Disputas de poder e o debate político-cultural brasileiro

Opinião|Eleitor centrista se torna o objeto de desejo das eleições em meio à polarização extrema


Verdadeiro centro brasileiro (não o centrão), praticamente não existe mais, mas eleitor que oscila que está distante dos dois polos tende a ser decisivo em qualquer disputa

Por Fabiano Lana

Para vencer eleições de agora em diante será preciso deixar de lado certos ranços ideológicos e partir para o pragmatismo eficiente. Em um país dividido em posições cristalizadas, à direita ou à esquerda, a margem de manobra torna-se cada vez menor. Proporcionalmente, são poucos os eleitores que realmente precisam ser conquistados. Neste período específico da história brasileira, quem de fato está em disputa são aqueles posicionados no centro político (favor não confundir com o centrão).

O centrista é muitas vezes um sem graça. Não milita na internet, não é histriônico, não tem grandes convicções, inclusive políticas, e está cheio de dúvidas. Em um período de exaltações e fanfarronices nos palanques, é um ser deslocado. É gente que pode ter votado em Bolsonaro em 2018, para se livrar do petismo, e em Lula em 2022, para se livrar do bolsonarismo, ou mesmo ter ficado debaixo da cama nos últimos segundos turnos presidenciais. E, por tudo isso, recebe rancor eterno de ambos os grupos políticos que dele precisam para triunfar.

Eduardo Leite é uma das poucas figuras ao centro que continuam colocadas, mas resultado da tragédia no Sul em seu capital político é incerto Foto: TABA BENEDICTO/ESTADÃO
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Os percentuais obtidos por Geraldo Alckmin em 2018 e Simone Tebet em 2022 não chegaram a 5%, o que indica uma decadência do voto ao centro no Brasil, uma tendência mundial. Porém, nas últimas eleições presidenciais, os 4,2% alcançados por Tebet eram formados por eleitores que se tornaram decisivos na direção do pêndulo de uma eleição tão acirrada. Logo, mais uma vez, será a hora de reconquistar esses sujeitos que os extremos costumam desprezar quando não são necessários.

Curioso é que esse movimento está por todos os lados. Há, por exemplo, um esforço em certos setores em torno do presidente Lula de colocá-lo como um político de perfil centrista, equilibrado. Certos posicionamentos do presidente em relação à guerra na Ucrânia, faixa de Gaza, Venezuela, Petrobras, equilíbrio de contas, livre-comércio vão em direção contrária - fizeram os poucos liberais que de fato existem no Brasil torcerem o nariz.

O movimento também tem outra estratégia: associar qualquer candidato de direita que apareça à intransigência do bolsonarismo. Como se fossem exatamente a mesma coisa. O que se quer com isso? Espantar os centristas que votaram no Lula não por amor, ao contrário, mas por não suportarem mais as bizarrices de um então presidente que, incapaz de sair de sua bolha, insistia em temas como cloroquina ou fraude nas urnas eletrônicas. Sem falar, obviamente, de sua relação problemática com as instituições democráticas.

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Os candidatos que se sobressaem na seara antipetista também movem suas peças. Tanto o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, como o de Minas Gerais, Romeu Zema, e de Goiás, Ronaldo Caiado, investem em seus figurinos como pessoas racionais e equilibradas. Sabem muito bem que, com o fato de Bolsonaro ter se tornado inelegível, são receptores potenciais de todos os votos da direita. Precisam se equilibrar para não irritar os mais extremistas, que exigem submissão às suas agendas, ao mesmo tempo conquistar os recalcitrantes comedidos.

Nas eleições municipais, a questão ideológica não costuma ser preponderante. Mobilidade urbana, coleta de lixo, iluminação pública tomam à frente. A exceção costuma ser São Paulo. Guilherme Boulos, por exemplo, tenta-se afastar do epípeto de invasor de moradias. Nesse sentido, cresce a figura do ministro da Fazenda Fernando Haddad, cujo esforço em ajustar as finanças seria um trunfo a apresentar aos moderados (a presidente do PT, Gleisi Hoffman, os faz fugir em debandada). Já o prefeito Ricardo Nunes certamente quer o apoio discreto de Bolsonaro, para conquistar os votos da seita do ex-capitão, e de preferência, após o anúncio, que o ex-presidente passe os seus dias, até o pleito, em sua casa em Angra.

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E o verdadeiro centro brasileiro (Não o centrão), como anda? Praticamente não existe mais. Um dos poucos representantes sobreviventes está na figura do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite. Talvez exatamente por suas tarefas no Executivo, tem renunciado ao debate nacional, inclusive quando foi presidente do PSDB. Também não se sabe qual a dimensão do dano que as chuvas torrenciais no Sul farão com sua imagem. Mas a verdade é que, hoje, nessa disputa sobre quem de fato representa o centro, o governador não tem se se apresentado como alternativa viável – a ver se mudam as nuvens da política.

De qualquer maneira, caso o ambiente se polarize novamente, no sentido de haver candidatos que representem a chamada “esquerda” ou “direita”, o padrão pode se repetir. Vencerá o que menos importunar o votante comedido. Terão dificuldade para isso.

Para vencer eleições de agora em diante será preciso deixar de lado certos ranços ideológicos e partir para o pragmatismo eficiente. Em um país dividido em posições cristalizadas, à direita ou à esquerda, a margem de manobra torna-se cada vez menor. Proporcionalmente, são poucos os eleitores que realmente precisam ser conquistados. Neste período específico da história brasileira, quem de fato está em disputa são aqueles posicionados no centro político (favor não confundir com o centrão).

O centrista é muitas vezes um sem graça. Não milita na internet, não é histriônico, não tem grandes convicções, inclusive políticas, e está cheio de dúvidas. Em um período de exaltações e fanfarronices nos palanques, é um ser deslocado. É gente que pode ter votado em Bolsonaro em 2018, para se livrar do petismo, e em Lula em 2022, para se livrar do bolsonarismo, ou mesmo ter ficado debaixo da cama nos últimos segundos turnos presidenciais. E, por tudo isso, recebe rancor eterno de ambos os grupos políticos que dele precisam para triunfar.

Eduardo Leite é uma das poucas figuras ao centro que continuam colocadas, mas resultado da tragédia no Sul em seu capital político é incerto Foto: TABA BENEDICTO/ESTADÃO

Os percentuais obtidos por Geraldo Alckmin em 2018 e Simone Tebet em 2022 não chegaram a 5%, o que indica uma decadência do voto ao centro no Brasil, uma tendência mundial. Porém, nas últimas eleições presidenciais, os 4,2% alcançados por Tebet eram formados por eleitores que se tornaram decisivos na direção do pêndulo de uma eleição tão acirrada. Logo, mais uma vez, será a hora de reconquistar esses sujeitos que os extremos costumam desprezar quando não são necessários.

Curioso é que esse movimento está por todos os lados. Há, por exemplo, um esforço em certos setores em torno do presidente Lula de colocá-lo como um político de perfil centrista, equilibrado. Certos posicionamentos do presidente em relação à guerra na Ucrânia, faixa de Gaza, Venezuela, Petrobras, equilíbrio de contas, livre-comércio vão em direção contrária - fizeram os poucos liberais que de fato existem no Brasil torcerem o nariz.

O movimento também tem outra estratégia: associar qualquer candidato de direita que apareça à intransigência do bolsonarismo. Como se fossem exatamente a mesma coisa. O que se quer com isso? Espantar os centristas que votaram no Lula não por amor, ao contrário, mas por não suportarem mais as bizarrices de um então presidente que, incapaz de sair de sua bolha, insistia em temas como cloroquina ou fraude nas urnas eletrônicas. Sem falar, obviamente, de sua relação problemática com as instituições democráticas.

Os candidatos que se sobressaem na seara antipetista também movem suas peças. Tanto o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, como o de Minas Gerais, Romeu Zema, e de Goiás, Ronaldo Caiado, investem em seus figurinos como pessoas racionais e equilibradas. Sabem muito bem que, com o fato de Bolsonaro ter se tornado inelegível, são receptores potenciais de todos os votos da direita. Precisam se equilibrar para não irritar os mais extremistas, que exigem submissão às suas agendas, ao mesmo tempo conquistar os recalcitrantes comedidos.

Nas eleições municipais, a questão ideológica não costuma ser preponderante. Mobilidade urbana, coleta de lixo, iluminação pública tomam à frente. A exceção costuma ser São Paulo. Guilherme Boulos, por exemplo, tenta-se afastar do epípeto de invasor de moradias. Nesse sentido, cresce a figura do ministro da Fazenda Fernando Haddad, cujo esforço em ajustar as finanças seria um trunfo a apresentar aos moderados (a presidente do PT, Gleisi Hoffman, os faz fugir em debandada). Já o prefeito Ricardo Nunes certamente quer o apoio discreto de Bolsonaro, para conquistar os votos da seita do ex-capitão, e de preferência, após o anúncio, que o ex-presidente passe os seus dias, até o pleito, em sua casa em Angra.

E o verdadeiro centro brasileiro (Não o centrão), como anda? Praticamente não existe mais. Um dos poucos representantes sobreviventes está na figura do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite. Talvez exatamente por suas tarefas no Executivo, tem renunciado ao debate nacional, inclusive quando foi presidente do PSDB. Também não se sabe qual a dimensão do dano que as chuvas torrenciais no Sul farão com sua imagem. Mas a verdade é que, hoje, nessa disputa sobre quem de fato representa o centro, o governador não tem se se apresentado como alternativa viável – a ver se mudam as nuvens da política.

De qualquer maneira, caso o ambiente se polarize novamente, no sentido de haver candidatos que representem a chamada “esquerda” ou “direita”, o padrão pode se repetir. Vencerá o que menos importunar o votante comedido. Terão dificuldade para isso.

Para vencer eleições de agora em diante será preciso deixar de lado certos ranços ideológicos e partir para o pragmatismo eficiente. Em um país dividido em posições cristalizadas, à direita ou à esquerda, a margem de manobra torna-se cada vez menor. Proporcionalmente, são poucos os eleitores que realmente precisam ser conquistados. Neste período específico da história brasileira, quem de fato está em disputa são aqueles posicionados no centro político (favor não confundir com o centrão).

O centrista é muitas vezes um sem graça. Não milita na internet, não é histriônico, não tem grandes convicções, inclusive políticas, e está cheio de dúvidas. Em um período de exaltações e fanfarronices nos palanques, é um ser deslocado. É gente que pode ter votado em Bolsonaro em 2018, para se livrar do petismo, e em Lula em 2022, para se livrar do bolsonarismo, ou mesmo ter ficado debaixo da cama nos últimos segundos turnos presidenciais. E, por tudo isso, recebe rancor eterno de ambos os grupos políticos que dele precisam para triunfar.

Eduardo Leite é uma das poucas figuras ao centro que continuam colocadas, mas resultado da tragédia no Sul em seu capital político é incerto Foto: TABA BENEDICTO/ESTADÃO

Os percentuais obtidos por Geraldo Alckmin em 2018 e Simone Tebet em 2022 não chegaram a 5%, o que indica uma decadência do voto ao centro no Brasil, uma tendência mundial. Porém, nas últimas eleições presidenciais, os 4,2% alcançados por Tebet eram formados por eleitores que se tornaram decisivos na direção do pêndulo de uma eleição tão acirrada. Logo, mais uma vez, será a hora de reconquistar esses sujeitos que os extremos costumam desprezar quando não são necessários.

Curioso é que esse movimento está por todos os lados. Há, por exemplo, um esforço em certos setores em torno do presidente Lula de colocá-lo como um político de perfil centrista, equilibrado. Certos posicionamentos do presidente em relação à guerra na Ucrânia, faixa de Gaza, Venezuela, Petrobras, equilíbrio de contas, livre-comércio vão em direção contrária - fizeram os poucos liberais que de fato existem no Brasil torcerem o nariz.

O movimento também tem outra estratégia: associar qualquer candidato de direita que apareça à intransigência do bolsonarismo. Como se fossem exatamente a mesma coisa. O que se quer com isso? Espantar os centristas que votaram no Lula não por amor, ao contrário, mas por não suportarem mais as bizarrices de um então presidente que, incapaz de sair de sua bolha, insistia em temas como cloroquina ou fraude nas urnas eletrônicas. Sem falar, obviamente, de sua relação problemática com as instituições democráticas.

Os candidatos que se sobressaem na seara antipetista também movem suas peças. Tanto o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, como o de Minas Gerais, Romeu Zema, e de Goiás, Ronaldo Caiado, investem em seus figurinos como pessoas racionais e equilibradas. Sabem muito bem que, com o fato de Bolsonaro ter se tornado inelegível, são receptores potenciais de todos os votos da direita. Precisam se equilibrar para não irritar os mais extremistas, que exigem submissão às suas agendas, ao mesmo tempo conquistar os recalcitrantes comedidos.

Nas eleições municipais, a questão ideológica não costuma ser preponderante. Mobilidade urbana, coleta de lixo, iluminação pública tomam à frente. A exceção costuma ser São Paulo. Guilherme Boulos, por exemplo, tenta-se afastar do epípeto de invasor de moradias. Nesse sentido, cresce a figura do ministro da Fazenda Fernando Haddad, cujo esforço em ajustar as finanças seria um trunfo a apresentar aos moderados (a presidente do PT, Gleisi Hoffman, os faz fugir em debandada). Já o prefeito Ricardo Nunes certamente quer o apoio discreto de Bolsonaro, para conquistar os votos da seita do ex-capitão, e de preferência, após o anúncio, que o ex-presidente passe os seus dias, até o pleito, em sua casa em Angra.

E o verdadeiro centro brasileiro (Não o centrão), como anda? Praticamente não existe mais. Um dos poucos representantes sobreviventes está na figura do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite. Talvez exatamente por suas tarefas no Executivo, tem renunciado ao debate nacional, inclusive quando foi presidente do PSDB. Também não se sabe qual a dimensão do dano que as chuvas torrenciais no Sul farão com sua imagem. Mas a verdade é que, hoje, nessa disputa sobre quem de fato representa o centro, o governador não tem se se apresentado como alternativa viável – a ver se mudam as nuvens da política.

De qualquer maneira, caso o ambiente se polarize novamente, no sentido de haver candidatos que representem a chamada “esquerda” ou “direita”, o padrão pode se repetir. Vencerá o que menos importunar o votante comedido. Terão dificuldade para isso.

Opinião por Fabiano Lana

Fabiano Lana é formado em Comunicação Social pela UFMG e em Filosofia pela UnB, onde também tem mestrado na área. Foi repórter do Jornal do Brasil, entre outros veículos. Atua como consultor de comunicação. É autor do livro “Riobaldo agarra sua morte”, em que discute interseções entre jornalismo, política e ética.

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