Disputas de poder e o debate político-cultural brasileiro

Opinião|Bolsonaro faz discurso de acuado e ato na Paulista apresenta roteiro de ex-presidente injustiçado


Caso o ex-presidente Jair Bolsonaro seja encarcerado por uma tentativa de golpe de Estado, todo processo será visto como uma farsa

Por Fabiano Lana
Atualização:

O fato menos notável em todo o evento de defesa de Jair Bolsonaro que ocorreu neste domingo, 25, na Avenida Paulista foi o discurso do ex-presidente. Não houve ataques às instituições ou a autoridades, investidas contra as urnas eletrônicas, apologia à cloroquina, defesa do regime de 64, arminha com a mão, “imbrochável” e quase tudo mais que transformou o obscuro ex-militar e deputado em fenômeno de massas. Na própria justificativa de que teria intenção de perpetrar um golpe, retraído, Bolsonaro nos forneceu uma explicação algo sinuosa sobre a tal minuta que embasaria os acontecimentos, o que seria um estado de sítio e como não poderia ter atentado contra a democracia. Também pediu anistia para os presos de 8/1. Uma fala de quem sabe estar acuado e tem o cárcere como perspectiva.

O que ficou, entretanto, é o que o bolsonarismo, e mesmo a chamada (extrema) direita ainda representa muito para o País. É um fenômeno que não refluiu com a derrota nas eleições de 2022. Por mais que quem se opõe ao que ocorreu neste domingo em São Paulo tente minimizar um aspecto ou outro, é inegável que foi uma das maiores manifestações que já ocorreram no Brasil com sua mistura de religião, messianismo e fanatismo. A história do bolsonarismo será contada por eles como uma epopeia de perseguidos bíblicos, e exemplo do êxodo de Moisés em direção à Israel.

Jair Bolsonaro na manifestação na Avenida Paulista neste domingo, 25 Foto: Taba Benedicto/Estadão
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Do ponto de vista político três dos quatro governadores que estavam lá buscam entre si o espólio do bolsonarismo e precisam baixar a cabeça para essa maneira de perceber a trajetória do líder: Tarcísio de Freitas, de São Paulo; Romeu Zema, de Minas Gerais; e Ronaldo Caiado, de Goiás. Sabem que sem o aval de Bolsonaro não terão mínima chance de serem competitivos em 2026. Nisso, para aplaudir a turma ali presente e suas visões de mundo, enfrentaram colunistas de imprensa, formadores de opinião e outras categorias que são tida pelo bolsonarismo, na sua peculiar e maniqueísta visão de mundo, simplesmente como inimigos.

Ficou evidente como está profunda a aliança que Bolsonaro possui com setores evangélicos no Brasil. A fala emocionada da ex-primeira-dama, recheada de citações ao Velho Testamento, era destinada ao Brasil neopentencostal. “Fomos negligentes ao falar que não se pode misturar política com religião e o mal tomou conta”, disse a ex-primeira-dama, que talvez discorde da separação entre Estado e religião presente nas democracias ocidentais.

Outros oradores como o deputado Nikolas Ferreira, o senador Magno Malta e o organizador, pastor Silas Malafaia (o único que atacou Alexandre de Moraes), também miraram os leitores da Bíblia. “O presente pode ser deles, mas o futuro será nosso”, afirmou Nikolas, talvez consciente que em 2032, segundo as previsões do IBGE, os evangélicos serão maioria entre as crenças no Brasil.

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O presidente Lula pode ter tido muitas intenções ao comparar os bombardeios de Israel a Gaza ao genocídio nazista. Dar uma sacudida no mundo, segundo seu assessor Celso Amorim. Mas Lula tinha consciência dessa junção dos evangélicos brasileiros com o Estado israelense? Por motivos religiosos já que se acredita em uma volta de Cristo que vai liderar seu reino a partir de lá. A consequência foram bandeiras de Israel seguradas com louvor no trio elétrico, no asfalto, e perda eleitoral para o presidente de plantão.

Já está precificado pelos apoiadores que Bolsonaro pode ser preso. Mas a estratégia de contra-ataque está pronta. Caso o ex-presidente seja encarcerado por uma tentativa de golpe de Estado, todo processo será visto como uma farsa. Michelle Bolsonaro deu o tom: é um perseguido porque foi escolhido de Deus e se martiriza por isso. Bolsonaro paga por defender a pátria, a família, a “vida desde a concepção”, “a propriedade” ou um País longe das drogas. São grandes valores que estariam em jogo. Outros oradores foram claros ao ir pelo mesmo caminho. “Se te prenderem não será pela sua destruição, mas destruição deles. Jair Messias Bolsonaro, o maior perseguido político de nossa história”, tentou sintetizar Silas Malafaia, o líder religioso que pagou a festa, com direito até trilha sonora de fundo para os momentos mais graves das falas e uma versão instrumental de “Baile de Favela”, canção cuja letra não deve ser agradável ao ouvido de quem diz defender valores conservadores.

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O ex-presidente Jair Bolsonaro foi derrotado nas eleições de 2022. Mas um objetivo cumprido da manifestação deste domingo é mostrar que o movimento segue forte e ativo, basta ser convocado. Os vitoriosos das últimas eleições presidenciais tendem sempre a esquecer que ganharam apenas com 51% dos votos e governam um País profundamente divido. Já a Justiça segue sob a desconfiança de metade da população que não acredita em sua imparcialidade. As divisões se aprofundam, e, aparentemente, não se vê no horizonte propostas que busquem a conciliação de um País. Nessas condições, os que lotaram a Paulista lutam novamente pela sua vez.

O fato menos notável em todo o evento de defesa de Jair Bolsonaro que ocorreu neste domingo, 25, na Avenida Paulista foi o discurso do ex-presidente. Não houve ataques às instituições ou a autoridades, investidas contra as urnas eletrônicas, apologia à cloroquina, defesa do regime de 64, arminha com a mão, “imbrochável” e quase tudo mais que transformou o obscuro ex-militar e deputado em fenômeno de massas. Na própria justificativa de que teria intenção de perpetrar um golpe, retraído, Bolsonaro nos forneceu uma explicação algo sinuosa sobre a tal minuta que embasaria os acontecimentos, o que seria um estado de sítio e como não poderia ter atentado contra a democracia. Também pediu anistia para os presos de 8/1. Uma fala de quem sabe estar acuado e tem o cárcere como perspectiva.

O que ficou, entretanto, é o que o bolsonarismo, e mesmo a chamada (extrema) direita ainda representa muito para o País. É um fenômeno que não refluiu com a derrota nas eleições de 2022. Por mais que quem se opõe ao que ocorreu neste domingo em São Paulo tente minimizar um aspecto ou outro, é inegável que foi uma das maiores manifestações que já ocorreram no Brasil com sua mistura de religião, messianismo e fanatismo. A história do bolsonarismo será contada por eles como uma epopeia de perseguidos bíblicos, e exemplo do êxodo de Moisés em direção à Israel.

Jair Bolsonaro na manifestação na Avenida Paulista neste domingo, 25 Foto: Taba Benedicto/Estadão

Do ponto de vista político três dos quatro governadores que estavam lá buscam entre si o espólio do bolsonarismo e precisam baixar a cabeça para essa maneira de perceber a trajetória do líder: Tarcísio de Freitas, de São Paulo; Romeu Zema, de Minas Gerais; e Ronaldo Caiado, de Goiás. Sabem que sem o aval de Bolsonaro não terão mínima chance de serem competitivos em 2026. Nisso, para aplaudir a turma ali presente e suas visões de mundo, enfrentaram colunistas de imprensa, formadores de opinião e outras categorias que são tida pelo bolsonarismo, na sua peculiar e maniqueísta visão de mundo, simplesmente como inimigos.

Ficou evidente como está profunda a aliança que Bolsonaro possui com setores evangélicos no Brasil. A fala emocionada da ex-primeira-dama, recheada de citações ao Velho Testamento, era destinada ao Brasil neopentencostal. “Fomos negligentes ao falar que não se pode misturar política com religião e o mal tomou conta”, disse a ex-primeira-dama, que talvez discorde da separação entre Estado e religião presente nas democracias ocidentais.

Outros oradores como o deputado Nikolas Ferreira, o senador Magno Malta e o organizador, pastor Silas Malafaia (o único que atacou Alexandre de Moraes), também miraram os leitores da Bíblia. “O presente pode ser deles, mas o futuro será nosso”, afirmou Nikolas, talvez consciente que em 2032, segundo as previsões do IBGE, os evangélicos serão maioria entre as crenças no Brasil.

O presidente Lula pode ter tido muitas intenções ao comparar os bombardeios de Israel a Gaza ao genocídio nazista. Dar uma sacudida no mundo, segundo seu assessor Celso Amorim. Mas Lula tinha consciência dessa junção dos evangélicos brasileiros com o Estado israelense? Por motivos religiosos já que se acredita em uma volta de Cristo que vai liderar seu reino a partir de lá. A consequência foram bandeiras de Israel seguradas com louvor no trio elétrico, no asfalto, e perda eleitoral para o presidente de plantão.

Já está precificado pelos apoiadores que Bolsonaro pode ser preso. Mas a estratégia de contra-ataque está pronta. Caso o ex-presidente seja encarcerado por uma tentativa de golpe de Estado, todo processo será visto como uma farsa. Michelle Bolsonaro deu o tom: é um perseguido porque foi escolhido de Deus e se martiriza por isso. Bolsonaro paga por defender a pátria, a família, a “vida desde a concepção”, “a propriedade” ou um País longe das drogas. São grandes valores que estariam em jogo. Outros oradores foram claros ao ir pelo mesmo caminho. “Se te prenderem não será pela sua destruição, mas destruição deles. Jair Messias Bolsonaro, o maior perseguido político de nossa história”, tentou sintetizar Silas Malafaia, o líder religioso que pagou a festa, com direito até trilha sonora de fundo para os momentos mais graves das falas e uma versão instrumental de “Baile de Favela”, canção cuja letra não deve ser agradável ao ouvido de quem diz defender valores conservadores.

O ex-presidente Jair Bolsonaro foi derrotado nas eleições de 2022. Mas um objetivo cumprido da manifestação deste domingo é mostrar que o movimento segue forte e ativo, basta ser convocado. Os vitoriosos das últimas eleições presidenciais tendem sempre a esquecer que ganharam apenas com 51% dos votos e governam um País profundamente divido. Já a Justiça segue sob a desconfiança de metade da população que não acredita em sua imparcialidade. As divisões se aprofundam, e, aparentemente, não se vê no horizonte propostas que busquem a conciliação de um País. Nessas condições, os que lotaram a Paulista lutam novamente pela sua vez.

O fato menos notável em todo o evento de defesa de Jair Bolsonaro que ocorreu neste domingo, 25, na Avenida Paulista foi o discurso do ex-presidente. Não houve ataques às instituições ou a autoridades, investidas contra as urnas eletrônicas, apologia à cloroquina, defesa do regime de 64, arminha com a mão, “imbrochável” e quase tudo mais que transformou o obscuro ex-militar e deputado em fenômeno de massas. Na própria justificativa de que teria intenção de perpetrar um golpe, retraído, Bolsonaro nos forneceu uma explicação algo sinuosa sobre a tal minuta que embasaria os acontecimentos, o que seria um estado de sítio e como não poderia ter atentado contra a democracia. Também pediu anistia para os presos de 8/1. Uma fala de quem sabe estar acuado e tem o cárcere como perspectiva.

O que ficou, entretanto, é o que o bolsonarismo, e mesmo a chamada (extrema) direita ainda representa muito para o País. É um fenômeno que não refluiu com a derrota nas eleições de 2022. Por mais que quem se opõe ao que ocorreu neste domingo em São Paulo tente minimizar um aspecto ou outro, é inegável que foi uma das maiores manifestações que já ocorreram no Brasil com sua mistura de religião, messianismo e fanatismo. A história do bolsonarismo será contada por eles como uma epopeia de perseguidos bíblicos, e exemplo do êxodo de Moisés em direção à Israel.

Jair Bolsonaro na manifestação na Avenida Paulista neste domingo, 25 Foto: Taba Benedicto/Estadão

Do ponto de vista político três dos quatro governadores que estavam lá buscam entre si o espólio do bolsonarismo e precisam baixar a cabeça para essa maneira de perceber a trajetória do líder: Tarcísio de Freitas, de São Paulo; Romeu Zema, de Minas Gerais; e Ronaldo Caiado, de Goiás. Sabem que sem o aval de Bolsonaro não terão mínima chance de serem competitivos em 2026. Nisso, para aplaudir a turma ali presente e suas visões de mundo, enfrentaram colunistas de imprensa, formadores de opinião e outras categorias que são tida pelo bolsonarismo, na sua peculiar e maniqueísta visão de mundo, simplesmente como inimigos.

Ficou evidente como está profunda a aliança que Bolsonaro possui com setores evangélicos no Brasil. A fala emocionada da ex-primeira-dama, recheada de citações ao Velho Testamento, era destinada ao Brasil neopentencostal. “Fomos negligentes ao falar que não se pode misturar política com religião e o mal tomou conta”, disse a ex-primeira-dama, que talvez discorde da separação entre Estado e religião presente nas democracias ocidentais.

Outros oradores como o deputado Nikolas Ferreira, o senador Magno Malta e o organizador, pastor Silas Malafaia (o único que atacou Alexandre de Moraes), também miraram os leitores da Bíblia. “O presente pode ser deles, mas o futuro será nosso”, afirmou Nikolas, talvez consciente que em 2032, segundo as previsões do IBGE, os evangélicos serão maioria entre as crenças no Brasil.

O presidente Lula pode ter tido muitas intenções ao comparar os bombardeios de Israel a Gaza ao genocídio nazista. Dar uma sacudida no mundo, segundo seu assessor Celso Amorim. Mas Lula tinha consciência dessa junção dos evangélicos brasileiros com o Estado israelense? Por motivos religiosos já que se acredita em uma volta de Cristo que vai liderar seu reino a partir de lá. A consequência foram bandeiras de Israel seguradas com louvor no trio elétrico, no asfalto, e perda eleitoral para o presidente de plantão.

Já está precificado pelos apoiadores que Bolsonaro pode ser preso. Mas a estratégia de contra-ataque está pronta. Caso o ex-presidente seja encarcerado por uma tentativa de golpe de Estado, todo processo será visto como uma farsa. Michelle Bolsonaro deu o tom: é um perseguido porque foi escolhido de Deus e se martiriza por isso. Bolsonaro paga por defender a pátria, a família, a “vida desde a concepção”, “a propriedade” ou um País longe das drogas. São grandes valores que estariam em jogo. Outros oradores foram claros ao ir pelo mesmo caminho. “Se te prenderem não será pela sua destruição, mas destruição deles. Jair Messias Bolsonaro, o maior perseguido político de nossa história”, tentou sintetizar Silas Malafaia, o líder religioso que pagou a festa, com direito até trilha sonora de fundo para os momentos mais graves das falas e uma versão instrumental de “Baile de Favela”, canção cuja letra não deve ser agradável ao ouvido de quem diz defender valores conservadores.

O ex-presidente Jair Bolsonaro foi derrotado nas eleições de 2022. Mas um objetivo cumprido da manifestação deste domingo é mostrar que o movimento segue forte e ativo, basta ser convocado. Os vitoriosos das últimas eleições presidenciais tendem sempre a esquecer que ganharam apenas com 51% dos votos e governam um País profundamente divido. Já a Justiça segue sob a desconfiança de metade da população que não acredita em sua imparcialidade. As divisões se aprofundam, e, aparentemente, não se vê no horizonte propostas que busquem a conciliação de um País. Nessas condições, os que lotaram a Paulista lutam novamente pela sua vez.

O fato menos notável em todo o evento de defesa de Jair Bolsonaro que ocorreu neste domingo, 25, na Avenida Paulista foi o discurso do ex-presidente. Não houve ataques às instituições ou a autoridades, investidas contra as urnas eletrônicas, apologia à cloroquina, defesa do regime de 64, arminha com a mão, “imbrochável” e quase tudo mais que transformou o obscuro ex-militar e deputado em fenômeno de massas. Na própria justificativa de que teria intenção de perpetrar um golpe, retraído, Bolsonaro nos forneceu uma explicação algo sinuosa sobre a tal minuta que embasaria os acontecimentos, o que seria um estado de sítio e como não poderia ter atentado contra a democracia. Também pediu anistia para os presos de 8/1. Uma fala de quem sabe estar acuado e tem o cárcere como perspectiva.

O que ficou, entretanto, é o que o bolsonarismo, e mesmo a chamada (extrema) direita ainda representa muito para o País. É um fenômeno que não refluiu com a derrota nas eleições de 2022. Por mais que quem se opõe ao que ocorreu neste domingo em São Paulo tente minimizar um aspecto ou outro, é inegável que foi uma das maiores manifestações que já ocorreram no Brasil com sua mistura de religião, messianismo e fanatismo. A história do bolsonarismo será contada por eles como uma epopeia de perseguidos bíblicos, e exemplo do êxodo de Moisés em direção à Israel.

Jair Bolsonaro na manifestação na Avenida Paulista neste domingo, 25 Foto: Taba Benedicto/Estadão

Do ponto de vista político três dos quatro governadores que estavam lá buscam entre si o espólio do bolsonarismo e precisam baixar a cabeça para essa maneira de perceber a trajetória do líder: Tarcísio de Freitas, de São Paulo; Romeu Zema, de Minas Gerais; e Ronaldo Caiado, de Goiás. Sabem que sem o aval de Bolsonaro não terão mínima chance de serem competitivos em 2026. Nisso, para aplaudir a turma ali presente e suas visões de mundo, enfrentaram colunistas de imprensa, formadores de opinião e outras categorias que são tida pelo bolsonarismo, na sua peculiar e maniqueísta visão de mundo, simplesmente como inimigos.

Ficou evidente como está profunda a aliança que Bolsonaro possui com setores evangélicos no Brasil. A fala emocionada da ex-primeira-dama, recheada de citações ao Velho Testamento, era destinada ao Brasil neopentencostal. “Fomos negligentes ao falar que não se pode misturar política com religião e o mal tomou conta”, disse a ex-primeira-dama, que talvez discorde da separação entre Estado e religião presente nas democracias ocidentais.

Outros oradores como o deputado Nikolas Ferreira, o senador Magno Malta e o organizador, pastor Silas Malafaia (o único que atacou Alexandre de Moraes), também miraram os leitores da Bíblia. “O presente pode ser deles, mas o futuro será nosso”, afirmou Nikolas, talvez consciente que em 2032, segundo as previsões do IBGE, os evangélicos serão maioria entre as crenças no Brasil.

O presidente Lula pode ter tido muitas intenções ao comparar os bombardeios de Israel a Gaza ao genocídio nazista. Dar uma sacudida no mundo, segundo seu assessor Celso Amorim. Mas Lula tinha consciência dessa junção dos evangélicos brasileiros com o Estado israelense? Por motivos religiosos já que se acredita em uma volta de Cristo que vai liderar seu reino a partir de lá. A consequência foram bandeiras de Israel seguradas com louvor no trio elétrico, no asfalto, e perda eleitoral para o presidente de plantão.

Já está precificado pelos apoiadores que Bolsonaro pode ser preso. Mas a estratégia de contra-ataque está pronta. Caso o ex-presidente seja encarcerado por uma tentativa de golpe de Estado, todo processo será visto como uma farsa. Michelle Bolsonaro deu o tom: é um perseguido porque foi escolhido de Deus e se martiriza por isso. Bolsonaro paga por defender a pátria, a família, a “vida desde a concepção”, “a propriedade” ou um País longe das drogas. São grandes valores que estariam em jogo. Outros oradores foram claros ao ir pelo mesmo caminho. “Se te prenderem não será pela sua destruição, mas destruição deles. Jair Messias Bolsonaro, o maior perseguido político de nossa história”, tentou sintetizar Silas Malafaia, o líder religioso que pagou a festa, com direito até trilha sonora de fundo para os momentos mais graves das falas e uma versão instrumental de “Baile de Favela”, canção cuja letra não deve ser agradável ao ouvido de quem diz defender valores conservadores.

O ex-presidente Jair Bolsonaro foi derrotado nas eleições de 2022. Mas um objetivo cumprido da manifestação deste domingo é mostrar que o movimento segue forte e ativo, basta ser convocado. Os vitoriosos das últimas eleições presidenciais tendem sempre a esquecer que ganharam apenas com 51% dos votos e governam um País profundamente divido. Já a Justiça segue sob a desconfiança de metade da população que não acredita em sua imparcialidade. As divisões se aprofundam, e, aparentemente, não se vê no horizonte propostas que busquem a conciliação de um País. Nessas condições, os que lotaram a Paulista lutam novamente pela sua vez.

Opinião por Fabiano Lana

Fabiano Lana é formado em Comunicação Social pela UFMG e em Filosofia pela UnB, onde também tem mestrado na área. Foi repórter do Jornal do Brasil, entre outros veículos. Atua como consultor de comunicação. É autor do livro “Riobaldo agarra sua morte”, em que discute interseções entre jornalismo, política e ética.

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