Disputas de poder e o debate político-cultural brasileiro

Opinião|A verdadeira função de Celso Amorim é ser o justificador geral dos opressores


Tido como “hábil negociador”, na verdade Amorim parece não perder a oportunidade de sempre se colocar do lado menos democrático dos acontecimentos

Por Fabiano Lana
Atualização:

Em um governo que foi eleito, por pouco, se autoproclamando como defensor da democracia, é evidentemente insensato nós contarmos com um assessor internacional da Presidência que, na prática, é o nosso justificador geral das ditaduras, das guerras fora do direito internacional, do desrespeito a minorias, e até mesmo do assassinato de mulheres ao redor do mundo. Tido como “hábil negociador”, na verdade Celso Amorim parece não perder a oportunidade de sempre se colocar do lado menos democrático dos acontecimentos. Fica uma questão: o presidente Lula concorda ou não com seu assistente? Provavelmente sim, se não já o teria dispensado.

Existe um padrão. Se há em algum lugar no mundo em que a disputa é entre uma força democrática e outra opressiva, o Brasil de Lula e de Amorim costuma escolher um lado: o dos ditadores ou dos antidemocráticos. Tudo isso sob a retórica de que procuram a paz. Paz para eles, na verdade, é o triunfo dos tiranos sobre os oprimidos, dos iliberais sobre os liberais.

O assessor especial do presidente da República, Celso Amorim  Foto: Wilton Junior/Estadão
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Por coincidência, na mesma semana em que os acrobatas morais se esforçaram para dizer que a frase do presidente Lula de que corintianos teriam um salvo conduto para agredir mulheres não era tão ruim assim, o nosso diplomata Amorim resolveu relativizar o fato de que as mulheres vivem sob violenta opressão no Irã. Para justificar o injustificável resolveu atacar os Estados Unidos.

“Eu não concordo com a forma como as mulheres são tratadas no Irã, por exemplo, mas não concordo com a pena de morte, que ainda existe nos Estados Unidos”, disse Amorim, no que foi rebatido imediatamente pelo ex-embaixador dos EUA na Organização para a Segurança e Cooperação na Europa, Dan Baer. Amorim teria cometido uma falsa equivalência que não seria moralmente respeitável, segundo seu interlocutor.

O Irã é o país em que em Mahsa Amini, de 22 anos, foi morta setembro de 2022 pelo crime de não usar véu de maneira correta. Foi espancada com um pedaço de pau e seguidamente agredida dentro de um automóvel da Patrulha de Orientação, a polícia de comportamento local. O assassinato causou uma onda indignação a ponto de que uma multidão de mulheres tirou os véus e cortou o cabelo em locais público, sob intensa repressão. O Irã é também o país em que a prêmio Nobel da Paz Narges Mohammadi foi presa pela sua militância pelo direito das mulheres.

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Nada disso parece impressionar nosso justificador geral de abusos internacionais. Para ele é mais fácil colocar na conversa um suposto erro dos EUA ao invés de condenar os aiatolás. Aliás, desde quando um equívoco de um país pode ser utilizado para justificar um equívoco de outro? Nos EUA é possível protestar contra a pena de morte e ir dormir em casa. No Irã, a polícia prende e pode matar quem protesta contra o uso obrigatório do hijab, o véu mulçumano, sobretudo se for uma mulher.

Ainda nesta mesma semana, nosso “justificador geral de autocratas com quem concorda ideologicamente” resolveu amaciar para a seguinte frase do ditador Nicolas Maduro: “O destino da Venezuela no século 21 depende da nossa vitória em 28 de julho. Se não quiserem que a Venezuela caia em um banho de sangue civil fratricida, produto dos fascistas, garantamos o maior êxito”. Nosso justificador tentou uma acrobacia retórica para atenuar a ameaça de banho de sangue feita por Maduro: “Mas eu tenho a impressão, sendo, digamos, talvez um pouco compreensivo, que ele estava se referindo a longo prazo, luta de classes, coisas desse tipo, coisa que, de qualquer maneira, não deveria falar”, disse, dando ares sociológicos à truculência explícita.

Outro que resolveu relativizar os excessos do amigo Maduro foi o presidente Lula. Segue a frase do chefão petista: “Por que eu vou querer brigar com a Venezuela? Por que eu vou querer com Nicarágua? Por que eu vou querer com a Argentina? Eles que elejam os presidentes que quiserem”, afirmou o presidente, que convenientemente se esqueceu que pediu apoio a Maduro nas eleições de 2013, foi contra Milei no pleito argentino, e de vez em quando solta suas farpas contra os EUA. De qualquer maneira, antes de ser condescendente com Maduro, Lula e Amorim deveriam visitar os campos de refugiados em Boa Vista, Roraima, e conversar com as vítimas de um regime que obrigou a milhões a abandonarem seu país Natal para fugir da fome e da miséria. Fica a dica.

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Mas parece não haver limites para a estratégia de amparar os autoritários poderosos. Na mesma conversa com Dae Baer, Amorim ainda arrumou tempo de justificar outra matança. Alegou que a invasão russa na Ucrânia pode ter explicações histórias. Aliás, o rigor que Lula e Amorim têm com Israel, que de fato comete crimes de guerra, em geral é deixado de lado se o abusador é um déspota amigo, seja Putin ou Maduro. Amorim, pelo menos, levou uma invertida imediata no sentido de que muitas vezes a história é usada como argumento para evitar a quebra de leis. Fica a lição para a turma que adora mandar os adversários “estudar a história”.

Em um governo que foi eleito, por pouco, se autoproclamando como defensor da democracia, é evidentemente insensato nós contarmos com um assessor internacional da Presidência que, na prática, é o nosso justificador geral das ditaduras, das guerras fora do direito internacional, do desrespeito a minorias, e até mesmo do assassinato de mulheres ao redor do mundo. Tido como “hábil negociador”, na verdade Celso Amorim parece não perder a oportunidade de sempre se colocar do lado menos democrático dos acontecimentos. Fica uma questão: o presidente Lula concorda ou não com seu assistente? Provavelmente sim, se não já o teria dispensado.

Existe um padrão. Se há em algum lugar no mundo em que a disputa é entre uma força democrática e outra opressiva, o Brasil de Lula e de Amorim costuma escolher um lado: o dos ditadores ou dos antidemocráticos. Tudo isso sob a retórica de que procuram a paz. Paz para eles, na verdade, é o triunfo dos tiranos sobre os oprimidos, dos iliberais sobre os liberais.

O assessor especial do presidente da República, Celso Amorim  Foto: Wilton Junior/Estadão

Por coincidência, na mesma semana em que os acrobatas morais se esforçaram para dizer que a frase do presidente Lula de que corintianos teriam um salvo conduto para agredir mulheres não era tão ruim assim, o nosso diplomata Amorim resolveu relativizar o fato de que as mulheres vivem sob violenta opressão no Irã. Para justificar o injustificável resolveu atacar os Estados Unidos.

“Eu não concordo com a forma como as mulheres são tratadas no Irã, por exemplo, mas não concordo com a pena de morte, que ainda existe nos Estados Unidos”, disse Amorim, no que foi rebatido imediatamente pelo ex-embaixador dos EUA na Organização para a Segurança e Cooperação na Europa, Dan Baer. Amorim teria cometido uma falsa equivalência que não seria moralmente respeitável, segundo seu interlocutor.

O Irã é o país em que em Mahsa Amini, de 22 anos, foi morta setembro de 2022 pelo crime de não usar véu de maneira correta. Foi espancada com um pedaço de pau e seguidamente agredida dentro de um automóvel da Patrulha de Orientação, a polícia de comportamento local. O assassinato causou uma onda indignação a ponto de que uma multidão de mulheres tirou os véus e cortou o cabelo em locais público, sob intensa repressão. O Irã é também o país em que a prêmio Nobel da Paz Narges Mohammadi foi presa pela sua militância pelo direito das mulheres.

Nada disso parece impressionar nosso justificador geral de abusos internacionais. Para ele é mais fácil colocar na conversa um suposto erro dos EUA ao invés de condenar os aiatolás. Aliás, desde quando um equívoco de um país pode ser utilizado para justificar um equívoco de outro? Nos EUA é possível protestar contra a pena de morte e ir dormir em casa. No Irã, a polícia prende e pode matar quem protesta contra o uso obrigatório do hijab, o véu mulçumano, sobretudo se for uma mulher.

Ainda nesta mesma semana, nosso “justificador geral de autocratas com quem concorda ideologicamente” resolveu amaciar para a seguinte frase do ditador Nicolas Maduro: “O destino da Venezuela no século 21 depende da nossa vitória em 28 de julho. Se não quiserem que a Venezuela caia em um banho de sangue civil fratricida, produto dos fascistas, garantamos o maior êxito”. Nosso justificador tentou uma acrobacia retórica para atenuar a ameaça de banho de sangue feita por Maduro: “Mas eu tenho a impressão, sendo, digamos, talvez um pouco compreensivo, que ele estava se referindo a longo prazo, luta de classes, coisas desse tipo, coisa que, de qualquer maneira, não deveria falar”, disse, dando ares sociológicos à truculência explícita.

Outro que resolveu relativizar os excessos do amigo Maduro foi o presidente Lula. Segue a frase do chefão petista: “Por que eu vou querer brigar com a Venezuela? Por que eu vou querer com Nicarágua? Por que eu vou querer com a Argentina? Eles que elejam os presidentes que quiserem”, afirmou o presidente, que convenientemente se esqueceu que pediu apoio a Maduro nas eleições de 2013, foi contra Milei no pleito argentino, e de vez em quando solta suas farpas contra os EUA. De qualquer maneira, antes de ser condescendente com Maduro, Lula e Amorim deveriam visitar os campos de refugiados em Boa Vista, Roraima, e conversar com as vítimas de um regime que obrigou a milhões a abandonarem seu país Natal para fugir da fome e da miséria. Fica a dica.

Mas parece não haver limites para a estratégia de amparar os autoritários poderosos. Na mesma conversa com Dae Baer, Amorim ainda arrumou tempo de justificar outra matança. Alegou que a invasão russa na Ucrânia pode ter explicações histórias. Aliás, o rigor que Lula e Amorim têm com Israel, que de fato comete crimes de guerra, em geral é deixado de lado se o abusador é um déspota amigo, seja Putin ou Maduro. Amorim, pelo menos, levou uma invertida imediata no sentido de que muitas vezes a história é usada como argumento para evitar a quebra de leis. Fica a lição para a turma que adora mandar os adversários “estudar a história”.

Em um governo que foi eleito, por pouco, se autoproclamando como defensor da democracia, é evidentemente insensato nós contarmos com um assessor internacional da Presidência que, na prática, é o nosso justificador geral das ditaduras, das guerras fora do direito internacional, do desrespeito a minorias, e até mesmo do assassinato de mulheres ao redor do mundo. Tido como “hábil negociador”, na verdade Celso Amorim parece não perder a oportunidade de sempre se colocar do lado menos democrático dos acontecimentos. Fica uma questão: o presidente Lula concorda ou não com seu assistente? Provavelmente sim, se não já o teria dispensado.

Existe um padrão. Se há em algum lugar no mundo em que a disputa é entre uma força democrática e outra opressiva, o Brasil de Lula e de Amorim costuma escolher um lado: o dos ditadores ou dos antidemocráticos. Tudo isso sob a retórica de que procuram a paz. Paz para eles, na verdade, é o triunfo dos tiranos sobre os oprimidos, dos iliberais sobre os liberais.

O assessor especial do presidente da República, Celso Amorim  Foto: Wilton Junior/Estadão

Por coincidência, na mesma semana em que os acrobatas morais se esforçaram para dizer que a frase do presidente Lula de que corintianos teriam um salvo conduto para agredir mulheres não era tão ruim assim, o nosso diplomata Amorim resolveu relativizar o fato de que as mulheres vivem sob violenta opressão no Irã. Para justificar o injustificável resolveu atacar os Estados Unidos.

“Eu não concordo com a forma como as mulheres são tratadas no Irã, por exemplo, mas não concordo com a pena de morte, que ainda existe nos Estados Unidos”, disse Amorim, no que foi rebatido imediatamente pelo ex-embaixador dos EUA na Organização para a Segurança e Cooperação na Europa, Dan Baer. Amorim teria cometido uma falsa equivalência que não seria moralmente respeitável, segundo seu interlocutor.

O Irã é o país em que em Mahsa Amini, de 22 anos, foi morta setembro de 2022 pelo crime de não usar véu de maneira correta. Foi espancada com um pedaço de pau e seguidamente agredida dentro de um automóvel da Patrulha de Orientação, a polícia de comportamento local. O assassinato causou uma onda indignação a ponto de que uma multidão de mulheres tirou os véus e cortou o cabelo em locais público, sob intensa repressão. O Irã é também o país em que a prêmio Nobel da Paz Narges Mohammadi foi presa pela sua militância pelo direito das mulheres.

Nada disso parece impressionar nosso justificador geral de abusos internacionais. Para ele é mais fácil colocar na conversa um suposto erro dos EUA ao invés de condenar os aiatolás. Aliás, desde quando um equívoco de um país pode ser utilizado para justificar um equívoco de outro? Nos EUA é possível protestar contra a pena de morte e ir dormir em casa. No Irã, a polícia prende e pode matar quem protesta contra o uso obrigatório do hijab, o véu mulçumano, sobretudo se for uma mulher.

Ainda nesta mesma semana, nosso “justificador geral de autocratas com quem concorda ideologicamente” resolveu amaciar para a seguinte frase do ditador Nicolas Maduro: “O destino da Venezuela no século 21 depende da nossa vitória em 28 de julho. Se não quiserem que a Venezuela caia em um banho de sangue civil fratricida, produto dos fascistas, garantamos o maior êxito”. Nosso justificador tentou uma acrobacia retórica para atenuar a ameaça de banho de sangue feita por Maduro: “Mas eu tenho a impressão, sendo, digamos, talvez um pouco compreensivo, que ele estava se referindo a longo prazo, luta de classes, coisas desse tipo, coisa que, de qualquer maneira, não deveria falar”, disse, dando ares sociológicos à truculência explícita.

Outro que resolveu relativizar os excessos do amigo Maduro foi o presidente Lula. Segue a frase do chefão petista: “Por que eu vou querer brigar com a Venezuela? Por que eu vou querer com Nicarágua? Por que eu vou querer com a Argentina? Eles que elejam os presidentes que quiserem”, afirmou o presidente, que convenientemente se esqueceu que pediu apoio a Maduro nas eleições de 2013, foi contra Milei no pleito argentino, e de vez em quando solta suas farpas contra os EUA. De qualquer maneira, antes de ser condescendente com Maduro, Lula e Amorim deveriam visitar os campos de refugiados em Boa Vista, Roraima, e conversar com as vítimas de um regime que obrigou a milhões a abandonarem seu país Natal para fugir da fome e da miséria. Fica a dica.

Mas parece não haver limites para a estratégia de amparar os autoritários poderosos. Na mesma conversa com Dae Baer, Amorim ainda arrumou tempo de justificar outra matança. Alegou que a invasão russa na Ucrânia pode ter explicações histórias. Aliás, o rigor que Lula e Amorim têm com Israel, que de fato comete crimes de guerra, em geral é deixado de lado se o abusador é um déspota amigo, seja Putin ou Maduro. Amorim, pelo menos, levou uma invertida imediata no sentido de que muitas vezes a história é usada como argumento para evitar a quebra de leis. Fica a lição para a turma que adora mandar os adversários “estudar a história”.

Em um governo que foi eleito, por pouco, se autoproclamando como defensor da democracia, é evidentemente insensato nós contarmos com um assessor internacional da Presidência que, na prática, é o nosso justificador geral das ditaduras, das guerras fora do direito internacional, do desrespeito a minorias, e até mesmo do assassinato de mulheres ao redor do mundo. Tido como “hábil negociador”, na verdade Celso Amorim parece não perder a oportunidade de sempre se colocar do lado menos democrático dos acontecimentos. Fica uma questão: o presidente Lula concorda ou não com seu assistente? Provavelmente sim, se não já o teria dispensado.

Existe um padrão. Se há em algum lugar no mundo em que a disputa é entre uma força democrática e outra opressiva, o Brasil de Lula e de Amorim costuma escolher um lado: o dos ditadores ou dos antidemocráticos. Tudo isso sob a retórica de que procuram a paz. Paz para eles, na verdade, é o triunfo dos tiranos sobre os oprimidos, dos iliberais sobre os liberais.

O assessor especial do presidente da República, Celso Amorim  Foto: Wilton Junior/Estadão

Por coincidência, na mesma semana em que os acrobatas morais se esforçaram para dizer que a frase do presidente Lula de que corintianos teriam um salvo conduto para agredir mulheres não era tão ruim assim, o nosso diplomata Amorim resolveu relativizar o fato de que as mulheres vivem sob violenta opressão no Irã. Para justificar o injustificável resolveu atacar os Estados Unidos.

“Eu não concordo com a forma como as mulheres são tratadas no Irã, por exemplo, mas não concordo com a pena de morte, que ainda existe nos Estados Unidos”, disse Amorim, no que foi rebatido imediatamente pelo ex-embaixador dos EUA na Organização para a Segurança e Cooperação na Europa, Dan Baer. Amorim teria cometido uma falsa equivalência que não seria moralmente respeitável, segundo seu interlocutor.

O Irã é o país em que em Mahsa Amini, de 22 anos, foi morta setembro de 2022 pelo crime de não usar véu de maneira correta. Foi espancada com um pedaço de pau e seguidamente agredida dentro de um automóvel da Patrulha de Orientação, a polícia de comportamento local. O assassinato causou uma onda indignação a ponto de que uma multidão de mulheres tirou os véus e cortou o cabelo em locais público, sob intensa repressão. O Irã é também o país em que a prêmio Nobel da Paz Narges Mohammadi foi presa pela sua militância pelo direito das mulheres.

Nada disso parece impressionar nosso justificador geral de abusos internacionais. Para ele é mais fácil colocar na conversa um suposto erro dos EUA ao invés de condenar os aiatolás. Aliás, desde quando um equívoco de um país pode ser utilizado para justificar um equívoco de outro? Nos EUA é possível protestar contra a pena de morte e ir dormir em casa. No Irã, a polícia prende e pode matar quem protesta contra o uso obrigatório do hijab, o véu mulçumano, sobretudo se for uma mulher.

Ainda nesta mesma semana, nosso “justificador geral de autocratas com quem concorda ideologicamente” resolveu amaciar para a seguinte frase do ditador Nicolas Maduro: “O destino da Venezuela no século 21 depende da nossa vitória em 28 de julho. Se não quiserem que a Venezuela caia em um banho de sangue civil fratricida, produto dos fascistas, garantamos o maior êxito”. Nosso justificador tentou uma acrobacia retórica para atenuar a ameaça de banho de sangue feita por Maduro: “Mas eu tenho a impressão, sendo, digamos, talvez um pouco compreensivo, que ele estava se referindo a longo prazo, luta de classes, coisas desse tipo, coisa que, de qualquer maneira, não deveria falar”, disse, dando ares sociológicos à truculência explícita.

Outro que resolveu relativizar os excessos do amigo Maduro foi o presidente Lula. Segue a frase do chefão petista: “Por que eu vou querer brigar com a Venezuela? Por que eu vou querer com Nicarágua? Por que eu vou querer com a Argentina? Eles que elejam os presidentes que quiserem”, afirmou o presidente, que convenientemente se esqueceu que pediu apoio a Maduro nas eleições de 2013, foi contra Milei no pleito argentino, e de vez em quando solta suas farpas contra os EUA. De qualquer maneira, antes de ser condescendente com Maduro, Lula e Amorim deveriam visitar os campos de refugiados em Boa Vista, Roraima, e conversar com as vítimas de um regime que obrigou a milhões a abandonarem seu país Natal para fugir da fome e da miséria. Fica a dica.

Mas parece não haver limites para a estratégia de amparar os autoritários poderosos. Na mesma conversa com Dae Baer, Amorim ainda arrumou tempo de justificar outra matança. Alegou que a invasão russa na Ucrânia pode ter explicações histórias. Aliás, o rigor que Lula e Amorim têm com Israel, que de fato comete crimes de guerra, em geral é deixado de lado se o abusador é um déspota amigo, seja Putin ou Maduro. Amorim, pelo menos, levou uma invertida imediata no sentido de que muitas vezes a história é usada como argumento para evitar a quebra de leis. Fica a lição para a turma que adora mandar os adversários “estudar a história”.

Opinião por Fabiano Lana

Fabiano Lana é formado em Comunicação Social pela UFMG e em Filosofia pela UnB, onde também tem mestrado na área. Foi repórter do Jornal do Brasil, entre outros veículos. Atua como consultor de comunicação. É autor do livro “Riobaldo agarra sua morte”, em que discute interseções entre jornalismo, política e ética.

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