Disputas de poder e o debate político-cultural brasileiro

Opinião|Em busca de vocações econômicas, o sertão é tecnológico e criativo


O som ao redor mudou: não tem mais ‘o rico anda de burrico e o pobre anda a pé'; os ricos têm caminhonetes potentes e os pobres andam de motos de baixa cilindrada

Por Fabiano Lana
Atualização:

O Nordeste brasileiro, principalmente o sertão, sempre foi celebrado na cultura brasileira como um local de seca, de pobreza, de inspiração, de curiosidade sociológica dos “sudestinos”, e até mesmo pelo sofrimento de seus moradores. Além dos milhares de imigrantes que por décadas se deslocaram para o Sul, o sertão nos ofereceu, por meio de nossos melhores artistas, obras-primas como o romance Vidas Secas, de Graciliano Ramos; o Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna; as canções Vozes da Seca e Asa Branca, de Luiz Gonzaga; ou as peças em barro de mestre Vitalino, de Caruaru. São obras que se tornaram parte do imaginário dos brasileiros, rurais ou urbanos, de qualquer região do País. Atualmente, o sertão, como palco de objeto cultural, voltou à moda com a série “Cangaço Novo”.

Em muitos aspectos, o sertão ainda parece ter parado no tempo. Ao se chegar nas pequenas cidades há velhos nas janelas e senhoras atravessando as ruas com sombrinhas para fugir do calor. Todos são acolhedores e hospitaleiros. Ainda há pouca água e preocupação com a falta de chuva. Continua a paisagem da caatinga - com seus galhos emaranhados, cactos, árvores barrigudas, ipês floridos, bromélias, palma – que nos tempos de seca fica cinza e que se esverdeia nas primeiras chuvas. Bodes e cabras com sinos ainda pastam no meio da aridez. A paisagem das serras e chapadas, os personagens, e os bichos do sertão, como o pássaro Araquan, as formigas carnívoras ou o lagarto Teju, continuam impactantes.

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Mas o som ao redor mudou. Saíram jumentos e mulas, mais raros. Não tem mais “o rico anda de burrico e o pobre anda a pé”. Os ricos têm caminhonetes potentes e os pobres andam de motos de baixa cilindrada. Há motocicleta em todo canto, nas áreas urbanas e rurais. Levam pessoas solitárias, casais, famílias. A criatividade nordestina tem transformado motos em triciclos utilizando-se eixos de carros abandonados em ferros-velhos. Dessa maneira, há motos de três lugares, moto-caminhonete e moto de até dez lugares. A moto é o novo animal de transporte brasileiro.

As estatísticas mostram que uma das regiões em que a religião católica mais resiste ao avanço evangélico é no Nordeste. Talvez não por muito tempo. Tome-se o caso do Vale do Catimbau, na transição entre o agreste e o sertão no estado de Pernambuco. Com menos de dois mil habitantes, a vila ali localizada possui 12 igrejas evangélicas. No final tarde de domingo, parece que toda a população do lugarejo colocou seus melhores e mais recatados trajes para orar. São famílias inteiras, dos idosos às crianças, caminhado sob as últimas luzes do sol, carregando bíblias de capa de plástico preto, sob olhares de alguns bêbados que ainda subsistem nos botecos. Já a igreja católica, na praça principal, ninguém se lembrava qual foi a última vez que teve uma missa celebrada. A averiguar se essa mudança na religião irá afetar o voto, já que o interior do Nordeste se mantém fortemente lulista/petista nas eleições presidenciais.

A série Cangaço Novo tem sido celebrada por causa das excelentes cenas de ação envolvendo assaltos a banco no interior do Ceará. Mas a obra está desatualizada. As agências bancárias estão desaparecendo não só pelos roubos, mas também por causa do Pix. O Pix é cobrado nos restaurantes, nas lojas de artesanato, pelas manicures, nos postos de gasolina e nos pousos para dormir. Todo mundo tem celular, principalmente para enviar áudios, quase todo mundo cobra pelos seus serviços em Pix, que se tornou uma mania nacional. Tente pagar em cartão que irão te pedir para fazer um Pix.

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A indumentária, há décadas, não é o gibão de couro - a vestimenta descendente da jubba árabe que por séculos dominou a região. Compradas nas feiras, hoje as roupas são as produzidas pelo polo de confecção do Agreste, como no município de Santa Cruz do Capibaribe, mas que está sendo sufocado pelas importações industriais chinesas.

Preponderam as camisetas e shorts de nylon, muitas vezes em estampas coloridas ou com inscrição em inglês. As sandálias de couro foram substituídas pelos chinelos de borracha. O chapéu típico por um boné – em outubro de 2023 domina o boné do time de beisebol americano New York Yankes, pirata. Quem quiser se aprofundar sobre esse assunto deve assistir ao documentário “Estou me guardando para o carnaval chegar”, sobre os empreendedores da confecção de Toritama (PE), uma das cidades mais liberais do Brasil.

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As casas de pau-a-pique, cor de barro, com locais externos que serviam como banheiros, estão cada vez mais atípicas. Os domicílios com paredes coloridas, graciosos, com telhados inclinados, também estão desaparecendo. Passaram a dominar a paisagem as residências e comércios de tijolos (aparentes ou coberto por azulejos), de estrutura de ângulos retos, com caixas d’água azuis sobre as lajes. O que se perde em estética (muito), pode ser que se ganhe em qualidade de vida, pois as novas casas possuem água encanada e, por exemplo, são menos sujeitas a infecção de barbeiros que trazem a Doença de Chagas, que por séculos foi uma praga comum de Minas para o Norte.

Não se escuta tanto Luiz Gonzaga. Os principais ritmos do forró (xaxado, coco, baião e xote) evoluíram para a pisadinha, de cantores como João Gomes, em que o forró se torna eletrônico e o trio acordeom, zabumba e triângulo pode dar lugar a um teclado com ritmos pré-programados. Esse estilo é tocado até nas igrejas evangélicas no estilo pisadinha gospel. Como no filme, O Céu de Suely, versões tecnopops traduzidas de sucessos internacionais ainda se ouvem nos bares e restaurantes, em que a carne de bode é iguaria e o roedor preá, mesmo com restrições de órgãos ambientais, é também um tira-gosto admirado junto com a cachaça Pitú.

Emprego continua difícil. Se não fossem os auxílios governamentais como o Bolsa Família e a aposentadoria para os idosos, a imigração para o Sudeste ou agora para o Centro-Oeste, não iria parar. Pessoas sem qualificação conseguem trabalhar na agricultura, mas apenas nos tempos de chuva. Na seca, esperam. Uma esperança pode estar no fato de que cada vez mais as pessoas têm valorizado a educação, incluindo cursos superiores, mesmo que à distância. A conferir.

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A sensação de insegurança também cresceu exponencialmente nos últimos anos. As casas agora estão com cercas e grades. Inclusive, condomínios horizontais do Programa Minha Casa Minha Vida, logo depois de inaugurados, ganham muros construídos pelos próprios moradores em busca de proteção. Temem dos pequenos furtos ao cangaço novo. A milícia, que já domina as regiões metropolitanas, aproxima-se do sertão.

Se a análise é de longo prazo, os índices sociais mais importantes como mortalidade infantil, expectativa de vida ou saneamento tem melhorado no Nordeste – basta buscar os números oficiais. Não na velocidade necessária, mas a passos lentos.

Falta muito e o desafio está posto. O sertão brasileiro continua em busca de sua vocação econômica adaptada aos tempos atuais para sobreviver em um mundo tão conectado e competitivo. No caso de Pernambuco, uma obra tão esperada como a ferrovia Transnordestina até o porto de Suape, foi prometida para ficar pronta em 2010 e quase nada aconteceu no estado, o que enseja certo desânimo. No entanto, cabe aos que formulam as políticas públicas do Brasil apresentarem uma solução viável para a população que vive na terra. Criativos, trabalhadores, sobretudo fortes, os sertanejos, que serão a mão de obra e os beneficiados deste sertão sustentável, são um bônus e só têm a colaborar para uma era de desenvolvimento mais do que merecida.

O Nordeste brasileiro, principalmente o sertão, sempre foi celebrado na cultura brasileira como um local de seca, de pobreza, de inspiração, de curiosidade sociológica dos “sudestinos”, e até mesmo pelo sofrimento de seus moradores. Além dos milhares de imigrantes que por décadas se deslocaram para o Sul, o sertão nos ofereceu, por meio de nossos melhores artistas, obras-primas como o romance Vidas Secas, de Graciliano Ramos; o Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna; as canções Vozes da Seca e Asa Branca, de Luiz Gonzaga; ou as peças em barro de mestre Vitalino, de Caruaru. São obras que se tornaram parte do imaginário dos brasileiros, rurais ou urbanos, de qualquer região do País. Atualmente, o sertão, como palco de objeto cultural, voltou à moda com a série “Cangaço Novo”.

Em muitos aspectos, o sertão ainda parece ter parado no tempo. Ao se chegar nas pequenas cidades há velhos nas janelas e senhoras atravessando as ruas com sombrinhas para fugir do calor. Todos são acolhedores e hospitaleiros. Ainda há pouca água e preocupação com a falta de chuva. Continua a paisagem da caatinga - com seus galhos emaranhados, cactos, árvores barrigudas, ipês floridos, bromélias, palma – que nos tempos de seca fica cinza e que se esverdeia nas primeiras chuvas. Bodes e cabras com sinos ainda pastam no meio da aridez. A paisagem das serras e chapadas, os personagens, e os bichos do sertão, como o pássaro Araquan, as formigas carnívoras ou o lagarto Teju, continuam impactantes.

Mas o som ao redor mudou. Saíram jumentos e mulas, mais raros. Não tem mais “o rico anda de burrico e o pobre anda a pé”. Os ricos têm caminhonetes potentes e os pobres andam de motos de baixa cilindrada. Há motocicleta em todo canto, nas áreas urbanas e rurais. Levam pessoas solitárias, casais, famílias. A criatividade nordestina tem transformado motos em triciclos utilizando-se eixos de carros abandonados em ferros-velhos. Dessa maneira, há motos de três lugares, moto-caminhonete e moto de até dez lugares. A moto é o novo animal de transporte brasileiro.

As estatísticas mostram que uma das regiões em que a religião católica mais resiste ao avanço evangélico é no Nordeste. Talvez não por muito tempo. Tome-se o caso do Vale do Catimbau, na transição entre o agreste e o sertão no estado de Pernambuco. Com menos de dois mil habitantes, a vila ali localizada possui 12 igrejas evangélicas. No final tarde de domingo, parece que toda a população do lugarejo colocou seus melhores e mais recatados trajes para orar. São famílias inteiras, dos idosos às crianças, caminhado sob as últimas luzes do sol, carregando bíblias de capa de plástico preto, sob olhares de alguns bêbados que ainda subsistem nos botecos. Já a igreja católica, na praça principal, ninguém se lembrava qual foi a última vez que teve uma missa celebrada. A averiguar se essa mudança na religião irá afetar o voto, já que o interior do Nordeste se mantém fortemente lulista/petista nas eleições presidenciais.

A série Cangaço Novo tem sido celebrada por causa das excelentes cenas de ação envolvendo assaltos a banco no interior do Ceará. Mas a obra está desatualizada. As agências bancárias estão desaparecendo não só pelos roubos, mas também por causa do Pix. O Pix é cobrado nos restaurantes, nas lojas de artesanato, pelas manicures, nos postos de gasolina e nos pousos para dormir. Todo mundo tem celular, principalmente para enviar áudios, quase todo mundo cobra pelos seus serviços em Pix, que se tornou uma mania nacional. Tente pagar em cartão que irão te pedir para fazer um Pix.

A indumentária, há décadas, não é o gibão de couro - a vestimenta descendente da jubba árabe que por séculos dominou a região. Compradas nas feiras, hoje as roupas são as produzidas pelo polo de confecção do Agreste, como no município de Santa Cruz do Capibaribe, mas que está sendo sufocado pelas importações industriais chinesas.

Preponderam as camisetas e shorts de nylon, muitas vezes em estampas coloridas ou com inscrição em inglês. As sandálias de couro foram substituídas pelos chinelos de borracha. O chapéu típico por um boné – em outubro de 2023 domina o boné do time de beisebol americano New York Yankes, pirata. Quem quiser se aprofundar sobre esse assunto deve assistir ao documentário “Estou me guardando para o carnaval chegar”, sobre os empreendedores da confecção de Toritama (PE), uma das cidades mais liberais do Brasil.

As casas de pau-a-pique, cor de barro, com locais externos que serviam como banheiros, estão cada vez mais atípicas. Os domicílios com paredes coloridas, graciosos, com telhados inclinados, também estão desaparecendo. Passaram a dominar a paisagem as residências e comércios de tijolos (aparentes ou coberto por azulejos), de estrutura de ângulos retos, com caixas d’água azuis sobre as lajes. O que se perde em estética (muito), pode ser que se ganhe em qualidade de vida, pois as novas casas possuem água encanada e, por exemplo, são menos sujeitas a infecção de barbeiros que trazem a Doença de Chagas, que por séculos foi uma praga comum de Minas para o Norte.

Não se escuta tanto Luiz Gonzaga. Os principais ritmos do forró (xaxado, coco, baião e xote) evoluíram para a pisadinha, de cantores como João Gomes, em que o forró se torna eletrônico e o trio acordeom, zabumba e triângulo pode dar lugar a um teclado com ritmos pré-programados. Esse estilo é tocado até nas igrejas evangélicas no estilo pisadinha gospel. Como no filme, O Céu de Suely, versões tecnopops traduzidas de sucessos internacionais ainda se ouvem nos bares e restaurantes, em que a carne de bode é iguaria e o roedor preá, mesmo com restrições de órgãos ambientais, é também um tira-gosto admirado junto com a cachaça Pitú.

Emprego continua difícil. Se não fossem os auxílios governamentais como o Bolsa Família e a aposentadoria para os idosos, a imigração para o Sudeste ou agora para o Centro-Oeste, não iria parar. Pessoas sem qualificação conseguem trabalhar na agricultura, mas apenas nos tempos de chuva. Na seca, esperam. Uma esperança pode estar no fato de que cada vez mais as pessoas têm valorizado a educação, incluindo cursos superiores, mesmo que à distância. A conferir.

A sensação de insegurança também cresceu exponencialmente nos últimos anos. As casas agora estão com cercas e grades. Inclusive, condomínios horizontais do Programa Minha Casa Minha Vida, logo depois de inaugurados, ganham muros construídos pelos próprios moradores em busca de proteção. Temem dos pequenos furtos ao cangaço novo. A milícia, que já domina as regiões metropolitanas, aproxima-se do sertão.

Se a análise é de longo prazo, os índices sociais mais importantes como mortalidade infantil, expectativa de vida ou saneamento tem melhorado no Nordeste – basta buscar os números oficiais. Não na velocidade necessária, mas a passos lentos.

Falta muito e o desafio está posto. O sertão brasileiro continua em busca de sua vocação econômica adaptada aos tempos atuais para sobreviver em um mundo tão conectado e competitivo. No caso de Pernambuco, uma obra tão esperada como a ferrovia Transnordestina até o porto de Suape, foi prometida para ficar pronta em 2010 e quase nada aconteceu no estado, o que enseja certo desânimo. No entanto, cabe aos que formulam as políticas públicas do Brasil apresentarem uma solução viável para a população que vive na terra. Criativos, trabalhadores, sobretudo fortes, os sertanejos, que serão a mão de obra e os beneficiados deste sertão sustentável, são um bônus e só têm a colaborar para uma era de desenvolvimento mais do que merecida.

O Nordeste brasileiro, principalmente o sertão, sempre foi celebrado na cultura brasileira como um local de seca, de pobreza, de inspiração, de curiosidade sociológica dos “sudestinos”, e até mesmo pelo sofrimento de seus moradores. Além dos milhares de imigrantes que por décadas se deslocaram para o Sul, o sertão nos ofereceu, por meio de nossos melhores artistas, obras-primas como o romance Vidas Secas, de Graciliano Ramos; o Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna; as canções Vozes da Seca e Asa Branca, de Luiz Gonzaga; ou as peças em barro de mestre Vitalino, de Caruaru. São obras que se tornaram parte do imaginário dos brasileiros, rurais ou urbanos, de qualquer região do País. Atualmente, o sertão, como palco de objeto cultural, voltou à moda com a série “Cangaço Novo”.

Em muitos aspectos, o sertão ainda parece ter parado no tempo. Ao se chegar nas pequenas cidades há velhos nas janelas e senhoras atravessando as ruas com sombrinhas para fugir do calor. Todos são acolhedores e hospitaleiros. Ainda há pouca água e preocupação com a falta de chuva. Continua a paisagem da caatinga - com seus galhos emaranhados, cactos, árvores barrigudas, ipês floridos, bromélias, palma – que nos tempos de seca fica cinza e que se esverdeia nas primeiras chuvas. Bodes e cabras com sinos ainda pastam no meio da aridez. A paisagem das serras e chapadas, os personagens, e os bichos do sertão, como o pássaro Araquan, as formigas carnívoras ou o lagarto Teju, continuam impactantes.

Mas o som ao redor mudou. Saíram jumentos e mulas, mais raros. Não tem mais “o rico anda de burrico e o pobre anda a pé”. Os ricos têm caminhonetes potentes e os pobres andam de motos de baixa cilindrada. Há motocicleta em todo canto, nas áreas urbanas e rurais. Levam pessoas solitárias, casais, famílias. A criatividade nordestina tem transformado motos em triciclos utilizando-se eixos de carros abandonados em ferros-velhos. Dessa maneira, há motos de três lugares, moto-caminhonete e moto de até dez lugares. A moto é o novo animal de transporte brasileiro.

As estatísticas mostram que uma das regiões em que a religião católica mais resiste ao avanço evangélico é no Nordeste. Talvez não por muito tempo. Tome-se o caso do Vale do Catimbau, na transição entre o agreste e o sertão no estado de Pernambuco. Com menos de dois mil habitantes, a vila ali localizada possui 12 igrejas evangélicas. No final tarde de domingo, parece que toda a população do lugarejo colocou seus melhores e mais recatados trajes para orar. São famílias inteiras, dos idosos às crianças, caminhado sob as últimas luzes do sol, carregando bíblias de capa de plástico preto, sob olhares de alguns bêbados que ainda subsistem nos botecos. Já a igreja católica, na praça principal, ninguém se lembrava qual foi a última vez que teve uma missa celebrada. A averiguar se essa mudança na religião irá afetar o voto, já que o interior do Nordeste se mantém fortemente lulista/petista nas eleições presidenciais.

A série Cangaço Novo tem sido celebrada por causa das excelentes cenas de ação envolvendo assaltos a banco no interior do Ceará. Mas a obra está desatualizada. As agências bancárias estão desaparecendo não só pelos roubos, mas também por causa do Pix. O Pix é cobrado nos restaurantes, nas lojas de artesanato, pelas manicures, nos postos de gasolina e nos pousos para dormir. Todo mundo tem celular, principalmente para enviar áudios, quase todo mundo cobra pelos seus serviços em Pix, que se tornou uma mania nacional. Tente pagar em cartão que irão te pedir para fazer um Pix.

A indumentária, há décadas, não é o gibão de couro - a vestimenta descendente da jubba árabe que por séculos dominou a região. Compradas nas feiras, hoje as roupas são as produzidas pelo polo de confecção do Agreste, como no município de Santa Cruz do Capibaribe, mas que está sendo sufocado pelas importações industriais chinesas.

Preponderam as camisetas e shorts de nylon, muitas vezes em estampas coloridas ou com inscrição em inglês. As sandálias de couro foram substituídas pelos chinelos de borracha. O chapéu típico por um boné – em outubro de 2023 domina o boné do time de beisebol americano New York Yankes, pirata. Quem quiser se aprofundar sobre esse assunto deve assistir ao documentário “Estou me guardando para o carnaval chegar”, sobre os empreendedores da confecção de Toritama (PE), uma das cidades mais liberais do Brasil.

As casas de pau-a-pique, cor de barro, com locais externos que serviam como banheiros, estão cada vez mais atípicas. Os domicílios com paredes coloridas, graciosos, com telhados inclinados, também estão desaparecendo. Passaram a dominar a paisagem as residências e comércios de tijolos (aparentes ou coberto por azulejos), de estrutura de ângulos retos, com caixas d’água azuis sobre as lajes. O que se perde em estética (muito), pode ser que se ganhe em qualidade de vida, pois as novas casas possuem água encanada e, por exemplo, são menos sujeitas a infecção de barbeiros que trazem a Doença de Chagas, que por séculos foi uma praga comum de Minas para o Norte.

Não se escuta tanto Luiz Gonzaga. Os principais ritmos do forró (xaxado, coco, baião e xote) evoluíram para a pisadinha, de cantores como João Gomes, em que o forró se torna eletrônico e o trio acordeom, zabumba e triângulo pode dar lugar a um teclado com ritmos pré-programados. Esse estilo é tocado até nas igrejas evangélicas no estilo pisadinha gospel. Como no filme, O Céu de Suely, versões tecnopops traduzidas de sucessos internacionais ainda se ouvem nos bares e restaurantes, em que a carne de bode é iguaria e o roedor preá, mesmo com restrições de órgãos ambientais, é também um tira-gosto admirado junto com a cachaça Pitú.

Emprego continua difícil. Se não fossem os auxílios governamentais como o Bolsa Família e a aposentadoria para os idosos, a imigração para o Sudeste ou agora para o Centro-Oeste, não iria parar. Pessoas sem qualificação conseguem trabalhar na agricultura, mas apenas nos tempos de chuva. Na seca, esperam. Uma esperança pode estar no fato de que cada vez mais as pessoas têm valorizado a educação, incluindo cursos superiores, mesmo que à distância. A conferir.

A sensação de insegurança também cresceu exponencialmente nos últimos anos. As casas agora estão com cercas e grades. Inclusive, condomínios horizontais do Programa Minha Casa Minha Vida, logo depois de inaugurados, ganham muros construídos pelos próprios moradores em busca de proteção. Temem dos pequenos furtos ao cangaço novo. A milícia, que já domina as regiões metropolitanas, aproxima-se do sertão.

Se a análise é de longo prazo, os índices sociais mais importantes como mortalidade infantil, expectativa de vida ou saneamento tem melhorado no Nordeste – basta buscar os números oficiais. Não na velocidade necessária, mas a passos lentos.

Falta muito e o desafio está posto. O sertão brasileiro continua em busca de sua vocação econômica adaptada aos tempos atuais para sobreviver em um mundo tão conectado e competitivo. No caso de Pernambuco, uma obra tão esperada como a ferrovia Transnordestina até o porto de Suape, foi prometida para ficar pronta em 2010 e quase nada aconteceu no estado, o que enseja certo desânimo. No entanto, cabe aos que formulam as políticas públicas do Brasil apresentarem uma solução viável para a população que vive na terra. Criativos, trabalhadores, sobretudo fortes, os sertanejos, que serão a mão de obra e os beneficiados deste sertão sustentável, são um bônus e só têm a colaborar para uma era de desenvolvimento mais do que merecida.

O Nordeste brasileiro, principalmente o sertão, sempre foi celebrado na cultura brasileira como um local de seca, de pobreza, de inspiração, de curiosidade sociológica dos “sudestinos”, e até mesmo pelo sofrimento de seus moradores. Além dos milhares de imigrantes que por décadas se deslocaram para o Sul, o sertão nos ofereceu, por meio de nossos melhores artistas, obras-primas como o romance Vidas Secas, de Graciliano Ramos; o Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna; as canções Vozes da Seca e Asa Branca, de Luiz Gonzaga; ou as peças em barro de mestre Vitalino, de Caruaru. São obras que se tornaram parte do imaginário dos brasileiros, rurais ou urbanos, de qualquer região do País. Atualmente, o sertão, como palco de objeto cultural, voltou à moda com a série “Cangaço Novo”.

Em muitos aspectos, o sertão ainda parece ter parado no tempo. Ao se chegar nas pequenas cidades há velhos nas janelas e senhoras atravessando as ruas com sombrinhas para fugir do calor. Todos são acolhedores e hospitaleiros. Ainda há pouca água e preocupação com a falta de chuva. Continua a paisagem da caatinga - com seus galhos emaranhados, cactos, árvores barrigudas, ipês floridos, bromélias, palma – que nos tempos de seca fica cinza e que se esverdeia nas primeiras chuvas. Bodes e cabras com sinos ainda pastam no meio da aridez. A paisagem das serras e chapadas, os personagens, e os bichos do sertão, como o pássaro Araquan, as formigas carnívoras ou o lagarto Teju, continuam impactantes.

Mas o som ao redor mudou. Saíram jumentos e mulas, mais raros. Não tem mais “o rico anda de burrico e o pobre anda a pé”. Os ricos têm caminhonetes potentes e os pobres andam de motos de baixa cilindrada. Há motocicleta em todo canto, nas áreas urbanas e rurais. Levam pessoas solitárias, casais, famílias. A criatividade nordestina tem transformado motos em triciclos utilizando-se eixos de carros abandonados em ferros-velhos. Dessa maneira, há motos de três lugares, moto-caminhonete e moto de até dez lugares. A moto é o novo animal de transporte brasileiro.

As estatísticas mostram que uma das regiões em que a religião católica mais resiste ao avanço evangélico é no Nordeste. Talvez não por muito tempo. Tome-se o caso do Vale do Catimbau, na transição entre o agreste e o sertão no estado de Pernambuco. Com menos de dois mil habitantes, a vila ali localizada possui 12 igrejas evangélicas. No final tarde de domingo, parece que toda a população do lugarejo colocou seus melhores e mais recatados trajes para orar. São famílias inteiras, dos idosos às crianças, caminhado sob as últimas luzes do sol, carregando bíblias de capa de plástico preto, sob olhares de alguns bêbados que ainda subsistem nos botecos. Já a igreja católica, na praça principal, ninguém se lembrava qual foi a última vez que teve uma missa celebrada. A averiguar se essa mudança na religião irá afetar o voto, já que o interior do Nordeste se mantém fortemente lulista/petista nas eleições presidenciais.

A série Cangaço Novo tem sido celebrada por causa das excelentes cenas de ação envolvendo assaltos a banco no interior do Ceará. Mas a obra está desatualizada. As agências bancárias estão desaparecendo não só pelos roubos, mas também por causa do Pix. O Pix é cobrado nos restaurantes, nas lojas de artesanato, pelas manicures, nos postos de gasolina e nos pousos para dormir. Todo mundo tem celular, principalmente para enviar áudios, quase todo mundo cobra pelos seus serviços em Pix, que se tornou uma mania nacional. Tente pagar em cartão que irão te pedir para fazer um Pix.

A indumentária, há décadas, não é o gibão de couro - a vestimenta descendente da jubba árabe que por séculos dominou a região. Compradas nas feiras, hoje as roupas são as produzidas pelo polo de confecção do Agreste, como no município de Santa Cruz do Capibaribe, mas que está sendo sufocado pelas importações industriais chinesas.

Preponderam as camisetas e shorts de nylon, muitas vezes em estampas coloridas ou com inscrição em inglês. As sandálias de couro foram substituídas pelos chinelos de borracha. O chapéu típico por um boné – em outubro de 2023 domina o boné do time de beisebol americano New York Yankes, pirata. Quem quiser se aprofundar sobre esse assunto deve assistir ao documentário “Estou me guardando para o carnaval chegar”, sobre os empreendedores da confecção de Toritama (PE), uma das cidades mais liberais do Brasil.

As casas de pau-a-pique, cor de barro, com locais externos que serviam como banheiros, estão cada vez mais atípicas. Os domicílios com paredes coloridas, graciosos, com telhados inclinados, também estão desaparecendo. Passaram a dominar a paisagem as residências e comércios de tijolos (aparentes ou coberto por azulejos), de estrutura de ângulos retos, com caixas d’água azuis sobre as lajes. O que se perde em estética (muito), pode ser que se ganhe em qualidade de vida, pois as novas casas possuem água encanada e, por exemplo, são menos sujeitas a infecção de barbeiros que trazem a Doença de Chagas, que por séculos foi uma praga comum de Minas para o Norte.

Não se escuta tanto Luiz Gonzaga. Os principais ritmos do forró (xaxado, coco, baião e xote) evoluíram para a pisadinha, de cantores como João Gomes, em que o forró se torna eletrônico e o trio acordeom, zabumba e triângulo pode dar lugar a um teclado com ritmos pré-programados. Esse estilo é tocado até nas igrejas evangélicas no estilo pisadinha gospel. Como no filme, O Céu de Suely, versões tecnopops traduzidas de sucessos internacionais ainda se ouvem nos bares e restaurantes, em que a carne de bode é iguaria e o roedor preá, mesmo com restrições de órgãos ambientais, é também um tira-gosto admirado junto com a cachaça Pitú.

Emprego continua difícil. Se não fossem os auxílios governamentais como o Bolsa Família e a aposentadoria para os idosos, a imigração para o Sudeste ou agora para o Centro-Oeste, não iria parar. Pessoas sem qualificação conseguem trabalhar na agricultura, mas apenas nos tempos de chuva. Na seca, esperam. Uma esperança pode estar no fato de que cada vez mais as pessoas têm valorizado a educação, incluindo cursos superiores, mesmo que à distância. A conferir.

A sensação de insegurança também cresceu exponencialmente nos últimos anos. As casas agora estão com cercas e grades. Inclusive, condomínios horizontais do Programa Minha Casa Minha Vida, logo depois de inaugurados, ganham muros construídos pelos próprios moradores em busca de proteção. Temem dos pequenos furtos ao cangaço novo. A milícia, que já domina as regiões metropolitanas, aproxima-se do sertão.

Se a análise é de longo prazo, os índices sociais mais importantes como mortalidade infantil, expectativa de vida ou saneamento tem melhorado no Nordeste – basta buscar os números oficiais. Não na velocidade necessária, mas a passos lentos.

Falta muito e o desafio está posto. O sertão brasileiro continua em busca de sua vocação econômica adaptada aos tempos atuais para sobreviver em um mundo tão conectado e competitivo. No caso de Pernambuco, uma obra tão esperada como a ferrovia Transnordestina até o porto de Suape, foi prometida para ficar pronta em 2010 e quase nada aconteceu no estado, o que enseja certo desânimo. No entanto, cabe aos que formulam as políticas públicas do Brasil apresentarem uma solução viável para a população que vive na terra. Criativos, trabalhadores, sobretudo fortes, os sertanejos, que serão a mão de obra e os beneficiados deste sertão sustentável, são um bônus e só têm a colaborar para uma era de desenvolvimento mais do que merecida.

O Nordeste brasileiro, principalmente o sertão, sempre foi celebrado na cultura brasileira como um local de seca, de pobreza, de inspiração, de curiosidade sociológica dos “sudestinos”, e até mesmo pelo sofrimento de seus moradores. Além dos milhares de imigrantes que por décadas se deslocaram para o Sul, o sertão nos ofereceu, por meio de nossos melhores artistas, obras-primas como o romance Vidas Secas, de Graciliano Ramos; o Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna; as canções Vozes da Seca e Asa Branca, de Luiz Gonzaga; ou as peças em barro de mestre Vitalino, de Caruaru. São obras que se tornaram parte do imaginário dos brasileiros, rurais ou urbanos, de qualquer região do País. Atualmente, o sertão, como palco de objeto cultural, voltou à moda com a série “Cangaço Novo”.

Em muitos aspectos, o sertão ainda parece ter parado no tempo. Ao se chegar nas pequenas cidades há velhos nas janelas e senhoras atravessando as ruas com sombrinhas para fugir do calor. Todos são acolhedores e hospitaleiros. Ainda há pouca água e preocupação com a falta de chuva. Continua a paisagem da caatinga - com seus galhos emaranhados, cactos, árvores barrigudas, ipês floridos, bromélias, palma – que nos tempos de seca fica cinza e que se esverdeia nas primeiras chuvas. Bodes e cabras com sinos ainda pastam no meio da aridez. A paisagem das serras e chapadas, os personagens, e os bichos do sertão, como o pássaro Araquan, as formigas carnívoras ou o lagarto Teju, continuam impactantes.

Mas o som ao redor mudou. Saíram jumentos e mulas, mais raros. Não tem mais “o rico anda de burrico e o pobre anda a pé”. Os ricos têm caminhonetes potentes e os pobres andam de motos de baixa cilindrada. Há motocicleta em todo canto, nas áreas urbanas e rurais. Levam pessoas solitárias, casais, famílias. A criatividade nordestina tem transformado motos em triciclos utilizando-se eixos de carros abandonados em ferros-velhos. Dessa maneira, há motos de três lugares, moto-caminhonete e moto de até dez lugares. A moto é o novo animal de transporte brasileiro.

As estatísticas mostram que uma das regiões em que a religião católica mais resiste ao avanço evangélico é no Nordeste. Talvez não por muito tempo. Tome-se o caso do Vale do Catimbau, na transição entre o agreste e o sertão no estado de Pernambuco. Com menos de dois mil habitantes, a vila ali localizada possui 12 igrejas evangélicas. No final tarde de domingo, parece que toda a população do lugarejo colocou seus melhores e mais recatados trajes para orar. São famílias inteiras, dos idosos às crianças, caminhado sob as últimas luzes do sol, carregando bíblias de capa de plástico preto, sob olhares de alguns bêbados que ainda subsistem nos botecos. Já a igreja católica, na praça principal, ninguém se lembrava qual foi a última vez que teve uma missa celebrada. A averiguar se essa mudança na religião irá afetar o voto, já que o interior do Nordeste se mantém fortemente lulista/petista nas eleições presidenciais.

A série Cangaço Novo tem sido celebrada por causa das excelentes cenas de ação envolvendo assaltos a banco no interior do Ceará. Mas a obra está desatualizada. As agências bancárias estão desaparecendo não só pelos roubos, mas também por causa do Pix. O Pix é cobrado nos restaurantes, nas lojas de artesanato, pelas manicures, nos postos de gasolina e nos pousos para dormir. Todo mundo tem celular, principalmente para enviar áudios, quase todo mundo cobra pelos seus serviços em Pix, que se tornou uma mania nacional. Tente pagar em cartão que irão te pedir para fazer um Pix.

A indumentária, há décadas, não é o gibão de couro - a vestimenta descendente da jubba árabe que por séculos dominou a região. Compradas nas feiras, hoje as roupas são as produzidas pelo polo de confecção do Agreste, como no município de Santa Cruz do Capibaribe, mas que está sendo sufocado pelas importações industriais chinesas.

Preponderam as camisetas e shorts de nylon, muitas vezes em estampas coloridas ou com inscrição em inglês. As sandálias de couro foram substituídas pelos chinelos de borracha. O chapéu típico por um boné – em outubro de 2023 domina o boné do time de beisebol americano New York Yankes, pirata. Quem quiser se aprofundar sobre esse assunto deve assistir ao documentário “Estou me guardando para o carnaval chegar”, sobre os empreendedores da confecção de Toritama (PE), uma das cidades mais liberais do Brasil.

As casas de pau-a-pique, cor de barro, com locais externos que serviam como banheiros, estão cada vez mais atípicas. Os domicílios com paredes coloridas, graciosos, com telhados inclinados, também estão desaparecendo. Passaram a dominar a paisagem as residências e comércios de tijolos (aparentes ou coberto por azulejos), de estrutura de ângulos retos, com caixas d’água azuis sobre as lajes. O que se perde em estética (muito), pode ser que se ganhe em qualidade de vida, pois as novas casas possuem água encanada e, por exemplo, são menos sujeitas a infecção de barbeiros que trazem a Doença de Chagas, que por séculos foi uma praga comum de Minas para o Norte.

Não se escuta tanto Luiz Gonzaga. Os principais ritmos do forró (xaxado, coco, baião e xote) evoluíram para a pisadinha, de cantores como João Gomes, em que o forró se torna eletrônico e o trio acordeom, zabumba e triângulo pode dar lugar a um teclado com ritmos pré-programados. Esse estilo é tocado até nas igrejas evangélicas no estilo pisadinha gospel. Como no filme, O Céu de Suely, versões tecnopops traduzidas de sucessos internacionais ainda se ouvem nos bares e restaurantes, em que a carne de bode é iguaria e o roedor preá, mesmo com restrições de órgãos ambientais, é também um tira-gosto admirado junto com a cachaça Pitú.

Emprego continua difícil. Se não fossem os auxílios governamentais como o Bolsa Família e a aposentadoria para os idosos, a imigração para o Sudeste ou agora para o Centro-Oeste, não iria parar. Pessoas sem qualificação conseguem trabalhar na agricultura, mas apenas nos tempos de chuva. Na seca, esperam. Uma esperança pode estar no fato de que cada vez mais as pessoas têm valorizado a educação, incluindo cursos superiores, mesmo que à distância. A conferir.

A sensação de insegurança também cresceu exponencialmente nos últimos anos. As casas agora estão com cercas e grades. Inclusive, condomínios horizontais do Programa Minha Casa Minha Vida, logo depois de inaugurados, ganham muros construídos pelos próprios moradores em busca de proteção. Temem dos pequenos furtos ao cangaço novo. A milícia, que já domina as regiões metropolitanas, aproxima-se do sertão.

Se a análise é de longo prazo, os índices sociais mais importantes como mortalidade infantil, expectativa de vida ou saneamento tem melhorado no Nordeste – basta buscar os números oficiais. Não na velocidade necessária, mas a passos lentos.

Falta muito e o desafio está posto. O sertão brasileiro continua em busca de sua vocação econômica adaptada aos tempos atuais para sobreviver em um mundo tão conectado e competitivo. No caso de Pernambuco, uma obra tão esperada como a ferrovia Transnordestina até o porto de Suape, foi prometida para ficar pronta em 2010 e quase nada aconteceu no estado, o que enseja certo desânimo. No entanto, cabe aos que formulam as políticas públicas do Brasil apresentarem uma solução viável para a população que vive na terra. Criativos, trabalhadores, sobretudo fortes, os sertanejos, que serão a mão de obra e os beneficiados deste sertão sustentável, são um bônus e só têm a colaborar para uma era de desenvolvimento mais do que merecida.

Opinião por Fabiano Lana

Fabiano Lana é formado em Comunicação Social pela UFMG e em Filosofia pela UnB, onde também tem mestrado na área. Foi repórter do Jornal do Brasil, entre outros veículos. Atua como consultor de comunicação. É autor do livro “Riobaldo agarra sua morte”, em que discute interseções entre jornalismo, política e ética.

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