Disputas de poder e o debate político-cultural brasileiro

Opinião|Competência administrativa conta mais que ideologia nas eleições municipais


Ideologia do candidato é apenas um processo lateral ao que realmente interessa na hora de o eleitor escolher um candidato: qual proposta garantirá o futuro melhor das pessoas

Por Fabiano Lana
Atualização:

A maioria massacrante das análises sobre os resultados das últimas eleições municipais parte de pressupostos de que o voto para prefeito no último pleito foi ideológico. Nesse sentido, fala-se de vitória da centro-direita e derrotas tanto da extrema-direita como da esquerda. A tese faz sentido, mas talvez de outra perspectiva. A questão é que tanto a esquerda como a extrema-direita não tenham propostas e discursos para o que de fato interessa quando o que está em jogo é a administração de uma cidade: a zeladoria.

Não que as pessoas rejeitem radicalmente as chamadas pautas identitárias de esquerda, como a questão da raça e do gênero. Mas o que esse tipo de discurso ajudará quando a preocupação é com mobilidade urbana, iluminação, ensino básico ou o atendimento nos postos de saúde? Este articulista, que é consultor político, trabalhou em cinco campanhas eleitorais nessas eleições, e pode intuir que a ideologia é apenas um processo lateral ao que realmente interessa: qual proposta garantirá o futuro melhor das pessoas.

O raciocínio vale para a direita (extrema) também. Houve, por exemplo, candidato que baseou sua campanha no segundo turno em temas como “livrar as crianças da pornografia”. O que isso ajuda se o grande problema de uma família é colocar uma criança numa creche? O povo em sua maioria não engoliu.

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Campanha de Guilherme Boulos trabalhou para afastá-lo da imagem de militante e apresentá-lo como administrador, mas não deu certo Foto: Taba Benedicto/ Estadão

O caso de Guilherme Boulos (PSOL) em São Paulo é emblemático nesse sentido. Tudo indica que a candidatura estava ciente do problema e tentou colocá-lo menos como um militante e mais como um administrador. Não deu certo. O eleitor majoritariamente conhecia outro personagem Boulos por décadas, mais radical, e não acreditou que ele fosse capaz de governar a maior cidade do continente. Esse foi o teto do candidato do PSOL em uma cidade em que Lula venceu em 2022.

Outro caso, foi Belo Horizonte, onde Bruno Engler, um candidato que fez a carreira política mimetizando todas as pautas do bolsonarismo, conseguiu chegar ao segundo-turno. Mas depois foi visto muito mais como um militante ideológico do que um administrador em potencial. O que isso adianta quando o que interessa é a coleta do lixo todos os dias? Perdeu numa cidade em que Bolsonaro venceu em 2022.

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Bruno Engler, em Belo Horizonte, fez carreira política mimetizando pautas do bolsonarismo e acabou visto mais como militante ideológico do que como um administrador em potencial Foto: Bruno Engler via Facebook

O voto completamente ideológico em um município é um luxo praticado apenas por aqueles que mal conhecem o que faz uma máquina da prefeitura – os mais ricos. Não colocam seus filhos na creche, utilizam rede hospitalar privada, não andam em transporte público. Nesse sentido, só conhecem as franjas do que faz a máquina municipal, em geral quando ficam presos num engarrafamento e praguejam contra o prefeito ou a prefeita de plantão. Quem precisa do serviço público diariamente de fato é quem consegue avaliar se uma prefeitura está indo bem ou mal.

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Nesse sentido, as eleições municipais não são bons preditores para as presidenciais. O voto para presidente é sim muito mais ideológico. Até porque o presidente é um líder simbólico de uma nação e muito mais está em jogo além de questões administrativas e econômicas.

Mas, para 2026, o que será igual a 2024 é o seguinte: nem direita, nem esquerda, nem centro ganharão sozinhos. Desses três polos, se dois conseguirem se juntar sem defecções internas, irão ocupar a máquina federal. Mas para atrair esse centro que faz a diferença, esquerda e (extrema) direita não terão outra saída a não ser modelar o discurso em direção à moderação.

A maioria massacrante das análises sobre os resultados das últimas eleições municipais parte de pressupostos de que o voto para prefeito no último pleito foi ideológico. Nesse sentido, fala-se de vitória da centro-direita e derrotas tanto da extrema-direita como da esquerda. A tese faz sentido, mas talvez de outra perspectiva. A questão é que tanto a esquerda como a extrema-direita não tenham propostas e discursos para o que de fato interessa quando o que está em jogo é a administração de uma cidade: a zeladoria.

Não que as pessoas rejeitem radicalmente as chamadas pautas identitárias de esquerda, como a questão da raça e do gênero. Mas o que esse tipo de discurso ajudará quando a preocupação é com mobilidade urbana, iluminação, ensino básico ou o atendimento nos postos de saúde? Este articulista, que é consultor político, trabalhou em cinco campanhas eleitorais nessas eleições, e pode intuir que a ideologia é apenas um processo lateral ao que realmente interessa: qual proposta garantirá o futuro melhor das pessoas.

O raciocínio vale para a direita (extrema) também. Houve, por exemplo, candidato que baseou sua campanha no segundo turno em temas como “livrar as crianças da pornografia”. O que isso ajuda se o grande problema de uma família é colocar uma criança numa creche? O povo em sua maioria não engoliu.

Campanha de Guilherme Boulos trabalhou para afastá-lo da imagem de militante e apresentá-lo como administrador, mas não deu certo Foto: Taba Benedicto/ Estadão

O caso de Guilherme Boulos (PSOL) em São Paulo é emblemático nesse sentido. Tudo indica que a candidatura estava ciente do problema e tentou colocá-lo menos como um militante e mais como um administrador. Não deu certo. O eleitor majoritariamente conhecia outro personagem Boulos por décadas, mais radical, e não acreditou que ele fosse capaz de governar a maior cidade do continente. Esse foi o teto do candidato do PSOL em uma cidade em que Lula venceu em 2022.

Outro caso, foi Belo Horizonte, onde Bruno Engler, um candidato que fez a carreira política mimetizando todas as pautas do bolsonarismo, conseguiu chegar ao segundo-turno. Mas depois foi visto muito mais como um militante ideológico do que um administrador em potencial. O que isso adianta quando o que interessa é a coleta do lixo todos os dias? Perdeu numa cidade em que Bolsonaro venceu em 2022.

Bruno Engler, em Belo Horizonte, fez carreira política mimetizando pautas do bolsonarismo e acabou visto mais como militante ideológico do que como um administrador em potencial Foto: Bruno Engler via Facebook

O voto completamente ideológico em um município é um luxo praticado apenas por aqueles que mal conhecem o que faz uma máquina da prefeitura – os mais ricos. Não colocam seus filhos na creche, utilizam rede hospitalar privada, não andam em transporte público. Nesse sentido, só conhecem as franjas do que faz a máquina municipal, em geral quando ficam presos num engarrafamento e praguejam contra o prefeito ou a prefeita de plantão. Quem precisa do serviço público diariamente de fato é quem consegue avaliar se uma prefeitura está indo bem ou mal.

Nesse sentido, as eleições municipais não são bons preditores para as presidenciais. O voto para presidente é sim muito mais ideológico. Até porque o presidente é um líder simbólico de uma nação e muito mais está em jogo além de questões administrativas e econômicas.

Mas, para 2026, o que será igual a 2024 é o seguinte: nem direita, nem esquerda, nem centro ganharão sozinhos. Desses três polos, se dois conseguirem se juntar sem defecções internas, irão ocupar a máquina federal. Mas para atrair esse centro que faz a diferença, esquerda e (extrema) direita não terão outra saída a não ser modelar o discurso em direção à moderação.

A maioria massacrante das análises sobre os resultados das últimas eleições municipais parte de pressupostos de que o voto para prefeito no último pleito foi ideológico. Nesse sentido, fala-se de vitória da centro-direita e derrotas tanto da extrema-direita como da esquerda. A tese faz sentido, mas talvez de outra perspectiva. A questão é que tanto a esquerda como a extrema-direita não tenham propostas e discursos para o que de fato interessa quando o que está em jogo é a administração de uma cidade: a zeladoria.

Não que as pessoas rejeitem radicalmente as chamadas pautas identitárias de esquerda, como a questão da raça e do gênero. Mas o que esse tipo de discurso ajudará quando a preocupação é com mobilidade urbana, iluminação, ensino básico ou o atendimento nos postos de saúde? Este articulista, que é consultor político, trabalhou em cinco campanhas eleitorais nessas eleições, e pode intuir que a ideologia é apenas um processo lateral ao que realmente interessa: qual proposta garantirá o futuro melhor das pessoas.

O raciocínio vale para a direita (extrema) também. Houve, por exemplo, candidato que baseou sua campanha no segundo turno em temas como “livrar as crianças da pornografia”. O que isso ajuda se o grande problema de uma família é colocar uma criança numa creche? O povo em sua maioria não engoliu.

Campanha de Guilherme Boulos trabalhou para afastá-lo da imagem de militante e apresentá-lo como administrador, mas não deu certo Foto: Taba Benedicto/ Estadão

O caso de Guilherme Boulos (PSOL) em São Paulo é emblemático nesse sentido. Tudo indica que a candidatura estava ciente do problema e tentou colocá-lo menos como um militante e mais como um administrador. Não deu certo. O eleitor majoritariamente conhecia outro personagem Boulos por décadas, mais radical, e não acreditou que ele fosse capaz de governar a maior cidade do continente. Esse foi o teto do candidato do PSOL em uma cidade em que Lula venceu em 2022.

Outro caso, foi Belo Horizonte, onde Bruno Engler, um candidato que fez a carreira política mimetizando todas as pautas do bolsonarismo, conseguiu chegar ao segundo-turno. Mas depois foi visto muito mais como um militante ideológico do que um administrador em potencial. O que isso adianta quando o que interessa é a coleta do lixo todos os dias? Perdeu numa cidade em que Bolsonaro venceu em 2022.

Bruno Engler, em Belo Horizonte, fez carreira política mimetizando pautas do bolsonarismo e acabou visto mais como militante ideológico do que como um administrador em potencial Foto: Bruno Engler via Facebook

O voto completamente ideológico em um município é um luxo praticado apenas por aqueles que mal conhecem o que faz uma máquina da prefeitura – os mais ricos. Não colocam seus filhos na creche, utilizam rede hospitalar privada, não andam em transporte público. Nesse sentido, só conhecem as franjas do que faz a máquina municipal, em geral quando ficam presos num engarrafamento e praguejam contra o prefeito ou a prefeita de plantão. Quem precisa do serviço público diariamente de fato é quem consegue avaliar se uma prefeitura está indo bem ou mal.

Nesse sentido, as eleições municipais não são bons preditores para as presidenciais. O voto para presidente é sim muito mais ideológico. Até porque o presidente é um líder simbólico de uma nação e muito mais está em jogo além de questões administrativas e econômicas.

Mas, para 2026, o que será igual a 2024 é o seguinte: nem direita, nem esquerda, nem centro ganharão sozinhos. Desses três polos, se dois conseguirem se juntar sem defecções internas, irão ocupar a máquina federal. Mas para atrair esse centro que faz a diferença, esquerda e (extrema) direita não terão outra saída a não ser modelar o discurso em direção à moderação.

A maioria massacrante das análises sobre os resultados das últimas eleições municipais parte de pressupostos de que o voto para prefeito no último pleito foi ideológico. Nesse sentido, fala-se de vitória da centro-direita e derrotas tanto da extrema-direita como da esquerda. A tese faz sentido, mas talvez de outra perspectiva. A questão é que tanto a esquerda como a extrema-direita não tenham propostas e discursos para o que de fato interessa quando o que está em jogo é a administração de uma cidade: a zeladoria.

Não que as pessoas rejeitem radicalmente as chamadas pautas identitárias de esquerda, como a questão da raça e do gênero. Mas o que esse tipo de discurso ajudará quando a preocupação é com mobilidade urbana, iluminação, ensino básico ou o atendimento nos postos de saúde? Este articulista, que é consultor político, trabalhou em cinco campanhas eleitorais nessas eleições, e pode intuir que a ideologia é apenas um processo lateral ao que realmente interessa: qual proposta garantirá o futuro melhor das pessoas.

O raciocínio vale para a direita (extrema) também. Houve, por exemplo, candidato que baseou sua campanha no segundo turno em temas como “livrar as crianças da pornografia”. O que isso ajuda se o grande problema de uma família é colocar uma criança numa creche? O povo em sua maioria não engoliu.

Campanha de Guilherme Boulos trabalhou para afastá-lo da imagem de militante e apresentá-lo como administrador, mas não deu certo Foto: Taba Benedicto/ Estadão

O caso de Guilherme Boulos (PSOL) em São Paulo é emblemático nesse sentido. Tudo indica que a candidatura estava ciente do problema e tentou colocá-lo menos como um militante e mais como um administrador. Não deu certo. O eleitor majoritariamente conhecia outro personagem Boulos por décadas, mais radical, e não acreditou que ele fosse capaz de governar a maior cidade do continente. Esse foi o teto do candidato do PSOL em uma cidade em que Lula venceu em 2022.

Outro caso, foi Belo Horizonte, onde Bruno Engler, um candidato que fez a carreira política mimetizando todas as pautas do bolsonarismo, conseguiu chegar ao segundo-turno. Mas depois foi visto muito mais como um militante ideológico do que um administrador em potencial. O que isso adianta quando o que interessa é a coleta do lixo todos os dias? Perdeu numa cidade em que Bolsonaro venceu em 2022.

Bruno Engler, em Belo Horizonte, fez carreira política mimetizando pautas do bolsonarismo e acabou visto mais como militante ideológico do que como um administrador em potencial Foto: Bruno Engler via Facebook

O voto completamente ideológico em um município é um luxo praticado apenas por aqueles que mal conhecem o que faz uma máquina da prefeitura – os mais ricos. Não colocam seus filhos na creche, utilizam rede hospitalar privada, não andam em transporte público. Nesse sentido, só conhecem as franjas do que faz a máquina municipal, em geral quando ficam presos num engarrafamento e praguejam contra o prefeito ou a prefeita de plantão. Quem precisa do serviço público diariamente de fato é quem consegue avaliar se uma prefeitura está indo bem ou mal.

Nesse sentido, as eleições municipais não são bons preditores para as presidenciais. O voto para presidente é sim muito mais ideológico. Até porque o presidente é um líder simbólico de uma nação e muito mais está em jogo além de questões administrativas e econômicas.

Mas, para 2026, o que será igual a 2024 é o seguinte: nem direita, nem esquerda, nem centro ganharão sozinhos. Desses três polos, se dois conseguirem se juntar sem defecções internas, irão ocupar a máquina federal. Mas para atrair esse centro que faz a diferença, esquerda e (extrema) direita não terão outra saída a não ser modelar o discurso em direção à moderação.

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Opinião por Fabiano Lana

Fabiano Lana é formado em Comunicação Social pela UFMG e em Filosofia pela UnB, onde também tem mestrado na área. Foi repórter do Jornal do Brasil, entre outros veículos. Atua como consultor de comunicação. É autor do livro “Riobaldo agarra sua morte”, em que discute interseções entre jornalismo, política e ética.

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