Disputas de poder e o debate político-cultural brasileiro

Opinião|Defender Bolsonaro no caso das joias é renegar os fatos e se mostrar fanático


Se for preso, como devem prescrever os robôs, Jair Bolsonaro será visto por tantos como uma vítima de um sistema

Por Fabiano Lana
Atualização:

Da lista abaixo o que não é fato?

  1. Pela lei é proibido a um agente público, incluindo um presidente da República, se apropriar de presentes de alto valor. É peculato. Os bens são propriedade do Estado;
  2. Jair Bolsonaro recebeu presentes de alto valor da família real da Arábia Saudita, como joias e relógio;
  3. Uma parte das joias foi apreendida pela Receita Federal em São Paulo. Assessores de Bolsonaro agem inutilmente para retirar as joias do poder da Receita. Há vídeos no aeroporto de Guarulhos;
  4. Outra parte das joias, que não foi retida, vai a leilão nos EUA na empresa especializada Fortuna Action House. Foi levada pelo ajudante de ordens do presidente;
  5. Bolsonaro recebe de seu ajudante de ordens um link com o leilão e responde: “Selva”;
  6. O pai do ajudante de ordens vende os relógios dados de presente e entrega o valor em cash para Bolsonaro em Miami (foi divulgada uma foto que representa o momento da negociação);
  7. Em depoimento à PF Bolsonaro nega que as joias tivessem saído do Brasil. Alega que estavam na fazenda do ex-piloto de F1, Nelson Piquet (o que é uma contradição com o item 5);
  8. De acordo com o artigo 312 do Código Penal, de 7 de dezembro de 1940, “Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio: Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa”.
Jair Bolsonaro, ex-presidente da República, foi indiciado pela PF Foto: Richard Lourenço/Agência Câmara
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Vamos imaginar que sejamos robôs sem qualquer paixão política e que tivéssemos que aplicar a lei brasileira sobre o cidadão Jair Messias Bolsonaro, de 69 anos, nascido em Glicério, São Paulo, 21 de março de 1955. Robôs poderosos e sem sentimentos capazes de analisar todos os fatos passados, comparar com a legislação, e aplicá-la de maneira fria. Há como Bolsonaro não ser punido?

Os robôs são justos. Precisam ouvir as defesas. Mas o que temos até agora são reiteradas tentativas de dizer que o senhor Jair Messias Bolsonaro é vítima de perseguição política, que os juízes não são isentos. Mas as máquinas só conseguem se interessar se os fatos relatados podem ter alguma interpretação que poupe Bolsonaro. No máximo podem dizer que a foto não mostra que houve entrega de dinheiro ao ex-presidente (item 6). Se depender dos mecanismos, Bolsonaro está em apuros.

Mas o robôs, mesmo com suas enormes perspicácias analíticas, talvez não consigam entender o que é a militância e a paixão política. E fatos são muito pouco perto dos afetos. Como líder carismático, de milhões, Bolsonaro manterá seu apoio das multidões. Continuará sendo cumprimentado nos aeroportos e nos restaurantes. Segue líder popular. “Só acredito quando for condenado na última instância”, dirão os que procuram ganhar tempo enquanto desesperadamente procuram algo mais confiável para agarrar suas crenças.

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Se for preso, como devem prescrever os robôs, Bolsonaro será visto por tantos como uma vítima de um sistema. Haverá rezas na porta de cadeia e gritos de “bom dia” e “boa noite” Bolsonaro. Sempre será possível dizer que o sistema poupou Lula “que desviou bilhões” para encarcerar seu oponente, um ex-capitão do exército defensor da “liberdade”, da “família” e dos “valores cristãos”. Uma vítima das elites que controlam o País, o que inclui mídia, Supremo Tribunal Federal e outros suspeitos de sempre.

Em caso como esses das joias sauditas, a suspeita é que em certos momentos, em situações limites, rejeitemos, como apaixonados políticos, até mesmo os acontecimentos factuais como algo que defina o que é verdade ou mentira, caso esses fatos perturbem as nossas sensibilidades e as nossas opiniões arraigadas. Ou seja, os chamados fatos dariam as cartas contanto que não firam de forma profunda a personalidade, a maneira como vemos as coisas mais sagradas, a nossa ideologia.

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Os fatos que provariam cabalmente que Bolsonaro seria um “ladrão de joias” podem não significar nada para um admirador. Porém, os robôs ainda são muito primários para compreenderem como se dá o fanatismo, de qualquer lado.

Da lista abaixo o que não é fato?

  1. Pela lei é proibido a um agente público, incluindo um presidente da República, se apropriar de presentes de alto valor. É peculato. Os bens são propriedade do Estado;
  2. Jair Bolsonaro recebeu presentes de alto valor da família real da Arábia Saudita, como joias e relógio;
  3. Uma parte das joias foi apreendida pela Receita Federal em São Paulo. Assessores de Bolsonaro agem inutilmente para retirar as joias do poder da Receita. Há vídeos no aeroporto de Guarulhos;
  4. Outra parte das joias, que não foi retida, vai a leilão nos EUA na empresa especializada Fortuna Action House. Foi levada pelo ajudante de ordens do presidente;
  5. Bolsonaro recebe de seu ajudante de ordens um link com o leilão e responde: “Selva”;
  6. O pai do ajudante de ordens vende os relógios dados de presente e entrega o valor em cash para Bolsonaro em Miami (foi divulgada uma foto que representa o momento da negociação);
  7. Em depoimento à PF Bolsonaro nega que as joias tivessem saído do Brasil. Alega que estavam na fazenda do ex-piloto de F1, Nelson Piquet (o que é uma contradição com o item 5);
  8. De acordo com o artigo 312 do Código Penal, de 7 de dezembro de 1940, “Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio: Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa”.
Jair Bolsonaro, ex-presidente da República, foi indiciado pela PF Foto: Richard Lourenço/Agência Câmara

Vamos imaginar que sejamos robôs sem qualquer paixão política e que tivéssemos que aplicar a lei brasileira sobre o cidadão Jair Messias Bolsonaro, de 69 anos, nascido em Glicério, São Paulo, 21 de março de 1955. Robôs poderosos e sem sentimentos capazes de analisar todos os fatos passados, comparar com a legislação, e aplicá-la de maneira fria. Há como Bolsonaro não ser punido?

Os robôs são justos. Precisam ouvir as defesas. Mas o que temos até agora são reiteradas tentativas de dizer que o senhor Jair Messias Bolsonaro é vítima de perseguição política, que os juízes não são isentos. Mas as máquinas só conseguem se interessar se os fatos relatados podem ter alguma interpretação que poupe Bolsonaro. No máximo podem dizer que a foto não mostra que houve entrega de dinheiro ao ex-presidente (item 6). Se depender dos mecanismos, Bolsonaro está em apuros.

Mas o robôs, mesmo com suas enormes perspicácias analíticas, talvez não consigam entender o que é a militância e a paixão política. E fatos são muito pouco perto dos afetos. Como líder carismático, de milhões, Bolsonaro manterá seu apoio das multidões. Continuará sendo cumprimentado nos aeroportos e nos restaurantes. Segue líder popular. “Só acredito quando for condenado na última instância”, dirão os que procuram ganhar tempo enquanto desesperadamente procuram algo mais confiável para agarrar suas crenças.

Se for preso, como devem prescrever os robôs, Bolsonaro será visto por tantos como uma vítima de um sistema. Haverá rezas na porta de cadeia e gritos de “bom dia” e “boa noite” Bolsonaro. Sempre será possível dizer que o sistema poupou Lula “que desviou bilhões” para encarcerar seu oponente, um ex-capitão do exército defensor da “liberdade”, da “família” e dos “valores cristãos”. Uma vítima das elites que controlam o País, o que inclui mídia, Supremo Tribunal Federal e outros suspeitos de sempre.

Em caso como esses das joias sauditas, a suspeita é que em certos momentos, em situações limites, rejeitemos, como apaixonados políticos, até mesmo os acontecimentos factuais como algo que defina o que é verdade ou mentira, caso esses fatos perturbem as nossas sensibilidades e as nossas opiniões arraigadas. Ou seja, os chamados fatos dariam as cartas contanto que não firam de forma profunda a personalidade, a maneira como vemos as coisas mais sagradas, a nossa ideologia.

Os fatos que provariam cabalmente que Bolsonaro seria um “ladrão de joias” podem não significar nada para um admirador. Porém, os robôs ainda são muito primários para compreenderem como se dá o fanatismo, de qualquer lado.

Da lista abaixo o que não é fato?

  1. Pela lei é proibido a um agente público, incluindo um presidente da República, se apropriar de presentes de alto valor. É peculato. Os bens são propriedade do Estado;
  2. Jair Bolsonaro recebeu presentes de alto valor da família real da Arábia Saudita, como joias e relógio;
  3. Uma parte das joias foi apreendida pela Receita Federal em São Paulo. Assessores de Bolsonaro agem inutilmente para retirar as joias do poder da Receita. Há vídeos no aeroporto de Guarulhos;
  4. Outra parte das joias, que não foi retida, vai a leilão nos EUA na empresa especializada Fortuna Action House. Foi levada pelo ajudante de ordens do presidente;
  5. Bolsonaro recebe de seu ajudante de ordens um link com o leilão e responde: “Selva”;
  6. O pai do ajudante de ordens vende os relógios dados de presente e entrega o valor em cash para Bolsonaro em Miami (foi divulgada uma foto que representa o momento da negociação);
  7. Em depoimento à PF Bolsonaro nega que as joias tivessem saído do Brasil. Alega que estavam na fazenda do ex-piloto de F1, Nelson Piquet (o que é uma contradição com o item 5);
  8. De acordo com o artigo 312 do Código Penal, de 7 de dezembro de 1940, “Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio: Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa”.
Jair Bolsonaro, ex-presidente da República, foi indiciado pela PF Foto: Richard Lourenço/Agência Câmara

Vamos imaginar que sejamos robôs sem qualquer paixão política e que tivéssemos que aplicar a lei brasileira sobre o cidadão Jair Messias Bolsonaro, de 69 anos, nascido em Glicério, São Paulo, 21 de março de 1955. Robôs poderosos e sem sentimentos capazes de analisar todos os fatos passados, comparar com a legislação, e aplicá-la de maneira fria. Há como Bolsonaro não ser punido?

Os robôs são justos. Precisam ouvir as defesas. Mas o que temos até agora são reiteradas tentativas de dizer que o senhor Jair Messias Bolsonaro é vítima de perseguição política, que os juízes não são isentos. Mas as máquinas só conseguem se interessar se os fatos relatados podem ter alguma interpretação que poupe Bolsonaro. No máximo podem dizer que a foto não mostra que houve entrega de dinheiro ao ex-presidente (item 6). Se depender dos mecanismos, Bolsonaro está em apuros.

Mas o robôs, mesmo com suas enormes perspicácias analíticas, talvez não consigam entender o que é a militância e a paixão política. E fatos são muito pouco perto dos afetos. Como líder carismático, de milhões, Bolsonaro manterá seu apoio das multidões. Continuará sendo cumprimentado nos aeroportos e nos restaurantes. Segue líder popular. “Só acredito quando for condenado na última instância”, dirão os que procuram ganhar tempo enquanto desesperadamente procuram algo mais confiável para agarrar suas crenças.

Se for preso, como devem prescrever os robôs, Bolsonaro será visto por tantos como uma vítima de um sistema. Haverá rezas na porta de cadeia e gritos de “bom dia” e “boa noite” Bolsonaro. Sempre será possível dizer que o sistema poupou Lula “que desviou bilhões” para encarcerar seu oponente, um ex-capitão do exército defensor da “liberdade”, da “família” e dos “valores cristãos”. Uma vítima das elites que controlam o País, o que inclui mídia, Supremo Tribunal Federal e outros suspeitos de sempre.

Em caso como esses das joias sauditas, a suspeita é que em certos momentos, em situações limites, rejeitemos, como apaixonados políticos, até mesmo os acontecimentos factuais como algo que defina o que é verdade ou mentira, caso esses fatos perturbem as nossas sensibilidades e as nossas opiniões arraigadas. Ou seja, os chamados fatos dariam as cartas contanto que não firam de forma profunda a personalidade, a maneira como vemos as coisas mais sagradas, a nossa ideologia.

Os fatos que provariam cabalmente que Bolsonaro seria um “ladrão de joias” podem não significar nada para um admirador. Porém, os robôs ainda são muito primários para compreenderem como se dá o fanatismo, de qualquer lado.

Da lista abaixo o que não é fato?

  1. Pela lei é proibido a um agente público, incluindo um presidente da República, se apropriar de presentes de alto valor. É peculato. Os bens são propriedade do Estado;
  2. Jair Bolsonaro recebeu presentes de alto valor da família real da Arábia Saudita, como joias e relógio;
  3. Uma parte das joias foi apreendida pela Receita Federal em São Paulo. Assessores de Bolsonaro agem inutilmente para retirar as joias do poder da Receita. Há vídeos no aeroporto de Guarulhos;
  4. Outra parte das joias, que não foi retida, vai a leilão nos EUA na empresa especializada Fortuna Action House. Foi levada pelo ajudante de ordens do presidente;
  5. Bolsonaro recebe de seu ajudante de ordens um link com o leilão e responde: “Selva”;
  6. O pai do ajudante de ordens vende os relógios dados de presente e entrega o valor em cash para Bolsonaro em Miami (foi divulgada uma foto que representa o momento da negociação);
  7. Em depoimento à PF Bolsonaro nega que as joias tivessem saído do Brasil. Alega que estavam na fazenda do ex-piloto de F1, Nelson Piquet (o que é uma contradição com o item 5);
  8. De acordo com o artigo 312 do Código Penal, de 7 de dezembro de 1940, “Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio: Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa”.
Jair Bolsonaro, ex-presidente da República, foi indiciado pela PF Foto: Richard Lourenço/Agência Câmara

Vamos imaginar que sejamos robôs sem qualquer paixão política e que tivéssemos que aplicar a lei brasileira sobre o cidadão Jair Messias Bolsonaro, de 69 anos, nascido em Glicério, São Paulo, 21 de março de 1955. Robôs poderosos e sem sentimentos capazes de analisar todos os fatos passados, comparar com a legislação, e aplicá-la de maneira fria. Há como Bolsonaro não ser punido?

Os robôs são justos. Precisam ouvir as defesas. Mas o que temos até agora são reiteradas tentativas de dizer que o senhor Jair Messias Bolsonaro é vítima de perseguição política, que os juízes não são isentos. Mas as máquinas só conseguem se interessar se os fatos relatados podem ter alguma interpretação que poupe Bolsonaro. No máximo podem dizer que a foto não mostra que houve entrega de dinheiro ao ex-presidente (item 6). Se depender dos mecanismos, Bolsonaro está em apuros.

Mas o robôs, mesmo com suas enormes perspicácias analíticas, talvez não consigam entender o que é a militância e a paixão política. E fatos são muito pouco perto dos afetos. Como líder carismático, de milhões, Bolsonaro manterá seu apoio das multidões. Continuará sendo cumprimentado nos aeroportos e nos restaurantes. Segue líder popular. “Só acredito quando for condenado na última instância”, dirão os que procuram ganhar tempo enquanto desesperadamente procuram algo mais confiável para agarrar suas crenças.

Se for preso, como devem prescrever os robôs, Bolsonaro será visto por tantos como uma vítima de um sistema. Haverá rezas na porta de cadeia e gritos de “bom dia” e “boa noite” Bolsonaro. Sempre será possível dizer que o sistema poupou Lula “que desviou bilhões” para encarcerar seu oponente, um ex-capitão do exército defensor da “liberdade”, da “família” e dos “valores cristãos”. Uma vítima das elites que controlam o País, o que inclui mídia, Supremo Tribunal Federal e outros suspeitos de sempre.

Em caso como esses das joias sauditas, a suspeita é que em certos momentos, em situações limites, rejeitemos, como apaixonados políticos, até mesmo os acontecimentos factuais como algo que defina o que é verdade ou mentira, caso esses fatos perturbem as nossas sensibilidades e as nossas opiniões arraigadas. Ou seja, os chamados fatos dariam as cartas contanto que não firam de forma profunda a personalidade, a maneira como vemos as coisas mais sagradas, a nossa ideologia.

Os fatos que provariam cabalmente que Bolsonaro seria um “ladrão de joias” podem não significar nada para um admirador. Porém, os robôs ainda são muito primários para compreenderem como se dá o fanatismo, de qualquer lado.

Opinião por Fabiano Lana

Fabiano Lana é formado em Comunicação Social pela UFMG e em Filosofia pela UnB, onde também tem mestrado na área. Foi repórter do Jornal do Brasil, entre outros veículos. Atua como consultor de comunicação. É autor do livro “Riobaldo agarra sua morte”, em que discute interseções entre jornalismo, política e ética.

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