Disputas de poder e o debate político-cultural brasileiro

Opinião|Lula e Bolsonaro, dois líderes hoje obsoletos


Enquanto Bolsonaro segue na cantilena de militar veterano, nostálgico da ditadura, Pablo Marçal está em 2024 com seu vocabulário cibernético com pitadas de neurolinguística. Lula também está preso no seu labirinto e ainda sonha com uma economia cheio de empresas estatais para colocar aliados políticos

Por Fabiano Lana

O que as peripécias de Pablo Marçal e as falas do presidente Lula lamentando a privatização da Vale do Rio Doce ou tentando minimizar a crise na Venezuela têm em comum? São situações que mostram como nossos antigos líderes populares, à direita e à esquerda, estão ultrapassados. Bastaram poucas semanas de superexposição para Marçal, candidato à prefeitura de São Paulo, enfrentar o antigo ídolo e hoje já ser considerado uma esperança de futuro para quem até ontem abraçava o bolsonarismo como solução política. Já Lula parece ter ficado mentalmente preso em algum ano da década de 70, com ideias políticas e econômicas tomadas pelo mofo. E desse cárcere não parece nem mesmo ter interesse de se libertar.

Lula pesca e Bolsonaro anda a cavalo  Foto: reprodução Twitter via @janjaLula e reprodução Youtube via @ABQMOficial

No caso de Marçal, a repaginada na direita parece ser mais visível. Enquanto Bolsonaro segue na cantilena algo de militar veterano, nostálgico da época da ditadura que acabou em 1985, Pablo Marçal está claramente em 2024 com seu vocabulário cibernético, autoajuda, coach, além das pitadas de neurolinguística. Com toda a empolgação vazia que isso significa. Bolsonaro, por outro lado, possui um linguajar hesitante, como se fosse uma criança com dificuldade de ler um texto frente a uma professora rigorosa. Marçal tem melhor domínio da retórica, controle do que ele quer editar em seus tais cortes de internet. Até suas promessas mirabolantes, como os teleféricos e o tal prédio de mil metros em São Paulo, soam como mais modernizantes do que combater o comunismo em defesa da família, apesar de também delirantes.

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O autodenominado Chef Visionary Officer se apresenta como evangélico quando esse segmento cresce de maneira feroz na população – na verdade é também produto da igreja. Enriqueceu em negócios que envolvem redes sociais, o que atrai os millenials. É vaidoso. Tenta se manter em forma e conta com um bom implante capilar que combina com um blazer bem passado e o boné com um “M” inscrito. Bolsonaro, em praticamente sua longa carreira militar ou política, viveu de remuneração do Estado, principalmente do parlamento. É um personagem velho, com problemas na justiça, cabelo algo ensebado, muitas vezes amarrotado, num penteado antiquado. E assim, arcaico, o velho guia vê escorrer entre os dedos uma hegemonia que parecia definitivamente consolidada.

Pablo, sua mutação, também é messiânico. Como o antecessor tem fatos do passado muito mal explicados – suspeita de golpes bancários - mas seus seguidores nem se importam. É politicamente agressivo, simplista em apontar problemas e apresentar soluções inconsequentes. Mas, isso é importante, descobriu que o eleitorado direitista brasileiro, com suas concepções e valores, estará sempre em busca de alguém para pegar o comando dessas ideias. Percebeu que pode destronar o velho ícone num piscar de olhos. Carlos Bolsonaro, o filho de Bolsonaro, que o diga, ao ser chamado de retardado e dias depois indicar que é preciso votar em seu agressor em caso de segundo turno com a “esquerda”. “Queremos rumar nas mesmas direções quando falamos de Brasil”, disse o 02 no “X”. Ser chamado de retardado e ainda fazer declaração de amor político é algo que nem os letristas de música sertaneja já cogitaram.

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Do outro lado desse muro, Lula também está preso no seu labirinto. Ainda sonha com uma economia conduzida por um Estado forte, cheio de empresas estatais onde poderia colocar aliados políticos, quem sabe amigo, como o ex-ministro Guido Mantega. O velho sindicalista, talvez por não conseguir entender, tem repugnância a esse capitalismo em que CEOs dirigem empresas com capital pulverizado por centenas e até milhares de acionistas. Sua cantilena contra as privatizações não costuma abortar questões como eficiência, ganho da sociedade, e lucro. É nostálgico de um período em que havia maior direcionamento dos processos econômicos.

Do ponto de vista político está claro que Lula também tem dificuldades de abraçar uma esquerda moderna que repudia qualquer tipo de ditadura, seja de direita ou de esquerda. Continua enlaçado a verdadeiras múmias ideológicas como Nicolás Maduro, na Venezuela, ou o regime comunista cubano (por acidente, rompeu com a ditadura Nicaraguense do seu até há pouco dias “amigo”, Daniel Ortega). Lula incomoda-se até mesmo com o fato de que as pessoas passam muito tempo olhando para o celular – muitas vezes, inclusive, conferindo se as frases que ele proferiu são falsas ou verdadeiras. Aliás, quem atende seu aparelho é a primeira-dama Janja, conforme já foi publicado na imprensa. As novas tecnologias são corpos estranhos ao seu mindset.

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Diferentemente da situação Marçal-Bolsonaro, não está claro ainda quem será o sucessor de Lula. Entre as opções está Guilherme Boulos. Agora repaginado, Boulos parece mais um advogado da região de Pinheiros, também com blazer bem cortado, do que um suado dirigente de movimento social de ocupação de imóveis ociosos. Uma alternativa para a sucessão de Lula é o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que já caiu nas graças dos faria limers com seus seguidos acenos com corte de gastos do Tesouro (ele parece se vestir bem naturalmente).

Nos anos 60, o compositor Bob Dylan já alertava a políticos, escritores e críticos, sobre o giro da rodas, a subida das águas, ou as batalhas nas ruas que prenunciam as mudanças dos tempos. A troca de bastão no caso brasileiro ainda não está claro se será para um patamar melhor. Porque o Brasil não é mais bem explicado por Dylan, mas pelo italiano Giuseppe Lampedusa, que avisou, desencantado: “tudo deve mudar para que tudo fique como está”.

O que as peripécias de Pablo Marçal e as falas do presidente Lula lamentando a privatização da Vale do Rio Doce ou tentando minimizar a crise na Venezuela têm em comum? São situações que mostram como nossos antigos líderes populares, à direita e à esquerda, estão ultrapassados. Bastaram poucas semanas de superexposição para Marçal, candidato à prefeitura de São Paulo, enfrentar o antigo ídolo e hoje já ser considerado uma esperança de futuro para quem até ontem abraçava o bolsonarismo como solução política. Já Lula parece ter ficado mentalmente preso em algum ano da década de 70, com ideias políticas e econômicas tomadas pelo mofo. E desse cárcere não parece nem mesmo ter interesse de se libertar.

Lula pesca e Bolsonaro anda a cavalo  Foto: reprodução Twitter via @janjaLula e reprodução Youtube via @ABQMOficial

No caso de Marçal, a repaginada na direita parece ser mais visível. Enquanto Bolsonaro segue na cantilena algo de militar veterano, nostálgico da época da ditadura que acabou em 1985, Pablo Marçal está claramente em 2024 com seu vocabulário cibernético, autoajuda, coach, além das pitadas de neurolinguística. Com toda a empolgação vazia que isso significa. Bolsonaro, por outro lado, possui um linguajar hesitante, como se fosse uma criança com dificuldade de ler um texto frente a uma professora rigorosa. Marçal tem melhor domínio da retórica, controle do que ele quer editar em seus tais cortes de internet. Até suas promessas mirabolantes, como os teleféricos e o tal prédio de mil metros em São Paulo, soam como mais modernizantes do que combater o comunismo em defesa da família, apesar de também delirantes.

O autodenominado Chef Visionary Officer se apresenta como evangélico quando esse segmento cresce de maneira feroz na população – na verdade é também produto da igreja. Enriqueceu em negócios que envolvem redes sociais, o que atrai os millenials. É vaidoso. Tenta se manter em forma e conta com um bom implante capilar que combina com um blazer bem passado e o boné com um “M” inscrito. Bolsonaro, em praticamente sua longa carreira militar ou política, viveu de remuneração do Estado, principalmente do parlamento. É um personagem velho, com problemas na justiça, cabelo algo ensebado, muitas vezes amarrotado, num penteado antiquado. E assim, arcaico, o velho guia vê escorrer entre os dedos uma hegemonia que parecia definitivamente consolidada.

Pablo, sua mutação, também é messiânico. Como o antecessor tem fatos do passado muito mal explicados – suspeita de golpes bancários - mas seus seguidores nem se importam. É politicamente agressivo, simplista em apontar problemas e apresentar soluções inconsequentes. Mas, isso é importante, descobriu que o eleitorado direitista brasileiro, com suas concepções e valores, estará sempre em busca de alguém para pegar o comando dessas ideias. Percebeu que pode destronar o velho ícone num piscar de olhos. Carlos Bolsonaro, o filho de Bolsonaro, que o diga, ao ser chamado de retardado e dias depois indicar que é preciso votar em seu agressor em caso de segundo turno com a “esquerda”. “Queremos rumar nas mesmas direções quando falamos de Brasil”, disse o 02 no “X”. Ser chamado de retardado e ainda fazer declaração de amor político é algo que nem os letristas de música sertaneja já cogitaram.

Do outro lado desse muro, Lula também está preso no seu labirinto. Ainda sonha com uma economia conduzida por um Estado forte, cheio de empresas estatais onde poderia colocar aliados políticos, quem sabe amigo, como o ex-ministro Guido Mantega. O velho sindicalista, talvez por não conseguir entender, tem repugnância a esse capitalismo em que CEOs dirigem empresas com capital pulverizado por centenas e até milhares de acionistas. Sua cantilena contra as privatizações não costuma abortar questões como eficiência, ganho da sociedade, e lucro. É nostálgico de um período em que havia maior direcionamento dos processos econômicos.

Do ponto de vista político está claro que Lula também tem dificuldades de abraçar uma esquerda moderna que repudia qualquer tipo de ditadura, seja de direita ou de esquerda. Continua enlaçado a verdadeiras múmias ideológicas como Nicolás Maduro, na Venezuela, ou o regime comunista cubano (por acidente, rompeu com a ditadura Nicaraguense do seu até há pouco dias “amigo”, Daniel Ortega). Lula incomoda-se até mesmo com o fato de que as pessoas passam muito tempo olhando para o celular – muitas vezes, inclusive, conferindo se as frases que ele proferiu são falsas ou verdadeiras. Aliás, quem atende seu aparelho é a primeira-dama Janja, conforme já foi publicado na imprensa. As novas tecnologias são corpos estranhos ao seu mindset.

Diferentemente da situação Marçal-Bolsonaro, não está claro ainda quem será o sucessor de Lula. Entre as opções está Guilherme Boulos. Agora repaginado, Boulos parece mais um advogado da região de Pinheiros, também com blazer bem cortado, do que um suado dirigente de movimento social de ocupação de imóveis ociosos. Uma alternativa para a sucessão de Lula é o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que já caiu nas graças dos faria limers com seus seguidos acenos com corte de gastos do Tesouro (ele parece se vestir bem naturalmente).

Nos anos 60, o compositor Bob Dylan já alertava a políticos, escritores e críticos, sobre o giro da rodas, a subida das águas, ou as batalhas nas ruas que prenunciam as mudanças dos tempos. A troca de bastão no caso brasileiro ainda não está claro se será para um patamar melhor. Porque o Brasil não é mais bem explicado por Dylan, mas pelo italiano Giuseppe Lampedusa, que avisou, desencantado: “tudo deve mudar para que tudo fique como está”.

O que as peripécias de Pablo Marçal e as falas do presidente Lula lamentando a privatização da Vale do Rio Doce ou tentando minimizar a crise na Venezuela têm em comum? São situações que mostram como nossos antigos líderes populares, à direita e à esquerda, estão ultrapassados. Bastaram poucas semanas de superexposição para Marçal, candidato à prefeitura de São Paulo, enfrentar o antigo ídolo e hoje já ser considerado uma esperança de futuro para quem até ontem abraçava o bolsonarismo como solução política. Já Lula parece ter ficado mentalmente preso em algum ano da década de 70, com ideias políticas e econômicas tomadas pelo mofo. E desse cárcere não parece nem mesmo ter interesse de se libertar.

Lula pesca e Bolsonaro anda a cavalo  Foto: reprodução Twitter via @janjaLula e reprodução Youtube via @ABQMOficial

No caso de Marçal, a repaginada na direita parece ser mais visível. Enquanto Bolsonaro segue na cantilena algo de militar veterano, nostálgico da época da ditadura que acabou em 1985, Pablo Marçal está claramente em 2024 com seu vocabulário cibernético, autoajuda, coach, além das pitadas de neurolinguística. Com toda a empolgação vazia que isso significa. Bolsonaro, por outro lado, possui um linguajar hesitante, como se fosse uma criança com dificuldade de ler um texto frente a uma professora rigorosa. Marçal tem melhor domínio da retórica, controle do que ele quer editar em seus tais cortes de internet. Até suas promessas mirabolantes, como os teleféricos e o tal prédio de mil metros em São Paulo, soam como mais modernizantes do que combater o comunismo em defesa da família, apesar de também delirantes.

O autodenominado Chef Visionary Officer se apresenta como evangélico quando esse segmento cresce de maneira feroz na população – na verdade é também produto da igreja. Enriqueceu em negócios que envolvem redes sociais, o que atrai os millenials. É vaidoso. Tenta se manter em forma e conta com um bom implante capilar que combina com um blazer bem passado e o boné com um “M” inscrito. Bolsonaro, em praticamente sua longa carreira militar ou política, viveu de remuneração do Estado, principalmente do parlamento. É um personagem velho, com problemas na justiça, cabelo algo ensebado, muitas vezes amarrotado, num penteado antiquado. E assim, arcaico, o velho guia vê escorrer entre os dedos uma hegemonia que parecia definitivamente consolidada.

Pablo, sua mutação, também é messiânico. Como o antecessor tem fatos do passado muito mal explicados – suspeita de golpes bancários - mas seus seguidores nem se importam. É politicamente agressivo, simplista em apontar problemas e apresentar soluções inconsequentes. Mas, isso é importante, descobriu que o eleitorado direitista brasileiro, com suas concepções e valores, estará sempre em busca de alguém para pegar o comando dessas ideias. Percebeu que pode destronar o velho ícone num piscar de olhos. Carlos Bolsonaro, o filho de Bolsonaro, que o diga, ao ser chamado de retardado e dias depois indicar que é preciso votar em seu agressor em caso de segundo turno com a “esquerda”. “Queremos rumar nas mesmas direções quando falamos de Brasil”, disse o 02 no “X”. Ser chamado de retardado e ainda fazer declaração de amor político é algo que nem os letristas de música sertaneja já cogitaram.

Do outro lado desse muro, Lula também está preso no seu labirinto. Ainda sonha com uma economia conduzida por um Estado forte, cheio de empresas estatais onde poderia colocar aliados políticos, quem sabe amigo, como o ex-ministro Guido Mantega. O velho sindicalista, talvez por não conseguir entender, tem repugnância a esse capitalismo em que CEOs dirigem empresas com capital pulverizado por centenas e até milhares de acionistas. Sua cantilena contra as privatizações não costuma abortar questões como eficiência, ganho da sociedade, e lucro. É nostálgico de um período em que havia maior direcionamento dos processos econômicos.

Do ponto de vista político está claro que Lula também tem dificuldades de abraçar uma esquerda moderna que repudia qualquer tipo de ditadura, seja de direita ou de esquerda. Continua enlaçado a verdadeiras múmias ideológicas como Nicolás Maduro, na Venezuela, ou o regime comunista cubano (por acidente, rompeu com a ditadura Nicaraguense do seu até há pouco dias “amigo”, Daniel Ortega). Lula incomoda-se até mesmo com o fato de que as pessoas passam muito tempo olhando para o celular – muitas vezes, inclusive, conferindo se as frases que ele proferiu são falsas ou verdadeiras. Aliás, quem atende seu aparelho é a primeira-dama Janja, conforme já foi publicado na imprensa. As novas tecnologias são corpos estranhos ao seu mindset.

Diferentemente da situação Marçal-Bolsonaro, não está claro ainda quem será o sucessor de Lula. Entre as opções está Guilherme Boulos. Agora repaginado, Boulos parece mais um advogado da região de Pinheiros, também com blazer bem cortado, do que um suado dirigente de movimento social de ocupação de imóveis ociosos. Uma alternativa para a sucessão de Lula é o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que já caiu nas graças dos faria limers com seus seguidos acenos com corte de gastos do Tesouro (ele parece se vestir bem naturalmente).

Nos anos 60, o compositor Bob Dylan já alertava a políticos, escritores e críticos, sobre o giro da rodas, a subida das águas, ou as batalhas nas ruas que prenunciam as mudanças dos tempos. A troca de bastão no caso brasileiro ainda não está claro se será para um patamar melhor. Porque o Brasil não é mais bem explicado por Dylan, mas pelo italiano Giuseppe Lampedusa, que avisou, desencantado: “tudo deve mudar para que tudo fique como está”.

Opinião por Fabiano Lana

Fabiano Lana é formado em Comunicação Social pela UFMG e em Filosofia pela UnB, onde também tem mestrado na área. Foi repórter do Jornal do Brasil, entre outros veículos. Atua como consultor de comunicação. É autor do livro “Riobaldo agarra sua morte”, em que discute interseções entre jornalismo, política e ética.

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