Disputas de poder e o debate político-cultural brasileiro

Opinião|O mercado não liga para lágrimas ou ofensas, só quer o ajuste


Chorar, praguejar, ofender não irá nos tirar da armadilha que nós mesmos nos metemos de sermos um País que está sempre no vermelho

Por Fabiano Lana
Atualização:

É comovente a choradeira em reação à resposta severa do chamado mercado com o pacote de ajuste de contas apresentado esta semana pelo ministro da economia Fernando Haddad. Com a subida do dólar acima do patamar de R$ 6,00 começou um verdadeiro festival de lamúrias, seja de autoridades, seja de comentaristas, de influencers, de twitteiros, contra um mercado voraz que não daria a mínima para os pobres brasileiros, num nível de pieguice de fazer corar os roteiristas das novelas mexicanas da Televisa.

Parece até que o mercado é formado apenas por uma meia-dúzia de pessoas encasteladas nos luxuosos escritórios nas avenidas Faria Lima ou Juscelino Kubitscheck, em São Paulo. Gente má, de índole e caráter duvidoso. Se esses críticos do nosso precário capitalismo se desesperassem menos e se dedicassem um pouco mais a dar uma espionada na maneira como funciona o “mercado”, sem preconceitos atávicos e ódios profundos, saberia que nesse lugar tão endemoniado os valores são relativamente simples.

Se o pacote de Haddad se mostrasse claramente equilibrado de maneira que o País deixasse de ter déficit, haveria aplausos e queda do dólar. Se houvesse dúvidas sobre a aritmética da proposta, a reação seria oposta. Como prevaleceu a segunda hipótese, os ditos mercados deram o seu recado e o valor do dólar nas alturas virou meme (ah, ao contrário dos posts tão compartilhados de uma recém-falecida economista proclamando que pobre não come dólar, uma série produtos consumidos por quem está na base da pirâmide social tem valor vinculado à moeda americana – o trigo que faz o pão, por exemplo).

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Fernando Haddad, ministro da Fazenda Foto: Wilton Junior/Estadão

Mas é verdade que não existe moralidade em mercados. Investidores estão atrás de lucro e a outra opção é a falência – ou o socorro do Estado. Representam não só gangsters e milionários, mas milhões que quando colocam seu dinheiro em algum lugar não querem receber menos do que entregaram. As pessoas comuns quando decidem tirar da poupança e colocar na renda fixa também são investidores – fazem parte do mercado. Deliberadamente não querem perder seu dinheiro. Você, crítico do mercado, gostaria de perder o seu?

No caso do Brasil há condições objetivos a serem levadas em conta. Temos um índice até ok de crescimento econômico, temos a menor taxa de desemprego já registrada, mas também desquilíbrio bilionário entre gastos e arrecadação a cada ano que pode colocar tudo a perder. Em 2014, o PT também celebrava a menor taxa de desemprego da história, e quem já via a nuvem tenebrosa do déficit a ameaçar tudo recebeu o pouco edificante apelido de “pessimildo”. Hoje sabemos que o pessimildo tinha razão.

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Algum de nós colocaria o dinheiro de uma vida num, digamos, boteco, que tem prejuízos crônicos e todo mês faz empréstimos para continuar em funcionamento? E, em contrapartida, o dono de bodega avisa que irá aumentar o salário dos empregados, por que de fato eles assim o merecem? Não haveria um certo sobressalto? Para quem não vê o mundo pelas lentes do sentimentalismo, mas da soma e da subtração, melhor investir em outro estabelecimento comercial do outro lado da rua. Semelhança com o Brasil é coincidência.

Mas há uma lógica racional nesses movimentos. Colocar recursos em lugares que podem ir para a bancarrota pode significar a ruína geral. E quem vai procurar se auto-boicotar? Digamos que seja uma obrigação do mercado buscar os locais onde anteveja possibilidades de lucro e não de prejuízo. Seria sua razão de ser.

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O Brasil, como País que, goste-se ou não, precisa de recursos externos para pagar suas contas. Se não se ajustar precisará de pagar juros cada vez mais altos para se autofinanciar. A posição do mercado não é causa, mas consequência da irresponsabilidade – seja ela eleitoreira, populista ou bem-intencionada. Afinal, é razoável que os mais pobres paguem menos impostos, muita gente do andar de cima de fato tem privilégios tributários (leiam o livro Extremos, de Pedro Nery, sobre essa tremenda injustiça). Mas o pacote apresentado esta semana não traz as provas de que o conjunto de medidas se sustenta a longo prazo.

Chorar, praguejar, ofender não irá nos tirar da armadilha que nós mesmos nos metemos de sermos um País que está sempre no vermelho. Por último, mas não menos importante, a literatura econômica mostra que equilíbrio orçamentário, no longo prazo, tem sido o melhor caminho para que as nações superem a pobreza e se tornem mais prósperas (ao contrário das crenças do partido do presidente, que do mercado tanto desconfia).

É comovente a choradeira em reação à resposta severa do chamado mercado com o pacote de ajuste de contas apresentado esta semana pelo ministro da economia Fernando Haddad. Com a subida do dólar acima do patamar de R$ 6,00 começou um verdadeiro festival de lamúrias, seja de autoridades, seja de comentaristas, de influencers, de twitteiros, contra um mercado voraz que não daria a mínima para os pobres brasileiros, num nível de pieguice de fazer corar os roteiristas das novelas mexicanas da Televisa.

Parece até que o mercado é formado apenas por uma meia-dúzia de pessoas encasteladas nos luxuosos escritórios nas avenidas Faria Lima ou Juscelino Kubitscheck, em São Paulo. Gente má, de índole e caráter duvidoso. Se esses críticos do nosso precário capitalismo se desesperassem menos e se dedicassem um pouco mais a dar uma espionada na maneira como funciona o “mercado”, sem preconceitos atávicos e ódios profundos, saberia que nesse lugar tão endemoniado os valores são relativamente simples.

Se o pacote de Haddad se mostrasse claramente equilibrado de maneira que o País deixasse de ter déficit, haveria aplausos e queda do dólar. Se houvesse dúvidas sobre a aritmética da proposta, a reação seria oposta. Como prevaleceu a segunda hipótese, os ditos mercados deram o seu recado e o valor do dólar nas alturas virou meme (ah, ao contrário dos posts tão compartilhados de uma recém-falecida economista proclamando que pobre não come dólar, uma série produtos consumidos por quem está na base da pirâmide social tem valor vinculado à moeda americana – o trigo que faz o pão, por exemplo).

Fernando Haddad, ministro da Fazenda Foto: Wilton Junior/Estadão

Mas é verdade que não existe moralidade em mercados. Investidores estão atrás de lucro e a outra opção é a falência – ou o socorro do Estado. Representam não só gangsters e milionários, mas milhões que quando colocam seu dinheiro em algum lugar não querem receber menos do que entregaram. As pessoas comuns quando decidem tirar da poupança e colocar na renda fixa também são investidores – fazem parte do mercado. Deliberadamente não querem perder seu dinheiro. Você, crítico do mercado, gostaria de perder o seu?

No caso do Brasil há condições objetivos a serem levadas em conta. Temos um índice até ok de crescimento econômico, temos a menor taxa de desemprego já registrada, mas também desquilíbrio bilionário entre gastos e arrecadação a cada ano que pode colocar tudo a perder. Em 2014, o PT também celebrava a menor taxa de desemprego da história, e quem já via a nuvem tenebrosa do déficit a ameaçar tudo recebeu o pouco edificante apelido de “pessimildo”. Hoje sabemos que o pessimildo tinha razão.

Algum de nós colocaria o dinheiro de uma vida num, digamos, boteco, que tem prejuízos crônicos e todo mês faz empréstimos para continuar em funcionamento? E, em contrapartida, o dono de bodega avisa que irá aumentar o salário dos empregados, por que de fato eles assim o merecem? Não haveria um certo sobressalto? Para quem não vê o mundo pelas lentes do sentimentalismo, mas da soma e da subtração, melhor investir em outro estabelecimento comercial do outro lado da rua. Semelhança com o Brasil é coincidência.

Mas há uma lógica racional nesses movimentos. Colocar recursos em lugares que podem ir para a bancarrota pode significar a ruína geral. E quem vai procurar se auto-boicotar? Digamos que seja uma obrigação do mercado buscar os locais onde anteveja possibilidades de lucro e não de prejuízo. Seria sua razão de ser.

O Brasil, como País que, goste-se ou não, precisa de recursos externos para pagar suas contas. Se não se ajustar precisará de pagar juros cada vez mais altos para se autofinanciar. A posição do mercado não é causa, mas consequência da irresponsabilidade – seja ela eleitoreira, populista ou bem-intencionada. Afinal, é razoável que os mais pobres paguem menos impostos, muita gente do andar de cima de fato tem privilégios tributários (leiam o livro Extremos, de Pedro Nery, sobre essa tremenda injustiça). Mas o pacote apresentado esta semana não traz as provas de que o conjunto de medidas se sustenta a longo prazo.

Chorar, praguejar, ofender não irá nos tirar da armadilha que nós mesmos nos metemos de sermos um País que está sempre no vermelho. Por último, mas não menos importante, a literatura econômica mostra que equilíbrio orçamentário, no longo prazo, tem sido o melhor caminho para que as nações superem a pobreza e se tornem mais prósperas (ao contrário das crenças do partido do presidente, que do mercado tanto desconfia).

É comovente a choradeira em reação à resposta severa do chamado mercado com o pacote de ajuste de contas apresentado esta semana pelo ministro da economia Fernando Haddad. Com a subida do dólar acima do patamar de R$ 6,00 começou um verdadeiro festival de lamúrias, seja de autoridades, seja de comentaristas, de influencers, de twitteiros, contra um mercado voraz que não daria a mínima para os pobres brasileiros, num nível de pieguice de fazer corar os roteiristas das novelas mexicanas da Televisa.

Parece até que o mercado é formado apenas por uma meia-dúzia de pessoas encasteladas nos luxuosos escritórios nas avenidas Faria Lima ou Juscelino Kubitscheck, em São Paulo. Gente má, de índole e caráter duvidoso. Se esses críticos do nosso precário capitalismo se desesperassem menos e se dedicassem um pouco mais a dar uma espionada na maneira como funciona o “mercado”, sem preconceitos atávicos e ódios profundos, saberia que nesse lugar tão endemoniado os valores são relativamente simples.

Se o pacote de Haddad se mostrasse claramente equilibrado de maneira que o País deixasse de ter déficit, haveria aplausos e queda do dólar. Se houvesse dúvidas sobre a aritmética da proposta, a reação seria oposta. Como prevaleceu a segunda hipótese, os ditos mercados deram o seu recado e o valor do dólar nas alturas virou meme (ah, ao contrário dos posts tão compartilhados de uma recém-falecida economista proclamando que pobre não come dólar, uma série produtos consumidos por quem está na base da pirâmide social tem valor vinculado à moeda americana – o trigo que faz o pão, por exemplo).

Fernando Haddad, ministro da Fazenda Foto: Wilton Junior/Estadão

Mas é verdade que não existe moralidade em mercados. Investidores estão atrás de lucro e a outra opção é a falência – ou o socorro do Estado. Representam não só gangsters e milionários, mas milhões que quando colocam seu dinheiro em algum lugar não querem receber menos do que entregaram. As pessoas comuns quando decidem tirar da poupança e colocar na renda fixa também são investidores – fazem parte do mercado. Deliberadamente não querem perder seu dinheiro. Você, crítico do mercado, gostaria de perder o seu?

No caso do Brasil há condições objetivos a serem levadas em conta. Temos um índice até ok de crescimento econômico, temos a menor taxa de desemprego já registrada, mas também desquilíbrio bilionário entre gastos e arrecadação a cada ano que pode colocar tudo a perder. Em 2014, o PT também celebrava a menor taxa de desemprego da história, e quem já via a nuvem tenebrosa do déficit a ameaçar tudo recebeu o pouco edificante apelido de “pessimildo”. Hoje sabemos que o pessimildo tinha razão.

Algum de nós colocaria o dinheiro de uma vida num, digamos, boteco, que tem prejuízos crônicos e todo mês faz empréstimos para continuar em funcionamento? E, em contrapartida, o dono de bodega avisa que irá aumentar o salário dos empregados, por que de fato eles assim o merecem? Não haveria um certo sobressalto? Para quem não vê o mundo pelas lentes do sentimentalismo, mas da soma e da subtração, melhor investir em outro estabelecimento comercial do outro lado da rua. Semelhança com o Brasil é coincidência.

Mas há uma lógica racional nesses movimentos. Colocar recursos em lugares que podem ir para a bancarrota pode significar a ruína geral. E quem vai procurar se auto-boicotar? Digamos que seja uma obrigação do mercado buscar os locais onde anteveja possibilidades de lucro e não de prejuízo. Seria sua razão de ser.

O Brasil, como País que, goste-se ou não, precisa de recursos externos para pagar suas contas. Se não se ajustar precisará de pagar juros cada vez mais altos para se autofinanciar. A posição do mercado não é causa, mas consequência da irresponsabilidade – seja ela eleitoreira, populista ou bem-intencionada. Afinal, é razoável que os mais pobres paguem menos impostos, muita gente do andar de cima de fato tem privilégios tributários (leiam o livro Extremos, de Pedro Nery, sobre essa tremenda injustiça). Mas o pacote apresentado esta semana não traz as provas de que o conjunto de medidas se sustenta a longo prazo.

Chorar, praguejar, ofender não irá nos tirar da armadilha que nós mesmos nos metemos de sermos um País que está sempre no vermelho. Por último, mas não menos importante, a literatura econômica mostra que equilíbrio orçamentário, no longo prazo, tem sido o melhor caminho para que as nações superem a pobreza e se tornem mais prósperas (ao contrário das crenças do partido do presidente, que do mercado tanto desconfia).

É comovente a choradeira em reação à resposta severa do chamado mercado com o pacote de ajuste de contas apresentado esta semana pelo ministro da economia Fernando Haddad. Com a subida do dólar acima do patamar de R$ 6,00 começou um verdadeiro festival de lamúrias, seja de autoridades, seja de comentaristas, de influencers, de twitteiros, contra um mercado voraz que não daria a mínima para os pobres brasileiros, num nível de pieguice de fazer corar os roteiristas das novelas mexicanas da Televisa.

Parece até que o mercado é formado apenas por uma meia-dúzia de pessoas encasteladas nos luxuosos escritórios nas avenidas Faria Lima ou Juscelino Kubitscheck, em São Paulo. Gente má, de índole e caráter duvidoso. Se esses críticos do nosso precário capitalismo se desesperassem menos e se dedicassem um pouco mais a dar uma espionada na maneira como funciona o “mercado”, sem preconceitos atávicos e ódios profundos, saberia que nesse lugar tão endemoniado os valores são relativamente simples.

Se o pacote de Haddad se mostrasse claramente equilibrado de maneira que o País deixasse de ter déficit, haveria aplausos e queda do dólar. Se houvesse dúvidas sobre a aritmética da proposta, a reação seria oposta. Como prevaleceu a segunda hipótese, os ditos mercados deram o seu recado e o valor do dólar nas alturas virou meme (ah, ao contrário dos posts tão compartilhados de uma recém-falecida economista proclamando que pobre não come dólar, uma série produtos consumidos por quem está na base da pirâmide social tem valor vinculado à moeda americana – o trigo que faz o pão, por exemplo).

Fernando Haddad, ministro da Fazenda Foto: Wilton Junior/Estadão

Mas é verdade que não existe moralidade em mercados. Investidores estão atrás de lucro e a outra opção é a falência – ou o socorro do Estado. Representam não só gangsters e milionários, mas milhões que quando colocam seu dinheiro em algum lugar não querem receber menos do que entregaram. As pessoas comuns quando decidem tirar da poupança e colocar na renda fixa também são investidores – fazem parte do mercado. Deliberadamente não querem perder seu dinheiro. Você, crítico do mercado, gostaria de perder o seu?

No caso do Brasil há condições objetivos a serem levadas em conta. Temos um índice até ok de crescimento econômico, temos a menor taxa de desemprego já registrada, mas também desquilíbrio bilionário entre gastos e arrecadação a cada ano que pode colocar tudo a perder. Em 2014, o PT também celebrava a menor taxa de desemprego da história, e quem já via a nuvem tenebrosa do déficit a ameaçar tudo recebeu o pouco edificante apelido de “pessimildo”. Hoje sabemos que o pessimildo tinha razão.

Algum de nós colocaria o dinheiro de uma vida num, digamos, boteco, que tem prejuízos crônicos e todo mês faz empréstimos para continuar em funcionamento? E, em contrapartida, o dono de bodega avisa que irá aumentar o salário dos empregados, por que de fato eles assim o merecem? Não haveria um certo sobressalto? Para quem não vê o mundo pelas lentes do sentimentalismo, mas da soma e da subtração, melhor investir em outro estabelecimento comercial do outro lado da rua. Semelhança com o Brasil é coincidência.

Mas há uma lógica racional nesses movimentos. Colocar recursos em lugares que podem ir para a bancarrota pode significar a ruína geral. E quem vai procurar se auto-boicotar? Digamos que seja uma obrigação do mercado buscar os locais onde anteveja possibilidades de lucro e não de prejuízo. Seria sua razão de ser.

O Brasil, como País que, goste-se ou não, precisa de recursos externos para pagar suas contas. Se não se ajustar precisará de pagar juros cada vez mais altos para se autofinanciar. A posição do mercado não é causa, mas consequência da irresponsabilidade – seja ela eleitoreira, populista ou bem-intencionada. Afinal, é razoável que os mais pobres paguem menos impostos, muita gente do andar de cima de fato tem privilégios tributários (leiam o livro Extremos, de Pedro Nery, sobre essa tremenda injustiça). Mas o pacote apresentado esta semana não traz as provas de que o conjunto de medidas se sustenta a longo prazo.

Chorar, praguejar, ofender não irá nos tirar da armadilha que nós mesmos nos metemos de sermos um País que está sempre no vermelho. Por último, mas não menos importante, a literatura econômica mostra que equilíbrio orçamentário, no longo prazo, tem sido o melhor caminho para que as nações superem a pobreza e se tornem mais prósperas (ao contrário das crenças do partido do presidente, que do mercado tanto desconfia).

É comovente a choradeira em reação à resposta severa do chamado mercado com o pacote de ajuste de contas apresentado esta semana pelo ministro da economia Fernando Haddad. Com a subida do dólar acima do patamar de R$ 6,00 começou um verdadeiro festival de lamúrias, seja de autoridades, seja de comentaristas, de influencers, de twitteiros, contra um mercado voraz que não daria a mínima para os pobres brasileiros, num nível de pieguice de fazer corar os roteiristas das novelas mexicanas da Televisa.

Parece até que o mercado é formado apenas por uma meia-dúzia de pessoas encasteladas nos luxuosos escritórios nas avenidas Faria Lima ou Juscelino Kubitscheck, em São Paulo. Gente má, de índole e caráter duvidoso. Se esses críticos do nosso precário capitalismo se desesperassem menos e se dedicassem um pouco mais a dar uma espionada na maneira como funciona o “mercado”, sem preconceitos atávicos e ódios profundos, saberia que nesse lugar tão endemoniado os valores são relativamente simples.

Se o pacote de Haddad se mostrasse claramente equilibrado de maneira que o País deixasse de ter déficit, haveria aplausos e queda do dólar. Se houvesse dúvidas sobre a aritmética da proposta, a reação seria oposta. Como prevaleceu a segunda hipótese, os ditos mercados deram o seu recado e o valor do dólar nas alturas virou meme (ah, ao contrário dos posts tão compartilhados de uma recém-falecida economista proclamando que pobre não come dólar, uma série produtos consumidos por quem está na base da pirâmide social tem valor vinculado à moeda americana – o trigo que faz o pão, por exemplo).

Fernando Haddad, ministro da Fazenda Foto: Wilton Junior/Estadão

Mas é verdade que não existe moralidade em mercados. Investidores estão atrás de lucro e a outra opção é a falência – ou o socorro do Estado. Representam não só gangsters e milionários, mas milhões que quando colocam seu dinheiro em algum lugar não querem receber menos do que entregaram. As pessoas comuns quando decidem tirar da poupança e colocar na renda fixa também são investidores – fazem parte do mercado. Deliberadamente não querem perder seu dinheiro. Você, crítico do mercado, gostaria de perder o seu?

No caso do Brasil há condições objetivos a serem levadas em conta. Temos um índice até ok de crescimento econômico, temos a menor taxa de desemprego já registrada, mas também desquilíbrio bilionário entre gastos e arrecadação a cada ano que pode colocar tudo a perder. Em 2014, o PT também celebrava a menor taxa de desemprego da história, e quem já via a nuvem tenebrosa do déficit a ameaçar tudo recebeu o pouco edificante apelido de “pessimildo”. Hoje sabemos que o pessimildo tinha razão.

Algum de nós colocaria o dinheiro de uma vida num, digamos, boteco, que tem prejuízos crônicos e todo mês faz empréstimos para continuar em funcionamento? E, em contrapartida, o dono de bodega avisa que irá aumentar o salário dos empregados, por que de fato eles assim o merecem? Não haveria um certo sobressalto? Para quem não vê o mundo pelas lentes do sentimentalismo, mas da soma e da subtração, melhor investir em outro estabelecimento comercial do outro lado da rua. Semelhança com o Brasil é coincidência.

Mas há uma lógica racional nesses movimentos. Colocar recursos em lugares que podem ir para a bancarrota pode significar a ruína geral. E quem vai procurar se auto-boicotar? Digamos que seja uma obrigação do mercado buscar os locais onde anteveja possibilidades de lucro e não de prejuízo. Seria sua razão de ser.

O Brasil, como País que, goste-se ou não, precisa de recursos externos para pagar suas contas. Se não se ajustar precisará de pagar juros cada vez mais altos para se autofinanciar. A posição do mercado não é causa, mas consequência da irresponsabilidade – seja ela eleitoreira, populista ou bem-intencionada. Afinal, é razoável que os mais pobres paguem menos impostos, muita gente do andar de cima de fato tem privilégios tributários (leiam o livro Extremos, de Pedro Nery, sobre essa tremenda injustiça). Mas o pacote apresentado esta semana não traz as provas de que o conjunto de medidas se sustenta a longo prazo.

Chorar, praguejar, ofender não irá nos tirar da armadilha que nós mesmos nos metemos de sermos um País que está sempre no vermelho. Por último, mas não menos importante, a literatura econômica mostra que equilíbrio orçamentário, no longo prazo, tem sido o melhor caminho para que as nações superem a pobreza e se tornem mais prósperas (ao contrário das crenças do partido do presidente, que do mercado tanto desconfia).

Opinião por Fabiano Lana

Fabiano Lana é formado em Comunicação Social pela UFMG e em Filosofia pela UnB, onde também tem mestrado na área. Foi repórter do Jornal do Brasil, entre outros veículos. Atua como consultor de comunicação. É autor do livro “Riobaldo agarra sua morte”, em que discute interseções entre jornalismo, política e ética.

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