Disputas de poder e o debate político-cultural brasileiro

Opinião|Vitória de Lula há um ano manteve centro político fora do jogo


Após petista derrotar Jair Bolsonaro, centristas estão escondidos deixando cenário incerto e perigoso para 2026

Por Fabiano Lana
Atualização:

Hoje se completa um ano da realização do segundo turno das eleições que reelegeram Luiz Inácio Lula da Silva pela terceira vez. O País entrou de fato em uma rota de normalização institucional a partir do momento em que não temos mais um mandatário que, dia sim e no outro dia também sim, questiona a Justiça, o sistema eleitoral, debocha de problemas como no caso a pandemia, insufla seguidores, ataca a imprensa, e provoca confusões em geral.

Claro que o presidente Lula tem seus escorregões, como ser um quase-aliado do autocrata imperialista russo Vladimir Putin; afagar o ditador Venezuelano Nicolas Maduro; dar declarações ambíguas sobre responsabilidade fiscal; ou abrir espaços de poder aos fisiológicos de sempre, nesse caso talvez por falta de opções. Mas os baderneiros da turma do fundão saíram da cabine de comando, por enquanto. A questão não resolvida do combate ao déficit público pode até ser um pé de barro a colocar tudo a perder, as ideias econômicas de muita gente graúda do Partido dos Trabalhadores podem recolocar o Brasil em nova crise atroz, mas o governo segue no seu arroz com feijão com poucos sobressaltos.

As qualificações ideológicas costumam ser falhas ou insuficientes, mas temos um governo de centro-esquerda, mais para o centro do que à esquerda devido ao arco de alianças. Tinham razão até agora aqueles que negavam o uso do termo “polarização” para definir o País. Também, ao contrário do que prediziam os acampados de porta do quartel, não parece haver uma marcha para a instalação de uma ditadura comunista no Brasil, com o triunfo da ideologia de gênero e outras obsessões dos reacionários. Inclusive, com o atual Congresso, qualquer pauta “progressista” de costumes tem pouca chance de prosperar. O grande inimigo dos reaças é hoje o proativo Supremo Tribunal Federal.

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Luiz Inácio Lula da Silva em São Paulo durante discurso após ter sido eleito presidente pela terceira vez no dia 30 de outubro de 2022 Foto: Daniel Teixeira/Estadão - 30/10/2022

A gritaria continua na Câmara e nas redes sociais, mas o Brasil não está em chamas. Como o governo Bolsonaro foi mais de destruição do que de construção (a agenda modernizante de Paulo Guedes acabou por ser mais tímida do que inicialmente se pretendia), a atual gestão segue em busca de desmontar o legado do governo Temer. Querem acabar com o teto de gastos, com a Lei das Estatais, com o marco do saneamento, com a reforma do ensino médio, e com a reforma trabalhista. O ministro da Previdência, Carlos Lupi, chegou a vociferar contra a reforma da Previdência, aprovada na era Bolsonaro, mas com o debate iniciado na era Temer. Como brigar contra a demografia e a matemática seria um pouco demais, Lupi levou o devido cala-boca.

Nesse cenário, com a inelegibilidade de Jair Bolsonaro decidida pelo TSE , a direita/centro-direita tem seus nomes no cardápio. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), um dia precisará escolher se deixará o Estado mais rico do Brasil para travar batalha provavelmente contra Lula. Romeu Zema (Novo) também se movimenta e já percebeu que seu jeito típico de ser não faz tanto sucesso fora das montanhas de Minas. Ratinho Júnior (PSD), do Paraná, está discretamente no aguardo por uma convocação. O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), avisou que quer concorrer.

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E o centro brasileiro? Não o Centrão, mas o auto-denominado centro-democrático. Onde está, onde se encontra? Na verdade anda escondido. Numa jogada política habilidosa, Lula conquistou a candidata à presidente pelo MDB, Simone Tebet, nomeando-a para o ministério do Planejamento. Não se fala mais de Tebet como postulante à Presidência. Fora do páreo. Com três ministérios, provavelmente o MDB seguirá com o PT em 2026.

Mesmo tendo conquistado a presidência do PSDB, que agora pode abandonar por não ter pacificado o partido, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, ainda não conseguiu se colocar perante a sociedade. Num momento em que ser candidato exige uma dedicação ininterrupta, foi bastante discreto e praticamente não se posicionou com a assertividade necessária dos nossos tempos velozes das redes sociais sobre os principais temas dos debates brasileiros. Pesa o fato de que um governador no Brasil, de qualquer Estado, ser um eterno dependente dos recursos do governo federal. Mas a verdade é que Eduardo Leite tem sido cada vez menos citado como um aspirante viável ao Palácio do Planalto. Não há outros centristas à vista?

O que significa esse inverno do centro político brasileiro? Expressa na verdade um risco potencial. Caso o governo atual fracasse, a opção dos brasileiros pode recair novamente para um nome que represente o reacionarismo latente de parcela considerável da sociedade. Alguém do núcleo duro de asseclas, que Bolsonaro pode tirar da manga a qualquer momento, deixando a ver navios os direitistas moderados. Como ocorreu em 2018 e 2022, os poucos eleitores ainda de centro, que na verdade decidem o jogo numa sociedade dividida, acabarão dando um voto para esse radical.

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Nos tempos de hiperinflação, dizia-se que o Brasil vivia o “efeito Orloff” da Argentina. Como uma ressaca da vodka, os equívocos do país vizinho eram repetidos aqui e, por óbvio, davam errado. Com o fracasso da política econômica argentina, há o risco de elegerem o radical Javier Milei, que parece não haver nem consenso de como pode ser qualificado: direitista, Bolsonaro argentino, ultra-liberal, libertário – porém assentem quando é chamado de louco.

Se o atual governo brasileiro malograr há o risco de duplo efeito Orloff caso a Argentina prefira Milei. Com o centro destruído, escolhemos Bolsonaro em 2018. Mesmo com o Brasil tendo mudado de rota em 2022, os vizinhos optam pelo indômito da vez em 2023. Em sequência, elegemos, em 2026, o agitador ou agitadora bolsonarista de plantão, numa trajetória excruciantes de populistas irresponsáveis no poder.

Hoje se completa um ano da realização do segundo turno das eleições que reelegeram Luiz Inácio Lula da Silva pela terceira vez. O País entrou de fato em uma rota de normalização institucional a partir do momento em que não temos mais um mandatário que, dia sim e no outro dia também sim, questiona a Justiça, o sistema eleitoral, debocha de problemas como no caso a pandemia, insufla seguidores, ataca a imprensa, e provoca confusões em geral.

Claro que o presidente Lula tem seus escorregões, como ser um quase-aliado do autocrata imperialista russo Vladimir Putin; afagar o ditador Venezuelano Nicolas Maduro; dar declarações ambíguas sobre responsabilidade fiscal; ou abrir espaços de poder aos fisiológicos de sempre, nesse caso talvez por falta de opções. Mas os baderneiros da turma do fundão saíram da cabine de comando, por enquanto. A questão não resolvida do combate ao déficit público pode até ser um pé de barro a colocar tudo a perder, as ideias econômicas de muita gente graúda do Partido dos Trabalhadores podem recolocar o Brasil em nova crise atroz, mas o governo segue no seu arroz com feijão com poucos sobressaltos.

As qualificações ideológicas costumam ser falhas ou insuficientes, mas temos um governo de centro-esquerda, mais para o centro do que à esquerda devido ao arco de alianças. Tinham razão até agora aqueles que negavam o uso do termo “polarização” para definir o País. Também, ao contrário do que prediziam os acampados de porta do quartel, não parece haver uma marcha para a instalação de uma ditadura comunista no Brasil, com o triunfo da ideologia de gênero e outras obsessões dos reacionários. Inclusive, com o atual Congresso, qualquer pauta “progressista” de costumes tem pouca chance de prosperar. O grande inimigo dos reaças é hoje o proativo Supremo Tribunal Federal.

Luiz Inácio Lula da Silva em São Paulo durante discurso após ter sido eleito presidente pela terceira vez no dia 30 de outubro de 2022 Foto: Daniel Teixeira/Estadão - 30/10/2022

A gritaria continua na Câmara e nas redes sociais, mas o Brasil não está em chamas. Como o governo Bolsonaro foi mais de destruição do que de construção (a agenda modernizante de Paulo Guedes acabou por ser mais tímida do que inicialmente se pretendia), a atual gestão segue em busca de desmontar o legado do governo Temer. Querem acabar com o teto de gastos, com a Lei das Estatais, com o marco do saneamento, com a reforma do ensino médio, e com a reforma trabalhista. O ministro da Previdência, Carlos Lupi, chegou a vociferar contra a reforma da Previdência, aprovada na era Bolsonaro, mas com o debate iniciado na era Temer. Como brigar contra a demografia e a matemática seria um pouco demais, Lupi levou o devido cala-boca.

Nesse cenário, com a inelegibilidade de Jair Bolsonaro decidida pelo TSE , a direita/centro-direita tem seus nomes no cardápio. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), um dia precisará escolher se deixará o Estado mais rico do Brasil para travar batalha provavelmente contra Lula. Romeu Zema (Novo) também se movimenta e já percebeu que seu jeito típico de ser não faz tanto sucesso fora das montanhas de Minas. Ratinho Júnior (PSD), do Paraná, está discretamente no aguardo por uma convocação. O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), avisou que quer concorrer.

E o centro brasileiro? Não o Centrão, mas o auto-denominado centro-democrático. Onde está, onde se encontra? Na verdade anda escondido. Numa jogada política habilidosa, Lula conquistou a candidata à presidente pelo MDB, Simone Tebet, nomeando-a para o ministério do Planejamento. Não se fala mais de Tebet como postulante à Presidência. Fora do páreo. Com três ministérios, provavelmente o MDB seguirá com o PT em 2026.

Mesmo tendo conquistado a presidência do PSDB, que agora pode abandonar por não ter pacificado o partido, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, ainda não conseguiu se colocar perante a sociedade. Num momento em que ser candidato exige uma dedicação ininterrupta, foi bastante discreto e praticamente não se posicionou com a assertividade necessária dos nossos tempos velozes das redes sociais sobre os principais temas dos debates brasileiros. Pesa o fato de que um governador no Brasil, de qualquer Estado, ser um eterno dependente dos recursos do governo federal. Mas a verdade é que Eduardo Leite tem sido cada vez menos citado como um aspirante viável ao Palácio do Planalto. Não há outros centristas à vista?

O que significa esse inverno do centro político brasileiro? Expressa na verdade um risco potencial. Caso o governo atual fracasse, a opção dos brasileiros pode recair novamente para um nome que represente o reacionarismo latente de parcela considerável da sociedade. Alguém do núcleo duro de asseclas, que Bolsonaro pode tirar da manga a qualquer momento, deixando a ver navios os direitistas moderados. Como ocorreu em 2018 e 2022, os poucos eleitores ainda de centro, que na verdade decidem o jogo numa sociedade dividida, acabarão dando um voto para esse radical.

Nos tempos de hiperinflação, dizia-se que o Brasil vivia o “efeito Orloff” da Argentina. Como uma ressaca da vodka, os equívocos do país vizinho eram repetidos aqui e, por óbvio, davam errado. Com o fracasso da política econômica argentina, há o risco de elegerem o radical Javier Milei, que parece não haver nem consenso de como pode ser qualificado: direitista, Bolsonaro argentino, ultra-liberal, libertário – porém assentem quando é chamado de louco.

Se o atual governo brasileiro malograr há o risco de duplo efeito Orloff caso a Argentina prefira Milei. Com o centro destruído, escolhemos Bolsonaro em 2018. Mesmo com o Brasil tendo mudado de rota em 2022, os vizinhos optam pelo indômito da vez em 2023. Em sequência, elegemos, em 2026, o agitador ou agitadora bolsonarista de plantão, numa trajetória excruciantes de populistas irresponsáveis no poder.

Hoje se completa um ano da realização do segundo turno das eleições que reelegeram Luiz Inácio Lula da Silva pela terceira vez. O País entrou de fato em uma rota de normalização institucional a partir do momento em que não temos mais um mandatário que, dia sim e no outro dia também sim, questiona a Justiça, o sistema eleitoral, debocha de problemas como no caso a pandemia, insufla seguidores, ataca a imprensa, e provoca confusões em geral.

Claro que o presidente Lula tem seus escorregões, como ser um quase-aliado do autocrata imperialista russo Vladimir Putin; afagar o ditador Venezuelano Nicolas Maduro; dar declarações ambíguas sobre responsabilidade fiscal; ou abrir espaços de poder aos fisiológicos de sempre, nesse caso talvez por falta de opções. Mas os baderneiros da turma do fundão saíram da cabine de comando, por enquanto. A questão não resolvida do combate ao déficit público pode até ser um pé de barro a colocar tudo a perder, as ideias econômicas de muita gente graúda do Partido dos Trabalhadores podem recolocar o Brasil em nova crise atroz, mas o governo segue no seu arroz com feijão com poucos sobressaltos.

As qualificações ideológicas costumam ser falhas ou insuficientes, mas temos um governo de centro-esquerda, mais para o centro do que à esquerda devido ao arco de alianças. Tinham razão até agora aqueles que negavam o uso do termo “polarização” para definir o País. Também, ao contrário do que prediziam os acampados de porta do quartel, não parece haver uma marcha para a instalação de uma ditadura comunista no Brasil, com o triunfo da ideologia de gênero e outras obsessões dos reacionários. Inclusive, com o atual Congresso, qualquer pauta “progressista” de costumes tem pouca chance de prosperar. O grande inimigo dos reaças é hoje o proativo Supremo Tribunal Federal.

Luiz Inácio Lula da Silva em São Paulo durante discurso após ter sido eleito presidente pela terceira vez no dia 30 de outubro de 2022 Foto: Daniel Teixeira/Estadão - 30/10/2022

A gritaria continua na Câmara e nas redes sociais, mas o Brasil não está em chamas. Como o governo Bolsonaro foi mais de destruição do que de construção (a agenda modernizante de Paulo Guedes acabou por ser mais tímida do que inicialmente se pretendia), a atual gestão segue em busca de desmontar o legado do governo Temer. Querem acabar com o teto de gastos, com a Lei das Estatais, com o marco do saneamento, com a reforma do ensino médio, e com a reforma trabalhista. O ministro da Previdência, Carlos Lupi, chegou a vociferar contra a reforma da Previdência, aprovada na era Bolsonaro, mas com o debate iniciado na era Temer. Como brigar contra a demografia e a matemática seria um pouco demais, Lupi levou o devido cala-boca.

Nesse cenário, com a inelegibilidade de Jair Bolsonaro decidida pelo TSE , a direita/centro-direita tem seus nomes no cardápio. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), um dia precisará escolher se deixará o Estado mais rico do Brasil para travar batalha provavelmente contra Lula. Romeu Zema (Novo) também se movimenta e já percebeu que seu jeito típico de ser não faz tanto sucesso fora das montanhas de Minas. Ratinho Júnior (PSD), do Paraná, está discretamente no aguardo por uma convocação. O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), avisou que quer concorrer.

E o centro brasileiro? Não o Centrão, mas o auto-denominado centro-democrático. Onde está, onde se encontra? Na verdade anda escondido. Numa jogada política habilidosa, Lula conquistou a candidata à presidente pelo MDB, Simone Tebet, nomeando-a para o ministério do Planejamento. Não se fala mais de Tebet como postulante à Presidência. Fora do páreo. Com três ministérios, provavelmente o MDB seguirá com o PT em 2026.

Mesmo tendo conquistado a presidência do PSDB, que agora pode abandonar por não ter pacificado o partido, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, ainda não conseguiu se colocar perante a sociedade. Num momento em que ser candidato exige uma dedicação ininterrupta, foi bastante discreto e praticamente não se posicionou com a assertividade necessária dos nossos tempos velozes das redes sociais sobre os principais temas dos debates brasileiros. Pesa o fato de que um governador no Brasil, de qualquer Estado, ser um eterno dependente dos recursos do governo federal. Mas a verdade é que Eduardo Leite tem sido cada vez menos citado como um aspirante viável ao Palácio do Planalto. Não há outros centristas à vista?

O que significa esse inverno do centro político brasileiro? Expressa na verdade um risco potencial. Caso o governo atual fracasse, a opção dos brasileiros pode recair novamente para um nome que represente o reacionarismo latente de parcela considerável da sociedade. Alguém do núcleo duro de asseclas, que Bolsonaro pode tirar da manga a qualquer momento, deixando a ver navios os direitistas moderados. Como ocorreu em 2018 e 2022, os poucos eleitores ainda de centro, que na verdade decidem o jogo numa sociedade dividida, acabarão dando um voto para esse radical.

Nos tempos de hiperinflação, dizia-se que o Brasil vivia o “efeito Orloff” da Argentina. Como uma ressaca da vodka, os equívocos do país vizinho eram repetidos aqui e, por óbvio, davam errado. Com o fracasso da política econômica argentina, há o risco de elegerem o radical Javier Milei, que parece não haver nem consenso de como pode ser qualificado: direitista, Bolsonaro argentino, ultra-liberal, libertário – porém assentem quando é chamado de louco.

Se o atual governo brasileiro malograr há o risco de duplo efeito Orloff caso a Argentina prefira Milei. Com o centro destruído, escolhemos Bolsonaro em 2018. Mesmo com o Brasil tendo mudado de rota em 2022, os vizinhos optam pelo indômito da vez em 2023. Em sequência, elegemos, em 2026, o agitador ou agitadora bolsonarista de plantão, numa trajetória excruciantes de populistas irresponsáveis no poder.

Hoje se completa um ano da realização do segundo turno das eleições que reelegeram Luiz Inácio Lula da Silva pela terceira vez. O País entrou de fato em uma rota de normalização institucional a partir do momento em que não temos mais um mandatário que, dia sim e no outro dia também sim, questiona a Justiça, o sistema eleitoral, debocha de problemas como no caso a pandemia, insufla seguidores, ataca a imprensa, e provoca confusões em geral.

Claro que o presidente Lula tem seus escorregões, como ser um quase-aliado do autocrata imperialista russo Vladimir Putin; afagar o ditador Venezuelano Nicolas Maduro; dar declarações ambíguas sobre responsabilidade fiscal; ou abrir espaços de poder aos fisiológicos de sempre, nesse caso talvez por falta de opções. Mas os baderneiros da turma do fundão saíram da cabine de comando, por enquanto. A questão não resolvida do combate ao déficit público pode até ser um pé de barro a colocar tudo a perder, as ideias econômicas de muita gente graúda do Partido dos Trabalhadores podem recolocar o Brasil em nova crise atroz, mas o governo segue no seu arroz com feijão com poucos sobressaltos.

As qualificações ideológicas costumam ser falhas ou insuficientes, mas temos um governo de centro-esquerda, mais para o centro do que à esquerda devido ao arco de alianças. Tinham razão até agora aqueles que negavam o uso do termo “polarização” para definir o País. Também, ao contrário do que prediziam os acampados de porta do quartel, não parece haver uma marcha para a instalação de uma ditadura comunista no Brasil, com o triunfo da ideologia de gênero e outras obsessões dos reacionários. Inclusive, com o atual Congresso, qualquer pauta “progressista” de costumes tem pouca chance de prosperar. O grande inimigo dos reaças é hoje o proativo Supremo Tribunal Federal.

Luiz Inácio Lula da Silva em São Paulo durante discurso após ter sido eleito presidente pela terceira vez no dia 30 de outubro de 2022 Foto: Daniel Teixeira/Estadão - 30/10/2022

A gritaria continua na Câmara e nas redes sociais, mas o Brasil não está em chamas. Como o governo Bolsonaro foi mais de destruição do que de construção (a agenda modernizante de Paulo Guedes acabou por ser mais tímida do que inicialmente se pretendia), a atual gestão segue em busca de desmontar o legado do governo Temer. Querem acabar com o teto de gastos, com a Lei das Estatais, com o marco do saneamento, com a reforma do ensino médio, e com a reforma trabalhista. O ministro da Previdência, Carlos Lupi, chegou a vociferar contra a reforma da Previdência, aprovada na era Bolsonaro, mas com o debate iniciado na era Temer. Como brigar contra a demografia e a matemática seria um pouco demais, Lupi levou o devido cala-boca.

Nesse cenário, com a inelegibilidade de Jair Bolsonaro decidida pelo TSE , a direita/centro-direita tem seus nomes no cardápio. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), um dia precisará escolher se deixará o Estado mais rico do Brasil para travar batalha provavelmente contra Lula. Romeu Zema (Novo) também se movimenta e já percebeu que seu jeito típico de ser não faz tanto sucesso fora das montanhas de Minas. Ratinho Júnior (PSD), do Paraná, está discretamente no aguardo por uma convocação. O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), avisou que quer concorrer.

E o centro brasileiro? Não o Centrão, mas o auto-denominado centro-democrático. Onde está, onde se encontra? Na verdade anda escondido. Numa jogada política habilidosa, Lula conquistou a candidata à presidente pelo MDB, Simone Tebet, nomeando-a para o ministério do Planejamento. Não se fala mais de Tebet como postulante à Presidência. Fora do páreo. Com três ministérios, provavelmente o MDB seguirá com o PT em 2026.

Mesmo tendo conquistado a presidência do PSDB, que agora pode abandonar por não ter pacificado o partido, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, ainda não conseguiu se colocar perante a sociedade. Num momento em que ser candidato exige uma dedicação ininterrupta, foi bastante discreto e praticamente não se posicionou com a assertividade necessária dos nossos tempos velozes das redes sociais sobre os principais temas dos debates brasileiros. Pesa o fato de que um governador no Brasil, de qualquer Estado, ser um eterno dependente dos recursos do governo federal. Mas a verdade é que Eduardo Leite tem sido cada vez menos citado como um aspirante viável ao Palácio do Planalto. Não há outros centristas à vista?

O que significa esse inverno do centro político brasileiro? Expressa na verdade um risco potencial. Caso o governo atual fracasse, a opção dos brasileiros pode recair novamente para um nome que represente o reacionarismo latente de parcela considerável da sociedade. Alguém do núcleo duro de asseclas, que Bolsonaro pode tirar da manga a qualquer momento, deixando a ver navios os direitistas moderados. Como ocorreu em 2018 e 2022, os poucos eleitores ainda de centro, que na verdade decidem o jogo numa sociedade dividida, acabarão dando um voto para esse radical.

Nos tempos de hiperinflação, dizia-se que o Brasil vivia o “efeito Orloff” da Argentina. Como uma ressaca da vodka, os equívocos do país vizinho eram repetidos aqui e, por óbvio, davam errado. Com o fracasso da política econômica argentina, há o risco de elegerem o radical Javier Milei, que parece não haver nem consenso de como pode ser qualificado: direitista, Bolsonaro argentino, ultra-liberal, libertário – porém assentem quando é chamado de louco.

Se o atual governo brasileiro malograr há o risco de duplo efeito Orloff caso a Argentina prefira Milei. Com o centro destruído, escolhemos Bolsonaro em 2018. Mesmo com o Brasil tendo mudado de rota em 2022, os vizinhos optam pelo indômito da vez em 2023. Em sequência, elegemos, em 2026, o agitador ou agitadora bolsonarista de plantão, numa trajetória excruciantes de populistas irresponsáveis no poder.

Hoje se completa um ano da realização do segundo turno das eleições que reelegeram Luiz Inácio Lula da Silva pela terceira vez. O País entrou de fato em uma rota de normalização institucional a partir do momento em que não temos mais um mandatário que, dia sim e no outro dia também sim, questiona a Justiça, o sistema eleitoral, debocha de problemas como no caso a pandemia, insufla seguidores, ataca a imprensa, e provoca confusões em geral.

Claro que o presidente Lula tem seus escorregões, como ser um quase-aliado do autocrata imperialista russo Vladimir Putin; afagar o ditador Venezuelano Nicolas Maduro; dar declarações ambíguas sobre responsabilidade fiscal; ou abrir espaços de poder aos fisiológicos de sempre, nesse caso talvez por falta de opções. Mas os baderneiros da turma do fundão saíram da cabine de comando, por enquanto. A questão não resolvida do combate ao déficit público pode até ser um pé de barro a colocar tudo a perder, as ideias econômicas de muita gente graúda do Partido dos Trabalhadores podem recolocar o Brasil em nova crise atroz, mas o governo segue no seu arroz com feijão com poucos sobressaltos.

As qualificações ideológicas costumam ser falhas ou insuficientes, mas temos um governo de centro-esquerda, mais para o centro do que à esquerda devido ao arco de alianças. Tinham razão até agora aqueles que negavam o uso do termo “polarização” para definir o País. Também, ao contrário do que prediziam os acampados de porta do quartel, não parece haver uma marcha para a instalação de uma ditadura comunista no Brasil, com o triunfo da ideologia de gênero e outras obsessões dos reacionários. Inclusive, com o atual Congresso, qualquer pauta “progressista” de costumes tem pouca chance de prosperar. O grande inimigo dos reaças é hoje o proativo Supremo Tribunal Federal.

Luiz Inácio Lula da Silva em São Paulo durante discurso após ter sido eleito presidente pela terceira vez no dia 30 de outubro de 2022 Foto: Daniel Teixeira/Estadão - 30/10/2022

A gritaria continua na Câmara e nas redes sociais, mas o Brasil não está em chamas. Como o governo Bolsonaro foi mais de destruição do que de construção (a agenda modernizante de Paulo Guedes acabou por ser mais tímida do que inicialmente se pretendia), a atual gestão segue em busca de desmontar o legado do governo Temer. Querem acabar com o teto de gastos, com a Lei das Estatais, com o marco do saneamento, com a reforma do ensino médio, e com a reforma trabalhista. O ministro da Previdência, Carlos Lupi, chegou a vociferar contra a reforma da Previdência, aprovada na era Bolsonaro, mas com o debate iniciado na era Temer. Como brigar contra a demografia e a matemática seria um pouco demais, Lupi levou o devido cala-boca.

Nesse cenário, com a inelegibilidade de Jair Bolsonaro decidida pelo TSE , a direita/centro-direita tem seus nomes no cardápio. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), um dia precisará escolher se deixará o Estado mais rico do Brasil para travar batalha provavelmente contra Lula. Romeu Zema (Novo) também se movimenta e já percebeu que seu jeito típico de ser não faz tanto sucesso fora das montanhas de Minas. Ratinho Júnior (PSD), do Paraná, está discretamente no aguardo por uma convocação. O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), avisou que quer concorrer.

E o centro brasileiro? Não o Centrão, mas o auto-denominado centro-democrático. Onde está, onde se encontra? Na verdade anda escondido. Numa jogada política habilidosa, Lula conquistou a candidata à presidente pelo MDB, Simone Tebet, nomeando-a para o ministério do Planejamento. Não se fala mais de Tebet como postulante à Presidência. Fora do páreo. Com três ministérios, provavelmente o MDB seguirá com o PT em 2026.

Mesmo tendo conquistado a presidência do PSDB, que agora pode abandonar por não ter pacificado o partido, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, ainda não conseguiu se colocar perante a sociedade. Num momento em que ser candidato exige uma dedicação ininterrupta, foi bastante discreto e praticamente não se posicionou com a assertividade necessária dos nossos tempos velozes das redes sociais sobre os principais temas dos debates brasileiros. Pesa o fato de que um governador no Brasil, de qualquer Estado, ser um eterno dependente dos recursos do governo federal. Mas a verdade é que Eduardo Leite tem sido cada vez menos citado como um aspirante viável ao Palácio do Planalto. Não há outros centristas à vista?

O que significa esse inverno do centro político brasileiro? Expressa na verdade um risco potencial. Caso o governo atual fracasse, a opção dos brasileiros pode recair novamente para um nome que represente o reacionarismo latente de parcela considerável da sociedade. Alguém do núcleo duro de asseclas, que Bolsonaro pode tirar da manga a qualquer momento, deixando a ver navios os direitistas moderados. Como ocorreu em 2018 e 2022, os poucos eleitores ainda de centro, que na verdade decidem o jogo numa sociedade dividida, acabarão dando um voto para esse radical.

Nos tempos de hiperinflação, dizia-se que o Brasil vivia o “efeito Orloff” da Argentina. Como uma ressaca da vodka, os equívocos do país vizinho eram repetidos aqui e, por óbvio, davam errado. Com o fracasso da política econômica argentina, há o risco de elegerem o radical Javier Milei, que parece não haver nem consenso de como pode ser qualificado: direitista, Bolsonaro argentino, ultra-liberal, libertário – porém assentem quando é chamado de louco.

Se o atual governo brasileiro malograr há o risco de duplo efeito Orloff caso a Argentina prefira Milei. Com o centro destruído, escolhemos Bolsonaro em 2018. Mesmo com o Brasil tendo mudado de rota em 2022, os vizinhos optam pelo indômito da vez em 2023. Em sequência, elegemos, em 2026, o agitador ou agitadora bolsonarista de plantão, numa trajetória excruciantes de populistas irresponsáveis no poder.

Opinião por Fabiano Lana

Fabiano Lana é formado em Comunicação Social pela UFMG e em Filosofia pela UnB, onde também tem mestrado na área. Foi repórter do Jornal do Brasil, entre outros veículos. Atua como consultor de comunicação. É autor do livro “Riobaldo agarra sua morte”, em que discute interseções entre jornalismo, política e ética.

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