Disputas de poder e o debate político-cultural brasileiro

Opinião|Depois de tudo o que se sabe, qual a desculpa para alguém seguir bolsonarista?


Aos apoiadores, um karma neste momento mais difícil: precisam compreender que seu líder, a quem depositaram toda a esperança, talvez mereça ficar um longo período na cadeia

Por Fabiano Lana

É óbvio que precisamos esperar a decisão final da justiça. É evidente que serão necessários mais fatos revelados para que se elucide o verdadeiro papel do ex-presidente Jair Bolsonaro em toda essa conspirata que envolve golpes e até mesmo planejamento de assassinatos de candidatos eleitos e juiz da Suprema Corte, para se manter ilegalmente no poder. Mas depois de tudo o que já sabemos, seja de questões “menores”, como falsificação de cartão de vacina, ou mesmo de grandes urdiduras como tomar o poder à força pondo fim à democracia, qual a justificativa para alguém se tornar bolsonarista ou um mero admirador de Bolsonaro até os dias de hoje?

Porque está cada vez mais evidente que tivemos um governante pouco afeito a questões administrativas. Sua principal obsessão não eram os temas como tornar sua população mais próspera, mais autônoma, mais capaz de crescer de maneira sustentável frente a um futuro mundial incerto e turbulento. Eram sempre pequenas manias, obsessões mesquinhas como “desesquerdizar” as universidade, combater minorias. Antes fosse só isso. Havia sim, ao que tudo indica, aspiração e mesmo planejamento para que o Brasil se tornasse uma ditadura – nos moldes da Venezuela de Nicolás Maduro, mas, com ideologia invertida.

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Jair Bolsonaro, ex-presidente da República, que está no centro das investigações sobre a tentativa de um golpe de Estado Foto: Wilton Júnior/Estadão

Prevalecia o desprezo à democracia de um governo que começou com a seguinte frase: “para fechar o STF é preciso um jipe e um cabo”, dita por um arruaceiro que também atendia como deputado federal e filho do presidente eleito. Atenção, frase pronunciada antes que o STF começasse, talvez como contraponto, a se exacerbar de suas funções e combater a “extrema-direita”.

Por suas convicções íntimas antidemocráticas, Bolsonaro foi capaz de a todo momento tentar desmoralizar nosso processo eleitoral, na ladainha sem fim sobre fraudes nas urnas eletrônicas que nunca conseguiu comprovar. Por tudo isso, se filiar ao bolsonarismo hoje é estar do lado dos regimes autoritários, da subversão (detalhe da ironia da história que jogou o subversivo da esquerda para direita).

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Personagem cujo discurso sempre foi de destruição e não de construção, Bolsonaro se beneficiou de uma série de circunstâncias para chegar ao poder. Entre elas a fabulosa debacle econômica do governo de Dilma, que após seus experimentos heterodoxos na economia, elevou tanto a inflação como o desemprego ao patamar dos dois dígitos, assim como deixou o PIB negativo e o déficit colossal.

Bolsonaro se beneficiou também com os escândalos da Lava Jato que, de sua equipe de Curitiba, chefiada pela dupla Sergio Moro/Deltan Dallagnoll, feriu gravemente a esquerda e o PT; e de sua equipe de Brasília, liderada por Rodrigo Janot, que favoreceu o trabalho da antipolítica ao atingir o centro político. Num cenário de crise econômica e dos bilhões desviados, como uma barata de holocausto, Jair Bolsonaro vence as eleições contra um combalido Partido dos Trabalhadores representados pelo então “poste” Fernando Haddad. O vencedor, de quebra, tirou do armário milhões e milhões de brasileiros que passaram a se declarar abertamente de “direita” em todo lugar.

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Mas fora um lampejo liberal na economia (contra as convicções mais profundas do presidente, por sua trajetória, diga-se de passagem), reformas preparada ainda no governo Michel Temer, tivemos um governo marcado pelo bizarro, pelo absurdo, por regressões que só não podemos chamar de medievais porque a idade média foi um período até bem mais sofisticado do que a gente pensa.

“Ah, o outro lado é o Partido dos Trabalhadores’, irão alegar os empedernidos bolsonaristas. Na cabeça desses militantes da chamada extrema-direita, o PT na verdade é uma grande quadrilha e Lula é um dos seus cabeças, junto com José Dirceu (o amor do PT pelas ditaduras de esquerda e a tentativa de reescrever a história da Lava Jato não ajudam). Nisso, ao disputar com seu espelho invertido, os bolsonaristas conseguem quase a metade dos votos dos brasileiros e podem até repetir a dose. É dessa armadilha que precisamos nos livrar com urgência para retomarmos um mínimo consenso enquanto nação.

De um lado, quem está contra Bolsonaro precisa entender que seus adversários são brasileiros como os demais e precisam se integrar à nação. Aos bolsonaristas um karma neste momento mais difícil: precisam compreender que seu líder, a quem depositaram toda a esperança, talvez mereça ficar um longo período na cadeia, assim como todos que resolveram atravessar as quatro linhas da Constituição – o que incluí os vândalos (ou, se quiserem, golpistas), do já famigerado 8/1 de 2023, além de um bando de criminosos coniventes cujos nomes foram revelados no dia de hoje.

É óbvio que precisamos esperar a decisão final da justiça. É evidente que serão necessários mais fatos revelados para que se elucide o verdadeiro papel do ex-presidente Jair Bolsonaro em toda essa conspirata que envolve golpes e até mesmo planejamento de assassinatos de candidatos eleitos e juiz da Suprema Corte, para se manter ilegalmente no poder. Mas depois de tudo o que já sabemos, seja de questões “menores”, como falsificação de cartão de vacina, ou mesmo de grandes urdiduras como tomar o poder à força pondo fim à democracia, qual a justificativa para alguém se tornar bolsonarista ou um mero admirador de Bolsonaro até os dias de hoje?

Porque está cada vez mais evidente que tivemos um governante pouco afeito a questões administrativas. Sua principal obsessão não eram os temas como tornar sua população mais próspera, mais autônoma, mais capaz de crescer de maneira sustentável frente a um futuro mundial incerto e turbulento. Eram sempre pequenas manias, obsessões mesquinhas como “desesquerdizar” as universidade, combater minorias. Antes fosse só isso. Havia sim, ao que tudo indica, aspiração e mesmo planejamento para que o Brasil se tornasse uma ditadura – nos moldes da Venezuela de Nicolás Maduro, mas, com ideologia invertida.

Jair Bolsonaro, ex-presidente da República, que está no centro das investigações sobre a tentativa de um golpe de Estado Foto: Wilton Júnior/Estadão

Prevalecia o desprezo à democracia de um governo que começou com a seguinte frase: “para fechar o STF é preciso um jipe e um cabo”, dita por um arruaceiro que também atendia como deputado federal e filho do presidente eleito. Atenção, frase pronunciada antes que o STF começasse, talvez como contraponto, a se exacerbar de suas funções e combater a “extrema-direita”.

Por suas convicções íntimas antidemocráticas, Bolsonaro foi capaz de a todo momento tentar desmoralizar nosso processo eleitoral, na ladainha sem fim sobre fraudes nas urnas eletrônicas que nunca conseguiu comprovar. Por tudo isso, se filiar ao bolsonarismo hoje é estar do lado dos regimes autoritários, da subversão (detalhe da ironia da história que jogou o subversivo da esquerda para direita).

Personagem cujo discurso sempre foi de destruição e não de construção, Bolsonaro se beneficiou de uma série de circunstâncias para chegar ao poder. Entre elas a fabulosa debacle econômica do governo de Dilma, que após seus experimentos heterodoxos na economia, elevou tanto a inflação como o desemprego ao patamar dos dois dígitos, assim como deixou o PIB negativo e o déficit colossal.

Bolsonaro se beneficiou também com os escândalos da Lava Jato que, de sua equipe de Curitiba, chefiada pela dupla Sergio Moro/Deltan Dallagnoll, feriu gravemente a esquerda e o PT; e de sua equipe de Brasília, liderada por Rodrigo Janot, que favoreceu o trabalho da antipolítica ao atingir o centro político. Num cenário de crise econômica e dos bilhões desviados, como uma barata de holocausto, Jair Bolsonaro vence as eleições contra um combalido Partido dos Trabalhadores representados pelo então “poste” Fernando Haddad. O vencedor, de quebra, tirou do armário milhões e milhões de brasileiros que passaram a se declarar abertamente de “direita” em todo lugar.

Mas fora um lampejo liberal na economia (contra as convicções mais profundas do presidente, por sua trajetória, diga-se de passagem), reformas preparada ainda no governo Michel Temer, tivemos um governo marcado pelo bizarro, pelo absurdo, por regressões que só não podemos chamar de medievais porque a idade média foi um período até bem mais sofisticado do que a gente pensa.

“Ah, o outro lado é o Partido dos Trabalhadores’, irão alegar os empedernidos bolsonaristas. Na cabeça desses militantes da chamada extrema-direita, o PT na verdade é uma grande quadrilha e Lula é um dos seus cabeças, junto com José Dirceu (o amor do PT pelas ditaduras de esquerda e a tentativa de reescrever a história da Lava Jato não ajudam). Nisso, ao disputar com seu espelho invertido, os bolsonaristas conseguem quase a metade dos votos dos brasileiros e podem até repetir a dose. É dessa armadilha que precisamos nos livrar com urgência para retomarmos um mínimo consenso enquanto nação.

De um lado, quem está contra Bolsonaro precisa entender que seus adversários são brasileiros como os demais e precisam se integrar à nação. Aos bolsonaristas um karma neste momento mais difícil: precisam compreender que seu líder, a quem depositaram toda a esperança, talvez mereça ficar um longo período na cadeia, assim como todos que resolveram atravessar as quatro linhas da Constituição – o que incluí os vândalos (ou, se quiserem, golpistas), do já famigerado 8/1 de 2023, além de um bando de criminosos coniventes cujos nomes foram revelados no dia de hoje.

É óbvio que precisamos esperar a decisão final da justiça. É evidente que serão necessários mais fatos revelados para que se elucide o verdadeiro papel do ex-presidente Jair Bolsonaro em toda essa conspirata que envolve golpes e até mesmo planejamento de assassinatos de candidatos eleitos e juiz da Suprema Corte, para se manter ilegalmente no poder. Mas depois de tudo o que já sabemos, seja de questões “menores”, como falsificação de cartão de vacina, ou mesmo de grandes urdiduras como tomar o poder à força pondo fim à democracia, qual a justificativa para alguém se tornar bolsonarista ou um mero admirador de Bolsonaro até os dias de hoje?

Porque está cada vez mais evidente que tivemos um governante pouco afeito a questões administrativas. Sua principal obsessão não eram os temas como tornar sua população mais próspera, mais autônoma, mais capaz de crescer de maneira sustentável frente a um futuro mundial incerto e turbulento. Eram sempre pequenas manias, obsessões mesquinhas como “desesquerdizar” as universidade, combater minorias. Antes fosse só isso. Havia sim, ao que tudo indica, aspiração e mesmo planejamento para que o Brasil se tornasse uma ditadura – nos moldes da Venezuela de Nicolás Maduro, mas, com ideologia invertida.

Jair Bolsonaro, ex-presidente da República, que está no centro das investigações sobre a tentativa de um golpe de Estado Foto: Wilton Júnior/Estadão

Prevalecia o desprezo à democracia de um governo que começou com a seguinte frase: “para fechar o STF é preciso um jipe e um cabo”, dita por um arruaceiro que também atendia como deputado federal e filho do presidente eleito. Atenção, frase pronunciada antes que o STF começasse, talvez como contraponto, a se exacerbar de suas funções e combater a “extrema-direita”.

Por suas convicções íntimas antidemocráticas, Bolsonaro foi capaz de a todo momento tentar desmoralizar nosso processo eleitoral, na ladainha sem fim sobre fraudes nas urnas eletrônicas que nunca conseguiu comprovar. Por tudo isso, se filiar ao bolsonarismo hoje é estar do lado dos regimes autoritários, da subversão (detalhe da ironia da história que jogou o subversivo da esquerda para direita).

Personagem cujo discurso sempre foi de destruição e não de construção, Bolsonaro se beneficiou de uma série de circunstâncias para chegar ao poder. Entre elas a fabulosa debacle econômica do governo de Dilma, que após seus experimentos heterodoxos na economia, elevou tanto a inflação como o desemprego ao patamar dos dois dígitos, assim como deixou o PIB negativo e o déficit colossal.

Bolsonaro se beneficiou também com os escândalos da Lava Jato que, de sua equipe de Curitiba, chefiada pela dupla Sergio Moro/Deltan Dallagnoll, feriu gravemente a esquerda e o PT; e de sua equipe de Brasília, liderada por Rodrigo Janot, que favoreceu o trabalho da antipolítica ao atingir o centro político. Num cenário de crise econômica e dos bilhões desviados, como uma barata de holocausto, Jair Bolsonaro vence as eleições contra um combalido Partido dos Trabalhadores representados pelo então “poste” Fernando Haddad. O vencedor, de quebra, tirou do armário milhões e milhões de brasileiros que passaram a se declarar abertamente de “direita” em todo lugar.

Mas fora um lampejo liberal na economia (contra as convicções mais profundas do presidente, por sua trajetória, diga-se de passagem), reformas preparada ainda no governo Michel Temer, tivemos um governo marcado pelo bizarro, pelo absurdo, por regressões que só não podemos chamar de medievais porque a idade média foi um período até bem mais sofisticado do que a gente pensa.

“Ah, o outro lado é o Partido dos Trabalhadores’, irão alegar os empedernidos bolsonaristas. Na cabeça desses militantes da chamada extrema-direita, o PT na verdade é uma grande quadrilha e Lula é um dos seus cabeças, junto com José Dirceu (o amor do PT pelas ditaduras de esquerda e a tentativa de reescrever a história da Lava Jato não ajudam). Nisso, ao disputar com seu espelho invertido, os bolsonaristas conseguem quase a metade dos votos dos brasileiros e podem até repetir a dose. É dessa armadilha que precisamos nos livrar com urgência para retomarmos um mínimo consenso enquanto nação.

De um lado, quem está contra Bolsonaro precisa entender que seus adversários são brasileiros como os demais e precisam se integrar à nação. Aos bolsonaristas um karma neste momento mais difícil: precisam compreender que seu líder, a quem depositaram toda a esperança, talvez mereça ficar um longo período na cadeia, assim como todos que resolveram atravessar as quatro linhas da Constituição – o que incluí os vândalos (ou, se quiserem, golpistas), do já famigerado 8/1 de 2023, além de um bando de criminosos coniventes cujos nomes foram revelados no dia de hoje.

Opinião por Fabiano Lana

Fabiano Lana é formado em Comunicação Social pela UFMG e em Filosofia pela UnB, onde também tem mestrado na área. Foi repórter do Jornal do Brasil, entre outros veículos. Atua como consultor de comunicação. É autor do livro “Riobaldo agarra sua morte”, em que discute interseções entre jornalismo, política e ética.

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