar são as autoridades. Eu defendo um outro nem que está muito alinhado com ele, então é melhor não emitir opinião.

O senhor fala que o Mauro Cid não está muito alinhado com o Bolsonaro?

Não. Eu não estou alinhado. Eu vou fazer a defesa do meu constituinte e, se possível, nem tocar no nome do outro [Bolsonaro].

O senhor chegou a conversar novamente com o Mauro Cid?

Conversei hoje.

E o que trataram na conversa? Falou sobre a repercussão que teve?

Falei de um relatório das coisas que fiz durante a semana. Pedi um material que ele tem por causa do processo, e as coisas que a gente vai fazer na semana que vem.

Chegaram a falar em Bolsonaro na conversa?

Não, não é tão importante assim para ficar falando nele.

Mas ele demonstrou alguma preocupação em proteger o Bolsonaro?

Não, ele tem que se preocupar com a defesa dele, que é comigo. Esquece o outro lado. Acho que não é uma guerra.

Em relação ao pai, o Mauro Cid está demonstrando uma preocupação, correto?

É, mas o pai que está preocupado com o filho. Conversei com o pai também. Eles confiam no meu trabalho.

Podemos entender então que ele demonstra preocupação com o pai, e não com o Bolsonaro?

Pode. Ele se preocupa com o pai, com o Bolsonaro não. Não tem que se preocupar com o outro. Talvez o Bolsonaro pode ter preocupação com ele. Mas vi uma entrevista do presidente, ele olhou, viu o material que escrevi a respeito do meu cliente, e disse que não tem nada demais. E não tem mesmo. Essas coisas vão acontecendo no desenrolar do processo. Pode desagradar? Pode. Pode desagradar muito? Pode. Pode agradar? Também. Depende das circunstâncias.

Alguém disse: ‘Você mudou a versão’. Olha, eu mudei, assim, o ângulo dos fatos. Mas a versão, defesa técnica, eu vou falar nos autos.

Mas essas mudanças protegem o Bolsonaro, correto?

Eu não estou preocupado com o Bolsonaro. Nem protege nem prejudica. O problema vai acontecer na hora certa. Quando tiver uma outra coisa. Tudo que saiu até agora eu acho que é neutro. Não tenho nenhuma preocupação em agradar ou desagradar o Bolsonaro. Vou fazer o trabalho de defesa do meu cliente, se respingar nele não vou deixar de usar.

O senhor não está preocupado se o Bolsonaro vai ou não ser preso?

Não, para mim não faz diferença. Quem decide isso é a Justiça, eu sou advogado do meu cliente.

Sobre o Mauro Cid, o senhor pretende avaliar uma prisão domiciliar?

Não, isso eu vou avaliar semana que vem. Nem falei com o delegado da Polícia Federal ainda. Um passo de cada vez.

BRASÍLIA - Após recuar da informação de que seu cliente iria incriminar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no escândalo das joias, o advogado Cezar Bitencourt afirma que dará “20, 30 versões” e que “pode dizer o que quiser”. Em entrevista ao Estadão, o criminalista chega a afirmar que defenderia Bolsonaro se ele o procurasse “pagando bem” e “bem mais caro” do que o cobrado do seu cliente, o tenente-coronel Mauro Cid.

O advogado admite, por outro lado, que seu cliente fará de tudo para livrar o pai de uma eventual prisão e condenação, mesmo que isso atinja Bolsonaro. “Vou fazer o trabalho de defesa do meu cliente, se respingar nele [Bolsonaro], não vou deixar de usar”, afirmou.

O advogado Cezar Bitencourt, que atua na defesa de Mauro Cid. Foto: Reprodução/Instagram @profcezarbitencourt

Lourena Cid foi alvo de mandado de busca e apreensão no âmbito de operação deflagrada pela Polícia Federal no último dia 11 para apurar a venda de joias e outros objetos de valor recebidos em viagens oficiais da Presidência da República. O pai de Mauro Cid aparece no reflexo de uma caixa de escultura que seria negociada nos Estados Unidos. Além disso, a conta do general teria sido usada para os investigados trazerem o dinheiro obtido nas vendas ao Brasil.

Na entrevista, o advogado ainda minimizou a participação da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro no esquema. “As pessoas podem ganhar presentes”.

As declarações indicam que as defesas de Bolsonaro e Cid podem atuar em conjunto e não um acusando o outro como a entrevista do criminalista à Veja sinalizou.

Confira a íntegra:

A atuação do senhor seria pro bono (sem custo)?

Não, claro que não. Não é verdade. Não tenho que falar [o valor]. Os meus honorários eu falo para a Receita Federal.

O senhor poderia revelar os valores?

Não. Não vale a pena. Mas não sou barato, né?!

Mas chega na casa dos milhões?

Próximo, por aí. Mas não vamos valar em valores. Isso é entre o advogado e o cliente.

O senhor mudou o discurso em relação à linha de defesa?

Eu vou dar 20 ou 30 versões, posso dizer o que quiser. A versão da defesa, efetivamente, vai vir nos autos. Não é questão de mudar. Imagine se eu tivesse que ficar preso com uma informação que eu dei? A defesa técnica eu faço no processo. Eu falo sobre fatos para jornalistas, não vou falar sobre defesa técnica.

Eu vou dar 20 ou 30 versões, posso dizer o que quiser. A versão da defesa, efetivamente, vai vir nos autos”

O senhor diz à revista Veja que o Bolsonaro teria pedido para vender as joias. E quando o senhor fala com a Globo News o senhor tira essa parte. É um detalhe mínimo, mas importante, certo?

É, mas eu tinha que ter uma confirmação desse negócio porque eu poderia ter me enganado, né? Eu não tenho muita simpatia por ele, então tenho que tomar mais cuidado para não deixar essa antipatia falar.

Mas o senhor confirma que teve essa mudança?

Teve uma pequena mudança de redação. Teve, sim. A defesa eu não mudei porque eu não fiz a defesa ainda, isso eu vou fazer nos autos. Eu tô dando informações. Não é aquilo que a gente fala para a imprensa que a gente coloca no processo.

O senhor tem informação de que as investigações também podem chegar na Michelle Bolsonaro ou no Nelson Piquet?

Não tenho a menor ideia, eu não li os autos. A Michelle pode fazer a extensão? Acho que não. Desses fatos? Não sei. Acho difícil nela. Pode ser, mas acho difícil. E com o Piquet não vejo razão nenhuma.

Uma parte das joias chegou a ficar na fazenda do Piquet, que é aliado do Bolsonaro

Se eu tenho uma fazenda, e um amigo coloca uma coisa lá, eu não tenho responsabilidade por isso.

Não tem responsabilidade?

Não. Como vou responder se eu tenho uma fazenda e um cara bota no canto um negócio lá?

Mas se a pessoa autoriza ela tem responsabilidade

Então, mas aí você botou um ‘se’. Não sei, não. Não sou advogado do Piquet. Não tenho nada. É muita picuinha. O cara está participando? Não. Até fizeram uma brincadeira aqui comigo. Se o presidente resolver fugir de uma hora para a outra, com certeza vai pegar um avião do Piquet. Mas isso é uma brincadeira, né? Mas isso não vai implicar ele não. O cara tem outras assessorias, outras pessoas mais próximas.

E no caso da Michelle? Temos outros fatores apontando para ela, como a questão do dinheiro vivo

As pessoas podem ganhar presentes, não vejo problema nenhum. Ainda mais se tratando da primeira-dama. Presente é presente. Eu tive uma informação hoje. Tem um departamento lá que tem um cidadão que é chefe desse departamento há 10 anos. Chegou presente de fora. Eles têm um departamento encarregado de despachar, reportar, catalogar e verificar esses tipos de presentes. E tem dois setores, o público e o privado. O encarregado chefe desse departamento, que sequer o Bolsonaro conversa, vai lá e faz a catalogação. Ele bota lá como público e é público. Os outros ele diz que é particular, então é particular. Então isso é do presidente. E ele faz o que quiser, pode vender. Claro, caso tenha acontecido um erro, deve se apurar juridicamente. Mas isso aí tem um problema, tem um erro de direito, pode ter sido induzido a erro. Pode acontecer? Pode. Não tenho nenhuma simpatia com o Bolsonaro. Não sou político, não gosto de política partidária. Nunca fiz política. Eu sou advogado. Se o presidente me procurasse, pagando bem, faria a defesa dele. Bem mais caro, é claro.

O senhor chegou a conversar com o dr Paulo Bueno, advogado do Bolsonaro?

Conversamos. Ele me telefonou, nos cumprimentamos. Não tem problema.

Qual foi o teor da conversa com ele?

Papo furado. A gente se trata bem. O advogado não é inimigo da parte contrária. Nós não assumimos a posição de parte, nós somos advogados da parte. Um jornalista não vai ficar inimigo de outro jornalista.

Os senhores chegaram a falar do processo?

Não, não falamos. Talvez eu nem conheça o processo ainda, está chegando. Ele faz o trabalho dele e eu faço o meu.

Ele chegou a te oferecer acesso aos autos?

Não, os autos são públicos.

Então o senhor já tem acesso?

Eu tenho acesso.

Na Globo News o dr Paulo Bueno disse que te ofereceu acesso aos autos

Gentileza, falando assim, mas eu tenho acesso. Troca de gentileza.

E quando foi essa ligação?

Não sei, acho que foi ontem a noite. Que dia é hoje? Hoje é sábado, nem me lembro mais. Acho que foi ontem.

Mas foi só uma ligação, correto?

Só uma ligação.

O Frederick Wassef chegou a te procurar também?

Não. Esse cara não tem nível, né. É um trapalhão.

O senhor acha que ele cometeu algum crime?

Não acho nada, não vou dar opinião sobre o colega. Acho que ele é um lunático, é motivo de piada.

A investigação da Polícia Federal diz que ele atuou na recuperação das joias, e ele mesmo disse que pagou com dinheiro do próprio bolso

Ele só está querendo fazer média pois já está escanteado. Não ajuda o presidente, só atrapalha. Ele não tem nível, não tem preparo técnico. É complicado. Pelo que eu entendi, ele está sendo escanteado. Lá atrás pode ter ajudado nos negócios dos filhos, mas não tem conhecimento técnico-jurídico para encarar esse tipo de coisa.

E sobre o caso do ex-presidente Bolsonaro, o senhor acha que ele cometeu algum tipo de crime?

Quem vai julgar são as autoridades. Eu defendo um outro nem que está muito alinhado com ele, então é melhor não emitir opinião.

O senhor fala que o Mauro Cid não está muito alinhado com o Bolsonaro?

Não. Eu não estou alinhado. Eu vou fazer a defesa do meu constituinte e, se possível, nem tocar no nome do outro [Bolsonaro].

O senhor chegou a conversar novamente com o Mauro Cid?

Conversei hoje.

E o que trataram na conversa? Falou sobre a repercussão que teve?

Falei de um relatório das coisas que fiz durante a semana. Pedi um material que ele tem por causa do processo, e as coisas que a gente vai fazer na semana que vem.

Chegaram a falar em Bolsonaro na conversa?

Não, não é tão importante assim para ficar falando nele.

Mas ele demonstrou alguma preocupação em proteger o Bolsonaro?

Não, ele tem que se preocupar com a defesa dele, que é comigo. Esquece o outro lado. Acho que não é uma guerra.

Em relação ao pai, o Mauro Cid está demonstrando uma preocupação, correto?

É, mas o pai que está preocupado com o filho. Conversei com o pai também. Eles confiam no meu trabalho.

Podemos entender então que ele demonstra preocupação com o pai, e não com o Bolsonaro?

Pode. Ele se preocupa com o pai, com o Bolsonaro não. Não tem que se preocupar com o outro. Talvez o Bolsonaro pode ter preocupação com ele. Mas vi uma entrevista do presidente, ele olhou, viu o material que escrevi a respeito do meu cliente, e disse que não tem nada demais. E não tem mesmo. Essas coisas vão acontecendo no desenrolar do processo. Pode desagradar? Pode. Pode desagradar muito? Pode. Pode agradar? Também. Depende das circunstâncias.

Alguém disse: ‘Você mudou a versão’. Olha, eu mudei, assim, o ângulo dos fatos. Mas a versão, defesa técnica, eu vou falar nos autos.

Mas essas mudanças protegem o Bolsonaro, correto?

Eu não estou preocupado com o Bolsonaro. Nem protege nem prejudica. O problema vai acontecer na hora certa. Quando tiver uma outra coisa. Tudo que saiu até agora eu acho que é neutro. Não tenho nenhuma preocupação em agradar ou desagradar o Bolsonaro. Vou fazer o trabalho de defesa do meu cliente, se respingar nele não vou deixar de usar.

O senhor não está preocupado se o Bolsonaro vai ou não ser preso?

Não, para mim não faz diferença. Quem decide isso é a Justiça, eu sou advogado do meu cliente.

Sobre o Mauro Cid, o senhor pretende avaliar uma prisão domiciliar?

Não, isso eu vou avaliar semana que vem. Nem falei com o delegado da Polícia Federal ainda. Um passo de cada vez.

Entrevista por Tácio Lorran

Repórter de Política em Brasília. Pós-graduado em Jornalismo Investigativo pelo IDP.

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.