O País mal se recupera do impacto da prisão dos supostos mandantes da morte da ex-vereadora Marielle Franco e aparece outra notícia bombástica, na nossa fabulosa sequência de revelações extraordinárias em ritmo alucinante que já dura mais de uma década. Acuado pela descoberta de que poderia ter tentado impetrar um golpe de Estado, Jair Bolsonaro pode ter buscado asilo na embaixada da Hungria. A situação é tão embaraçosa que precisa de mais esclarecimentos além de negativas cabais. Porém, caso tenha optado pelo exílio, Bolsonaro indica que não quer se tornar mártir de causa nenhuma por trás das jaulas de uma prisão brasileira.
Bolsonaro, ao que tudo indica, preferiria andar lépido às margens do rio Danúbio, em Budapeste, do que, ouvir, pelas janelas de sua cela, um provável “bom dia, mito!”, celebrado por tantos que o admiram, inclusive, provavelmente, pelas que ele mesmo chama de “senhorinhas com a Bíblia na mão”. Com bastante empenho, iriam tentar divulgar a versão de que a prisão foi injusta e que o Brasil não vive uma democracia. Não se esqueceriam do “mito”. Mas o ex-presidente pode ser que não queira este caminho algo doloroso.
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Jair Bolsonaro é um líder que consegue colocar milhares de apoiadores na rua não importam as acusações ou provas que pesem contra ele, inclusive as vindouras. O fracasso das manifestações de esquerda neste fim de semana mostra que ele não conta com nenhum concorrente nesse quesito em território nacional. Sua ida para prisão, em um primeiro momento, certamente mobilizaria milhões de pessoas em protestos pelo país, bastaria ele pedir por socorro. Mas, ao que tudo indica, apuradas as circunstâncias, ele preferiria ficar em uma distância segura de milhares de quilômetros, se possível com uma ajuda do presumido amigo, o presidente húngaro Viktor Orban, como ele um prócere da chamada nova direita mundial.
Entre líderes globais que foram presos e conseguiram se recuperar para depois tornarem mandatários em seus países há gente de todas as ideologias. Temos Lenin, da União Soviética, por insurreição. Nelson Mandela, da África do Sul, por terrorismo. Hitler, na Alemanha, por tentar um golpe de Estado, assim como Hugo Chávez, na Venezuela. Temos Dilma Rousseff, por atividades revolucionárias. E, obviamente, Luiz Inácio Lula da Silva, cujo caso é em demasia conhecido por nós.
Todos eles, quando presos ou depois de soltos, souberam utilizar os momentos de encarceramento como plataforma para uma chegada triunfal ao poder, no caso de Lula, uma volta. A impressão de ser injustiçado é um poderoso elemento para agregar apoiadores a uma causa. E a arbitrariedade de ter ficado confinado é muito mais intensa, do ponto de vista de uma sociedade, do que um exílio.
Se as linhas de investigação estiverem corretas, a ida para Hungria já seria o segundo quase exílio de Jair Bolsonaro. O primeiro foi quando partiu para os EUA, após ver fracassar sua conspiração que resultaria no cancelamento das eleições que havia perdido. Tentou, inclusive, levar certas joias que lhe garantiriam uma vida menos dura na ensolarada Miami e, quem sabe, os apoiadores conseguiriam levar à frente o plano de golpe natimorto. Não deu certo. No caso húngaro, era também uma debandada preventiva, sigilosa, conforme mostram as imagens divulgadas pelo New York Times.
Talvez haja um cálculo aí na decisão de Bolsonaro. Ele tem a consciência de que, com a atual composição do Supremo Tribunal Federal, é impossível uma reviravolta no seu caso, como ocorreu com Lula. Ele também vê que os peixes pequenos que vandalizaram a praça dos Três Poderes, em Brasília, no dia 8/1 de 2023 obtiveram penas implacáveis. Pela sua importância, seu destino de ex-presidente pode ser muito pior.
Fica uma dica para um presidente que, segundo já foi publicado na imprensa, possui hábitos alimentares bastante restritos e pouco variáveis a ponto de preferir levar para fora a comida do Brasil. Os pratos húngaros, como o goulash, são bastante temperados. Melhor levar as dezenas de pacotes de miojo que costuma estocar na sede de seu partido em Brasília.